Texto: SAIA JÁ DA JAULA, BICHO-HOMEM!
Existem atualmente 193
espécies de macacos e símios, todos com o corpo coberto de pelos, com uma única
exceção: o símio pelado que, modéstia à parte, intitulou-se HOMO
SAPIENS.
Quando as tensões da vida
moderna, do progresso que criou, tornam-se fortes demais, o bicho-homem
refere-se às grandes cidades onde vive como a selva de concreto. Nada
mais errado: nos seus ambientes naturais os animais selvagens não se mutilam,
não atacam os próprios filhos, não sofrem de úlceras de estômago, não se tornam
fetichistas, não sofrem de obesidade, não matam a não ser para comer, não
sofrem desvios sexuais, nem ficam neuróticos. Presos numa jaula, os
animais passam a ter um comportamento estranho, igual ao do homem na cidade
grande.
Em resumo: nossas cidades
não são uma selva de asfalto e concreto; são enormes zoológicos humanos, onde
vivemos em condições que não são naturais para a nossa espécie, e onde corremos
perigo também de enlouquecer de tensão, de adoecermos de civilização, pelo
nariz, pela boa, pelos ouvidos.
Você, por exemplo, respira
de 20 mil a 30 mil vezes por dia, inspirando de cada vez mais ou menos meio
litro de ar. Cerca de 30 por cento desse ar enche 350 milhões de minúsculos
alvéolos, no pulmão, onde o sangue troca o venenoso dióxido de carbono por
oxigênio, sem o qual a vida é impossível.
Nas grandes cidades, o ar
contém centenas de toxinas que prejudicam o desenvolvimento normal das células.
Os gases que escapam dos veículos, a gasolina, por exemplo, impedem a perfeita
oxigenação do sangue e provocam alergias, doenças do coração, câncer. O
monóxido de carbono é assimilado pelos glóbulos vermelhos 200 vezes mais
depressa que o oxigênio. E o chumbo, derivado do tetraetileno de chumbo, é
prejudicial acima de 100 milionésimos de grama por metro cúbico de ar, concentração
que já existe em qualquer cidade de tamanho médio no Brasil.
E a água que bebemos? Os
rios, principais fontes de água potável, são usados como canais de esgoto e de
despejo. A vida animal, na maior parte dos rios que abastecem as grandes cidades,
já não existe, porque a vida é impossível, não está para peixe. Esse líquido
clorado, recuperado, da nossa era higiênica, tem pouca coisa a ver
com a água potável, de nascente, digna de peixe e de homem. Estações de
tratamento, filtros, toda a química disponível não consegue esconder que
estamos bebendo um liquido que supre as nossas necessidades vitais,
mas que é chamada de água apenas por hábito.
Além de tudo, estamos
ficando surdos. Em cada cem cariocas (ou paulistas, ou gaúchos) dez têm problemas
de audição e cinco foram vítimas da poluição sonora. Hoje em dia há duas vezes
mais pessoas surdas que há dez anos passados e a gente da cidade só ouve sons a
partir de 30 decibéis, 10 na melhor das hipóteses, enquanto que o homem do
campo ouve ruídos de um decibel. Dor de cabeça, fadiga excessiva, nervosismo,
distúrbios de equilíbrio, afecções cardíacas e vasculares, anemias, úlceras de
estômago, distúrbios gastrintestinais, neuroses, distúrbios glandulares,
curtos-circuitos nervosos, tudo isso pode ser provocado pelo barulho das
grandes cidades. E nem é preciso que seja barulho excessivo, porque, na maior
parte das vezes, ele já é incômodo e contínuo.
Enjaulados, enquanto não
fizermos desse zoológico um jardim mais verde, mais limpo, mais saudável, menos
neurótico, a única solução é sair de vez em quando para respirar ar puro, beber
água de verdade, ouvir o silêncio, sentir os cheiros da vida e
reconquistar a tranquilidade perdida.
LUIZ LOBO,
Revista Turismo em Foco, Ano IV, n° 19.
Entendendo o texto:
I – Compreensão das palavras do texto.
A. Complete as frases com a palavra adequada:
1. Símio é o mesmo que macaco.
2. A expressão “de símio” equivale ao adjetivo simiesco.
3. Retire do 2o. parágrafo a palavra que significa “privar
de, cortar algum membro do corpo”: Mutilar.
4. Substitua a expressão “minúsculos alvéolos” por outra equivalente: Minúsculos
compartimentos ou cavidades.
5. Água poluída é água: Água suja.
6. Água potável é água: Água que se pode beber.
7. Água clorada é água: Água que contém cloro.
8. Água recuperada é água: Água que passou por tratamento.
9. No parágrafo 6, lemos”: “… supre as nossas necessidades vitais”. Diga
a mesma coisa com outras palavras: Satisfaz ou preenche as exigências
básicas e indispensáveis à vida.
10. Asfalto é um tipo de revestimento ou material usado em ruas e
estradas.
B. Procure, no 4o. e 5o parágrafos, as
palavras ou expressões que correspondam aos significados abaixo:
11. Um dos elementos gasosos do ar, indispensável à vida: oxigênio.
12. Gás nocivo que expelimos no ato da expiração: dióxido de carbono.
13. Processo pelo qual o organismo efetua a troca do gás venenoso
(dióxido de carbono) pelo oxigênio: oxigenação.
14. Substâncias venenosas que tornam o ar poluído: toxinas.
15. Hipersensibilidade do organismo humano a determinadas substâncias e
agentes físicos: alergia.
16. Unidade fundamental que compõe os seres vivos: célula.
C. Dê o significado das palavras em negrito de acordo com a frase:
17. Acreditarei, depois que você me apresentar um fato concreto.
Real, verdadeiro.
18. O edifício foi construído todo em concreto.
Cimento armado.
19. Ele inspirou mais ou menos meio litro de ar.
Introduziu no pulmão,
aspirou.
20. Aquela cena inspirou o poeta.
Estimulou.
21. Aquele menino está com um comportamento estranho.
Esquisito.
22. Um estranho bateu à minha porta, hoje, pela manhã.
Desconhecido.
II – Compreensão da mensagem do texto.
D. Responda de acordo com o texto:
23. Quem é, segundo o autor, o único símio que não tem o corpo coberto
de pelos?
O Homem.
24. O nome de HOMO SAPIENS (par. 1) foi dado a esse símio:
a. (X) pelo próprio
homem
b. ( ) pelo autor do
texto
c. ( ) por um poeta
25. A expressão “modéstia à parte” (par. 1) significa que:
a. ( ) o autor
não faz parte do grupo de Homo Sapiens.
b. (X) o autor também
se considera um Homo Sapiens.
c. ( ) a
modéstia é um animal que não faz parte do grupo Homo Sapiens.
26. “Ouvir o silêncio” (par. 8) é uma expressão:
a. ( )
absurda b. (X) poética
c. ( ) lógica.
27. Enumere três fatores que, segundo o autor, são determinantes de
tensão da vida moderna.
A agitação das grandes
cidades; a falta de contato com a natureza; as diversas formas de poluição.
28. O autor concorda com a expressão “selva de concreto”?
a. ( )
sim b. (X) não
c. ( ) em parte
Transcreva a parte do texto que justifica sua resposta: No terceiro parágrafo
ele diz: “Em resumo: nossas cidades não são uma selva de asfalto e concreto;
São enormes zoológicos humanos, onde vivemos em condições que não são
naturais.” Em outras palavras, o ser humano vive preso nas grandes cidades.
Vive estressado; respira, dorme e come mal, tem medo de tudo e de todos.
29. Identifique, no texto, os parágrafos em que são abordados os
seguintes assuntos:
a. poluição do ar: parágrafos 4 e 5.
b. poluição da água: parágrafo 6.
c. poluição acústica: parágrafo 7.
30. Quais as soluções apontadas pelo autor para combater a tríplice
poluição?
a) tornar as cidades mais verdes, isto é,
plantar mais árvores;
b) conservar as cidades mais limpas e
saudáveis
c) respirar ar puro (não poluído por
fumaças e outros gases poluidores)
d) beber água de verdade, isto é, potável
e) ouvir o silêncio, isto é, acabar com o
barulho desnecessário.