quinta-feira, 6 de abril de 2017

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA
       Olavo Bilac
         Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a pequena história da literatura brasileira. [...]
         Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei quase num susto depois que li os primeiros versos do soneto à língua portuguesa: última flor do Lácio, inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.
         Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio que não sabia onde ficava mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos?
         Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas sondagens antes de chegar até onde queria, os tais rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquanto enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe e ele não tinham viajado para o exterior.
         Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas viagens de navio, Portugal, França, Itália... não esquecer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele acrescentou. Mas por que essa curiosidade?
         Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a gaguejar, é que seria tão bom se ambos tivessem nascido lá. Estaria agora escrevendo em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!
         Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? E as traduções? Renegar a língua é renegar o pais, guarde isso nessa cabecinha. E depois (ele voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa língua! Tem mais, ele precisa da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora? – acrescentou e levantou-se. Deu alguns passos e ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já fez a sua lição de casa?
         Fechei o livro e recuei. Sempre que o meu pai queria mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da poltrona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de vime e ia para a rede ou simplesmente começava a andar. Era o sinal. Não quero falar nisso, chega. Então a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.
         Tantos anos depois, quando me avisaram lá do pequeno hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pensando nisso, ah! Se quando a Morte entrou, se nesse instante ele tivesse mudando de lugar. Mudar depressa de lugar e de assunto. Depressa, pai, saia da cama e fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta!
                                           Durante aquele estranho chá: perdidos e achados.
                                                              Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 109-111.
1 – O poeta chama a língua portuguesa de flor do Lácio.
a)     Recorde o comentário da narradora:
“O tal de Lácio eu não sabia onde ficava...”
Você sabe onde ficava “o tal de Lácio”: onde?
Na Península Itálica (região onde surgiu Roma)
b)    Por que o poema chama a língua portuguesa de flor do Lácio?
Porque é um produto excepcionalmente bom, bonito (como uma flor) da língua que se falava no Lácio; porque é uma língua tão bela quanto uma flor que tem sua origem no latim, língua falada no Lácio.
2 – O poeta atribui à língua características que se opõem; explique:
a)     A língua é bela, mas é inculta – porque é inculta?
É inculta porque não é produto de cultura, é a língua de um povo ainda sem tradição cultural; É inculta, porque é primitiva, rude.
b)    A língua é esplendor (brilho, grandiosidade), mas é sepultura – por que é sepultura?
Porque, por ser uma língua desconhecida, o que é escrito nela fica fora do alcance dos outros, fica escondido, oculto.
3 – Por que a narradora ficou tão perturbada ao ver a língua portuguesa chamada de sepultura?
       Porque escrevia e assustou-se com a possibilidade de que não tivesse leitores, de que seus textos ficassem inacessíveis.
4 – Para a narradora, a solução para escapar da língua-sepultura seria escrever em italiano:
         “Estaria agora escrevendo em italiano, italiano!”
a)     Por que italiano, e não francês, alemão, inglês...?
Porque era descendente de italianos, poderia ter nascido na Itália, a língua italiana era para ela uma possibilidade que tinha sido perdida.
b)    Escrever em italiano e não em português seria melhor não por causa do número de falantes – observe que o italiano não está incluído no quadro da p. 195. Que vantagem teria o italiano sobre o português?
O italiano é uma língua mais difundida no mundo, mais estudada, mais conhecida, é a língua de um país com mais representação econômica, cultural e literária que os países de língua portuguesa.
5 – Recorde a opinião do pai sobre o poema:
       “O soneto é muito bonito...”
       Veja, na p. 200, o poema de Olavo Bilac – um soneto; conte o número de estrofes, o número de versos em cada estrofe e conclua: qual é a forma de um soneto?
       O objetivo é provocar a leitura do poema de Bilac e aproveitar a referência a soneto, na crônica, para que os alunos conheçam esta forma de composição poética.


quarta-feira, 5 de abril de 2017

ANEDOTA: JOÃOZINHO E SEU PAI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


         Anedota: JOÃOZINHO E SEU PAI

         O pai do Joãozinho fica apavorado
quando este lhe mostra o boletim:
         -- Na minha época, as notas baixas
eram punidas com uma boa surra – comenta contrafeito.
        -- Legal, pai! Que tal pegarmos o professor na saída amanhã?

                                   Donaldo Buchweitz. Piadas para você morrer de rir.
                  Belo Horizonte: Leitura, 2001, p. 38.


1 – Observe a situação em que se dá o diálogo entre pai e filho.
a)     O momento é tenso ou descontraído? Por quê?
Tenso. Pela surpresa das notas baixas.

b)    Como está o pai? Justifique sua resposta com palavras do texto.
Apavorado. Com o que vê no boletim.

2 – Observe a fala do pai de Joãozinho.
a)     O que ele quer dizer ao comentar que, em sua época, as notas baixas eram punidas com surras?
Quis dizer que o Joãozinho merecia uma surra.

b)    Portanto, nesse momento, que imagem ele provavelmente tem de Joãozinho?
Um mal aluno.

c)     Você acha que o pai pretende dar uma surra no filho?
Não.

d)    Então, com que intenção o pai faz esse comentário? Que imagem de si mesmo ele quer passar para o filho?
Com a intensão de que Joãozinho merecia uma surra. Que na época dele, toda nota baixa era castigado com surra.

3 – O humor da anedota está no mal-entendido que há entre pai e filho quanto à compreensão da fala do pai.
a)     De acordo com a fala do pai, quem supostamente merecia algum tipo de punição? Por quê?
Joãozinho. Porque tinha notas baixas.

b)    Por que a resposta de Joãozinho surpreende?
Porque o professor seria o responsável.



terça-feira, 4 de abril de 2017

FÁBULA: O LOBO E O CORDEIRO - MARISA LAJOLO - COM GABARITO

FÁBULA– O LOBO E O CORDEIRO
                    Marisa Lajolo

A razão do mais forte vai sempre vencer
É o que adiante vocês hão de ver.
Num límpido regato um dia
Um cordeiro, sereno, bebia.
Eis que surge um lobo faminto:
- Como ousas sujar minha água?
Diz o lobo com fingida mágoa:
- Logo vais receber o castigo
Por assim desafiar o perigo.
- Senhor – o cordeiro respondeu -,
Não te zangues: não vês que me encontro
Vinte passos abaixo de ti
E, portanto, seria impossível
Macular tua água daqui?
- Tu a sujas – diz o bicho feroz -,
Além disso estou informando
Que falaste de mim ano passado.
- Como poderia te ter ofendido
Se não era nascido então,
E o leite materno inda bebo?
- Ora, ora, se não foste tu,
Com certeza foi teu irmão.
- Não o tenho.
- Então foi algum dos teus:
Pois que nunca me deixam em paz,
Tu, teus pastores e cães;
Necessária a vingança se faz.
E no fundo da floresta
Com toda tranquilidade
O lobo devora o cordeiro
Sem outra formalidade.
                                     Histórias sobre ética. São Paulo: Ática, 1999, p. 11-12.
        (Coleção para gostar de ler, v. 27; coordenação e seleção de textos de
                                                                                                           Marisa Lajolo).
1 – Identifique:
a)     Qual é o primeiro argumento do lobo, para justificar sua ameaça ao cordeiro?
O cordeiro estava sujando a água que ele ia beber.

b)    O lobo apresenta esse argumento com fingida mágoa: com que objetivo ele finge que está magoado?
Com o objetivo de disfarçar a falsidade de seu argumento.

c)     Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Estava abaixo do lobo, portanto, não podia estar sujando a água.

d)    Qual é a atitude do lobo diante do contra-argumento do cordeiro?
Ignora o contra-argumento e insiste em seu argumento – reafirma que o cordeiro suja a água – e em seguida apresenta outro argumento.

2 – Identifique:
a)     Qual é o segundo argumento do lobo, para continuar ameaçando o cordeiro?
O cordeiro tinha falado mal dele, no ano anterior.

b)    Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Ainda não tinha nascido, no ano anterior.

c)     Qual é a ração do lobo ao contra-argumento do cordeiro?
Não nega o contra-argumento, mas apresenta outro.

3 – Identifique:
a)     Qual é o terceiro argumento do lobo, para insistir na ameaça ao cordeiro? Que pressuposto está subjacente a esse argumento?
O irmão do cordeiro tinha falado mal dele; o pressuposto é que o cordeiro deveria pagar pelos atos do irmão.

b)    Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Não tinha irmão.

c)     Qual é a resposta do lobo? Que pressuposto está subjacente a essa resposta?
Algum dos pastores ou dos cães tinha falado mal dele; o pressuposto é que o cordeiro deveria pagar pelos atos daqueles com quem convivia.

4 – No jogo de argumentos e contra-argumentos, qual dos dois tinha razão: o lobo ou o cordeiro?
       O cordeiro, porque apresentava fatos verdadeiros, enquanto o lobo inventava fatos.

5 – Recorde as palavras finais do lobo:
       “Necessária a vingança se faz”.
       Foi mesmo por vingança que o lobo devorou o cordeiro? Justifique sua resposta.
       Não, não havia razão para vingança, o cordeiro tinha cometido nenhuma falta; devorou o cordeiro porque estava faminto.

6 – Identifique, na fábula, o preceito moral ou a moral e explique: que relação tem esse preceito com a história do lobo e do cordeiro?
       A razão do mais forte vai sempre vencer; a fábula mostra que, embora o cordeiro é que tivesse razão, venceu o lobo, apenas porque era mais forte.


POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS
                Carlos Drummond de Andrade

O homem, bicho da Terra tão pequeno
Chateia-se na Terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a Lua
Desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
Planta bandeira na Lua
Experimenta a Lua
Coloniza a Lua
Civiliza a Lua
Humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
Pisa em Marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus
O homem põe o pé em Vênus,
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o Sol, falso touro
Espanhol domado.
Testam outros sistemas fora
Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(Estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar, colonizar, civilizar
Humanizar o homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria de con-viver.

                                A palavra mágica. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 81-83.
                                             Carlos Drummond de Andrade Granã Drummond
                                                                              www.carlosdrummond.com.br

1 – Consultando o poema nas páginas deste livro, determinem sua estrutura:
a)     O poema fala:
- primeiro, de viagens ao espaço,
Viagem ao espaço: as cinco primeiras estrofes mais os três primeiros versos da sexta estrofe.

- depois, de viagem de si a si mesmo.
Viagens de si a si mesmo: a última estrofe, excetuados os três primeiros versos.

Identifiquem essas duas partes no poema.
b)    Identifiquem o destino, o ponto de chegada de cada uma das viagens ao espaço, na ordem em que elas são apresentadas no poema.
Lua; Marte; Vênus; Júpiter; outros planetas; Sol; outros sistemas.

c)     Observem que a ordem de apresentação das viagens ao espaço obedece a um critério; determinem qual é esse critério:
- Do lugar mais interessante ao mais chato?
- Do lugar mais próximo ao mais distante?
- Do lugar mais conhecido ao mais misterioso?

2 – Segundo os primeiros versos do poema, o que leva o homem a explorar o desconhecido? O que busca no desconhecido?
         O homem quer fugir da Terra, quer escapar para outros lugares: chateia-se na Terra, onde há pouca diversão e muita miséria; busca lugares melhores, em que tenha mais alegria, em que se sinta melhor.

3 – Comparem estes quatro trechos do poema:
         1ª viagem                                            2ª viagem
desce cauteloso na Lua                            “... o homem desce em Marte
Pisa na Lua                                                    pisa em Marte
Planta bandeirola na Lua                            experimenta
Experimenta a Lua                                       coloniza
Coloniza a Lua                                               civiliza
Civiliza a Lua                                                  humaniza Marte com engenho e
Humaniza a Lua”.                                         Arte.”

3ª viagem                                                      4ª viagem
“O homem põe o pé em Vênus.                “O homem funde a cuca se não
Vê o visto – é isto?                                                       for a Júpiter.
Idem                                                               proclamar justiça junto com
Idem                                                                               injustiça.
Idem”.                                                            Repetir a fossa
                                                                        Repetir o inquieto
                                                                        Repetitório.”
a)     Observem que a enumeração das ações do homem vai sendo resumida, de viagem a viagem.
O que quer o poeta mostrar com isso?
Que em todos os lugares, tudo é igual, não é preciso repetir, é sempre a mesma coisa.

b)    Comparem a forma como o poeta expressa a chegada do homem à Lua, a Marte e a Vênus:
- “desce cauteloso na Lua”;
- “desce em Marte” (já não está mais cauteloso...);
- “põe o pé em Vênus” (já não “desce”, põe logo o pé).
O homem vai se tornando cada vez mais:
Entusiasmado?             Confiante?             Corajoso?

4 – Localizem na quinta estrofe o verso:
       “O espaço todo vira Terra-a-terra”.
       Em Terra-a-terra, o poeta reúne em uma só palavra duas características que o espaço adquire:
       O espaço todo vira Terra + o espaço todo vira Terra-a-terra.
a)     O espaço todo vira Terra – por quê?
Porque o homem se chateia em todos os lugares, todos os lugares são iguais a Terra.

b)    O espaço todo vira terra-a-terra – o que quer dizer terra-a-terra?
Comum, sem novidade, corriqueiro, trivial.

c)     Concluam: quais são as duas características do espaço reunidas na palavra Terra-a-terra?
Todos os planetas e sistemas são iguais à Terra e todos são comuns, não oferecem novidades.

5 – Recordem a viagem ao sol:
       “O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever?
       Não-vê que ele inventa
       Roupa insiderável de viver no Sol.
        Põe o pé e:
        Mas que chato é o Sol, falso touro
        Espanhol domado.”
a)     Nesse trecho, o poema cria duas palavras:
- ... só para tever – Qual o sentido dessa palavra?
Ver pela televisão (combinação de tevê + ver).

- ... roupa insiderável de viver no Sol.
Descubram o sentido dessa palavra, observando sua formação: do verbo siderar, que existe, e quer dizer fulminar, aniquilar, o poeta formou o adjetivo que não existe – insiderável:
                                In+siderável
Concluam: o que é uma roupa insiderável? Por que, para viver no Sol, seria necessário ter uma roupa insiderável?
Roupa que não pode ser aniquilada; o Sol destruiria qualquer roupa que não fosse resistente a seu calor.

b)    O poeta compara o Sol a um falso touro espanhol domado.
Expliquem por que o Sol é um touro espanhol (o touro das touradas de Espanha), por que é falso e por que é domado.
O Sol parece potente, forte como os touros que ameaçam os toureiros nas touradas da Espanha; mas é um touro falso porque, na verdade, não é uma ameaça; é domado porque é conquistado, é vencido pelo homem.

6 – Observem como o poeta dividiu o verbo colonizar na sexta estrofe:
       “Restam outros sistemas fora do solar a col-onizar.”
       Oni – é um elemento que se junta a palavras para acrescentar a elas o sentido de tudo, todo:
       Onipresente = presente em todos os lugares;
       Onisciente = que sabe todas as coisas.
       Em col-onizar, o poeta reúne dois sentidos em uma só palavra:
       - colonizar outros sistemas – Qual é o sentido?
       Transformar outros sistemas em colônias da Terra- ocupar, dominar outros sistemas.

        - col-onizar outros sistemas – Qual é o sentido?
        Transformar todos os outros sistemas em colônias da Terra.

7 – Releiam a última estrofe, em que o poeta fala de uma outra viagem.
a)     Qual é o destino, o ponto de chegada dessa outra viagem?
Destino: o próprio homem (si mesmo).

Qual é o objetivo dessa outra viagem?
Objetivo: colonizar, civilizar, humanizar o homem (si mesmo).

b)    O poeta não tem certeza de que o homem esteja equipado para esta outra viagem – recordem a pergunta:
- O homem está equipado para a viagens ao espaço – a primeira estrofe cita o equipamento: Qual é?
Foguete, cápsula, módulo.

- Que “equipamento” vocês julgam que o homem precisaria ter para realizar essa outra viagem?
Resposta pessoal. Algumas possibilidades: amor, respeito pelos outros, paciência, coragem, etc...


domingo, 2 de abril de 2017

GERÚNDIO E GERUNDISMO - VEJA A DIFERENÇA

      GERÚNDIO   E GERUNDISMO  -  VEJA  A DIFERENÇA        
A t  A  Tirinha   do Grump, que apareceu no vestibular do ITA:



No lugar de reclamação, ação! Comprei um livro com tudo sobre a Reforma Ortográfica. Vou estar lendo diariamente. Vou estar aprendendo cada vez mais. Vou estar me superando a cada dia.
– Bem que podiam ter aproveitado a Reforma para estarem limando o gerúndio.
***
Temos, nos quadrinhos, uma crítica a um vício de linguagem que virou “modinha”, o gerundismo. Trata-se do emprego inadequado da forma nominal gerúndio. Muitas pessoas confundem gerúndio e gerundismo e, das duas uma: ou empregam equivocadamente o verbo no gerúndio ou evitam-no a todo custo, achando que é errado usá-lo.
Para evitar as confusões, vamos definir cada um dos termos:
§ Gerúndio: forma nominal dos verbos que indica ação em processo, ou seja, a ação já teve início e ainda está em andamento, não foi encerrada: “Os alunos estão fazendo a prova, enquanto a professora observa.”
§ Gerundismo: vício de linguagem que consiste na construção de locução verbal exagerada, com excesso de verbos e um deles no gerúndio, na tentativa de reforçar a ideia de continuidade de uma ação no futuro: “Vou estar fazendo a lição de casa após o almoço”.
Como diriam meus alunos, ‘o que pega’ é que há falta de objetividade na construção, pois não há necessidade de tantos verbos na locução. A mensagem ficaria mais objetiva e clara, por exemplo, assim:
§ Vou fazer a lição de casa após o almoço.
Além da falta de objetividade, há também outro problema: ‘vou fazer’ é pontual, assertivo, ao passo que ‘vou estar fazendo’ transmite a ideia de que o processo vai ser iniciado, mas nada se sabe quanto ao término…
Então é melhor não usar locuções com verbo no gerúndio? Não! Essa forma nominal é útil, mas deve ser empregada apenas quando a intenção for indicar que a ação não terminou, ainda está em curso, isoladamente ou em relação a outra ação, como nesta frase:
§ A velhinha estava fazendo palavras cruzadas enquanto esperava o médico atendê-la. (ação iniciada e não concluída)
Como iniciei o texto com uma tirinha, vou encerrá-lo com outra – o cartunista Laerte fez bom uso do gerúndio na tirinha abaixo:


Resumindo: evite o gerúndio desnecessário, mas continue a empregá-lo em locuções verbais que expressem ação iniciada e ainda não concluída.

E quando vocês estiverem empregando corretamente essa forma verbal, ficarei satisfeita por auxiliado.


sábado, 1 de abril de 2017

LITERATURA - ANA TERRA - COM GABARITO

LITERATURA -  ANA TERRA - COM GABARITO

ANA TERRA
         [...]
         Mal raiou o dia, Ana ouviu um longo mugido. Teve um estremecimento, voltou a cabeça para todos os lados, procurando, e finalmente avistou uma das vacas leiteiras da estância, que subia a coxilha na direção do rancho. A Mimosa! – reconheceu. Correu ao encontro da vaca, enlaçou-lhe o pescoço com os braços, ficou por algum tempo a sentir o rosto o calor bom do animal e a acariciar lhe o pelo do pescoço. Leite pras crianças – pensou. O dia afinal de contas começava bem. Apanhou do meio dos destroços do rancho um balde amassado, acocorou-se ao pé da vaca e começou a ordenha-la. E assim, quando Eulália, Pedrinho e Rosa acordaram, Ana pôde oferecer a cada um deles um caneco de leite.
         - Sabe quem voltou, meu filho? A Mimosa.
         O menino olhou para o animal com olhos alegres.
         - Fugiu dos bandidos! – exclamou ele.
         Bebeu o leite morno, aproximou-se da vaca e passou-lhe a mão pelo lombo, dizendo:
         - Mimosa velha... Mimosa valente...
         O animal parecia olhar com seus olhos remelentos e tristonhos para as sepulturas. Pedro então perguntou:
         - E as cruzes, mãe?
         - é verdade. Precisamos fazer umas cruzes.
         Com pedaços de taquara amarrados com cipós, mãe e filho fizeram quatro cruzes, que cravaram nas quatro sepulturas. Enquanto faziam isso, Eulália, que desde o despertar não dissera uma única palavra, continuava sentada no chão a embalar a filha nos braços, os olhos voltados fixamente para as bandas do Rio Pardo.
         No momento em que cravara a última cruz, Ana teve uma dúvida que a deixou apreensiva. Só agora lhe ocorria que não tinha escutado o coração dum dos escravos. O mais magro deles estava com a cabeça decepada – isso ela não podia esquecer...
         Mas e o outro? Ela estava tão cansada, tão tonta e confusa que nem tivera a ideia de verificar se o pobre do negro estava morto ou não. Tinham empurrado o corpo para dentro da cova e atirado terra em cima... Ana olhava, sombria, para as sepulturas.
         Fosse como fosse, agora era tarde demais. “Deus me perdoe” – murmurou ela. E não se preocupou mais com aquilo, pois tinha muitas coisas em que pensar.
         Começou a catar em meio dos destroços do rancho as coisas que os castelhanos haviam deixado intatas: a roca, o crucifixo, a tesoura grande de podar – que servira para cortar o umbigo de Pedrinho e de Rosa -, algumas roupas e dois pratos de pedra.
          Amontoou tudo isso e mais o cofre em cima dum cobertor e fez uma trouxa.
          Naquele dia alimentaram-se de pêssegos e dos lambaris que Pedrinho pescou no poço. E mais uma noite desceu – clara, morna, pontilhada de vaga-lumes e dos gemidos dos urutaus.
          Pela madrugada Ana acordou e ouviu o choro da cunhada. Aproximou-se dela e tocou-lhe o ombro com a ponta dos dedos.
          - Não há de ser nada, Eulália...
          Parada junto de Pedro e Rosa, como um vaga-lume pousado a luciluzir entre os chifres, a vaca parecia velar o sono das crianças, como um anjo da guarda.
          - Que vai ser de nós agora? – choramingou Eulália.
          - Vamos embora daqui.
          - mas pra onde?
          - Pra qualquer lugar. O mundo é grande.
          Ana sentia-se animada, com vontade de viver, por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. E ali, deitada no chão a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente.
         Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.

   VERISSIMO, Erico. O Continente. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

1 – Em que ambiente vive Ana Terra?
      Vive no meio rural, em um rancho.

2 – O autor não descreve a indumentária da Ana Terra. Levando em conta o contexto em que ela vive, como você imagina que seja a vestimenta dessa personagem?
       Resposta pessoal.

3 – O que podemos dizer a respeito da condição econômica da personagem Ana na situação narrada no texto?
       Que ela estava desprovida dos bens materiais necessários para viver com conforto. Estava sem casa, passando frio, vivendo de sobras deixadas pelos castelhanos e trabalhando duramente.

4 – Releia o seguinte trecho:
          [...] e finalmente avistou uma das vacas leiteiras da estância, que subia a coxilha na direção do rancho. A Mimosa! – reconheceu. Correu ao encontro da vaca, enlaçou-lhe o pescoço com os braços, ficou por algum tempo a sentir contra o rosto o calor bom do animal e a acariciar lhe o pelo do pescoço. Leite pras crianças – pensou. O dia afinal de contas começava bem. [...].
         - Sabe quem voltou, meu filho? A Mimosa.
         O menino olhou para o animal com olhos alegres.
         - Fugiu dos bandidos! – exclamou ele.
         Bebeu o leite morno, aproximou-se da vaca e passou-lhe a mão pelo lombo, dizendo:
         - Mimosa velha... Mimosa valente...
         O animal parecia olhar com seus olhos remelentos e tristonhos para as sepulturas. [...].
a)     Nesse trecho, a vaca representa o alimento, o sustento dos filhos. O que mais a vaca representa para as personagens?
Ela representa a resistência, o afeto, a valentia de viver.

b)    Apesar de narrar um dia que começava bem, o trecho revela uma visão idealizada da vida de Ana Terra? Explique.
Não. O trecho revela as condições reais de vida que ele enfrenta, passando necessidades e vivendo uma situação difícil.

5 – Ana ficou sem casa, sem amigos, sem ilusões.
a)     O que lhe restou e o que a levou a resistir?
O que lhe restou foi a vontade de viver, em grande parte, por causa de Pedrinho, mas também por conta da raiva que se transformara em birra, teimosia, e porque Ana havia herdado do pai o seu gênio de “mula”.

b)    O que significa o trecho “sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar”?
Uma espécie de indiferença causada pelo sofrimento, pelas perdas, pela falta de esperança e alegria.

6 – Podemos considerar Ana Terra como uma mulher que decide tomar as rédeas de seu destino?
         Sim. Ana Terra decide contrariar a sorte e a própria sina. Sabe que essa sua obrigação e até pensa: “Pode e deve”. Graças a sua teimosia, sem ter ninguém para apoiá-la, pois pai e irmão estavam enterrados, assim como os amigos, decide enfrentar seu destino, afinal chamava-se Ana Terra, era filha de seu pai, a quem o leitor pode atribuir uma personalidade também firme, obstinada.