sábado, 18 de novembro de 2017

QUESTÕES DE TROVADORISMO-CLASSICISMO E OUTRAS - COM GABARITO

QUESTÕES  OBJETIVAS


1 – (PSS/UFPA-PA) Leia atentamente o texto seguinte:   

Se eu podess’ ora meu coraçom,
Senhor, forçar e poder-vos dizer
Quanta coita mi fazedes sofrer
Por vós, cuid’ eu, assi Deus mi perdom,
Que haveríades doo de mi.

Ca, senhor, pero me fazedes mal
E mi nunca quisestes fazer bem,
Se soubéssedes quanto mal mi vem
Por vós, cuid’ eu, par Deus que pod’ e val,
Que haveríades doo de mi.



E, pero mi havedes gram desamor,
Se soubéssedes quanto mal levei
E quanta coita, des que vos amei,
Por vós, cuid’ eu, per bõa fé, senhor
Que haveríades doo de mi.

E mal seria se nom foss’ assi.

           D. Dinis. Portal galego da língua: cantigas trovadorescas. Disponível em:

Senhor: senhora.
Coita: sofrimento de amor.
Doo: dó.
Ca: porque.

Considerando que o texto acima é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse tipo de produção poética, que:
a)    O trovador, de acordo com as regras do amor cortês, ao cantar a alegria de amar na cantiga de amor, revela em seus poemas o nome da mulher amada.
b)    O homem, nesse tipo de composição poética, nutre esperanças de, um dia, conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo imperfeita, é o objeto do seu desejo.
c)    A cantiga de amor, na lírica trovadoresca, caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a ausência do namorado que viajou e a abandonou.
d)    O trovador, na cantiga de amor, coloca-se no lugar da mulher que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente (mãe, amiga ou algum elemento da natureza).
e)    O homem apaixonado, na cantiga de amor, sofre e coloca-se em posição de servo do “senhor” (não existia a palavra “senhora”), divinizando a mulher amada, o que torna quase sempre a sua cantiga um lamento, expressão do sofrimento amoroso.

2 – (PROSEL/UEPA-PA) A submissão da mulher ao homem é um sintoma de violência cultural que tem sido combatido, mas ainda persiste em alguns lugares do mundo. As consequências disso são várias. Você lerá a seguir algumas frases relativas à situação da mulher no Trovadorismo. A alternativa em que há registro de uma dessas consequências é:
a)    A relação de vassalagem entre o servo e seu senhor é transferida para as Cantigas de Amor, uma vez que nelas a dama é apresentada como senhora absoluta do trovador.
b)    A mulher é inacessível ao trovador, entre outras coisas, ou por ser casada, ou por sua condição social de superioridade.
c)    Nas Cantigas de Amigo, há queixas constantes das mulheres pela ausência do amado, que o rei levou para à guerra.
d)    Nas Cantigas de Amigo, a expressão do desejo feminino de retorno do amado exprime uma noção diversa da inacessibilidade da senhora existente nas Cantigas de Amor.
e)    Não há notícias de que mulheres hajam escrito versos na época do Trovadorismo. O índice de analfabetismo entre elas era muito superior ao dos homens. São eles que expressam a voz delas nas Cantigas de Amigo.

(UNESP-SP) Instrução: As questões de números 3 a 5 tomam por base uma cantiga do trovador galego Airas Nunes, de Santiago (Século XIII), e o poema “Confessor Medieval”, de Cecília Meireles (1901 – 1964).


                  CANTIGA
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas,
E quem for velida, como nós, velidas,
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
So aqueste ramo destas avelanas,
E quem for louçana, como nós, louçanas,
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos,
So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos
Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar.

           Nunes, Airas. In: Spina, Segismundo. Presença da literatura portuguesa:
       Era medieval. 2. ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.
Frolidas: floridas.
Velida: formosa.
Aquestas: estas.
Verrá: virá.
Irmanas: irmãs.
Aqueste: este.
Louçana: formosa.
Avelanas: avelaneiras.
Mentr’al: enquanto outras coisas.
Bem parecer: tiver belo aspecto.

Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo?
Se te dera apenas um anel de vidro
Irias com ele por sombra e perigo?
Irias à bailia sem teu amigo,
Se ele não pudesse ir bailar contigo?
Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
Irias sem ele, e sem anel de vidro?
Irias à bailia, já sem teu amigo,
E sem nenhum suspiro?

                           Meireles, Cecília. Poesias completas de Cecília Meireles. v. 8.
                                                         Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
Sirgo: seda.

3 – Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles, verificam-se diferentes personagens: um eu-poemático, que assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com base nesta informação, releia os dois poemas e, a seguir:
a)    Indique o interlocutor ou interlocutores do eu-poemático em cada um dos textos.
Na cantiga, o eu lírico se dirige a duas outras moças, que são chamadas ora de amigas, ora de irmãs. No poema de Cecília Meireles, o eu lírico apresenta-se como um confessor ou confidente que se dirige a uma moça apaixonada.
b)    Identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo eu-poemático para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores.
Na cantiga, o eu lírico, para se referir aos interlocutores, utiliza a 1ª pessoa do plural: “bailemos”, “nós”. No segundo texto, a pessoa gramatical utilizada para se referir ao interlocutor é a 2ª pessoa do singular: “irias”, “tu”, “teu”.

4 – A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema “Confessor Medieval”, de Cecília Meireles, revela que este poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo.
Releia com atenção os dois textos e, em seguida, considerando que o efeito de paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de frase adotada na estrofe inicial (no poema de Airas Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito.
      No poema de Cecília Meireles, a oração subordinada adverbial condicional que aparece no 2° verbo da 1ª estrofe é retomada de estrofe a estrofe com alterações. Na 2ª e 3ª estrofes as orações são: “Se te dera apenas um anel de vidro” e “Se ele não pudesse ir bailar contigo”. Na penúltima estrofe, a oração aparece com estrutura mais simples, com a condição veiculada por meio da preposição sem: “Sem a flor no peito, sem saia de sirgo / Irias sem ele, e sem anel de vidro”. Assim, o paralelismo se constrói pela repetição de períodos interrogativos, dentro dos quais há sempre um elemento condicional.

5 – As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu-poemático representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigos, em que o eu-poemático representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação:
a)    Classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta.
A cantiga apresentada é uma das mais conhecidas do cancioneiro medieval, classificada como “cantiga de amigos”. Os elementos que justificam a resposta são: presença de eu lírico feminino, estrutura paralelística e refrão.
b)    Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema de Cecília Meireles representa.
A partir do título do poema (“Confessor medieval”), reconhece-se como eu lírico do texto a figura de um religioso ou confidente que aconselha a moça a ser cuidadosa no envolvimento amoroso e apontando as possíveis dificuldades do amor.

6 – (PROSEL/UEPA-PA) Em suas relações socioeconômicas, os homens têm se comportado desonestamente, o que impede a construção de uma sociedade racionalmente justa. O trecho de o Auto da Índia que registra essa prática é:
a)    Marido – Se não fora o capitão
Eu trouxera o meu quinhão
Um milhão vos certifico.
b)    Moça – Todas ficassem assi
Leixou-lhe pera três anos
Trigo, azeite, mel e panos.
c)    Castelhano – Quero destruir el mundo
Quemar la casa, es la verdade
Después quemar la ciudad.
d)    Ama – Mostra-m’essa roca cá:
Siquer fiarei um fio.
e)    Ama – Quebra-me aquelas tigelas
E três ou quatro panelas.

Leixou-lhe: deixou-lhe.

7 – (PSIU/UFPI-PI) Sobre Gil Vicente e sua obra Auto da barca do inferno, a alternativa correta é:
a)    Respeita apenas o poder da Igreja.
b)    Centra suas críticas nos membros das classes baixas.
c)    Conserva a lei das três unidades básicas do teatro clássico.
d)    Identifica suas personagens pela ocupação ou pelo tipo social de cada uma delas.
e)    Evita fazer um confronto entre a Idade Média e o renascimento Medievalista (Teocentrismo versus Antropocentrismo).

8 – (PSIU/UFPI-PI) Sobre a obra Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, a alternativa correta é:
a)    A obra vicentina resume a tradição da cultura europeia, no seu aspecto popular, cortês, ou clerical.
b)    A segunda fase da obra vicentina destaca temas religiosos. Essa fase corresponde ao período de 1502 a 1508.
c)    A linguagem, em tom coloquial e redondilhas, é o veículo melhor explorado para conseguir efeitos cômicos ou poéticos.
d)    Na primeira fase, o autor escreve sobre a educação feminina. Não conseguindo se estabelecer, escreve a Trilogia das Barcas.
e)    O Auto da barca do inferno é diferente dos demais autos, porque tem o seguinte enredo: à beira de um rio, dois barcos transportarão as almas para o lugar que lhes foi destinado em julgamento.

9 – (PUC-SP) Considerando a peça Auto da barca do inferno como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.
a)    Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.
b)    As figuras do Anjo e de Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal.
c)    As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa.
d)    Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza.
e)    Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico.


10 – (UNICAMP-SP) Leia os diálogos abaixo da peça O velho da horta, de Gil Vicente:

(Mocinha) – Estás doente, ou que haveis?
(Velho) – Ai! não sei, desconsolado,
Que nasci desventurado.
(Mocinha) – Não choreis;
Mais mal fadada vai aquela.
(Velho) – Quem?
(Mocinha) – Branca Gil.
(Velho) – Como?
(Mocinha) – Com cent’açoutes no lombo,
E uma corocha por capela.
E ter mão;
Leva tão bom coração,
Como se fosse em folia.
Ó que grandes que lhos dão!
                                                        Vicente, Gil. IN: Berardinelli, Cleonice (Org.).
                                               Antologia do teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro:
                                                           Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984. p. 274.

a)    A qual desventura refere-se o Velho neste diálogo com a Mocinha?
O velho se refere ao fato de ter sido malsucedido em sua tentativa de conquistar uma moça. Nessa tentativa, ele perdeu parte de seu dinheiro. Além disso, ele foi ridicularizado e desprezado pela moça que assediou, revelando, nesse trecho, o seu desconsolo amoroso.

b)    A que se deve o castigo imposto a Branca Gil?
Branca Gil é a alcoviteira que foi contratada pelo Velho para servir de intermediária na sua tentativa de sedução. Como ela guardava para si o dinheiro que ele lhe entregava para comprar presentes para a Moça, é punida pela prática de alcovitagem e também por ter roubado o dinheiro do sedutor.

c)    Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude paradoxal. Por quê?
A atitude da Alcoviteira é considerada paradoxal porque ela revela altivez e o destemor diante da prisão. Poderíamos afirmar que esse comportamento se deve à certeza de que, como de outras vezes, o seu castigo será limitado a açoites, e ela depois voltará a ser livre para continuar exercendo seu ofício. A cena sugere a corrupção moral que a peça pretende estender a toda a sociedade portuguesa.


(ENEM) Texto para as questões 11 e 12.
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                                           Luís de Camões.

11 – O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição de palavras ou ideias. A opção em que essa oposição se faz claramente presente é:

a)    “Amor é fogo que arde sem se vê”.
b)    “É um contentamento descontente”.
c)    “É servir a quem vence, o vencedor.”
d)    “Mas como causar pode seu favor.”
e)    “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

12 – O poema pode ser considerado como um texto:
a)    Argumentativo.
b)    Narrativo.
c)    Épico.
d)    De propaganda.
e)    Teatral.


(SARESP-SP) Leia o poema a seguir e responda à questão abaixo:
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho é vosso;
E o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.

                                Camões, Luís de. Lírica. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1972.

13 – Luís Vaz de Camões é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa. Sua lírica amorosa liga-se a uma concepção neoplatônica do amor, isto é, o amor é um ideal supremo, único e perfeito. A mulher, objeto do desejo, também é um ser imperfeito e é espiritualizada em suas poesias, tornando-se a mulher ideal. Para expressar esse ideal, Camões utiliza-se de uma forma poética, que é:
a)    O verso livre.
b)    O soneto.
c)    O verso alexandrino.
d)    A redondilha maior.

14 – (FUVEST-SP)
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

                                     Camões. Os Lusíadas – episódio de Inês de Castro.

Molesta: lastimosa; funesta.
Pérfida: desleal; traidora.
Fero: feroz; sanguinário; cruel.
Mitiga: alivia; suaviza; aplaca.
Ara: altar; mesa para sacrifícios religiosos.

a)    Considerando-se a forte presença da cultura da Antiguidade Clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocábulo Amor, grafado com maiúscula, no 5° verso?
O vocábulo Amor, grafado em maiúscula, refere-se ao Deus Amor da mitologia clássica, denominado Eros pelos gregos antigos e Cupido pelos romanos da Antiguidade.

b)    Explique o verso “Tuas aras banhar em sangue humano”, relacionando-o à história de Inês de Castro.
No século XV, o príncipe de Portugal, que viria a ser o futuro rei D. Pedro I, tomou Inês de Castro como amante e teve filhos com ela. Para evitar que o filho se casasse com Dona Inês, o rei D. Afonso IV autorizou o assassinato dela por razões políticas. O verso “Tuas aras banhar em sangue humano”, na estrofe, significa que o Deus Amor exigiu o sacrifício da vida de Inês em seu altar (“ara”). Vasco da Gama, que narra o episódio de Inês de Castro em Os Lusíadas, atribui uma causa transcendental à morte da amante de D. Pedro: no poema épico, essa morte teria sido determinada pelo Deus Amor.

15 – (PROSEL/UEPA-PA) O desejo de criar no Novo Mundo um reino feliz não se concretizou. Em vez disso, os navegadores praticaram atos violentos no processo das conquistas. Em que versos o Gigante Adamastor, de Os Lusíadas, refere-se a essa violência?

a)    Sabes que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizeram, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem.
b)    Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano.
c)    Mas, conquistando as ondas do oceano,
Fui capitão do mar por onde andava
A amada de Netuno, que eu buscava.
d)    Ouve os danos de mim que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento
Por todo o largo mar e pela terra
Que inda hás de subjugar com dura guerra.
e)    Comecei a sentir do Fado inimigo
Por meus atrevimentos, o castigo.

16 – (PROSEL/UEPA-PA) Atingir os próprios objetivos amorosos pela força física é um tipo de ato de barbárie que Adamastor pretendeu cometer em Os Lusíadas. Os versos que registram esse momento são:
a)    Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta
Qui mor causa parece que tormenta?
b)    Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas.
c)    Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança.
d)    Eu farei de improviso tal castigo
Que mor seja o dano que o perigo!
e)    Como fosse impossível alcança-la
Pela grandeza feia de meu gesto
Determinei por armas de toma-la
E a Dóris este caso manifesto.

17 – (UFSCAR-SP).
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
Como fui destas praias apartado,
Cheio dentro de dúvidas e receio,
Que a penas nos meus olhos ponho o freio.

                                                 Camões. Os Lusíadas. Canto 4°- 87.

O trecho faz parte do poema épico Os Lusíadas, escrito por Luís Vaz de Camões, e narra a partida de Vasco da Gama, para a viagem as Índias.
a)    Em que estilo de época ou época histórica se situa a obra de Camões?
A Obra Os Lusíadas foi escrita, aproximadamente, entre 1550 e 1570 e publicada em 1572, coincidindo, do ponto de vista da história da cultura, com o Renascimento. Entre outras coisas, esse período incorpora a consolidação da palavra impressa, as guerras religiosas provocadas pela reforma Protestante e o apogeu da expansão mercantilista, de que fala a estrofe de Camões. No que se refere aos movimentos estéticos, o estilo camoniano pertence ao Classicismo.

b)    Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz uso de uma perífrase: “Que o nome tem da terra, para exemplo, / Donde Deus foi em carne ao mundo dado”. Em que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase?
No último verso da estrofe, ocorre outra perífrase. Trata-se da expressão “pôr freio nos olhos”, que significa, no caso, evitar o choro, conter as emoções.


18 – (FUVEST-SP).
Quando da bela vista e doce riso,
Tomando então meus olhos mantimento,
Tão enlevado sinto o pensamento
Que me faz ver na terra o Paraíso.

Tanto do bem humano estou diviso,
Que qualquer outro bem julgo por vento;
Assi, que em caso tal, segundo sento
Assaz de pouco faz quem perde o siso.

Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
Porque quem vossas claro sente,
Sentirá que não pode merece-las.

Que de tanta estranheza sois ao mundo,
Que não é d’estranhar, Dama excelente,
Que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
                                                                          Camões.

Tomando [...] mantimento: tomando consciência.
Estou diviso: estou separado, apartado.
Sento: sinto.
Não me fundo: não me empenho.

a)    Caracterize brevemente a concepção de mulher que este soneto apresenta.
A mulher é apresentada como um exemplo perfeito da criação divina, que eleva o pensamento do eu lírico e está acima das coisas terrenas. Em resumo, é uma concepção platônica de mulher.

b)    Aponte duas características desse soneto que o filiam ao Classicismo, explicando-as sucintamente.
Podemos apontar como características do Classicismo a concepção platônica do amor e o rigor formal, presente no uso de versos decassílabos e na forma do soneto.

19 – (ENEM).
     

   Esta gramática, pois que gramática implica no seu conceito o conjunto de normas com que torna consciente a organização de uma ou mais falas, esta gramática parece estar em contradição com meu sentimento. É certo que não tive jamais pretensão de criar a Fala Brasileira. Não tem contradição. Só quis mostrar que o meu trabalho não foi leviano, foi sério. Se cada um fizer também das observações e usos pessoais a sua gramatiquinha muito que isso facilitará pra daqui a uns cinquenta anos se salientar as normas gerais, não só da fala oral transitória e vaga, porém da expressão literária impressa, isto é, da estilização erudita da linguagem oral. Essa estilização é que determina a cultura civilizada sob o ponto de vista expressivo. Linguístico.
                                                                     
                                                                         Andrade, Mário. Apud Pinto, E. P.
                  A gramatiquinha de Mário de Andrade: Texto e contexto: São Paulo:
                         Duas Cidades: Secretaria de Estado da Cultura, 1990. (Adapt.).

O fragmento é baseado nos originais de Mário de Andrade destinados à elaboração da sua gramatiquinha. Muitos rascunhos do autor foram compilados, com base nos quais depreende-se do pensamento de Mário de Andrade que ele:
a)    Demonstra estar de acordo com os ideais da gramática normativa.
b)    É destituída da pretensão de representar uma linguagem próxima do falar.
c)    Dá preferência à linguagem literária ao caracterizá-la como estilização erudita da linguagem oral.
d)    Reconhece a importância do registro do português do Brasil ao buscar sistematizar a língua na sua expressão oral e literária.
e)    Refere a respeito dos métodos de elaboração das gramáticas, para que ele torne mais sério, o que fica claro na sugestão de que cada um se dedique a estudos pessoais.

20 – (ENEM)
Chico Bento


           Sousa, Mauricio de. [Chico Bento]. O Globo. Rio de Janeiro, Segundo Caderno, 19 dez. 2008, p. 7.

O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona rural, comumente chamado de “roceiro” ou “caipira”. Considerando a sua fala, essa tipicidade é confirmada primordialmente pela:

a)    Transcrição da fala característica de áreas rurais.
b)    Redução do nome “Jose” para “ZÉ”, comum nas comunidades rurais.
c)    Emprego de elementos que caracterizam sua linguagem como coloquial.
d)    Escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos meios urbanos.
e)    Utilização da palavra “coisa”, pouco frequente nas zonas mais urbanizadas.

21 – (FUVEST-SP)
        O autoclismo da retrete


        Rio de Janeiro – Em 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa. Logo no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de língua. Houve um problema no banheiro da redação e eu disse à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada.” Isabel franziu a testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo que chamasse a Banda do Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular de marchas e dobrados na redação. Por sorte, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tampo e já escolado nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel, chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete”. E só então o belo rosto de Isabel se iluminou.
                                                                            Ruy Castro, folha de São Paulo.

a)    Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que no Rio de Janeiro se entende por “bombeiro” e, em Lisboa, por “canalizador”. Isto permitiria afirmar que, em algum desses lugares, ocorre um uso equivocado da língua portuguesa? Justifique sua resposta.
Não há qualquer equívoco. As diferenças lexicais observadas correspondem a variações regionais próprias de diferentes dialetos do português.

b)    Uma reforma que viesse a uniformizar a ortografia da língua portuguesa em todos os países que a utilizam evitaria o problema de comunicação ocorrido entre o jornalista e a secretária. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
Não evitaria, porque reformas ortográficas não tem o poder de alterar diferentes lexicais, ou seja, não vão fazer com que os falantes passem a utilizar palavras diferentes daquelas características dos seus dialetos. Uma reforma ortográfica afeta somente a representação escrita das palavras, jamais o seu uso. Cariocas continuariam a chamar um “bombeiro” para resolver o mesmo problema que, em São Paulo, seria de competência de um “encanador” e, em Lisboa, do “canalizador”.

22 – (ENEM)
                     Sentimental

Ponho-me a escrever teu nome
Com letras de macarrão
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
Esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra
Uma letra somente
Para acabar teu nome!

--- Está sonhando? Olha que a sopa esfria!




Eu estava sonhando...
E há todas as consciências este cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar”.
            Andrade, C. D. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Record, 1995.

Com base na leitura do poema, a respeito do usa e da predominância das funções da linguagem no texto de Drummond, pode-se afirmar que:

a)    Por meio dos versos “Ponho-me a escrever teu nome” e “esse romântico trabalho”, o poeta faz referências ao seu próprio ofício: o gesto de escrever poemas líricos.
b)    A linguagem essencialmente poética que constitui os versos “No prato a sopa esfria, cheia de escamas e debruçados na mesa todos contemplam “confere ao poema uma atmosfera irreal e impede o leitor de reconhecer no texto dados de uma cena realista.
c)    Na primeira estrofe, o poeta constrói uma linguagem centrada na amada, receptora da mensagem, mas, na segunda, ele deixa de se dirigir a ela e passa a exprimir o que sente.
d)    Em “Eu estava sonhando...”, o poeta demonstra que está mais preocupado em responder à pergunta feita anteriormente e, assim, dar continuidade ao diálogo com seus interlocutores do que em expressar algo sobre si mesmo.
e)    No verso “Neste país é proibido sonhar.”, o poeta abandona a linguagem poética para fazer uso da função referencial, informando sobre o conteúdo do “cartaz amarelo” presente no local.

23 – (ENEM)

Texto I
        Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado; é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.

         Campos, Paulo Mendes. Ser brotinho. In: Santos, Joaquim Ferreira dos (ORG.). As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 91.

Texto II
    

    Ser gagá não é viver apenas nos idos do passado: é muito mais! É saber que todos os amigos já morreram e os que teimam em viver são entrevados. É sorrir, interminavelmente, não por necessidade interior, mas porque a boca não fecha ou a dentadura é maior que a arcada.
                 Fernandes, Millôr. Ser gagá. In: Santos, Joaquim Ferreira dos (Org.).
                  As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 225.

Os textos utilizam os mesmos recursos expressivos para definir as fases da vida, entre eles:
a)    Expressões coloquiais com significados semelhantes.
b)    Ênfase no aspecto contrário da vida dos seres humanos.
c)    Recursos específicos de textos escritos em linguagem formal.
d)    Termos denotativos que se realizam com sentido objetivo.
e)    Metalinguagem que explica com humor o sentido de palavras.

24 – (ENEM)

  

     Canção amiga

Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos.
[...]
Aprendi novas palavras
E tomei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças.
                                                                          Andrade, C. D. Novos poemas.
                                            Rio de Janeiro: José Olympio. 1948. (Fragmento).

A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo autor com o objetivo principal de:
a)    Transmitir novas informações, fazer referência a acontecimentos observados no mundo exterior.
b)    Envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, o leitor, em um forte apelo à sua sensibilidade.
c)    Realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações, reflexões e opiniões frente ao mundo real.
d)    Destacar o processo de construção de seu poema, ao falar sobre o papel da própria linguagem e do poeta.
e)    Manter eficiente o contato comunicativo entre o emissor da mensagem, de um lado, e o receptor, de outro.




sexta-feira, 17 de novembro de 2017

CRÔNICA: AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA:AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM
                    Carlos Eduardo Novaes

“Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”. Me despedi rapidamente das duas tias, três primos, uma cunhada, ouvi as apressadas recomendações de minha mãe para que ficasse sempre atento olhando pela janelinha e antes de entrar ainda acenei dos degraus do ônibus. Instalei-me, obedecendo ao painel luminoso que dizia “aperte os cintos e não fume”. Logo depois o motorista acionou os motores, (…) e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem.
        Não tínhamos ainda nem fechado dez carros e o trocador veio à frente do ônibus explicando que como iríamos passar pela orla marítima teríamos que aprender – para qualquer emergência – a colocar o colete salva-vidas. O senhor ao meu lado ouvia atento o trocador. Pensei que talvez estivesse fazendo sua primeira viagem de ônibus.
        – É verdade, para o Leblon é a primeira. – E interrompido por uma brusca freada, aproveitou para perguntar se a viagem era toda assim.
        – Só nos sinais – respondi.
        – E tem muitos sinais até o Leblon?
        – Uns 500. Deve ter mais sinal do que rua.
        À minha frente, uma senhora quis saber do trocador se estávamos no horário. “Estamos atrasados uns quinze minutos” - disse ele. “E se não pegarmos mais do que seis congestionamentos poderemos chagar ao Leblon por volta das oito horas”. Para quebrar um pouco a tensão da viagem, aproveitei e perguntei à senhora o que iria fazer no Leblon.
        – Vou visitar uma tia. E o senhor?

        – Eu vou a negócios (se for bem sucedido – pensei, mas não disse – volto de táxi).
        Era evidente que o meu vizinho não estava preparado para a viagem. Quando abalroamos o terceiro carro, ameaçou saltar. Levantou-se, mas ao olhar para fora percebeu que estávamos em cima do viaduto. Ficou lívido. Querendo distraí-lo, ainda comentei: “É bonita a vista daqui, não?” – Ele não me ouviu. Estava preocupado com os roncos e os mais estranhos ruídos que saíam do ônibus: “Que barulho é esse?” indagou.
        – É do ônibus mesmo – disse um cidadão sentado atrás.
        – Mas esse ônibus está em péssimo estado – comentou meu vizinho.
        – É verdade – voltou o cidadão que gostava de frases feitas – mas não se esqueça que cada coletividade tem um coletivo que merece.
        A viagem prosseguiu normal, ou seja: cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudências – a curva que fizemos ao entrar na Barata Ribeiro foi de deixar envergonhada a Esquadrilha da Fumaça. Às 11 horas, então, desembarcamos no Leblon. Antes do ônibus parar, observei pela janelinha que todos os meus parentes que moram no bairro estavam me aguardando. Me despedi do motorista, do trocador e desci à procura de um telefone.
        – Um telefone para quê? perguntou meu primo que pratica surf.
        – Pra avisar lá em casa que cheguei vivo.

CARLOS EDUARDO NOVAES. Travessia da Via Crucis.
Rio de Janeiro, Editorial Nórdica, 1975.

01 – Damos algumas definições através das quais você deve localizar, no texto, as palavras que se enquadram nelas.
a) pôr em movimento – Acionar.
b) beira, margem – Orla.
c) algo acontecido, ocorrido – Sucedido.
d) ir de encontro, chocar-se violentamente – Abalroar.
e) pálido – Lívido.
f) que surgem sem ser previstas – Súbitas.

02 – Ao dizer: “Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”, o Autor está ironizando, utilizando a forma de convocar os passageiros de outro veículo de transporte. Que veículo é esse?
      O avião.

03 – Em que outros momentos do texto o Autor compara, ironicamente, o ônibus ao avião? Transcreva os trechos.
      “Aperte o cinto e não fume”; “... e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem”; “... colocar o colete salva-vidas.”

04 – O que são frases feitas? Retire um exemplo do texto.
      São frases organizadas com determinadas palavras que encerram uma ideia. São também conhecidas como “ditos populares” tais como: “Cada macaco no seu galho”, “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. No texto encontramos: “Cada coletividade tem o coletivo que merece”.

05 – O que o Autor entende por viagem normal, no texto?
      Viagem: “Cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudências...”

06 – Que tipo de crítica faz o Autor no texto?
      Crítica: a velocidade exagerada dos ônibus, na cidade do Rio de Janeiro.

07 – Qual a sua opinião e o que deve ser feito a respeito de um motorista de ônibus que exagera na velocidade ao dirigir o veículo?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Pra que o personagem queria um telefone?
      Para avisar a família que tinha chegado vivo.

09 – Qual o título do texto, e em que ano foi publicado?
      Amarrem os cintos e não fumem. Publicado em 1975.

10 – Qual era o horário previsto da chegada ao Leblon? E que hora chegaram?
      O ônibus estava previsto para chegar às 8:00 horas. E foram chegar às 11:00 horas.



POEMA: VENDEDORA DE BILHETES DE LOTERIA - RAUL POMPÉIA - COM GABARITO

POEMA: Vendedora de Bilhetes de Loteria
                  Raul Pompéia

Aquela mulher, de olhos tristonhos,
Que vende sortes de loteria,
Fala em riqueza, promete sonhos,
Com o “prêmio grande” que tem na mão…
E assim, (contraste feito ironia!)
Numa indigência, que mal encobre,
Fala em riqueza quem é tão pobre!
Promete ouro quem não tem pão!

De rua em rua, na amarga luta,
Com o olhar sumido, que o pranto molha,
E a voz tão baixa, como uma prece…
Passa um banqueiro, que não a olha;

Passa um soldado, que não a escuta;
Passa um poeta que ela entristece.

Se a chuva cai, não lhe importa a roupa,
Que até se lava com a chuva forte.
Só os bilhetes é que ela poupa!
Nem a doença lhe dá cuidados,
Pois a pobreza não teme a morte…

A noite chega. E ela, vencida
Do ingrato ofício na luta em vão,
Retorna a casa, desiludida,
Depois de haver, por um dia inteiro,
Vendido aos outros tanta ilusão!
                                 (Raul Pompéia. Cantos sem glória. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1953)

Interpretação do texto:
01 – Como o poeta descreve a vendedora de bilhetes de loteria?
      Mulher muito pobre, triste, de olhar sumido, voz baixa, roupas sujas.

02 – O autor do poema refere-se a contrastes. Que elementos contrastantes ele cita?
      Riqueza (de que ela fala) e pobreza (que ela tem);
      Ouro (que ela promete) e pão (que ela não tem).

03 – Indique a única opção que completa a frase abaixo:
De todos os transeuntes, apenas o poeta entristeceu-se com o trabalho da vendedora, pois;
a.(   ) queria fazer um poema triste e, assim, foi buscar inspiração naquela mulher.
b.(   ) tendo experiência naquela profissão, sabia que o trabalho era pouco rentável.
c.(X) sendo mais sensível, comoveu-se com as dificuldades daquela mulher.
d.(   ) os poetas são, em geral, pessimistas, vendo tristezas onde não existem.

04 – Por que, sob a chuva, a vendedora só protegia os bilhetes?
      Porque teria de pagar os que se estragassem.

05 – À noite, a vendedora voltava para casa, desiludida. Por quê?
      Porque as vendas não lhe proporcionavam o lucro esperado e necessário.

06 – O que o autor quis demonstrar com esse poema?
      Que a vida tem suas ironias e contrates, como esta: alguém oferecendo riqueza quando vive na miséria.

07 – Quais as duas pessoas que não deram atenção a vendedora de bilhetes?
      O banqueiro e o soldado.

08 – Qual o título da poesia e quem é o autor?
      Vendedora de Bilhetes de Loteria, escrita por Raul Pompéia.

09 – O que significa para você a frase: “prêmio grande”, do texto?

      Resposta pessoal do aluno.

HINO DA CONSCIÊNCIA NEGRA - MÚSICA(ATIVIDADES): OLHOS COLORIDOS - SANDRA DE SÁ - CONSCIÊNCIA NEGRA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Olhos Coloridos

                                          Sandra de Sá
Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinado
Também querem enrolar...

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso...

A verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...
Sarará crioulo
Sarará crioulo...

Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Que eu tô sempre na minha
Não! Não!
Não posso mais fugir
Não posso mais!
Não posso mais!
Não posso mais!
Não posso mais!

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar...

Cê ri! Cê ri! Cê ri!
Cê ri! Cê ri!
Cê ri da minha roupa
Cê ri do meu cabelo
Cê ri da minha pele
Cê ri do meu sorriso...

Mas verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...

Sarará crioulo
Sarará crioulo...

Interpretação da letra:
01 – Nos trechos: “A verdade é que você / (Todo brasileiro tem!) / Tem sangue crioulo / Tem cabelo duro / Sarará, sarará / Sarará, sarará / Sarará crioulo...”; que crítica a autora faz?
      Crítica ao racismo e sua defesa de que o brasileiro formou-se do processo de miscigenação.
02 – Por que esta música é considerada um hino do povo brasileiro?
      É uma canção repetida à exaustão porque tem uma mensagem muito forte, que afirma a identidade negra por meio da valorização da beleza do “cabelo duro, sarará.”
03 – Que tema a letra da música aborda?
      Aborda o Racismo.
04 – O que você entende por “Os meus olhos coloridos / Me fazem refletir”? Explique.
      Inicia-se a música com estes versos, porque são traços tipicamente brancos e “me fazem refletir”, pois à verdade é que todo brasileiro tem sangue crioulo, tem cabelo duro.
05 – Qual reflexão ou pensamento essa música nos sugere?
      Nos sugere que não devemos ser racista, pois todos possuímos descendências iguais.
06 – O que o autor da música quer dizer sobre os versos da 3ª estrofe?
      Fala da crítica direta governo, pela intolerância e racismo, baseado pelas roupas que usava e seu modo de comportar levantando suspeitas ao governo.
07 – Que reflexão histórica podemos tirar desta música?
      Podemos começar pela década de 1970, em pleno Regime Militar em que os direitos de todos os cidadãos foram restringidos.
      Quanto a questão histórica que envolve o negro, o caminho é mais longo. O negro no Brasil possui uma história de muito sofrimento, trabalho, luta e morte. Mas, também uma história de muita resistência, cultura, tradição e religiosidade.
08 – A partir da leitura, analise as assertivas que seguem e assinale a alternativa correta.
I – A letra sugere uma grande miscigenação na população brasileira.
II – É evidente uma crítica social sobre a discriminação, haja vista que a música afirma um detrimento à cultura afro.
III – A música confirma os dados oficiais do censo demográfico que aponta a população afrodescendente como maioria no país.
IV – A letra da música enaltece a cultura afro e evidencia que, no Brasil, toda e qualquer forma de descriminação étnico-racial está superada.
a)   Estão corretas somente I e IV.
b)   Estão corretas somente I e III.
c)   Estão corretas somente II e III.
d)   Estão corretas somente I e II.
e)   Estão corretas somente III e IV.

                            ANÁLISE
        A música composta por Macau na década de 1980 no Brasil faz referência ao período da Ditadura Militar em que o compositor passa por um episódio de racismo após ser preso sem razão alguma por oficiais. Após esse fato deixando claro ter sido vítima de racismo, pelas roupas que usava e seu modo de comportar levantando suspeitas ao governo. Macau compõe essa música sendo uma crítica direta ao modo branco de se viver. Como, mesmo o autor começa a música “os meus olhos coloridos” traços tipicamente brancos e a questão do termo “sarará” tido como mestiços de com cabelos claros, geralmente ruivos; mas há também autores que interpretam esse termo como típico do cabelo mestiço. Falando da crítica direta ao governo, pela intolerância com o povo ele diz. “Você ri da minha pele, cê ri do meu cabelo, cê ri da minha roupa.” E na afirmação que resume a temática da música “mas a verdade é que você (todo brasileiro tem) sangue crioulo, tem cabelo duro.”
        A música é uma crítica ao racismo, dizendo que ela não se importa com os comentários e piadas que fazem, pois sabe que todos possuem descendências iguais.
        A força do negro é reflexo de toda indignação, revolta, descontentamento, orgulho, força de vontade, luta por igualdade e, principalmente, amor pelo que é, pela sua cor, seu cabelo, sua cultura e seus ideais

POEMA : TRADUZIR-SE - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Poema: Traduzir-se
              Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
Linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

                                GULLAR, Ferreira. Poemas escolhidos. São Paulo: Ediouro, 1989. p. 96

1. De que trata o poema de Ferreira Gullar?
      O poema trata das contradições do ser humano.    

2. Como o título se relaciona com o conteúdo do poema?
      O título aponta a tentativa do eu lírico de traduzir
 suas próprias contradições.

3. Releia a última estrofe do poema. Nela, o eu lírico apresenta 
uma hipótese do que poderia ser a arte. Que hipótese é essa?
      O eu lírico se pergunta se arte não é a tentativa de tradução
 de si mesmo por meio dos contrários que o compõem, 
ou seja, as várias partes (faces) de que cada um é feito. 




POEMA: AS POMBAS - RAIMUNDO CORREIA - COM GABARITO

AS POMBAS

  Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra... mais outra... enfim dezenas
De pomba vão-se dos pombais, apenas



Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
 Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...


Interpretação do texto:

01. No poema, o eu lírico faz:
a) uma descrição do revoar das pombas.
b) uma declaração de amor a natureza.
c) uma reflexão sobre a sabedoria da natureza.
d) uma defesa ao direito de liberdade dos pássaros.

02. O revoar das pombas é comparado:
a) a madrugada      b) aos corações      c) aos sonhos 
   d) a adolescência.

03. “Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam/
E eles aos corações não voltam mais...” 
entre os versos percebe-se:
a) uma relação de causa e efeito.
b) uma relação de proporção.
c) uma condição
d) uma diferenciação.

04. “Vai-se a primeira pomba despertada...” as reticências
 foram usadas nesse verso para:
a) indicar suspensão do pensamento.
b) indicar a continuidade de uma ação.
c) representar uma hesitação na língua falada.
d) realçar uma palavra ou expressão.

05. De acordo com os versos do poema, a madrugada 
corresponde a que fase da vida?
a) a infância      b) a maturidade      c) a juventude   
d) vida adulta.

06. A última estrofe do poema expressa:
a) um sentimento de euforia.
b) uma visão esperançosa da vida.
c) um sentimento de expectativa.

d) uma visão pessimista da condição humana.

POEMA: O AÇÚCAR - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

POEMA: O açúcar
Ferreira Gullar

O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro

e afável ao paladar
como beijo de moça,
água na pele,
flor que se dissolve na boca.
Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio

da mercearia da esquina
e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana

e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há

hospital nem escola,
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana
que viria a ser o açúcar.

Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura

produziram este açúcar branco e puro
com que adoço meu café esta manha em Ipanema.
                       Ferreira Gullar

ATIVIDADES

1) Assinale os sinônimos do verbo dissolver no verso: “flor que se dissolve na boca”:
(X) se desmancha
(   ) se esparrama
(   ) se acaba
(   ) se dilui

2) Marque a alternativa em que a palavra amarga possui o mesmo significado do texto:
(  ) Aquela sobremesa estava amarga.
(  ) Vivia de mau humor; era uma pessoa muito amarga.
(X) Passamos por uma fase muito amarga, mas agora estamos bem.

3) Marque a alternativa em que a palavra dura possui o mesmo significado do texto:
(X) Realizamos uma dura tarefa.
(  ) O móvel era feito de madeira muito dura.
(  ) O seu jeito duro afasta as pessoas.

4) Reescreva a frase “homens de vida amarga e dura produziram este açúcar”, substituindo as palavras destacadas por um sinônimo.
      “Homens de vida sofrida e penosa produziram este açúcar.”

5) A que tipo de açúcar o eu-lírico está se referindo?
      (   ) ao açúcar mascavo     
      (X) ao açúcar refinado   
      (   ) a qualquer tipo de açúcar

6) A que elementos o açúcar é comparado?
      Beijo de moça, água na pele, flor.

7) Descreva o retrospecto que é feito sobre o açúcar.
      Canaviais extensos, usinas, mercearia do Oliveira, Ipanema.

8) Na última estrofe, o que se opõe à doçura do açúcar?
      Usinas escuras, homens de vida amarga e dura.

9) Por que os homens que trabalham nas usinas fabricando o açúcar têm a vida amarga?
      Porque esses homens levam uma vida muito sofrida, com pouca instrução pouco estudo, pouco dinheiro; miséria e condições de trabalho muito ruins.

10) Escreva com as suas palavras a mensagem que o poeta deseja transmitir.
      Resposta pessoal do aluno.