terça-feira, 7 de novembro de 2017

TEXTO: DEZ AJUDANTES - TATIANA BELINKY GOUVEIA - PARA SÉRIES INICIAIS - COM GABARITO

TEXTO: DEZ AJUDANTES

        Certa vez, entrei na casinha de uma pobre mulher. Reparei que dentro do casebre estava tudo limpinho, bonito. As crianças estavam limpas, vestidas com asseio, o almoço pronto na mesa, e nem uma migalha à vista, tudo luzindo.
        Perguntei-lhe:
        _ Como é que a senhora consegue fazer tudo nesta casa?
        _ E não haveria de conseguir? Pois se eu tenho dez ajudantes. Eles trabalham o dia inteiro, ajudam-se uns aos outros...

        _ Mas que ajudantes são esses?
        _ Aqui estão eles!
        Riu a boa mulher, e mostrou-me os dez dedos das suas mãos.

                                               Adaptação Tatiana Belinky Gouveia

 1 – Consulte o dicionário:

Reparar: Consertar, restaurar, dar satisfação de, desagravar, etc.
Casebre: Casa pequena e muito pobre, choupana.
Asseio: Limpeza, higiene, esmero no vestir-se, no pentear-se, etc.
Migalha: Fragmento pequeno de pão ou outro alimento farináceo, porção muito         pequena, restos, sobras.
Luzindo: Brilhante, esplendoroso, vistoso, pomposo.
Ajudante: Que ajuda.

2 – Substitua as palavras grifadas por outras de mesmo sentido.
a-    Reparei que estava tudo limpo.
Notei que estava tudo limpo.

b-    Havia muito asseio no casebre.
      Tinha muito asseio no casebre.

c-    Tudo estava luzindo.
Tudo estava brilhando.

d-    Os dez ajudantes da mulher eram seus dedos.
Os dez auxiliares da mulher eram seus dedos.

3-A casa era:
(   ) grande.                (   ) enorme.               (X) minúscula.

4-Enumere a 1ª coluna de acordo com a 2ª.
( 1 ) As crianças estavam                (3) pronta na mesa.
( 2 ) o casebre estava                      (5) brilhando.
( 3 ) O almoço estava                       (2) limpinho.
( 4 ) Não se via                                 (1) limpas.
( 4 ) Tudo estava                              (4) nem uma migalha.

TEXTO: BICICLETANDO - EDUARDA BORGES - COM GABARITO

   TEXTO: BICICLETANDO

       Numa tarde ensolarada, João e sua mãe saíram a passeio pelas alamedas da vizinhança em direção à praça. João se divertia pedalando a nova bicicleta que ganhara de Natal, enquanto sua mãe admirava-o com orgulho.
        Lá chegando, a mãe acomodou-se em seu banco predileto enquanto João circulava animadamente ao redor da praça. Por alguns instantes a mãe não o enxergava, oculto pelas grandes árvores, mas ficava sossegada, pois conhecia a habilidade de João.
        Cada vez que passava pelo banco da mãe, João acenava e ela olhava-o envaidecida.
        Depois de passar várias vezes pela mãe, o menino resolveu demonstrar aquilo que tinha aprendido.
        - Olhe, mamãe, estou dirigindo a bicicleta sem uma das mãos!
        - Muito bem!
        Alguns minutos depois, o filho volta dizendo:
        - Mamãe, sem as duas mãos!
        E a mãe apreensiva, lhe diz:
        - Cuidado, querido, não a deixe embalar na descida.
        Mais alguns minutos e ela se vira à direita para vê-lo, vindo em sua direção. Agora, equilibrando-se sobre a bicicleta:
        - Veja, mãe, sem um pé!
        E na volta seguinte:
        - Mãããeee, sem os dentes!!
        Pobre Joãozinho...  
                                                                                                                                                                           Eduarda Borges.
Interpretação do texto:


01 – O texto fala sobre:
(X) As aventuras de João com sua bicicleta.
(   ) O tombo do João.
(   ) A mãe de João.
(   ) A vida de João.

02 – A história acontece:
(   ) Numa rua movimentada.
(   ) Num parque da cidade.
(X) Numa praça.
(   ) Numa vila.

03 – A mãe de João estava apreensiva por que:
(   ) O menino não queria ir embora.
(X) O menino poderia cair da bicicleta.
(   ) O menino tinha desaparecido.
(   ) O menino não sabia andar de bicicleta.

04 – O texto termina dizendo “Pobre Joãozinho”, por quê:
(   ) O menino quebrou a perna.
(   ) O menino chorou para mãe.
(X) O menino caiu da bicicleta e quebrou os dentes.

05 – O nome João é um substantivo:
(X) Próprio.
(   ) Comum.

06 – A palavra bicicleta é um:
(   ) Adjetivo.
(X) Substantivo comum.

07 – Qual o presente que João ganhou? E onde ele foi com sua mãe?
      Ganhou uma bicicleta. Foi passear de bicicleta com sua mãe pela alameda até a praça.

08 – Chegando a praça, o que João e sua mãe fizeram?
      A mãe acomodou-se em seu banco predileto e ficava admirando a habilidade do filho. E João ficava dando volta de bicicleta nova em volta da praça.

09 – Em que parte do texto, João já conseguia andar com uma mão só?
      “Olhe, mamãe, estou dirigindo a sem uma das mãos!”

10 – O que a mãe disse ao João, quando ele passou pedalando sem as duas mãos?
      “Cuidado, querido, não a deixe embalar na descida.”

11 – O João, já se achava o bom, o que ele disse a mãe?
      “Veja, mãe, sem um pé!”

12 – Quando ele dava a última volta, o que aconteceu com João?
      Voltou chorando, e mostrando para a mãe que tinha caído e quebrado os dentes!

13 – Qual o título do texto? Quem escreveu?
      Bicicletando. Escrito por Eduarda Borges.


TEXTO: A BORBOLETA DOURADA - BELLAH LEITE CORDEIRO - COM GABARITO

A BORBOLETA DOURADA

  De tempos em tempos as borboletas se reuniam no bosque para conversarem, trocarem ideias e se conhecerem melhor. As borboletas novas se apresentavam à comunidade e as mais velhas as admiravam por sua beleza e as animavam para o trabalho junto às flores. Todas tinham a missão de espalhar o pólen e assim levar a beleza a toda parte: às matas, às florestas, aos bosques e aos jardins. Sentado à porta de sua casa, um velho gafanhoto observava a passagem das borboletas. 
       Todas o cumprimentavam respeitosamente, pois o velho gafanhoto era tido e realmente era um grande sábio.
        Até que, se aproximou dele uma borboletinha bem jovem, inexperiente, e, diga-se de passagem, bastante sem graça...
        - Bom dia, senhor Gafanhoto! – disse ela timidamente.
        - Bom dia! – respondeu o gafanhoto – Vai à reunião das borboletas pela primeira vez?
        - É isso aí! – falou a borboleta insegura – E estou um pouco preocupada... Será que vão gostar de mim?
        Diga com franqueza: você não me acha meio feiosa, minha cor não ajuda e as minhas asas são grandes demais?
        - Não! – respondeu o velho gafanhoto - Cada um é como é! E a aparência das coisas não é muito importante.
        Cada um se faz bonito ou feio. – acrescentou o gafanhoto com bondade.
        Na reunião todas conversavam entre si alegremente. Riam e brincavam, mas nem olhavam para a borboleta dourada. Era como se ela não existisse. Foi a última a deixar a reunião, na esperança de que alguém ainda a visse e falasse com ela. Mas nada!
        Ninguém a enxergou ninguém reparou nela.
        Quando na volta para casa, passou novamente pela casa do velho e sábio gafanhoto e ele perguntou:
        - Olá borboletinha, não vem da reunião das borboletas? Então... Que tristeza é essa? Não te trataram bem?
        - Pra ser sincera, nem me viram... Ninguém me notou na reunião.
        - Ora borboleta, espera aí! Você não é feia como pensa! Falta-lhe um pouquinho de charme... Talvez... Mais isso não é difícil conseguir. Se quiser ouvir os meus conselhos...
       - Ah, senhor gafanhoto! Seria um favor! Eu sei, os seus conselhos são maravilhosos! O senhor já ajudou muita gente a ser feliz!
       - Em primeiro lugar, quero saber por que você não usa uma das armas mais poderosas que todos nós possuímos para ser felizes: O SORRISO!
       - O sorriso? – perguntou a borboleta espantada.
       - Sim, o sorriso ilumina o nosso rosto! Faz a alegria sair de dentro do coração da gente e se espalhar, deixando todos em volta de nós, muito alegres!
       - Mas como vou sorrir se eu não estou alegre?
       - Ora Borboletinha! Neste mundo não existe ninguém que não tenha um motivo para ficar alegre! É só procurar! Você não acha maravilhoso o fato de poder voar?
       - Ah! Isso eu acho mesmo! É legal demais voar por cima de tudo! Fazer piruetas, pousar em qualquer lugar, ir para qualquer parte... É claro! Voar é muito bom mesmo.
       - O seu trabalho não é espalhar o pólen das flores para multiplicá-las por toda parte?
       - É exatamente esse o meu trabalho!
       - Espalhar a beleza por onde passa será esse um trabalho qualquer? Não é maravilhoso fazer isso?
       - Pra falar com franqueza, não reparo. Faço o meu trabalho por obrigação!
       - Repare então criatura! – tornou a insistir o gafanhoto – Verá que beleza existe em volta de você! Experimente sorrir, seu sorriso será um grande aliado. Pois todo mundo gosta de um belo sorriso! Procure também, fazer as coisas por amor, e não por obrigação!
         A borboleta animada agradeceu os conselhos e voou confiante e esperançosa.
        Feliz, ela vinha observando a beleza do pôr-do-sol e o vento a brincar com a folhagem das árvores.
        - Coisa linda! – pensou – Esse lugar onde moro é realmente uma beleza!
        De repente notou que estava sorrindo e sentiu esse sorriso vir do fundo do seu coração.
        Estava assim, distraída quando ouviu uma vozinha muito fraca a chamá-la:
        - Olá... Borboletinha! Você parece ser tão boa. Poderia ajudar-me? Estou coberta de areia e não consigo livrar-me dela. Você não dará um jeitinho?
        Era uma formiguinha já quase sem fôlego a se debater na areia.
        - Pois não! – Falou a borboletinha aflita descendo imediatamente para bem perto dela.
         – Estou aqui para ajudá-la!
         - Vi o seu sorriso tão bonito por isso me animei a pedir ajuda. Quem sorri como você, só pode ter um coração cheinho de coisas boas!
          Essas palavras da formiga foram as mais lindas ouvidas pela borboleta até aquele dia, e jamais se sentira tão feliz!
          Em sua grande alegria a borboleta teve um desejo enorme de cantar e dançar numa revoada de felicidade.
          Um besourinho ao passar ao seu lado voando também, falou:
        - Como você dança bem! E é linda sabia?
        - Obrigada! – respondeu a borboleta meio sem jeito, pois nunca havia sido elogiada antes – Suas asas também são muito bonitas sabe? Cada um é bonito ao seu jeito!
          E lá se foi o besourinho alegremente a dançar também, feliz com as palavras da borboleta.
          Daí por diante, começou a observar tudo: a relva, as árvores, o céu, as nuvens, a brisa, a chuva, as montanhas ao longe...
          Nada mais escapava de sua vista e tudo era importante pra ela.
          Encantada, olhava as flores, reparava na beleza de cada uma, conversava com elas e, sem querer, passou a fazer o seu trabalho de todos os dias com um amor enorme brotando em seu coração.
        - É incrível mesmo, a diferença de quando se faz tudo com amor!
         O tempo foi passando e a borboleta era cada vez mais feliz, pois por onde passava sentia como era querida. Todos a festejavam e a olhavam com grande simpatia. Todo mundo queria conversar, dançar e brincar com essa borboletinha tão gentil, sempre a sorrir para todos.
         A sua tarefa diária a borboleta passou a fazê-la muito melhor! É claro! Agora fazia com amor! Afinal, chegou o dia da nova reunião das borboletas.
         Muito alegre ela recebeu a notícia. Na data marcada, saiu de casa mais cedo. Queria passar pela casa do gafanhoto antes da reunião, pois desejava agradecer-lhe pessoalmente os conselhos preciosos e quase mágicos. Como algumas poucas palavras boas podem ajudar tanto!
          A chegada da borboleta à reunião foi sensacional! Todas pararam para admirá-la.
         -Mas que borboleta linda! - diziam.
         - É dourada! ... Venham ver!
         - Parece luminosa! Você é super legal!
          Todas a rodearam alegremente, e perguntaram:
         - Você é uma das novas, não é? É a primeira vez que vem aqui?
         - Não! –respondeu ela - Já estive aqui na reunião passada, mas ninguém me notou!
         - Não é possível! Você é linda demais! É uma borboleta dourada! Sabe lá o que é ser uma borboleta dourada? Ninguém deixaria de vê-la!
         –Essa é uma história muito comprida... Qualquer dia eu conto a vocês. Agora quero me apresentar a todas as borboletas, quero conhecer todas as minhas irmãs, conversar com elas e se muito amiga da comunidade das borboletas. À tardinha, depois de sair da reunião, passou novamente pela casa do velho gafanhoto. Desta vez queria fazer-lhe uma pergunta
        - Senhor gafanhoto, diga-me uma coisa: eu mudei de cor?
        - Não borboletinha, a sua cor é a mesma...
        – Por que então me chamam de borboleta dourada?
        - Mas você é uma borboleta dourada! Sempre foi... Apenas a sua beleza estava escondida.
        - Agora você reflete o seu interior! E é dele que vem a verdadeira beleza: A que sai do coração e se reflete em todo o ser!
        - Por isso você está luminosa e linda!
        - Você agora, é a borboleta dourada mais linda que eu já vi em toda a minha vida!
                                            Bellah Leite Cordeiro


1 – Por que as borboletas de tempos em tempos faziam uma reunião?
      Para conversarem, trocarem ideias e se conhecerem melhor.

2 – Qual a missão das borboletas?
      A missão delas é espalhar o pólen e assim levar a beleza a toda parte.

3 – Por que o velho gafanhoto era tão respeitado?
      Porque ele era tido e realmente era um grande sábio.

4 – Como foi o primeiro encontro da borboleta dourada com a comunidade das borboletas?
      Na Reunião todas conversavam entre si alegremente. Riam e brincavam, mas nem olharam para ela. Era como ela não existisse.

5 – Por que a borboleta dourada foi a última a sair da reunião?
      Para ver se alguém a visse e falasse com ela.
6 – O gafanhoto notou que a borboleta não sorria. Por que o sorriso é tão importante?
      Porque, o sorriso ilumina o nosso rosto. Faz a alegria sair de dentro do coração da gente e se espalhar, deixando todos em volta de nós, muito alegres.

7 – Como era a borboleta antes dos conselhos do sábio gafanhoto?
      Ela se achava feiosa, suas cores e as asas grandes demais.

8 – Como fazia ela o seu trabalho?
      Ela voava espalhando pólen das flores para multiplica-las por toda parte.

9 – Quais foram os conselhos do gafanhoto?
      Sorrir e fazer o serviço por amor, não por obrigação.

10 – Como a borboleta passou a agir depois dos conselhos do sábio?
      Passou a perceber a beleza do pôr-do-sol, do vento a brincar com as folhas das árvores.

11 – Qual foi a transformação da borboleta?
      Sorrindo, ela mostrou sua bondade e começou a ajudar os outros, e a observar tudo em sua volta.

12 – Ela mudou de cor?
      Não.

13 – Então por que ficou tão bonita?
      A sua alegria, o seu sorriso e bondade, é que fez as outras perceberem sua presença e elegância.

14 – De onde vem a verdadeira beleza?
      Vem do interior do coração.


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

POEMA: AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO - MAYA ANGELOU - (PRECONCEITO RACIAL) -COM GABARITO

Poema: Ainda assim, eu me levanto

   Este poema, um dos mais famosos de Maya Angelou, aborda a questão do preconceito racial.

Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.
[...]


Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.
[...]

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.
                 Angelou, Maya. Still I rise. Tradução de Mauro Catopodis.
                                                               (Fragmento). Disponível em:      <http://www.palavrarte.com/Poesia_Mundo_Trad/poepelomun_eua_maya_poemas.htm>. Acesso em: 22 set. 2009.
Interpretação do texto:
1 – Transcreva em seu caderno os versos em que o tema do poema esteja explicitado. Como o eu lírico aborda esse tema? Justifique com versos do poemas.
      Os versos que, explicitamente, tratam do preconceito racial são: “Da favela, da humilhação imposta pela cor”; “Sou um oceano negro, profundo na fé”; “Trazendo comigo o dom de meus antepassados, / Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado”.
      O eu lírico manifesta, no poema, o seu “canto” de resistência.

2 – Como o eu lírico reage ao preconceito? Que qualidades podem ser identificadas em seu comportamento? Em seu caderno, associe as qualidades que você identificou a alguma(s) passagem(ns) do texto.
      O eu lírico enfrenta o preconceito sem jamais se deixar derrotar. Podemos associar o seu comportamento a uma série de qualidades positivas: força, resistência, perseverança. Na última estrofe, surgem duas outras marcas do seu comportamento: o orgulho por pertencer à raça negra e a esperança de alcançar “um novo dia de intensa claridade”. Resposta pessoal do aluno.

3 – É possível, a partir da leitura do poema, construir uma imagem do eu lírico. Que experiências pode ter tido alguém que diz coisas como essas? Explique como você formou tal imagem.
      Possibilidade: alguém que faça as afirmações e acusações que aparecem no poema deve ter sofrido discriminação racial, ou seja, deve ser o negro que foi humilhado, que teve seus antepassados escravizados e que carrega, hoje, o “sonho e a esperança” de sua raça. Resposta pessoal do aluno.

4 – Explique os recursos de linguagem presentes no poema que marcam a resistência do eu lírico diante de seu interlocutor.
      Podemos perceber, no poema, um recurso mais evidente: a repetição da expressão “eu me levanto” para marcar a resistência do eu lírico diante dos preconceitos. Além disso, é importante perceber que essa expressão é utilizada depois de uma sequência de ações desse interlocutor para “quebrar” a força do negro.

5 – Releia:

                “Sou um oceano negro, profundo na fé,
                Crescendo e expandindo-se como a maré.
                Deixando para trás noites de terror e atrocidade
                Eu me levanto
                Em direção a um novo dia de intensa claridade”.

Explique por que esses versos podem ser interpretados como um manifesto de orgulho pela própria raça e de esperança no futuro.
      As ideias de fé e de expansão que podem ser reconhecidas em “Sou um oceano negro, profundo na fé, / Crescendo e expandindo-se como a maré” reafirmam a crença do eu lírico na força de seu povo. Essa ideia é ainda mais reforçada nos outros versos em que “dia de intensa claridade” se opõe a “noites de terror e atrocidade”, revelando o otimismo do eu lírico quanto a seu futuro pessoal e o de seu povo.


ROMANCE(FRAGMENTO): A ESPERANÇA -(GUERRA CIVIL ESPANHOLA)- ANDRÉ MALRAUX -COM GABARITO

ROMANCE:  A Esperança (Fragmento)
                        André Malraux

   O silêncio, já profundo, aprofundou-se ainda mais: Guernico teve a impressão de que, daquela vez, o céu estava cheio. Não era aquele barulho de carro de corrida que, em geral, identifica um avião; era uma vibração muito ampla, cada vez mais profunda, sustentada como uma nota grave.

    O barulho dos aviões que ele tinha ouvido até então era como que alternado, subia e descia; dessa vez, os motores eram numerosos o suficiente para que tudo se misturasse, em um avanço implacável e mecânico.
        A cidade estava quase sem luzes; como os aviões de caça governistas, ou o que restava deles, poderiam encontrar os fascistas naquela escuridão? E aquela vibração profunda e grave que enchia o céu e a cidade como se enchesse a noite, irritando Guernico e percorrendo seus cabelos, tornava-se intolerável, pois as bombas não caíam.
        Por fim, uma explosão abafada veio da terra, como uma mina distante e, de repente, três explosões de extrema violência. Outra explosão surda; mas nada. Mais uma: acima de Guernico e todas ao mesmo tempo, as janelas de um grande apartamento se abriram.
        Ele não acendeu sua lanterna elétrica; os milicianos estavam sempre prontos a acreditar em sinais luminosos. Sempre o barulho dos motores, mas nada de bombas. Naquela escuridão completa, a cidade não via os fascistas, e os fascistas mal viam a cidade.
        Guernico tentou correr. As pedras acumuladas o faziam tropeçar sem parar, e a escuridão muito densa tornava impossível seguir a calçada. Um carro passou em velocidade, os faróis azulados. Cinco novas explosões, alguns tiros de fuzil, uma vaga rajada de metralhadora. As explosões pareciam vir da terra, e os estrondos, de uma dezena de metros acima dela. Nenhum raio de luz: Janelas se abriam, Empurradas de dentro. Numa explosão mais próxima, vidros se espatifaram, caíram de muito alto no asfalto.

Com o barulho, Guernico se deu conta de que só enxergava até o primeiro andar. Como um eco do vidro quebrado, um som de sirene tornou-se perceptível, aproximou-se, passou diante dele, perdeu-se no negror: a primeira de suas ambulâncias. Chegou finalmente à Central Sanitária; a rua se encheu de gente na escuridão.
        Médicos, enfermeiros, organizadores, cirurgiões se juntavam, ao mesmo tempo que ele, a seus colegas de serviço. Finalmente havia ambulâncias. Um médico era o responsável pela parte sanitária do trabalho, Guernico, pela organização do socorro. [...]

                          Malraux, André. Sangue de esquerda. A esperança.
                                                                 Tradução de Eliana Aguiar.
                                          Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 317-318.
Interpretação do texto:

1 – Leia um fragmento do romance A Esperança, de André Malraux, que tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola de 1936.
a)   Qual é o acontecimento central da cena?
O acontecimento central é o bombardeio que está prestes a ocorrer em uma cidade.

b)   No início, parece que Guernico está fugindo dos aviões, mas a sua intensão é outra. Para onde ele corre e por quê?
Guernico corre para a Central Sanitária, onde é o responsável pela organização do socorro aos feridos. Ele corre, portanto, para socorrer aqueles que serão atingidos pelas explosões.

2 – Quais são as referências feitas no texto que podem ajudar o leitor a identificar que o episódio narrado ocorreu no século XX?
      Os aviões, os carros, as armas (bombas, metralhadora, fuzil), a lanterna elétrica, as ambulâncias são indicadores de que a ação se passa no século XX. Além disso, a alusão aos “fascistas” faz referência ao regime político (e à ideologia a ele associada) estabelecido por Benito Mussolini, na Itália, em 1922.

3 – Releia:
        “[...] dessa vez, os motores eram numerosos o suficiente para que tudo se misturasse, em um avanço implacável e mecânico.”
Os dois adjetivos destacados levam o leitor a refletir sobre a violência da guerra? Por quê?
      SIM. O adjetivo implacável sugere que o avanço dos aviões não pode ser evitado. Como esse avanço será sinônimo de destruição, o adjetivo pode também ser ampliado para indicar que o bombardeio e a destruição não têm como ser evitados. O segundo adjetivo, mecânico, destaca o aspecto desumano da ação.

4 – A descrição do ataque noturno explora diferentes elementos sensoriais.
a)   Destaque alguns desses elementos.
A audição: o barulho dos aviões e das explosões.
A visão: a escuridão da noite.
O tato: a vibração provocada pelos aviões.

b)   De que modo o uso desses elementos contribui para transmitir ao leitor as sensações que tomam conta de Guernico?
A referência constante ao barulho dos aviões e à escuridão da noite faz com que o leitor perceba melhor os diferentes estados de espirito de Guernico: a expectativa pelo início do ataque, a irritação pela demora, a urgência para chegar ao local de socorro.


CONTO: CONTINUIDADE DOS PARQUES - JULIO CORTÁZAR - COM GABARITO

Continuidade dos parques

   A história de um homem que lê um romance nos leva a indagar: quais são os limites entre a realidade e a ficção?
   Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Nessa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador, discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na tranquilidade do escritório que dava para o parque dos carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse, de quando em quando, o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar, linha a linha, daquilo que o rodeava, e sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do mato. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicote de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos, o punhal ficava morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.
        Já sem se olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava, separavam-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vê-la correr como cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda que o levaria à casa. Os cachorros não deviam latir, e não latiram. O capataz não estaria àquela hora, e não estava. Subiu os três degraus do pórtico e entrou. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.

          Cortázar, Júlio. Final do jogo. Tradução de Remy Gorga, filho.
                          Rio de Janeiro: Expressão e cultura, 1971. p. 11-13.

1 – Todo texto narrativo se constrói a partir da presença de alguns elementos básicos: narrador, personagens, cenário, tempo e enredo. Quem conta a história em “continuidade dos porquês”?
      O foco narrativo desse conto está em 3ª pessoa (“Começara a ler o romance...”), é uma “voz” que conta o que se passa com a personagem principal: o leitor do romance. O aluno já deve ter aprendido, no Ensino Fundamental, o que é um foco narrativo onisciente. Talvez seja interessante aproveitar para relembrar, em linhas gerais, o que caracteriza um foco como esse.

a)   Quais são as personagens envolvidas na história? Como elas são caracterizadas?
A primeira personagem apresentada é um leitor. Pelos comentários do narrador a respeito de suas atividades, imaginamos tratar-se de um dono de fazenda, provavelmente alguém de posses, bastante atarefado, que encontra grande prazer na leitura. Além dele, temos as personagens da história que está lendo: um homem e uma mulher, amantes. Apresentados como “heróis” da história que está sendo lida, precisam se livrar de um “corpo” que parece impedir sua felicidade.

b)   O texto apresenta dois cenários. Quais são eles? O que se descobre sobre o primeiro cenário no final da história?
O primeiro cenário é o escritório do fazendeiro-leitor. O segundo cenário é o lugar de encontro dos amantes, uma cabana no mato. É importante ressaltar que, a partir da tomada de decisão dos amantes, a ação é desencadeada e o narrador passa a apresentar o caminho percorrido pelo homem em direção a sua vítima. Essa descrição culmina com a referência à porta de um salão, à luz dos janelões, ao alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, e à cabeça do homem que, sentado na poltrona, lê o romance. Nesse momento, a sala que será adentrada pelo amante revela-se como parte do primeiro cenário.

c)   Em que intervalo de tempo a história se passa?
A história narrada se passa em uma tarde (inicia-se quando o leitor retoma a leitura do romance interrompida dias antes e se encerra quando, ao anoitecer, o homem se aproxima da casa para assassiná-lo).

d)   Há, no texto, um acontecimento que desencadeia a ação final. Qual é ele?
O acontecimento desencadeador da ação final é a tomada de decisão dos amantes. Depois de se encontrarem na cabana no mato, decidem eliminar o “corpo que era necessário destruir” (supõe-se que se trata do marido dessa mulher que vai à cabana encontrar-se com o amante).

2 – No conto, há duas histórias narradas: a do fazendeiro-leitor e a dos amantes. Uma reflete a outra, e as duas histórias terminam por se entrelaçar. Explique como o trabalho de construção do cenário, das personagens e do enredo ajuda a promover esse efeito.
      Por meio da coincidência de cenários e pela menção ao capataz, o narrador nos leva a constatar algo aparentemente impossível: o fazendeiro-leitor lê a sua própria história no romance que tem em mãos. Esse elemento fantástico, absurdo, promove a superposição do que, no conto, são os planos da realidade e da ficção.

 3 – Após a leitura do conto, podemos afirmar que a primeira pista que Cortázar nos fornece sobre o caráter fantástico de sua narrativa é o título da história. Por quê?
      Se voltarmos ao início do conto, veremos que o narrador nos informa algo importante sobre o escritório em que se encontra o fazendeiro-leitor: ele dava para o parque de carvalhos. Logo adiante, quando ele começa a ler o romance, descobrimos que os amantes do romance lido se encontram em uma cabana no mato. Na cena final, a coincidência de cenários nos leva a concluir que a cabana “no mato” localiza-se, na verdade, no parque de carvalhos visto a partir dos janelões do escritório. Nesse sentido, a “continuidade” dos parques alude à fusão do parque da ficção como o parque da realidade do fazendeiro-leitor.

4 – Releia a seguinte passagem do conto.
      “[...] a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida Gozava do prazer meio perverso de se afastar, linha a linha, daquilo que o rodeava [...]”.
O narrador do conto, ao falar do prazer sentido pelo fazendeiro-leitor, alude a uma das funções geralmente associadas à literatura. Qual é a função?
      Nessa passagem, o narrador alude à possibilidade de, por meio da leitura de textos literários, vivermos experiências apenas imaginadas, que em muito diferem da realidade que nos cerca. Nesse sentido, a leitura pode transformar-se em uma verdadeira “viagem”, na qual o leitor embarca munido apenas de sua imaginação, alimentada pelo livro que lê. A mera fruição do texto pode representar, para muitos leitores, um descanso de uma realidade mais dura.

5 – A literatura e as demais formas de arte podem levar o ser humano a refletir sobre as angústias alegrias da própria existência. A leitura do conto nos ajudaria a compreender melhor a realidade? Por quê?
      Em certo sentido, sim. No caso desse conto, vemos uma história aparentemente banal: um homem e uma mulher envolvidos em uma relação de adultério decidem eliminar a pessoa que impede, a seu ver, a concretização de seu amor.