quinta-feira, 10 de março de 2022

TIRA: NÁUSEA, OS RATOS TAMBÉM CHORAM - FERNANDO GONSALES - SUJEITO E PREDICADO - COM GABARITO

 Tira: Náusea, Os ratos também choram

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                    Fernando Gonsales. Níquel Náusea – Os ratos também choram. São Paulo: Bookmakers, 1999. p. 41.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 214.

Entendendo a tira:

01 – Na oração “seu pelo é sujo e pegajoso!”:

a)   Identifique o sujeito e o predicado.

Sujeito: seu pelo; Predicado: é sujo e pegajoso.

b)   Identifique o verbo e classifique-o quanto à predicação.

Verbo ser, de ligação.

c)   Qual é a função sintática de sujo e pegajoso?

Predicativo do sujeito.

02 – Na oração “Como você arruma tantas garotas?”:

a)   Identifique o sujeito e o predicado.

Sujeito: você; Predicado: como arruma tantas garotas.

b)   O verbo arrumar é significativo ou é de ligação?

Significativo.

c)   Qual é a predicação desse verbo? Se tiver objetos, identifique-os.

Verbo transitivo direto; Objeto direto: tantas garotas.

03 – Qual é o nome do rato sujo e pegajoso?

      Rato Ruter.

04 – Por que o título diz que “Os ratos também choram”?

      Porque ele ficou triste por não conseguir nenhuma garota.

TIRA: OZZY EM VÁRIOS LOCAIS - FOLHA DE S.PAULO - ADJUNTO ADVERBIAL - COM GABARITO

 Tira: Ozzy em vários locais

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Folha de S. Paulo, 3/5/1996. Folhinha.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 245.

Entendendo a tira:

01 – A tira apresenta cinco quadrinhos, cada um mostrando uma situação. Na parte superior de cada quadrinho, o narrador nos dá algumas informações sobre Ozzy:

        Ozzy na escola – Ozzy no clube – Ozzy nas festinhas – Ozzy no condomínio – Ozzy em casa.

        Essas informações são completadas pelas imagens, que retratam as ações de Ozzy.

a)   O que Ozzy está fazendo em cada uma das situações retratadas?

Ozzy sempre ameaça jogar o gato: do alto do prédio, do trampolim, na panela com água fervendo, no vaso sanitário; no último quadrinho, contudo, ele é que é jogado pela mãe na água da banheira.

b)   Que tipo de informação os termos na escola, no clube, nas festinhas, no condomínio, em casa dão sobre as ações de Ozzy?

Indicam o lugar em que ele está.

02 – Compare o último quadrinho com os demais.

a)   O que essencialmente muda nele?

Antes era Ozzy que agia com violência com os gatos; agora ele é vítima de um banho dado pela mãe.

b)   Qual dos seguintes ditos populares ilustra as ações retratadas nos quadrinhos?

·        Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

·        Antes tarde do que nunca.

·        O mundo é dos mais fortes.

c)   Levando em conta o último quadrinho, a ação de pegar gatos pelo rabo praticada por Ozzy inspira-se em que situação? Por quê?

Na situação do banho ao qual Ozzy é submetido em casa. Ele faz com os gatos exatamente o que a mãe faz com ele.

03 – Conforme os adjuntos adverbiais podemos ter; tempo, modo, causa. Diga a qual pertence as frases abaixo:

a)   Ozzy sempre maltratava os gatos.

Adjunto adverbial de tempo.

b)   Ozzy tratava mal os animais.

Adjunto adverbial de modo.

c)   Ozzy agia assim de raiva.

Adjunto adverbial de causa.

ANÚNCIO: HELP! JORNAL O ESTADO DE S.PAULO - ADJUNTO ADVERBIAL - COM GABARITO

 Anúncio: Help!

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Jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 247.

Entendendo o anúncio:

01 – O anúncio é engraçado porque apresenta ambiguidade e quebra de expectativa. A palavra polêmica significa “debate, controvérsia, discussão”. O que inicialmente imaginamos quando lemos “assuntos polêmicos e delicados”?

      Que será sugerido que os pais tratem com os filhos de problemas sérios e difíceis de conversar: notas na escola, namoro, sexualidade, regras domésticas, etc.

02 – Help! É uma enciclopédia gramatical, que foi publicada em fascículos nas edições de domingo do jornal. Sabendo disso, responda: O adjunto adverbial é, normalmente, um assunto polêmico e delicado par a maioria dos pais? Por quê?

      Sim, principalmente porque os pais já estudaram esse assunto na escola há muito tempo – isso quando o estudaram –, o que torna o tema delicado para eles. Contudo, vale ressaltar a intenção do anúncio de provocar ambiguidade.

03 – No anúncio se lê:

        Converse com seus filhos sobre assuntos polêmicos e delicados”.

        No trecho destacado na oração, há dois termos preposicionados: um deles é adjunto adverbial e o outro, objeto indireto.

a)   Identifique-os.

Com seus filhos: objeto indireto; sobre assuntos...: adjunto adverbial.

b)   Classifique o adjunto adverbial.

Adjunto adverbial de assunto.

CRÔNICA: AQUI NÃO FALTA NADA - MARCOS REY - COM GABARITO

 Crônica: AQUI NÃO FALTA NADA

            Marcos Rey

        Carta

        TCHAU, MÃE:

        Estou me mandando.

        Vou pra São Paulo mas não esquente não. Já sei me virar e estou levando todo o dinheiro que guardei.

        Vila Grande não dá mais pé pra mim. Não pela cidade, que é bacana, mas por tudo que anda acontecendo. Você sabe, eu e o padrasto, a gente não se dá muito bem. Aquilo de estudar contabilidade podia ser bom pra empresa dele, pra sua frota de caminhões, não pra mim. Não nasci pra fazer contas. E um cano.

        Outro que me enche é o filho dele, o Silvano. Um chato, vive implicando comigo, provocando. Quem ele pensa que é?

        O jeito que encontrei pra me livrar disso tudo foi esse: dar o fora daqui, cair no mundo.

        Sei que você vai chorar, mas logo passa.

        Papai vai ser meu anjo da guarda, sempre por perto, aconselhando. E tudo acabará numa boa, como nos filmes de cinema.

Tchau, mãe!

Toni

Texto

        Dona Amélia entrou no quarto do filho, viu a carta sobre o travesseiro e adivinhou do que se tratava. As coisas em casa andavam tensas. Depois de ler o que Toni havia escrito, ela foi abrir o guarda-roupa do rapaz. Felizmente, ele levara as roupas de inverno. São Paulo é uma cidade fria.

        Na sala, fez uma ligação telefônica:

        — Me chamem o Antero, urgente.

        Um segundo e ouviu a voz do marido, sempre bronqueado, como Toni dizia.

        — Que aconteceu?

        — O Toni...

        — O que foi desta vez?

        — Fugiu de casa.

        — Ah...

        — Meu filho foge de casa e você só diz “ah...”?

        — O que quer que eu diga? Juízo ele nunca teve mesmo. Mas não se aflija, ele volta.

        — Acha que volta?

        — Acho sim. Vai ser uma lição para ele. Voltará dando mais valor ao que tinha aqui. Depois a gente conversa. Preciso despachar um caminhão.

        Dona Amélia saía da sala quando entrou o enteado, Silvano, recém-formado em administração de empresas, sempre bem-vestido e um tanto pretensioso. Com a madrasta era apenas educado e mais nada.

        — Toni fugiu — ela disse.

        Silvano não esboçou a menor reação. Com cara de quem um dia ia ser patrão, nunca se surpreendia.

        — Deve ter ido atrás de sua garota.

        — Garota? Que garota?

        — Lembra aquela que morava na esquina?

        — Uma que o pai trabalhava numa firma estrangeira?

        — Ele foi transferido e se mudou com a família pra São Paulo.

        — Toni não fugiria de casa por causa duma namorada — replicou dona Amélia, como se tivesse acabado de ouvir um absurdo.

        Silvano sentiu que poderia complicar a situação de Toni. Não suportava o meio-irmão nem à distância.

        — Que outro motivo Toni poderia ter, dona Amélia? Ele tinha a vida que pediu a Deus. Por acaso falta alguma coisa aqui?

        Era verdade, admitiu dona Amélia para si mesma. Durante o primeiro casamento e, depois, quando viúva, ela e o filho só conheceram aperturas. José, o falecido, jornalista de cidade pequena, nunca pôde dar conforto à família e, ao morrer, deixara uma sequência de zeros na conta bancária. Dona Amélia reconhecia que, com o segundo marido, Antero, próspero comerciante, a situação era outra, muito melhor.

        — Não, Silvano, aqui não falta nada — respondeu, dando as costas para o rapaz. Ela queria ficar sozinha para reler a carta de Toni. 

Marcos Rey. Na rota do perigo. São Paulo, Ática, 1993. p. 9-11.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 77-80.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Afligir-se: preocupar-se.

·        Despachar: enviar.

·        Pretencioso: vaidoso, convencido, presunçoso.

·        Esboçar: entremostrar, manifestar.

·        Absurdo: algo sem sentido, que não se compreende.

·        Sequência: série, sucessão.

·        Próspero: bem-sucedido, afortunado.

02 – Toni é um adolescente e por isso usa uma linguagem cheia de gírias em sua carta. Além disso, como escreve para a mãe, usa a linguagem informal, um tratamento bem coloquial. Vamos transferir sua fala para a norma culta, formal.

a)   Estou me mandando.

Estou indo embora.

b)   Vou pra São Paulo mas não esquenta não.

Vou para São Paulo, mas não precisa se preocupar.

c)   Vila Grande não dá mais pé pra mim.

Não dá mais para ficar em Vila Grande / Não me e possível viver mais em Vila Grande.

d)   E tudo acabará numa boa, como nos filmes de cinema.

E tudo acabará bem, como nos filmes do cinema.

e)   A gente não se dá muito bem.

Nós não nos damos bem.

f)    Vou dar o fora daqui, cair no mundo.

Vou embora daqui, procurar novos lugares.

03 – O texto pode ser dividido em duas partes. Justifique.

      A primeira parte do texto é a carta de despedida da personagem Toni. A segunda é a narração da história.

04 – Quais as razões que levaram Toni a deixar a casa da mãe?

      Toni tem um relacionamento problemático com o padrasto e também com o filho deste. Silvano. Querem que ele estude contabilidade, e o rapaz não quer.

05 – Como é Antero, o padrasto de Toni?

      Seu Antero, segundo marido de D. Amélia, é dono de uma empresa de transporte. É uma pessoa que revela apenas interesses materiais, como preocupação em ganhar dinheiro, em manter a firma, etc.

06 – Explique esta afirmação, com relação ao texto: “Aqui não falta nada”:

      Silvano quis dizer que não faltava nada de material na casa. Isso soa como ironia, pois ali não havia amor, tranquilidade, respeito pelas pessoas.

07 – Qual a situação econômica de Dona Amélia?

      Dona Amélia passou por muitas dificuldades econômicas durante o primeiro casamento. Agora, economicamente, sua situação melhorou.

08 – O que podemos inferir do diálogo entre Dona Amélia e Antero?

      Pelo diálogo, percebe-se que Antero não gosta de Toni e não dá grande importância a Amélia. Para ele, o importante é despachar o caminhão, ganhar dinheiro.

09 – A personagem Toni é apresentada ao leitor do ponto de vista de Antero e de Silvano. O que ambos pensam dele?

      Antero acha que Toni não tem juízo, que não dá valor ao que te. Silvano não suportava o meio-irmão.

10 – Seu Antero quer que o enteado estude contabilidade para trabalhar na firma dele. Qual sua opinião sobre essa atitude?

      Resposta pessoal do aluno.

CRÔNICA: A CIDADEZINHA - RAQUEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: A cidadezinha

               Raquel de Queiroz

        Era uma vez uma cidadezinha, dessas muito antigas. Pequena, mal tinha umas cinco ruas meio tortas e desencontradas. As casas, nessas ruas, eram quase todas baixinhas. No meio delas uns dois sobrados, o casarão da escola e o outro casarão muito feio, com janelas gradeadas, onde ficava a cadeia.

        Mas a graça daquela cidadezinha era a igreja, que a gente até poderia chamar de igrejinha. Ficava no alto do morro, toda branca, de portas azuis, parecia leve, muito linda. Talvez por causa da igrejinha no morro, a cidadezinha ganhou o nome de Morro Lindo. A igrejinha é que era linda, mas o morro ficou com a fama.  E não era dessas igrejas importantes, paredes de pedra, com as torres apontando para o céu. Tinha as paredes muito simples, era quadradinha, com uma torre também quadrada. E bem debaixo do telhado da torre, ficava o sino.

Raquel de Queiroz. Andira. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 3.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 123-4.

Entendendo a crônica:

01 – O texto está organizado em dois parágrafos. No 1°, há uma descrição da cidade; no 2°, uma descrição da igrejinha.

a)   Como era a cidade, suas ruas e casas?

Era muito antiga e pequena. Suas ruas eram meio tortas e desencontradas. Quase todas as casas eram baixinhas.

b)   Como era a igrejinha?

Era branca, de portas azuis e parecia leve, muito linda.

02 – Para ressaltar ainda mais as qualidades da igrejinha, o narrador cita alguns elementos das igrejas importantes: as paredes e a torre.

a)   Como são normalmente as paredes de uma igreja importante? E as da igrejinha, como eram?

As paredes de uma igreja importante são de pedra. As da igrejinha eram caiadas.

b)   Como são as torres de uma igreja importante? E a torre da igrejinha, como era?

As torres de uma igreja importante apontam para o céu. A torre da igrejinha era quadrada.

c)   O narrador afirma: “não era dessa igrejas importantes”. Que característica da igrejinha se contrapõe a importante?

Simples.

03 – No 2° parágrafo, o narrador afirma que a igrejinha “parecia leve”. Qual é o sentido desse adjetivo no contexto?

      Delicada, simples, de formas suaves.

04 – O narrador manifesta descontentamento em relação ao nome da cidade.

a)   Por quê?

Porque a igrejinha era o que a cidade tinha de mais bonito, e não o morro.

b)   Imagine para essa cidade um nome que fosse mais adequado à descrição que lemos.

Resposta pessoal do aluno.

 

CRÔNICA: CARTILHA BRASILEIRA - PEDRO BIAL - COM GABARITO

 Crônica: Cartilha Brasileira

              Pedro Bial

        Queridas filhas, vocês chegam ao Brasil depois de amanhã. Vocês, meninas, são um tipo muito especial de brasileirinhas. Pois aqui vocês vieram ao mundo, nasceram em dias de sol tropical, e receberam as primeiras lufadas de vento direto do Oceano Atlântico. Só que bem pequeninas ainda, vocês foram para o hemisfério norte, foram morar na Inglaterra, ou como se diz por aqui, nas Oropas...

        Agora, vocês terão de aprender o que é o Brasil bem rapidinho... É verdade que nós vínhamos em todas as férias, e é verdade também que vocês sempre adoraram. Brasil era sinônimo de farra, biquíni, praia, vovô, vovó, tio, tia, primo, prima... Uma delícia...

        Lembro daquela vez em que uma amiga minha perguntou a uma de vocês, bem novinha ainda, o que achava do Brasil. A resposta foi um sorriso encantado, feliz, e palavras contentes sobre brincadeira, carnaval, sol e mar... Aí, a mesma amiga fez outra pergunta: e lá na Inglaterra, como é? A resposta: lá, você precisa saber bem as regras...

        No Brasil, esse negócio de regras muda toda hora, e na maioria dos casos vale para alguns e não para todos...

                                                 *

        Em primeiro lugar, tenham paciência. Principalmente, porque vocês vêm morar no Rio de Janeiro, onde parece que a primeira solução de qualquer problema é o adiamento. Mas, com tolerância e esquecendo a pressa, as coisas acabam se resolvendo.

        Porque, na batata mesmo, o número de pessoas que gostaria de resolver as coisas, de melhorar a cidade é maior, bem maior do que o número de preguiçosos e aproveitadores. Os brasileiros trabalham muito.

                                                 *

        Sorte, vocês chegarem agora em julho. Pode até ser que vocês usem um daqueles cardigans de primavera londrina neste inverno carioca. Mas, depois, preparem-se; é quente, muito quente por aqui.

                                                 *

        Será difícil para vocês entender como um país rico desse jeito tem tanta gente pobre na rua. Vocês vão ter que estudar um bocado de História do Brasil, e mesmo assim vai ser duro chegar a uma conclusão.

        Uma pista: lembram aquela revolução na França, que vocês estudaram, em que no fim da história os reis perdiam suas cabeças na guilhotina? Lembram que depois daquela sangueira toda, os franceses deixaram de ser "súditos" e passaram a ser "cidadãos"? Pois é, meus amores, aqui nunca teve nada disso não...

                                                  *

        Por isso, também, vocês terão de ser mais cuidadosas na rua. Aqui, tem muito assalto e até sequestros. Em certas partes da cidade, vocês nunca irão, ou só irão se eu estiver junto. Acho que vocês até vão gostar de conhecer uma favela, ver como as pessoas vivem no maior sufoco e mantêm uma alegria de viver difícil de encontrar naquela prosperidade europeia.

        Na verdade, a vidinha de vocês vai ser bem diferente. Vocês vão andar de carro para cima e para baixo, em todos os lugares vocês se verão cercadas por grades e guaritas de segurança, como se dois países ocupassem o mesmo lugar ao mesmo tempo. Num país, vocês vão curtir mordomias que aí na Inglaterra a gente nem sonhava. Só que, em volta da gente, sombras de perigo estarão rondando. Mas, não é para ter medo não... É tudo gente, e se, por acaso, vocês se virem numa situação meio cabeluda, não esqueçam: quem parece tão ameaçador é humano também, e só nos resta negociar. Negociar pela própria vida.

        Mas, pode deixar que nada de mal vai acontecer.

                                                     *

        Vocês vão ter que acordar mais cedo para ir à escola, por causa do trânsito. É cada jam que vocês nem imaginam...

                                                     *

        Ah!, vocês vão estranhar um pouco os modos de outras meninas. Aqui, desde cedo, as garotas são incentivadas a se comportar como mulheres. Não só na maneira de vestir ou andar. Nos programas infantis na televisão, as crianças aprendem umas danças quase pornográficas. Danças que aí na Inglaterra vocês nunca veriam, danças que não sairiam de casas noturnas, vedadas a menores de dezoito anos.

                                                   *

        Vai ser duro dizer adeus aos amiguinhos aí de Londres. A gente, que xingou tanto os ingleses, agora se dá conta de como fomos bem recebidos na ilha britânica. Depois que aprendemos as tais regras, foi muito bom, não foi? Vamos sentir saudades da televisão daí, e teremos que nos acostumar com a quantidade estúpida de anúncios da telinha daqui.

                                                   *

       Vocês nem se dão conta, mas o tempo em que vivemos na Inglaterra nos fez brasileiros melhores.

        E, nesses últimos tempos, os brasileiros andam gostando de cuspir na própria bandeira, adoram falar mal do Brasil, como se isto aqui não tivesse jeito mesmo. Nós, que aprendemos como os europeus valorizam a sua nacionalidade, vamos ver se ensinamos aos amigos, como é que se trata a própria pátria: com amor e dedicação! (...)

                                                   *

        E principalmente, meninas, aqui vocês são muito importantes. O Brasil precisa de moças como vocês, inteligentes e esforçadas. Lá, na Europa, vocês sabem, os jovens terminam a escola e não têm muito o que fazer, ou melhor, têm que brigar muito para fazer alguma coisa e têm aquela sensação de que tudo já foi feito. A Europa é velha...

        Aqui, tudo ainda está por fazer.

        Bem-vindas!

        E, por favor, escrevam logo a vossa cartilha brasileira, para que eu, burro velho, possa aprender por vossos olhinhos tão lindos a ver um país que ainda não foi inventado.

Julho/96. Crônicas de repórter. 5. ed. Rio de Janeiro, Objetiva Reportagem, 1996. p. 15-9.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 152-5.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Tropical: dos trópicos, regiões quentes do mundo.

·        Lufadas: golpes de vento, rajadas.

·        Hemisfério: cada uma das metades do globo terrestre.

·        Regras: leis.

·        Adiamento: ato de deixar para depois.

·        Tolerância: aceitação.

·        Guilhotina: instrumento utilizado para decapitação.

·        Súditos: pessoas submetidas à vontade de outrem.

·        Cidadãos: pessoas que têm seus direitos civis e políticos garantidos.

·        Prosperidade: riqueza.

·        Jam: congestionamento de tráfego.

·        Pornográficas: imorais.

·        Vedadas: proibidas.

02 – As palavras usadas na carta do pai saudoso caracterizam os “dois mundos” por ele comparados – O Brasil e a Inglaterra. Faça um levantamento das palavras e expressões que indicam os hábitos, o clima e a sociedade de cada país.

     No Brasil – Hábitos: farra; carnaval; adiamento; tolerância; grades; guaritas; trânsito; danças quase pornográficas. Clima: biquíni; sol tropical; lufadas de vento direto do oceano Atlântico; quente, muito quente. Sociedade: trabalham muito; assaltos; sequestros; favela; viver num sufoco; modos diferentes; regras que não valem para todos; garotas incentivadas a se comportar como mulher.

      Na Inglaterra – Hábitos: televisão melhor; valorizam a nacionalidade; jovens não vão a casas noturnas antes dos dezoito anos. Clima: mais frio. Sociedade: regras que valem para todos; jovens tem que brigar muito para fazer alguma coisa; pois quase tudo já foi feito.

03 – Por que as filhas do narrador são “um tipo muito especial de brasileirinhas”?

      Porque elas nasceram aqui no Brasil, mas, bem pequenas, viajaram para a Inglaterra e lá viveram até julho de 1996.

04 – As meninas passavam as férias no Brasil. Como elas viam o nosso país?

      Elas o viam de modo muito positivo, como uma festa.

05 – Segundo o texto, qual é a diferença entre o Brasil e a Inglaterra?

      No Brasil as regras mudam rapidamente e não tem valor geral. Na Inglaterra não mudam e valem para todos.

06 – Como você entendeu este conselho: “Em primeiro lugar, tenham paciência. Principalmente porque vocês vem morar no Rio de Janeiro, onde parece que a primeira solução de qualquer problema é o adiamento”.

      Segundo o texto, no Rio de Janeiro os problemas são resolvidos “esquecendo a pressa”.

07 – De acordo com o texto, por que há tantos pobres num país tão rico?

      Porque nunca houve no Brasil uma revolução como a francesa e, por isso, os brasileiros continuam sendo súditos, não cidadãos.

08 – Dois problemas que os moradores das grandes cidades brasileiras enfrentam aparecem no texto. Quais são eles?

      Os problemas de trânsito e a violência.

09 – O texto apresenta críticas à televisão brasileira. Quais são elas?

      A televisão incentiva as meninas a comportarem-se como mulheres e “tem uma quantidade estúpida de anúncios”.

10 – Qual é a lição que as meninas aprenderam dos ingleses?

      Que devemos tratar a pátria com amor e dedicação.

11 – Como você entendeu o último parágrafo do texto?

      Resposta pessoal do aluno.