segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

ARTIGO DE OPINIÃO: COMO ENSINAR A DOBRADINHA DIREITOS-DEVERES - ROSELY SAYÃO - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Como ensinar a dobradinha direitos-deveres
                                 Rosely Sayão


        Quem convive com crianças ou adolescentes sabe: mais cedo ou mais tarde eles reclamam – e quase sempre com muita eficiência – por aquilo que chamam de seus direitos.
        Explicitamente. "Eu tenho o direito de me divertir", "Eu tenho o direito de escolher meus amigos", "Eu tenho o direito de decidir minha vida" e tantas outras frases desse tipo logo passam a fazer parte da lista de argumentos que eles usam em casa, quando se confrontam com os pais, ou na escola, quando entram em conflito com os professores.
        Por outro lado, pais e professores vivem cobrando dos filhos e alunos o que chamam de obrigações:
"Você tem a obrigação de voltar na hora combinada",
"Você tem a obrigação de arrumar a cama quando levanta",
"Você tem a obrigação de entrar na aula no horário",
"Você tem a obrigação de estudar", por exemplo.
        Uma das conclusões a que a criança e o adolescente chegam seguindo o caminho citado nos exemplos pode ser: o dever atrapalha o direito. O dever de chegar em casa na hora combinada previamente com os pais, por exemplo, atrapalha o direito de se divertir e decidir a própria vida. O dever de fazer a tarefa de casa limita o direito de escolher o que fazer.
        Uma outra conclusão a que eles logo chegam é a de que o direito é interessante buscar e do dever talvez valha mais a pena se esquivar. Nos dois casos, o que está colocado nada mais é do que um puro jogo de interesse individual. E é isso que o processo educativo provoca, ou seja, que os adolescentes e crianças vão construindo uma imagem bastante equivocada tanto da noção de direito e de dever quanto da relação entre elas. Quanto aos pais e professores, que estiveram e/ou estão muitas vezes submetidos a esse modelo, eles estimulam, sem perceber ou querer, a confusão que tanto atrapalha a vida de todo mundo.
        Afinal, como entender – e ensinar – que o conceito de dever e de direito são solidamente associados? Ou seja: que um não existe ou não sobrevive sem o outro? Como relacionar direitos e deveres à vida em grupo, ao respeito ao outro e, assim, superar os interesses absolutamente pessoais que norteiam o início da vida? Como evitar a ideia de que deveres e direitos são forças opostas?
        Talvez o primeiro passo seja ter clareza de que direitos e deveres são condições essenciais para a vida em grupo, para a convivência, e são constituídos, adquiridos. Direitos e deveres são fruto, portanto, da negociação, da relação com os outros e das regras que dela resultam. Essa pode ser a chave para introduzir a noção de direito e dever na relação educativa: ambos têm relação com a socialização – objetivo da educação – e também com o exercício da cidadania.
        Com essa compreensão fica mais fácil ensinar à criança, por exemplo, que o dever de ir à escola restringe a diversão, mas está estreitamente ligado com o direito de uma vida mais digna no futuro. É, ainda tem essa: direito e dever não têm, necessariamente, uma relação garantida de causa e efeito. A relação é muito mais de esperança, de promessa.
        É preciso reconhecer: não é fácil nem simples para pais e professores sustentar tal relação, que parece pouco objetiva e prática para crianças e adolescentes em seus anseios mais comuns. Por isso, como sempre acontece quando falamos de limites, de regras, de educação, enfim, iremos chegar ao mesmo ponto: o exercício da autoridade. É preciso que pais e professores ocupem seu lugar e pensem no futuro dos filhos e alunos quando educam.
        Exercer o papel educativo com autoridade significa introduzir as crianças na vida em sociedade, com todas as contradições e desconfortos que isso supõe. Direitos e deveres impõem, sim, limites à vida de todos, e não só à das crianças e jovens. Mas, em compensação, tornam possível a autonomia e permitem que a convivência entre diferentes seja muito mais pacífica e solidária.

ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo"
(Ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br 

Entendendo o texto:
01 – A psicóloga Rosely Sayão mostra, em seu texto, que o processo educativo de crianças e adolescentes passa obrigatoriamente pela discussão dos conceitos envolvidos na “dobradinha direitos-deveres”.
a)   A que tipo de público o texto está dirigido?
Pais, professores, crianças e adolescentes.

b)   O que fica subentendido na relação entre direitos e deveres, qualificados no texto como uma “dobradinha”?
Que direitos e deveres caminham juntos.

c)   Que argumento a psicóloga utiliza para desenvolver esse tema em seu texto?
Que a clareza de que direitos e deveres são condições essenciais para a vida em grupo, para a convivência, e são constituídos, adquiridos.

02 – Para exemplificar o seu ponto de vista, a autora afirma que a criança e o adolescente chegam a duas conclusões equivocadas sobre o tema.
a)   O que as crianças e os adolescentes concluem sobre direitos e deveres?
Que o dever atrapalha o direito.

b)   Segundo a autora, que leva crianças e adolescentes a construírem essa ideia equivocada?
O direito é interessante buscar e do dever, talvez valha mais a pena se esquivar.

c)   Você concorda ou discorda do que é afirmado pela autora? Elabore um argumento que justifique sua opinião.
Concordo, pois, pais(adultos) não explicam às crianças e adolescentes o quanto é importante cumprir seus deveres, para sua convivência e seu futuro quando estiverem mais velhos.

03 – No desenvolvimento do texto, a autora apresenta exemplos para comprovar a ideia equivocada que crianças e adolescentes tem a respeito de direitos e deveres.
a)   Que situações exemplificam por que crianças e adolescentes acreditam que “o dever atrapalha o direito”?
“O dever de fazer a tarefa de casa limita o direito de escolher o que fazer.” “O dever de chegar em casa na hora combinada previamente com os pais, por exemplo atrapalha o direito de se divertir e decidir a própria vida.” 

b)   Você já passou por uma situação semelhante, em que tenha cometido o mesmo equívoco? Qual?
Resposta pessoal do aluno.

04 – A autora afirma que os pais e professores, muitas vezes, estimulam, sem perceber ou querer, a confusão entre direitos e deveres.
a)   Como eles poderiam contribuir para que as crianças e os jovens tivessem uma percepção mais correta do que são direitos e deveres?
Mostrando a importância dos direitos e deveres, na vida futura deles.

b)   Cite três deveres ou obrigações que lhe sejam solicitados em casa, na escola ou na comunidade. A seguir, escreva três direitos que possam ser associados a esses deveres.
Fazer tarefa – Divertir.
Estudar – Descansar.
Organizar material – Ver televisão.

05 – De acordo com a afirmação a seguir, certos deveres que temos hoje podem ser a garantia de certos direitos.
“[...] o dever de ir à escola restringe a diversão, mas está estreitamente ligado com o direito de uma vida mais digna no futuro.”
A partir dessa ideia, substitua cada * pelo direito que pode ser decorrente dos deveres citados a seguir.
a)   Você tem o dever de cuidar do que é público para ter o direito * de quando precisar, usar esse mesmo patrimônio público.

b)   Você tem o dever respeitar o jeito de cada um ser para ter o direito * de ser respeitado(a).

06 – Pense sobre as questões abaixo e depois escreva sua opinião sustentando-a com um argumento.
a)   Estudar é um direito ou um dever de toda criança?
É um direito, as nem toda criança pode fazer, porque nem todas podem pagar por escola particular, e nas públicas nem todas tem vagas e condições de estudar. E tem criança que precisam trabalhar para ajudar em casa.

b)   Comportar-se de modo civilizado no trânsito é um direito ou um dever de todo cidadão, seja motorista ou pedestre?
É um dever, para poder ser respeitado.

c)   Defender o meio ambiente é um direito ou um dever do cidadão?
É um dever, que é para salvar nosso planeta, nosso futuro.

d)   Não aceitar comportamentos que revelem discriminação ou preconceito é um direito ou um dever de cada cidadão?
É dever e direito. É um direito não ser discriminado e um dever não discriminar.





domingo, 13 de janeiro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): NADA TANTO ASSIM - KID ABELHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Nada Tanto Assim
                                    Kid Abelha

Só tenho tempo pras manchetes no metrô
E o que acontece na novela
Alguém me conta no corredor
Escolho os filmes que eu não vejo no elevador
Pelas estrelas que eu encontro
Na crítica do leitor

Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim

Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim

Eu me concentro em apostilas
Coisa tão normal
Leio os roteiros de viagem
Enquanto rola o comercial
Conheço quase o mundo inteiro por cartão postal
Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal


Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim

Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim.

                               Composição: Bruno Fortunato / Leoni

Entendendo a canção:
01 – De quem parece ser a “voz” da canção?
      De um jovem estudante, urbano.

02 – A vida moderna e o cotidiano agitado das grandes cidades despejam informações de forma torrencial a cada instante, através dos meios de comunicação. O poeta refere-se a essa chuva de informações, citando os veículos de comunicação de massa que inundam seu cotidiano. Releia a primeira estrofe e responda: Quais são os meios massivos de comunicação citados?
      Jornais, televisão, cinema.

03 – Na segunda estrofe, o poeta refere-se especificamente aos textos que inundam o seu dia-a-dia. Que textos ele cita?
      Apostilas, roteiros de viagem, comercial, no sentido de anúncios publicitários, cartão-postal.

04 – Observe que os textos citados pelo poeta podem ser divididos em duas grandes categorias: ficcionais e não-ficcionais. Quais pertencem a categoria “ficcional”? Quais não o são?
      Novelas e filmes são textos ficcionais. Enquanto manchetes, apostilas, roteiros de viagem, anúncios e cartão-postal não o são.

05 – Do que o poeta, enfim, reclama?
      Da falta de tempo, tanto para informar-se quanto para o lazer, o entretenimento – sugeridos pela menção às novelas e aos filmes.

06 – Que consequência é apontada para essa proclamada “falta de tempo”? Justifique com versos da canção.
      A superficialidade: “eu sei de quase tudo um pouco / e quase tudo mal.”

CRÔNICA: MAIS OPINIÕES - VILMA ARÊAS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Mais opiniões
            
       -- Verônica, minha filha, quero falar com você.
        A mãe entrava, sentava-se a meu lado na cama. O jeito era fechar o livro.
        -- Acho que não está certo, afinal você já está grandinha, uma moça, anda toda desgrenhada, cabelo parece que nunca viu pente. Depois, tem de parar com a mania de só usar uma roupa até ela ficar em frangalhos, aquela malha já foi até remendada pela Clô, e essa boina, que foi de sua avó, imagina, já está arrepiada e azulada como um... sei lá o quê, como um ninho... O cabelo...
        -- Quero deixar ele crescer.
        -- Tá bom, mas como está não pode nem trançar, nem enrolar, tem de dar um jeito, fia batendo no olho, pode até fazer mal. E ainda tem os modos. Você se lembra o que disse do M do monograma da Candinha. Ora, você está cansada de saber que o nome dela é Maria Cândida, nada mais natural que escolher o M. Não era para você fazer aquela cara de inocente ou desligada, mas eu te conheço muito bem, e dizer: “Gente, o nome é Candinha e a inicial é M, só se for M de meleca”, isso lá é coisa que se diga! Não tinha ninguém por perto, mas eu ouvi e não gostei, onde já se viu? Isso não são modos. Depois ainda tem essa mania de ficar horas embaixo da cama, às vezes falando sozinha, parece louca! Como se não bastasse conversar com o cachorro, com o papagaio, até com o pé de boldo...
        Quando a mãe começa assim pode levar horas. O melhor é ficar quieta e deixar o barco correr...
            ARÊAS, Vilma. Aos trancos e relâmpagos.
São Paulo, Scipione, 1988. p. 105-6 (Série Diálogo).
Entendendo a crônica:
01 – Qual o significado das palavras abaixo:
·        Desgrenhada: despenteada, emaranhada, desordenada.

·        Frangalhos: farrapos, trapos.

·        Monograma: entrelaçamento das letras iniciais ou principais de um nome.

02 – O texto é um pequeno diálogo, mas quem fala mais?
      A mãe de Verônica.

03 – O narrador é também personagem? Identifique e comente suas intervenções.
      Sim. Intervém três vezes na narrativa:
      1ª, narrando em primeira pessoa: “A mãe entrava... fechar o livro”.
      2ª, em discurso direto em primeira pessoa: “— Quero deixar ele crescer”.
      3ª, novamente narrando em primeira pessoa: “Quando a mãe... o barco correr...”.

04 – O que Verônica estava fazendo e teve de parar?
      Verônica teve de parar de ler o livro.

05 – A mãe começou a conversa como? Por quê?
      Dizendo que não achava certas as atitudes de Verônica por serem, a seu ver, infantis.

06 – O que Verônica queria?
      Deixar o cabelo crescer.

07 – Existe algum motivo especial para mãe estar zangada?
      Não. Tudo em Verônica a desagrada.

08 – Cite três coisas que Verônica faz e que desagradam profundamente a mãe.
      Não pentear o cabelo, usar uma só roupa, ficar horas embaixo da cama.

09 – Que atitude Verônica toma em relação à mãe? Por quê?
      Fica quieta e deixa a mãe falar, porque senão ela é capaz de ficar horas falando.

10 – Você é capaz de imaginar alguém como Verônica? Quem? Conte algo sobre essa pessoa.
      Resposta pessoal do aluno.


POEMA: MATINAL - MÁRIO QUINTANA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Matinal
         
           Mário Quintana


Entra o sol, gato amarelo, e fica
à minha espreita, no tapete claro.
Antes de abrir os olhos, sei que o dia
virá olhar-me por detrás das árvores.
Ah! sentir-me ainda vivo sobre a face da Terra
enquanto a vida me devora…
Me espreguiço, entredurmo… O anjo da luz espera-me


Como alguém que vigiasse uma crisálida.
Pé ante pé, do leito, aproxima-se um verso
para a canção de despertar:
os ritmos do tráfego vibram como uma cigarra,
A tua voz nas minhas veias corre,
e alguns pedaços coloridos do meu sonho
devem andar por esse ar, perdidos…
                        Mário Quintana. A cor do invisível. Rio de Janeiro: Objetiva.

Entendendo o poema:
01 – O texto descreve o amanhecer. Porém, como se trata de um texto poético, a descrição não é feita de modo objetivo, mas de modo ambíguo, isto é, com duplicidade de sentidos, criada por meio de comparações. A que é comparado o amanhecer?
      Inicialmente a um gato, depois a uma cigarra.

02 – Para tornar o poema rico de sentidos, o poeta utiliza comparações, criando uma área semântica relacionada com gato e cigarra. Daí o emprego de expressões como espreita, detrás das árvores, vibram. No plano da realidade, a que corresponde:
a)   Gato amarelo?
Corresponde ao Sol.

b)   Espreitar no tapete claro?
Aos raios do sol refletidos no tapete do quarto.

c)   Olhar-me por detrás das árvores?
Ao sol subindo lentamente por entre as árvores.

d)   Anjo da luz?
Refere-se ao Sol.

e)   Ritmos do tráfego vibram como uma cigarra?
Aos barulhos e vibrações sonoras ouvidos de manhã.



ARTIGO DE OPINIÃO: ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE! FLÁVIO LOBO - COM GABARITO

Texto: Erro de português não existe!
      

      Escritor e linguista denuncia o preconceito linguístico e considera absurdo dizer que os brasileiros não sabem português
                                                                                        Flávio Lobo

    “O brasileiro são o seu português, o português do Brasil, enquanto os portugueses sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais feio ou mais bonito: são apenas diferentes um do outro.”
        Nesse trecho de seu livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz, Marcos Bagno ataca a crença segundo a qual “brasileiro não sabe português e só em Portugal se fala bem português”. Esse “mito” seria um dos pilares do que ele chama de “mitologia do preconceito linguístico” – um conjunto de crenças equivocadas, responsável pela má qualidade e ineficiência do ensino do português nas escolas e pela dificuldade que muitos brasileiros têm no trato com a língua materna.
        Para Bagno, o “erro de português” que amedronta, intimida e humilha tanta gente, simplesmente não existe. Haveria, na verdade, diferentes gramáticas para diferentes variedades do português. Cada uma delas perfeitamente válida em seu contexto. Todas merecedoras de respeito.
        Autor de livros para crianças, jovens e adultos, incluindo ficção e obras sobre língua e literatura, Bagno, que tem 37 anos, também é tradutor. Formado em Letras, com mestrado em Linguística, hoje faz doutorado em língua portuguesa na USP. Desde a graduação, ele se interessou pela sociolinguística – disciplina que estuda as relações entre língua e sociedade – e pela revisão dos conceitos de “norma culta”, “norma padrão”, do que é certo e errado na língua. Estudos e revisões que, segundo ele, não têm sido acompanhados por muitos dos que se apresentam como especialistas no debate sobre o ensino e a situação da língua portuguesa no Brasil.
        De acordo com Bagno, existe uma “briga” entre dois grupos no campo das questões linguísticas e gramaticais. Um é composto por linguistas, verdadeiros especialistas no assunto. O outro seria o dos “puristas”, defensores de uma tradição gramatical dogmática e anticientífica.
        Mídia – O surpreendente, diz ele, é que, ao mesmo tempo em que o MEC estaria ouvindo os linguistas e acompanhando as pesquisas acadêmicas – num processo de modernização evidenciado nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais –, os meios de comunicação estariam desempenhando um papel mais conservador. Quase todos os programas de rádio e TV, colunas de jornais e revistas, manuais de redação, CD-ROMs e até sites na Internet dedicados a questões da língua estariam tentando preservar normas ultrapassadas por meio do que ele denomina “comandos paragramaticais”.
        “As pessoas que falam e escrevem sobre a língua na mídia em geral são jornalistas, advogados ou professores de português que não estão ligados à pesquisa, não participam do debate acadêmico, não estão em dia com as novas tendências da Linguística – são os que eu chamo de gramatiqueiros”, critica Bagno. Para ele, esses “pseudo-especialistas”, ao tentar fazer as pessoas decorarem regras que ninguém mais usa, estariam vendendo “fósseis gramaticais”, fazendo da suposta dificuldade da língua portuguesa um produto de boa saída comercial.
        Outro “mito” tratado no livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz é a ideia, bastante difundida, de que a língua portuguesa é difícil. Bagno afirma que a dificuldade de se lidar com a língua é resultado de um ensino marcado pela obsessão normativa, terminológica, classificatória, excessivamente apegado à nomenclatura. Um ensino que parece ter como objetivo a formação de professores de português e não a de usuários competentes da língua. E que ainda por cima só poderia formar maus professores, já que estaria baseado numa gramática ultrapassada, que não daria conta da realidade atual da língua portuguesa no Brasil.
        Ele acredita que se, em vez disso, os professores se concentrassem no que é realmente importante e interessante na língua, se ajudassem os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão, não haveria tanta gente – depois de anos e anos de estudo – em pânico diante do desafio de escrever uma pequena redação no vestibular.
        As críticas que faz à gramática tradicional não devem ser confundidas com um “vale tudo” linguístico, explica Bagno. “No campo da língua, na verdade, tudo vale alguma coisa”, assegura o escritor. Mas esse valor dependeria do contexto, de “quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito”.
        Quanto ao ensino nas escolas, diz ele, a norma culta deve mesmo ser o principal objeto de estudo. O problema estaria na definição da norma culta a ser ensinada. A “norma culta idealizada”, que só existiria nas gramáticas, deveria ser deixada de lado para dar lugar à norma culta real – identificável na fala e na escrita atual da população culta do país.
        As diferenças entre a norma culta das gramáticas tradicionais e a norma culta real, de acordo com Bagno, não são tão grandes. Elas parecem mais frequentes e profundas, segundo ele, por causa do esforço feito pelos “gramatiqueiros” para preservar seus “dinossauros linguísticos”. “Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso”, ironiza.
        Interpretação – Falando das regras que vão contra a evolução natural da língua portuguesa no Brasil, Bagno cita casos como o do verbo assistir: “O professor pode repetir mil vezes que assistir é transitivo indireto, que o aluno sai da aula e diz que vai assistir o filme em vez de assistir ao filme. Muitos jornalistas, por exemplo, que se esforçam para escrever e falar ‘certo’ dizem que um milhão de pessoas assistiram ao filme, mas logo se traem ao dizer que o filme foi assistido por um milhão de pessoas – sendo que um verbo transitivo indireto não admitiria essa forma passiva.”
        Outro exemplo seria o famoso se de vendem-se casas. Para Bagno, os brasileiros interpretam esse se não como uma partícula apassivadora, mas como índice de indeterminação do sujeito. Uma interpretação, assegura ele, perfeitamente razoável e legítima. “Eu mesmo, em meus livros, só escrevo vende-se casas, ensina-se matérias e não deixo os revisores ‘corrigirem’”.
        Desuso – Ele também não vê como erro, mesmo para quem pretende se expressar na norma culta, formas como vi ele em vez de o vi e a substituição dos pronomes seu e sua por dele e dela sempre que se referem a ele ou ela.  “O brasileiro só usa seu e sua, com naturalidade, para dizer que algo pertence a você.”
        Outras formas, há muito em desuso, como o pronome vós, na visão de Bagno deveriam entrar na sala de aula apenas como uma curiosidade da história da língua, mencionadas como algo que os estudantes vão encontrar em textos antigos. “Não deveriam mais ser cobrados como parte do conhecimento ativo, prático, dinâmico da língua.”
        Para que a língua seja ensinada de forma dinâmica, prazerosa e eficaz, precisaria ser entendida pelos professores como algo vivo em constante processo de evolução – e não de corrupção. Os professores de português precisariam ter uma postura similar à de um professor de biologia ou física, “que sabe perfeitamente que muito do que ele está ensinando hoje pode ser reformulado ou mesmo negado amanhã”, defende Bagno.
        Também é necessário, segundo ele, que o trabalho de identificação e descrição da norma culta brasileira atual, que está sendo feito por meio das pesquisas universitárias, sirva como base para a elaboração de gramáticas dirigidas ao ensino escolar e aos falantes da língua em geral. “É um trabalho que eu mesmo quero começar a fazer quando terminar o doutorado”, planeja.
        Bagno considera indispensável o incentivo ao uso da norma culta, especialmente nas manifestações linguísticas de maior importância e alcance sociocultural e nas que visem a comunicação entre as diferentes regiões do país. Mas, como escreveu no livro Preconceito linguístico, “esse incentivo não precisa vir acompanhado do desdém, do menosprezo, da ridicularização das outras inúmeras normas linguísticas que existem dentro do universo brasileiro da língua portuguesa.”

Flávio Lobo. Erro de português não existe. Revista EDUCAÇÃO, segmento,
São Paulo, p. 26 – 28, julho de 1999.
Entendendo o texto:
01 – Observe que esse texto, apesar de constituir um artigo, também poderia ter sido escrito em forma de perguntas e respostas, já que foi todo construído a partir das ideias de uma personalidade: Marcos Bagno. Em qual dos parágrafos o entrevistado foi apresentado? Qual é a importância das declarações dele para o tema que se está abordando?
      No terceiro parágrafo. Ele é autor de livros, tem formação em letras, mestrado em linguística e faz doutorado em língua portuguesa, por tudo isso, é possível afirmar que suas declarações são de uma “autoridade” no assunto.

02 – No quarto parágrafo, comenta-se sobre divergências que existem entre dois grupos distintos: o dos “linguistas” e o dos “puristas”. É possível “encaixar” o entrevistado Pasquale no último grupo? Por quê?
      Sim. Os puristas, explica-se depois, tem amplo espaço na mídia, defendem uma tradição gramatical e a ideia do “erro de português”.

03 – Por que a tradição gramatical foi chamada de dogmática e anticientífica?
      Dogmática, porque é autoritária, determina o que é “certo” e o que é “errado” na língua. Anticientífica, porque não acompanha as pesquisas acadêmicas, não se renova, não entende a língua como algo vivo em constante processo de transformação.

04 – Por que, segundo Bagno, as pessoas que estão discorrendo sobre “erros de português” em revistas, jornais, no rádio e na televisão, não possuem autoridade para falar sobre a língua?
      Porque, segundo ele, essas pessoas são pseudo-especialistas, ou seja, falsos especialistas. Essas pessoas não estão ligadas à pesquisa e não participam de debates acadêmicos sobre o assunto. Em geral, são advogados, jornalistas e até professores de português desatualizados.

05 – “A língua portuguesa é difícil”. Essa é uma ideia do senso comum bastante arraigada no meio escolar. Segundo Bagno, qual é a procedência desse “mito”, ou seja, dessa crença sem fundamento?
      Essa ideia está diretamente ligada ao ensino de língua portuguesa no Brasil, marcado pela “obsessão normativa, terminológica, classificatória, excessivamente apegado à nomenclatura”.

06 – O ensino de língua portuguesa, centrado nas normas gramaticais, é considerado ultrapassado. O que deve, então, ser ensinado nas aulas de Língua Portuguesa?
      O que realmente é importante e interessante na língua, aquilo que ajudasse os alunos a desenvolver sua capacidade de reflexão e expressão. A norma culta a ser ensinada, segundo ele, deve ser aquela “identificável na fala e na escrita atual da população culta do país”.

07 – Releia o comentário feito por Marcos Bagno: “Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso”:
a)   A quem se refere a palavra “eles”?
Aos “gramatiqueiros”, puristas da língua.

b)   O que significa “tirar as teias de aranha da cabeça”?
Renovar-se, estar atento às novas tendências da linguística.

08 – Bagno também comenta o esforço que fazem alguns “gramatiqueiros” para preservar seus “dinossauros linguísticos”. Que “dinossauros” seriam esses?
      Normas ultrapassadas de gramática que não dão conta da atual língua portuguesa no Brasil.


sábado, 12 de janeiro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): SAMBA DE UMA NOTA SÓ - TOM JOBIM - COM GABARITO

Música(Atividades): Samba de Uma Nota Só

                                                            Tom Jobim

Eis aqui este sambinha feito numa nota só
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Esta outra é consequência do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência inevitável de você
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei pra minha nota como eu volto pra você
Vou contar com uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só

                                     Composição: Newton Mendonça / Tom Jobim
Entendendo a canção:

01 – Quando e por quem foi composta essa canção? 
      É uma música de 1960 composta por Tom Jobim e Newton Mendonça. É um dos maiores sucessos do disco Chega de saudade do músico João Gilberto.

02 – O que diz e pra quem diz a letra da canção? 
      Prega a simplicidade no ato de se passar uma mensagem, como se o ato de rebuscar, inclusive musicalmente falando, causasse algum tipo de interferência. “Quanta gente existe, por aí, que fala tanto e não diz nada ou quase nada. Já me utilizei de toda a escala, no final, não sobrou nada”.

03 – Que características lembram mais sua época? 
      Muitos pesquisadores dizem que é uma canção emblemática do início da Bossa Nova. Juntamente a Desafinado, Chega de Saudade e Garota de Ipanema, dentro da estrutura de arranjos inovadores e romperam com o tradicionalismo da época, formou a base da carreira de Tom Jobim.

04 – O que o Brasil estava vivendo quando foi composta? 
      Foi o ano de fundação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em 1960, o movimento hippie começou a ganhar força, também, e Jânio Quadros foi eleito presidente.

05 – O que é capaz de despertar a canção? 
      É uma música alegre, inspira a brincadeira, a leveza, a forma simples de dizer o quanto se gosta de alguém.

06 – A letra desta música tem predominância de que função da linguagem?
a) Metáfora
b) Metalinguagem
c) Emotiva
d) Poética
e) Eufemismo.