ARTIGO DE OPINIÃO: Como ensinar a dobradinha
direitos-deveres
Rosely Sayão
Quem convive com crianças ou
adolescentes sabe: mais cedo ou mais tarde eles reclamam – e quase sempre com
muita eficiência – por aquilo que chamam de seus direitos.
Explicitamente. "Eu tenho o
direito de me divertir", "Eu tenho o direito de escolher meus
amigos", "Eu tenho o direito de decidir minha vida" e tantas
outras frases desse tipo logo passam a fazer parte da lista de argumentos que
eles usam em casa, quando se confrontam com os pais, ou na escola, quando
entram em conflito com os professores.
Por outro lado, pais e professores
vivem cobrando dos filhos e alunos o que chamam de obrigações:
"Você tem a obrigação
de voltar na hora combinada",
"Você tem a obrigação
de arrumar a cama quando levanta",
"Você tem a obrigação
de entrar na aula no horário",
"Você tem a obrigação
de estudar", por exemplo.
Uma das conclusões a que a criança e o
adolescente chegam seguindo o caminho citado nos exemplos pode ser: o dever
atrapalha o direito. O dever de chegar em casa na hora combinada previamente
com os pais, por exemplo, atrapalha o direito de se divertir e decidir a
própria vida. O dever de fazer a tarefa de casa limita o direito de escolher o
que fazer.
Uma outra conclusão a que eles logo
chegam é a de que o direito é interessante buscar e do dever talvez valha mais
a pena se esquivar. Nos dois casos, o que está colocado nada mais é do que um
puro jogo de interesse individual. E é isso que o processo educativo provoca,
ou seja, que os adolescentes e crianças vão construindo uma imagem bastante
equivocada tanto da noção de direito e de dever quanto da relação entre elas.
Quanto aos pais e professores, que estiveram e/ou estão muitas vezes submetidos
a esse modelo, eles estimulam, sem perceber ou querer, a confusão que tanto
atrapalha a vida de todo mundo.
Afinal, como entender – e ensinar – que
o conceito de dever e de direito são solidamente associados? Ou seja: que um
não existe ou não sobrevive sem o outro? Como relacionar direitos e deveres à
vida em grupo, ao respeito ao outro e, assim, superar os interesses
absolutamente pessoais que norteiam o início da vida? Como evitar a ideia de
que deveres e direitos são forças opostas?
Talvez o primeiro passo seja ter
clareza de que direitos e deveres são condições essenciais para a vida em
grupo, para a convivência, e são constituídos, adquiridos. Direitos e deveres
são fruto, portanto, da negociação, da relação com os outros e das regras que
dela resultam. Essa pode ser a chave para introduzir a noção de direito e dever
na relação educativa: ambos têm relação com a socialização – objetivo da
educação – e também com o exercício da cidadania.
Com essa compreensão fica mais fácil
ensinar à criança, por exemplo, que o dever de ir à escola restringe a
diversão, mas está estreitamente ligado com o direito de uma vida mais digna no
futuro. É, ainda tem essa: direito e dever não têm, necessariamente, uma
relação garantida de causa e efeito. A relação é muito mais de esperança, de
promessa.
É preciso reconhecer: não é fácil nem
simples para pais e professores sustentar tal relação, que parece pouco
objetiva e prática para crianças e adolescentes em seus anseios mais comuns.
Por isso, como sempre acontece quando falamos de limites, de regras, de
educação, enfim, iremos chegar ao mesmo ponto: o exercício da autoridade. É
preciso que pais e professores ocupem seu lugar e pensem no futuro dos filhos e
alunos quando educam.
Exercer o papel educativo com autoridade
significa introduzir as crianças na vida em sociedade, com todas as
contradições e desconfortos que isso supõe. Direitos e deveres impõem, sim,
limites à vida de todos, e não só à das crianças e jovens. Mas, em compensação,
tornam possível a autonomia e permitem que a convivência entre diferentes seja
muito mais pacífica e solidária.
ROSELY SAYÃO é
psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo"
(Ed. Companhia das
Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
Entendendo o texto:
01 – A psicóloga Rosely
Sayão mostra, em seu texto, que o processo educativo de crianças e adolescentes
passa obrigatoriamente pela discussão dos conceitos envolvidos na “dobradinha
direitos-deveres”.
a)
A que tipo de público o texto está dirigido?
Pais, professores, crianças e adolescentes.
b)
O que fica subentendido na relação entre
direitos e deveres, qualificados no texto como uma “dobradinha”?
Que direitos e deveres caminham juntos.
c)
Que argumento a psicóloga utiliza para
desenvolver esse tema em seu texto?
Que a clareza de que direitos e deveres são condições essenciais
para a vida em grupo, para a convivência, e são constituídos, adquiridos.
02 – Para exemplificar o seu
ponto de vista, a autora afirma que a criança e o adolescente chegam a duas
conclusões equivocadas sobre o tema.
a)
O que as crianças e os adolescentes concluem
sobre direitos e deveres?
Que o dever atrapalha o direito.
b)
Segundo a autora, que leva crianças e adolescentes
a construírem essa ideia equivocada?
O direito é interessante buscar e do dever, talvez valha mais a pena
se esquivar.
c)
Você concorda ou discorda do que é afirmado
pela autora? Elabore um argumento que justifique sua opinião.
Concordo, pois, pais(adultos) não explicam às crianças e
adolescentes o quanto é importante cumprir seus deveres, para sua convivência e
seu futuro quando estiverem mais velhos.
03 – No desenvolvimento do
texto, a autora apresenta exemplos para comprovar a ideia equivocada que
crianças e adolescentes tem a respeito de direitos e deveres.
a)
Que situações exemplificam por que crianças e
adolescentes acreditam que “o dever atrapalha o direito”?
“O dever de fazer a tarefa de casa limita o direito de escolher o
que fazer.” “O dever de chegar em casa na hora combinada previamente com os
pais, por exemplo atrapalha o direito de se divertir e decidir a própria
vida.”
b)
Você já passou por uma situação semelhante,
em que tenha cometido o mesmo equívoco? Qual?
Resposta pessoal do aluno.
04 – A autora afirma que os
pais e professores, muitas vezes, estimulam, sem perceber ou querer, a confusão
entre direitos e deveres.
a)
Como eles poderiam contribuir para que as
crianças e os jovens tivessem uma percepção mais correta do que são direitos e
deveres?
Mostrando a importância dos direitos e deveres, na vida futura
deles.
b)
Cite três deveres ou obrigações que lhe sejam
solicitados em casa, na escola ou na comunidade. A seguir, escreva três
direitos que possam ser associados a esses deveres.
Fazer tarefa – Divertir.
Estudar – Descansar.
Organizar material – Ver televisão.
05 – De acordo com a
afirmação a seguir, certos deveres que temos hoje podem ser a garantia de
certos direitos.
“[...]
o dever de ir à escola restringe a diversão, mas está estreitamente ligado com
o direito de uma vida mais digna no futuro.”
A partir dessa ideia,
substitua cada * pelo direito que
pode ser decorrente dos deveres citados a seguir.
a)
Você tem o dever de cuidar do que é público
para ter o direito * de quando precisar, usar
esse mesmo patrimônio público.
b)
Você tem o dever respeitar o jeito de cada um
ser para ter o direito * de ser respeitado(a).
06 – Pense sobre as questões
abaixo e depois escreva sua opinião sustentando-a com um argumento.
a)
Estudar é um direito ou um dever de toda
criança?
É um direito, as nem toda criança pode fazer, porque nem todas podem
pagar por escola particular, e nas públicas nem todas tem vagas e condições de
estudar. E tem criança que precisam trabalhar para ajudar em casa.
b)
Comportar-se de modo civilizado no trânsito é
um direito ou um dever de todo cidadão, seja motorista ou pedestre?
É um dever, para poder ser respeitado.
c)
Defender o meio ambiente é um direito ou um
dever do cidadão?
É um dever, que é para salvar nosso planeta, nosso futuro.
d)
Não aceitar comportamentos que revelem
discriminação ou preconceito é um direito ou um dever de cada cidadão?
É dever e direito. É um direito não ser discriminado e um dever não
discriminar.