domingo, 7 de agosto de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: ORTOGRAFIA É LEI? ALDO BIZZOCCHI - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Ortografia é lei?

                             Aldo Bizzocchi

    Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride. A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento. Por que obedecer a ela então?

        Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja (existem muitos casos assim, alguns até hilários), estará ele sujeito a multa? (Só para lembrar: uma lei que previa multas para placas e cartazes com erros de português, inclusive de gramática, entrou em vigor em São Paulo há alguns anos, mas nunca “pegou”, provavelmente por falta de fiscais qualificados.)

        Se um escrivão de polícia transcrever com erros de grafia o depoimento de uma testemunha, pode o advogado da outra parte pedir a anulação desse depoimento? Se um jornal, livro ou revista sair com erro ortográfico – o que não é incomum –, pode o leitor exigir o seu dinheiro de volta e mesmo acionar o Procon?

        Evidentemente, a resposta a todas essas perguntas é não. Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)? A rigor, a única situação em que um erro ortográfico implica punição juridicamente inquestionável são os concursos públicos. Parece então que a grafia “correta” das palavras é muito mais uma questão de hábito do que de legislação. Tanto que muitas línguas sequer têm uma ortografia oficial, o que há são hábitos de escrita arraigados, que todos seguem apenas para facilitar a comunicação.

        O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que tanta celeuma tem levantado, sobretudo em Portugal, procura unificar por força de lei a grafia do português quando o inglês, idioma bem mais influente e difundido do que o nosso, tem duas grafias tradicionais (a britânica e a norte-americana) e nenhuma oficial. Isso parece coisa da nossa cultura legiferante.

BIZZOCCHI, Aldo. Ortografia é lei? São Paulo, 15 out. 2012. Disponível em: http://revistalingua.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-e-lei-271797-1.asp. Acesso em: 19 ago. 2015.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 218-221.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Procon: sigla de Programa de Proteção e Defesa do Consumidor, órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, responsável por políticas de proteção e defesa do consumidor.

·        Implica: ocasiona, envolve, provoca.

·        Arraigado: enraizado, permanente, fixo; que mantém a mesma ideia, opinião ou hábito. 

·        Celeuma: discussão veemente, embate de ideias, discordância.

·        Cultura legiferante: hábitos e costumes baseados excessivamente em leis; excesso de legislação na vida cotidiana das pessoas.

02 – Ao escrever seus textos, você costuma ter dúvidas quanto à grafia das palavras?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Em sua opinião, o que pode motivar dúvidas desse tipo?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Você sabia que a ortografia oficial da língua portuguesa é regida por uma lei?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Uma contradição pode ser definida como incoerência entre uma afirmação atual e uma afirmação anterior. Identifique e explique a contradição apresentada na introdução do artigo de opinião.

      Aldo Bizzocchi apresenta uma contradição no trecho “A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento”. Ao fazer tal afirmação, o autor revela uma incoerência no próprio conceito de lei, já que, conforme exposto, “Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride”. O uso da conjunção mas expressa esse contraponto, essa quebra na expectativa: uma lei descumprida deveria prever punições, mas não é o que ocorre no caso da ortografia.

06 – No desenvolvimento de sua tese, o articulista apresenta algumas situações hipotéticas, como a do comerciante e a do escrivão que cometem erros ortográficos. Com que objetivo, provavelmente, ele utiliza essa estratégia argumentativa?

      Provavelmente, para apresentar situações hipotéticas e provar que, de modo geral, o descumprimento da lei não acarreta punição.

07 – O autor descreve algumas situações em que o desrespeito às normas ortográficas pode gerar problemas. Que problemas são esses?

      Preconceito contra aqueles que não as seguem; reprovação em concursos públicos.

08 – Em sua opinião, que outros problemas o descumprimento das normas ortográficas pode acarretar?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Dificilmente as incorreções ortográficas são punidas juridicamente e que atitudes de discriminação contra quem comete esse tipo de erro não se justificam.

09 – Qual é a conclusão apresentada no penúltimo parágrafo do texto?

      Aldo Bizzocchi conclui que as normas ortográficas podem ser mais uma questão de hábito do que de legislação. Ele cita exemplos de línguas que não têm ortografia oficial, mas mantêm hábitos arraigados de grafia apenas para facilitar a comunicação.

10 – No último parágrafo do artigo, o autor contrapõe a ortografia do português à do inglês. Explique a que conclusão ele chega ao fazer esse contraponto.

      No último parágrafo, o autor questiona a validade do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, criado com o objetivo de unificar a grafia do português nos países lusófonos. Como contraponto, ele cita o inglês, língua que tem duas grafias tradicionais (a britânica e a estadunidense), mas nenhuma oficial. Com isso, conclui que o esforço de unificação da grafia do português se deve à “cultura legiferante” do Brasil, um país regido por um número excessivo de leis que quase nunca são cumpridas.

11 – Qual é o principal objetivo do artigo de opinião “Ortografia é lei?”, de Aldo Bizzocchi?

      Convencer o leitor de que a legislação em relação à ortografia não funciona.

12 – Leia novamente estes trechos:

       Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja [...].

·        Se um escrivão de polícia transcrever com erros de grafia [...].

·        Se um jornal, livro ou revista sair com erro ortográfico [...].

        Com que objetivo o autor do artigo pode ter empregado esse tipo de oração condicional?

      Provavelmente, para levar o leitor a questionar a validade da lei que regulamenta a ortografia.

13 – Releia estes outros trechos:

·        Ortografia é lei?

·        Por que obedecer a ela então?

        Explique o efeito produzido pelo emprego dessas frases interrogativas no artigo de opinião.

      O emprego dessas frases interrogativas é uma estratégia argumentativa. Ao utilizá-las, o autor busca a adesão do leitor à sua tese.

14 – Que recursos estilísticos predominam na construção do texto? Cite pelo menos dois e dê exemplos.

      O autor emprega, principalmente, a ironia e o humor. A ironia, por exemplo, está presente na pergunta “Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja (existem muitos casos assim, alguns até hilários), estará ele sujeito a multa?”. O humor também é construído na suposição de que os erros ortográficos não seriam punidos pela escassez de pessoas capazes de seguir a norma ortográfica: “[...] uma lei que previa multa [...] entrou em vigor [...], mas nunca ‘pegou’, provavelmente por falta de fiscais qualificados.”

15 – Na língua portuguesa, um mesmo fonema pode ser grafado com letras diferentes. Leia:

·        Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)?

·        O país vivia de expedientes, isto é, de cinquenta em cinquenta anos, descobria-se nele um produto que ficava sendo a sua riqueza. Os governos taxavam-no a mais não poder [...].

BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Ática, 1998. p. 29.

        O que você observou em relação à grafia e ao sentido das palavras destacadas?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Essas palavras são homônimas homófonos, ou seja, palavras idênticas na pronúncia, mas diferentes na grafia e no significado. O ch em tachar tem o sentido de “pôr tacha ou defeito em alguém, acusar, censurar, notar; Em taxar significa “tributar, colocar preço, aplicar multa ou taxa, etc. os dois representam o mesmo fonema.

16 – Estabeleça a diferença de sentido entre as palavras homófonas a seguir:

a)   Caçar e cassar – Caçar: perseguir animais silvestres a tiro, a rede, para aprisionar ou matar; procurar, buscar. Cassar: tornar nulo ou sem efeito.

b)   Acender e ascender – Acender: pôr fogo, fazer arder; queimar, incendiar. Ascender: subir; elevar-se; erguer-se.

c)   Seção e sessão – Seção: parte de um todo, segmento. Divisão. Sessão: espaço de tempo que dura uma reunião, um congresso, um encontro, um espetáculo; a realização de um trabalho, a apresentação de um filme, de uma peça teatral, etc.

d)   Apreçar e apressar – Apreçar: perguntar ou pesquisar o preço de algo; ajustar o preço, atribuir grande preço ou valor. Apressar: tornar rápido ou mais rápido, acelerar; antecipar; abreviar.

17– Leia este verbete:

Sanção. Do latim sanctione, “ato de tornar santo, respeitado.”

S. f.

1. Aprovação dada a uma lei pelo chefe do Estado. 2. Parte da lei em que se apontam as penas contra infratores dela. 3. Pena ou recompensa com que se tenta garantir a execução de uma lei [...].

        Com base nessas acepções, explique o sentido das palavras destacadas em cada item:

a)   Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride.

Sanções: penas, punições com que se procura garantir a execução de uma lei.

b)   A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento.

Sancionada: que foi aprovada, oficializada, assinada, garantida pelo Poder Executivo.

c)   Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)?

Sanção (social): pena, punição ou recriminação da sociedade a quem transgride ou não cumpre uma lei.

 

ARTIGO DE OPINIÃO: A PALAVRA - EDUARDO CARVALHO - COM GABARITO

Artigo de opinião: A Palavra

                              Eduardo Carvalho

     No princípio era o verbo. Depois vieram os substantivos, os adjetivos, os pronomes.

        E o homem começou a produzir discursos e a conquistar seu mundo por intermédio da palavra. Nominar para conhecer, conhecer para conquistar. E jamais houve arma mais poderosa do que a palavra.

        E o homem usou a palavra para continuar suas descobertas. Para perpetuar suas experiências. Para acumular seu conhecimento.

        E o homem usou a palavra para cativar amigos, para seduzir amantes, para celebrar comunhões.

        E o homem usou a palavra para conquistar fieis, para dominar territórios, para exercer o poder.

        E o homem criou novas palavras para velhas coisas. Traduziu-as para novos idiomas, diversificou-as na torre que buscava a própria palavra em sua origem.

        Mas a palavra sempre se impôs a qualquer homem. Sempre perdurou para além de qualquer discurso E onde já não há rosas, ainda seu nome perpetuado para além de sua efemeridade. E onde já não há existência, palavras renitentes ainda existindo.

         Ainda hoje, a palavra transformada em pulso eletrônico, em onda magnética, em pixel luminoso, concretiza-se na matéria etérea de significados da qual é feita.

        Dominá-la e entregarmo-nos ao domínio que nos impõe. Eis o sentido último do encanto, do jogo, da paixão e de nossa devoção e vicio. A palavra, vivida como profissão.

CARVALHO, Eduardo. Disponível em: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/A-Palaavra/12/11469. Acesso em: 23 nov. 2015.

              Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 288-290.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Observe o título do texto e explique o uso da maiúscula no vocábulo Palavra.

      No contexto, o vocábulo palavra apresenta significado religioso. Palavra, grafada cm maiúscula, segundo a tradição judaico-cristã, remete à palavra de Deus, à palavra bíblica.

02 – Releia a primeira frase do texto:" No princípio era o verbo". Ela dá continuidade ao sentido do título? Por que?

      Sim. Essa frase também tem conotação religiosa, pois inicia um texto bíblico (evangelho de João). É interessante observar que verbo vem do latim (verbum) e seu significado original é palavra.

03 – A segunda frase do texto quebra a expectativa do leitor. Explique em que consiste essa quebra e o que ela acarreta para o entendimento do texto.

      Consiste no fato de que a segunda frase não segue a mesma linguagem de conotação religiosa. Quando se fala em verbo, o leitor espera que se trate de verbo no sentido religioso, porém ele segue citando classes gramaticais: substantivos, adjetivos, pronomes. Essa quebra mostra ao leitor que não se trata, na verdade, de um texto religioso.

04 – Os parágrafos seguintes do texto iniciam-se com a estrutura “E o homem...”. Que efeito a repetição dessa estrutura produz?

      Essa repetição dá ao texto um tom solene, de infinitude. Mostre aos alunos que essa estrutura também é própria do contexto litúrgico, religioso.

05 – Releia o segundo parágrafo e responda:

a)   Que ações começaram a ser praticadas pelo homem e que arma ele usou para praticá-las?

Produzir discursos e conquistar seu mundo, usando a palavra como arma.

b)   Você concorda que jamais houve arma tão poderosa quanto a palavra? Justifique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A palavra, como instrumento de linguagem, funciona como mediadora das relações humanas. Por meio da palavra, firma-se um compromisso, decreta-se uma sentença, etc.

06 – Explique de que forma a humanidade, com a palavra, consegue continuar suas descobertas, perpetuar suas experiências, acumular seu conhecimento. Converse com os colegas e o professor sobre o assunto.

      Registrando essas descobertas, experiências e conhecimento em livros, jornais, revistas, internet, etc.

07 – No quinto parágrafo, há uma menção a dois tipos de poder que o homem pode exercer por meio da palavra. Quais são eles?

a)   Poder familiar.

b)   Poder religioso.     

c)     Poder de soberania. 

d)   Poder de sedução.

08 – Agora, no caderno, dê exemplos de como é possível, por meio das palavras:​

a)   Cativar amigos.

b)   Seduzir amantes.

c)   Celebrar comunhões.

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Releia este trecho: “E o homem criou novas palavras para velhas coisas”. Veja a seguir exemplos de “novas palavras para coisas velhas”:

     Tiete --- fã;      Sofrência --- sofrimento;     Bombar --- repercutir.

a)   Dê outros exemplos de “novas palavras para coisas velhas”.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Ainda no sexto parágrafo, a qual passagem bíblica o texto faz referência?

Ao episódio da torre de Babel, que explica o surgimento das diversas línguas como castigo divino pela ambição dos homens que construíram uma torre para chegar ao céu.

10 – Até o 6° parágrafo, a palavra é retratada no texto como um instrumento que o homem tem para exercer o seu poder. A partir do 7°, como a palavra passa a ser caracterizada em relação ao homem?

      A palavra passa a ser considerada superior ao homem.

11 – Que palavra anuncia essa mudança de foco do texto?

      A palavra mas.

12 – Segundo o texto, que particularidade da palavra a torna superior ao homem?

a)   A efemeridade.

b)   A imortalidade.

c)   A beleza.

d)   A austeridade.

13 – Ao falar sobre pulso eletrônico, onda magnética e pixel luminoso, o autor faz referência:

a)   Ao significado das palavras.

b)   À beleza das palavras.

c)   Ao suporte das palavras.

d)   À utilidade das palavras.

14 – O último parágrafo do texto inicia-se com uma antítese. Explique qual é ela.

      Ao mesmo tempo em que devemos dominar a palavra nos deixar dominar por ela.

15 – Você se lembra do conselho de intertextualidade, que estudamos no capítulo anterior? Em “A Palavra”, a intertextualidade se constrói com alusões ao texto bíblico:

        “E no princípio era o verbo”.

        Além dessa alusão, são utilizadas outras estruturas linguísticas próprias do texto religioso:

        “Palavra”

        “E o homem...”.

        Agora, responda no caderno:

a)   Qual é o efeito de sentido decorrente dessas alusões?

Caracterizar a palavra, assunto do seu texto, como algo sagrado.

b)   Do que o leitor precisa para reconhecer no texto essa intertextualidade?

Ele precisa ter um conhecimento prévio sobre o texto bíblico.

16 – Releia o último parágrafo do texto:

        “Dominá-la e entregarmo-nos ao domínio que nos impõe. Eis o sentido último do encanto, do jogo, da paixão e de nossa devoção e vicio. A palavra, vivida como profissão.”

        Procure no dicionário os verbetes paixão, devoção e profissão e explique o significado dessas palavras no contexto do texto analisado.

      Paixão: martírio, sofrimento; Devoção: veneração, dedicação; Profissão: declaração pública de uma crença.

 

 

 


ROMANCE VIDAS SECAS: "FESTA" - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Romance Vidas secas: Festa – Fragmento

                 Graciliano Ramos

        [...]

        Tinham percebido que havia muitas pessoas no mundo. Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intrincada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conseguiria tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem. [...]

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 48. ed. Rio de Janeiro: Record, 1981. p. 83-84.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 240-1.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Tolda: o mesmo que toldo (cobertura em forma de telhado usada para abrigar carga ou passageiros).

·        Intrincada: obscura, confusa; custosa de perceber.

02 – Para você por que as coisas têm nome? Quem dá nome às coisas?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O que aconteceria se as coisas não tivessem nome?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – A que classe gramatical pertencem as palavras que nomeiam pessoas, seres imaginários, objetos, sentimentos, ações, fenômenos e que podem ser flexionadas em gênero e número?

      Pertencem a classe dos substantivos.

05 – Qual é o tema desse trecho da obra Vidas secas?

      A perplexidade das crianças (o menino mais velhos e o mais novo) diante da infinidade de objetos/coisas que descobrem e a necessidade de nomeá-los, para que sejam entendidos.

06 – O que as coisas vistas pelos meninos provocam neles? Explique.

      Surpresa e dúvidas. Eles ficam admirados com tanta beleza; querem saber quem criou tantas coisas, qual é o nome de cada uma delas, assim como entender a capacidade das pessoas de guardar tantos nomes.

07 – Leia:

        “Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente.” Como você interpreta o trecho acima?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As personagens dão importância aos nomes das coisas porque, sem eles, fica difícil entender o mundo.

08 – Volte ao texto e identifique os termos que foram usados para substituir as palavras:

a)   Pessoas:

Gente, homens, indivíduos.

b)   Objetos:

Coisas, maravilhas, preciosidades, surpresas.

09 – As palavras pessoas, gente, homens, indivíduos, objetos, coisas, maravilhas, preciosidades, surpresas, usadas para nomear, funcionam como substantivos. Elas foram empregadas para manter o assunto do texto e evitar repetições desnecessárias. No texto “Festa”, que palavras foram usadas com essa mesma função para substituir o substantivo dúvida?

      As palavras dificuldade, questão. Não basta que os alunos identifiquem e classifiquem os substantivos. O importante é que eles percebam que os diferentes substantivos são empregados para manter a continuidade temática, isto é, o assunto dos textos e evitar repetições desnecessárias.

10 – Identifique no trecho de Vidas secas reproduzido anteriormente substantivos que nomeiam partes do corpo.

      Ombros, ouvido, olhos.

 

 

POEMA: IMORTAL ATITUDE - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

Poema: Imortal Atitude

              Cruz e Sousa


Abre os olhos à Vida e fica mudo!
Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado tudo
De uma luz imortal e transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,
A alma risonha, lúcida, vidente...
E abandonar o sujo deus cornudo,
O sátiro da Carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,
O infinito gemido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços
Para o eterno Silêncio dos Espaços
e no Silêncio emudecer olhando.

             Disponível em: http://dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000078.pdf. Acesso em: 19 jan. 2016.

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 125-6.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Sátiro: devasso, luxurioso.

·        Impenitente: pecador, vicioso.

·        Lânguidos: voluptuosos, sensuais.

·        Chafurdando: remexendo, revolvendo.

02 – No Simbolismo, é comum o uso de inicial maiúscula para atribuir valor absoluto, simbólico às palavras.

a)   Transcreva do poema as palavras em que isso ocorre.

Palavras do poema com inicial maiúscula: “Vida”, “Carne”, “Silêncio dos Espaços” e “Silêncio”.

b)   Que valores absolutos são atribuídos a essas palavras e que justificam sua grafia com inicial maiúscula?

“Vida”: refere-se a toda a existência humana; “Carne”: remete a todo desejo físico humano; “Silêncio dos Espaços” e “Silêncio”: referem-se ao Nada, à morte como início da “luz imortal” e da transcendência.

03 – No primeiro quarteto, o eu lírico dá um conselho ao seu interlocutor e depois defende um determinado ponto de vista.

a)   Desfaça o hipérbato presente na primeira estrofe para facilitar sua compreensão do texto.

Abre os olhos à Vida e fica mudo! Oh! Basta crer indefinidamente para tudo ficar iluminado de uma luz imortal e transcendente.

b)   Que conselho é dado ao interlocutor?

Aconselha-se ao leitor que abra os olhos para a existência e fique mudo.

c)   Que ponto de vista é defendido no primeiro quarteto após o aconselhamento?

O eu lírico defende que basta que se creia indefinidamente para que tudo se ilumine de uma luz imortal e transcendente.

04 – No segundo quarteto, o eu lírico explica o que é “crer”. Transcreva a definição que é dada para esse verbo.

      “Crer” seria “sentir”, como um secreto escudo, a alma risonha, lúcida, vidente, e abandonar o “sujo deus cornudo”, o “sátiro da Carne impenitente”.

05 – Para responder às questões seguintes, relacione as informações do boxe abaixo ao conteúdo do poema.

        Sátiro ou fauno

        Sátiro é um ser mitológico do sexo masculino, presente na cultura grega antiga. Com cabeça humana e corpo de bode, costumava vagar pelos bosques com uma flauta, acompanhando Dionísio (deus do vinho e das festas). Nos mitos gregos, é referido como um ser relacionado aos instintos sexuais. Na mitologia romana, é conhecido como fauno.

SCHWABE, Carlos. O fauno. 1923. Giz, carvão e lápis de cor, 115 x 146 cm.

a)   Segundo o eu lírico, o que o homem deve abandonar a fim de conseguir crer com plenitude?

O eu lírico aconselha que o homem abandone sua porção carnal, sexual, seus instintos mais primitivos, simbolizados pela figura pagã do sátiro grego, ente relacionado à pulsão sexual humana.

b)   No seu ponto de vista, por que o eu lírico pede esse tipo de renúncia ao seu interlocutor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nesse poema, os desejos sexuais humanos são vistos como sujos e, por isso, distanciariam o homem do “eterno Silêncio dos Espaços”.

06 – Depois de abrir os olhos para a “Vida”, de emudecer e de abandonar os desejos carnais, para onde iria o homem, segundo o eu lírico?

      Agindo dessa forma, crendo verdadeiramente, o homem encontraria o “eterno Silêncio dos Espaços”, ou seja, o retorno ao Nada, à transcendência.

 

 


CRÔNICA: PALAVRAS EMPRESTADAS - IVAN ÂNGELO - COM GABARITO

Crônica: Palavras emprestadas

               Ivan Ângelo

        A leitora Mafalda, sob o título “Sugestão de crônica”, mandou-me um e-mail protestando contra a invasão de expressões estrangeiras no dia a dia do brasileiro. Enviou até fotos de vitrines dos arredores de sua casa, na região da Rua Oscar Freire. Nas imagens leem-se “Spring/Summer Collection 2011”, “Adidas is all in” e, numa vitrine ainda tapada, “See you soon”.

        Visionária, a leitora sonhava que eu pudesse contribuir para “mudar o uso do inglês nas ruas”, motivar algum político “a comprar essa briga”, lembrava o fracasso recente de Aldo Rebelo e dizia ser aquela uma questão de patriotismo. “Não acha?”

        Não acho, leitora, leitores. Com jeito, vou tentar explicar.

        Quando me alfabetizei, em 1943, havia cerca de 40 000 palavras dicionarizadas no português, segundo Domício Proença Filho, da Academia Brasileira de Letras. Hoje, são mais de 400 000; alguns filólogos estimam em 600 000. Ora, leitora, de onde brotaram tantas palavras? Dos novos hábitos da população, das inovações tecnológicas, das migrações, das gírias, dos estrangeirismos.

        Já vê, cara Mafalda, que a consequência dos estrangeirismos não é o empobrecimento da língua, e sim o enriquecimento. Nós nos irritamos com os abusos, sim, como acontece com qualquer abuso.

        A questão do estrangeirismo se aclara com a pergunta: com quem a pessoa quer se comunicar? Se usa palavras que muitas pessoas não entendem, não vai se comunicar com elas. Mesmo usando só o português. No caso das frases em inglês na Rua Oscar Freire, aqueles comerciantes não estão querendo se comunicar com quem não as entende. Fazendo um paralelo meio absurdo: aqueles rabiscos dos pichadores, quem entende? Eles. É coisa deles para eles.

        Há quem use a expressão estrangeira por pedantismo, quando há termo equivalente brasileiro. Mas por que tentar impedir alguém de ser pedante? É um direito dele. Há quem use por ser um modismo, mas por que ir contra a moda? Ela passa.

        Na maioria dos casos, usa-se o estrangeirismo por necessidade. Há palavras estrangeiras inevitáveis, porque designam coisas novas com mais exatidão e rapidez: air bag, shopping center, e-mail, flash, paparazzi, smoking, slide, outdoor, jazz, rock, funk, marketing, stand-by, chip, overdose, replay, videogame, piercing, rush, checkup, blush, fashion – e milhares de outras.

        Havia inevitáveis que acabaram se adaptando. Já tivemos goal-keeper (goleiro), goal (gol; o Estadão escrevia “goal” até os anos 1960), offside (impedimento, impedido), corner (escanteio), volleybol (voleibol, vôlei), basketball (basquete), surf (surfe) – e tantas outras.

        Centenas delas ficaram bem à vontade quando aportuguesadas: uísque, gol, futebol, lanchonete, drinque, iogurte, chique, conhaque, cachê, omelete, bife, toalete, clube, gangue, ringue, garçom, lorde, picles, filme, time, sanduíche, cachorro-quente, lanche, avião, televisão – e por aí vai.

        Muitas ficaram bem bacaninhas no nosso dia a dia, mesmo usadas do jeito que chegaram: gay, jeans, pizza, show, shopping, tour, ciao, topless, manicure, vitrine...

        Um grande número delas é dispensável, entra na conta dos pedantes, pois para dizer o que elas querem dizer temos boas palavras nossas de uso corrente: sale, off, hair dresser, suv, personal trainer, laundry, pet shop, fast-food, ice, freezer, prêt-à-porter, on-line, mailing list, bullying...

        A leitora lembra o deputado Aldo Rebelo e sua tentativa fracassada de botar o assunto dentro de uma lei. Não dá certo, amiga. Já houve outros. O mais ridicularizado foi o latinista e filólogo carioca Antônio de Castro Lopes, figura da passagem do século XIX para o XX. Na época dele, era da França que vinham os modos, as modas e as palavras que copiávamos. Machado de Assis foi um dos que o ironizaram, numa crônica de 1889. Caiu no ridículo sua tentativa de transformar football em balipodo, abat-jour em lucivelo, piquenique em convescote, chauffeur em cinesíforo... – palavras que acabaram aportuguesadas pelo som, felizmente.

        O povo falante há de peneirar o que merecer permanência.

ÂNGELO, Ivan. Revista Veja. São Paulo: Abril, 25 maio 2011. Disponível em: http://vejasp.abril.com.br/matéria/palavras-emprestadas. Acesso em: 30 nov. 2015.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 227-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Visionário: aquele que tem sonhos, utopias.

·        Aldo Rebelo: político que, como deputado federal, apresentou em 1999 um projeto de lei que proibiria o uso de palavras estrangeiras em diversas situações.

·        Pedante: pessoa que se expressa exibindo conhecimentos que realmente não possui; vaidosa, pretensiosa, afetada.

·        Estadão: como é conhecido, popularmente, o jornal O Estado de S. Paulo.

02 – Você sabe o que é estrangeirismo? E neologismo?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Como e por que motivo os neologismos se formam ou são criados? Você conhece algum? Qual?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – É possível que uma língua se forme sem a incorporação de termos estrangeiros?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – O uso de palavras estrangeiras é positivo ou negativo para o nosso idioma?

      Positivo, porque enriqueci a língua.

06 – Responda:

a)   Qual é o tema dessa crônica?

O uso de termos estrangeiros em nossa língua: pontos positivos e negativos.

b)   O que motivou a escrita da crônica?

Uma carta em que uma leitora (Mafalda) solicita que o cronista se posicione a respeito do uso de estrangeirismos em nossa língua.

07 – Releia:

        Visionária, a leitora sonhava que eu pudesse contribuir para “mudar o uso do inglês nas ruas”, motivar algum político “a comprar essa briga” [...].

a)   Nesse trecho, qual é o sentido da palavra visionária?

No trecho, visionária tem o sentido de sonhadora, devaneadora, utópica.

b)   Baseando-se naquilo que você já aprendeu a respeito o processo de evolução da língua, explique por que o cronista pode ter caracterizado a leitora dessa forma.

O cronista considera a leitora visionária porque sabe que é impossível impedir a evolução da língua. A incorporação de palavras de outro idioma à língua acontece de forma natural e não pode ser regulada por meio de leis, de decretos ou mesmo da emissão de opiniões de especialistas sobre o assunto.

08 – Segundo o cronista, que relação se pode estabelecer entre os comerciantes da Rua Oscar Freire e os grafiteiros?

      Ambos buscam atingir determinado grupo social (público-alvo) por meio de uma linguagem bem específica.

09 – O cronista expõe seu posicionamento e apresenta argumentos para sustentá-lo.

a)     Qual é a posição do cronista em relação ao uso de estrangeirismos? Que argumentos ele usa para defender sua posição?

O cronista aceita o uso de estrangeirismos com maturidade. Segundo ele, os estrangeirismos são usados por necessidade, quando não há um vocábulo equivalente na língua, ou por modismo ou pedantismo, nos casos em que há vocábulo equivalente.

b)     O cronista condena o uso de estrangeirismos em alguma situação? Justifique.

Não. Ele respeita até quem os usa por pedantismo ou modismo. Em casos em que são necessários, os estrangeirismos contribuem para o enriquecimento da língua.

10 – Em 1943, época em que o cronista se alfabetizou, havia cerca de 40 mil palavras na língua portuguesa, segundo Domício Proença Filho. Hoje, são mais de 400 mil palavras dicionarizadas. A que o autor da crônica atribui o aumento de vocábulos em nossa língua?

      Segundo o cronista, as palavras surgem com os novos hábitos da população, as inovações tecnológicas, as migrações, as gírias, os estrangeirismos.

11 – Releia o trecho a seguir e explique-o no caderno:

        “Havia inevitáveis que acabaram se adaptando. Já tivemos goal-keeper (goleiro), goal (gol; o Estadão escrevia “goal” até os anos 1960), offside (impedimento, impedido), corner (escanteio), volleybol (voleibol, vôlei), basketball (basquete), surf (surfe) – e tantas outras.”

      As palavras estrangeiras são incorporadas à língua e acabam sendo aportuguesadas.

12 – A crítica ao uso de estrangeirismos é recente? Justifique sua resposta.

      Não. O cronista cita o latinista e filólogo carioca Antônio de Castro Lopes, figura da passagem do século XIX, que propôs a substituição de palavras estrangeiras por palavras da língua portuguesa. Cita também o projeto do político Aldo Rebelo (SP), que quando deputado tinha o mesmo objetivo e fracassou em seus intentos.

13 – De acordo com a crônica, o que determina a permanência ou não de estrangeirismos na língua?

      É o seu uso ou não pelos falantes da língua: o povo. “O povo falante há de peneirar o que merecer permanência.”