Conto: O escravo que guardou os ossos do príncipe
Reginaldo Prandi
Havia um escravo chamado Odedirã, que
vivia perseguido pelo seu senhor.
Odedirã um dia ganhou um pintinho de um
vizinho. ele o criou até que se tornasse uma galinha.
A galinha pôs ovos e os chocou.
Nasceram muitos pintinhos que Odedirã criou. A criação de galinhas foi
crescendo.
Um dia, voltando da roça, ele encontrou
todas as suas galinhas e todos os seus galos mortos.
O seu senhor disse:
“Tu és escravo ou dono de uma granja?”.
Odedirã ficou tristíssimo, mas não
disse nada.
Limpou os frangos mortos, salgou,
defumou a carne e a guardou...
Um dia ele ganhou uma cabritinha. A
cabritinha cresceu e se tornou uma bela cabra, que deu muitos filhotes. A
criação de cabras foi crescendo.
Um dia, voltando da roça, encontrou
todas as suas cabras e todos os seus cabritos mortos.
O seu senhor disse:
“Tu és escravo ou fazendeiro?”.
Odedirã ficou tristíssimo, mas não
disse nada.
Limpou os animais mortos, salgou,
defumou a carne e a guardou...
Quando veio a seca e faltou comida no
seu país, Odedirã vendeu as carnes defumadas e guardou o dinheiro.
Um dia, voltando da roça, encontrou o
seu senhor muito bem-vestido.
Ele comprara ricas roupas, sapatos
finos e belas joias.
O escravo percebeu com que dinheiro
tudo havia sido comprado, quando o seu senhor lhe disse:
“Tu és escravo ou banqueiro?”.
Vendo a tristeza do escravo o senhor
disse:
“Comprei pra ti este monte de ossos.
Quem sabe tu não começas uma fábrica de botões e te transformas num industrial?
Pois parece que escravo tu não queres ser”.
Odedirã nada respondeu e guardou os
ossos.
Logo, logo, passaram por ali emissários
do rei. Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia
morrido e, se isso não bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o
esqueleto do príncipe morto.
Os soldados procuravam os ossos por
todo o país, será que alguém sabia dos despojos principescos?
Odedirã foi para dentro e voltou com
uma caixa.
“Aqui estão os restos de nosso amado
príncipe, ele disse. “Foram abandonados aqui por ladrões em fuga”, completou.
O rei ficou muito grato pela
recuperação do esqueleto do filho.
Os ossos foram enterrados na capital do
reino com todas as solenidades funerárias costumeiras.
Odedirã e seu senhor foram levados aos
funerais como convidados especiais, como salvadores da pátria.
Ao final da cerimônia, o rei libertou o
escravo Odedirã adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro.
Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu
antigo senhor para que ele voltasse para casa e disse-lhe:
“Quando eu era teu escravo, só para me
roubar vivias perguntando o que eu era. Mas nunca soubeste o que eu queria ser.
Eu não queria ser dono de granja, não queria ser fazendeiro nem banqueiro.
Muito menos industrial. Eu só queria ser rei”.
E entrou no palácio abraçado com o pai
adotivo...
Reginaldo Prandi, Os
príncipes do destino, história da mitologia afro-brasileira. São Paulo. Cosac
& Naifi, SP. 2001.
Fonte: Coleção Desafio
Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta
Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP122-MP127.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o conto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Defumou (a carne): secou, exposto à fumaça.
·
Mercenários: pessoas que trabalham apenas por dinheiro.
·
Sem escrúpulos: sem integridade de caráter.
·
Despojos principescos: restos do príncipe.
·
Solenidades funerárias: cerimônias de enterro.
02 – Releia. “Odedirã um dia
ganhou um pintinho de um vizinho. Ele o criou até
que se tornasse uma galinha.”. Os pronomes ele e o retomam
palavras já usadas no trecho. Identifique-as.
Ele retoma “Odedirã” e o
retoma “pintinho”.
03 – Responda às seguintes
questões sobre as personagens do texto.
a) Quem são o protagonista e o antagonista do texto?
O escravo é o protagonista, e o senhor, o antagonista.
b) Qual trecho do texto mostra o obstáculo a ser enfrentado pelo protagonista?
“[...] que vivia perseguido pelo seu senhor”.
c) Quais atitudes do antagonista atrapalham o protagonista?
O senhor matou os animais e roubou o dinheiro do escravo.
d) Em sua opinião, por que o homem teve essas atitudes?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Por ser senhor de Odedirã, ele
não considerava os sentimentos deste e não queria vê-lo prosperar.
04 – Qual era a reação de
Odedirã ao saber das maldades de seu senhor?
Odedirã se entristecia, mas não reagia.
05 – Leia novamente.
“Um dia, voltando da roça, encontrou o
seu senhor muito bem-vestido.
Ele comprara ricas roupas, sapatos
finos e belas joias.
O escravo percebeu com que dinheiro tudo
havia sido comprado [...]”.
a) A palavra destacada substitui quais outras palavras no trecho lido? Copie-as.
“ricas roupas, sapatos finos e belas joias”.
b) Explique a que conclusão Odedirã chegou ao encontrar seu senhor muito bem vestido.
Odedirã concluiu que seu senhor, com o dinheiro que havia roubado
dele, comprou roupas, sapatos finos e joias.
c) O que você acha da atitude do homem com o escravo? Converse com os colegas a respeito disso.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Era uma atitude inadequada e
que é necessário haver uma conduta ética e humanitária nas relações entre as
pessoas.
06 – Releia.
“[...] Uma grande desgraça
se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso não
bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe
morto.”
a) A palavra destacada refere-se a dois acontecimentos. Indique-os.
O príncipe morreu e Mercenários roubaram seu esqueleto.
b) No texto, foram usadas três outras palavras para indicar o esqueleto do príncipe. Quais foram?
Ossos, despojos e restos.
07 – As frases a seguir
resumem os acontecimentos finais da história. Numere-as, ordenando-os
corretamente.
(2)
Os ossos foram enterrados na capital do reino.
(4)
O rei libertou o escravo Odedirã, adotou-o como filho e o declarou seu príncipe
herdeiro.
(1)
O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho.
(5)
Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse
para casa.
(3)
Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais.