sexta-feira, 11 de setembro de 2020

TEXTO: VIAGEM AO TERRITÓRIO ESPINHOSO DOS EXCLUÍDOS - MARILENE FELINTO - FOLHATEEN - COM GABARITO

 Texto: Viagem ao território espinhoso dos excluídos

            Marilene Felinto

        Não tem “errada” não. No sertão não tem frescura, não tem estágios, mal tem infância, quanto mais adolescência. Aos 14 anos, a pessoa olha para um lado, olha para outro, não há perspectiva, tudo é visto na dimensão única da superfície da caatinga plana. Tudo é seco, tudo é espinho, tudo é nada.

        Fazer o quê? No sertão não tem teste vocacional, não tem profissão, porque mal tem escola. O cara se faz homem no lombo do jegue, sem sela. A vida é na roça plantando milho, limpando arroz. É na criação tangendo gado, bode e cabra.

        Lá não tem meio-termo. Só tem sim e não, inverno e verão. O sertão fica lá para detrás daquele morros, nos buracos do Brasil. No sertão, o céu não é perto como parece daqui. O sertão está mais par as bandas do inferno, sim, senhor.

        O sertão é para conhecer, ir ver. Saber como vive a juventude do interior, de lá de dentro de um Brasil que nem aparece em jornal, nem nunca viu um. São Elcioneide, Juciela, Laiane, Marconi, Mardoni, Cleneildes, Carleusa, Clésio, Maria da Cruz, Antonia Ricarda, Francisco Salustiano e outra gente de outros nomes diferentes.

        A Folha foi, percorreu de carro 1.200 km pelo interior do Piauí e do Ceará. A viagem é uma aventura típica de rali – as rodovias do Piauí, as BRs brasileiras são de envergonhar.

        O suposto asfalto delas é pior do que a pedra e a terra das estradas e trilhas que cortam a caatinga.

        Por ali, nas fronteiras da Serra dos Cariris Velhos, vivem jovens, entre 12 e 22 anos, na pobreza bárbara da falta d’água, na escuridão do analfabetismo, do semi-analfabetismo e da falta de luz elétrica.

        Vivem da chama do fogo a lenha, alimentando sonhos curtos de conseguir um emprego de secretária, telefonista, mascate.

        Os meninos saem, migram, deixam para trás as casas de taipa cobertas de palha, ainda vão “tentar a vida em São Paulo”. Para eles, o sertão é sem chance.

        Os que ficam, como Agildo, 18, formado no 2° grau, ou José Ivanildo, 19, que só estudou até a 3ª série, ficam de noite vendo a vida passar na praça de Pimenteiras (PI).

        Agildo e Ivanildo nem mesmo se alistaram no exército. “Para quê? Aqui não tem emprego, a gente não precisa de documento”.

        Para quê? Para vestir qual farda, em defesa de qual Pátria? Os sonhos são curtos, e as distâncias ainda são medidas em léguas. Cleidir, 13, pedala 40 minutos sob o sol do meio-dia par ir à escola em São Félix do Piauí.

        Para quê? Juciela, 17, da cidade de Monsenhor Hipólito (PI), analfabeta, é mãe solteira de Laiane, 1 ano.

        Sustenta a filha ganhando R$ 40,00 por mês na casa de farinha, “raspando mandioca, lavando a massa e a goma”.

        Computador? Universidade? Não. Cacimba. Açude. O sertão quase que não existe.

          Os modernos – A moto desbanca o jegue

        A modernidade chegou ao sertão pelas duas rodas da moto, meio de transporte tão robusto e resistente quanto o ancestral jegue nas trilhas de terra e pedra da caatinga.

        A moto é uma verdadeira febre entre os jovens sertanejos de alguma posse. É o caso de Nalva, 15, filha adotiva de um fazendeiro de São Julião (PI), de quem ganhou sua Honda.

        Nalva aprendeu a dirigir moto com o vaqueiro da fazenda. Ela e suas amigas Cleneildes, 17, e Maria Joselita, 18, são o que há de mais avançado por aquelas paragens.

        Estão menos atrasadas na escola do que todos os outros jovens com quem a reportagem conversou. Nalva está na 6ª, Cleneildes, na 7ª, e Joselita, na 8ª série.

        De vez em quando, elas leem jornal – o “Diário do Povo”, da cidade de Picos – e revistas como “Veja” e “Contigo”.

        Nunca entraram em um cinema, que Nalva apenas imagina o que seja: “Um salão grande, com um televisor enorme lá na frente e lugar do pessoal sentar, para ir assistir filme com o namorado, e gente vendendo coisas para comer”.

        Namoram e são virgens. Têm mais medo do que vontade de transar, “porque dizem que dói”.

        Depois do 2° grau, querem ser bancárias ou secretárias. O passatempo predileto é jogar futebol. Nos fins de semana, vão a bares com música “brega” ao vivo, onde canta Bartô Galeno e tocam bandas de forró como Choque e Capital do Sol. (MF).

          Professora tem 14 anos

        Reprodução de exercícios passados pela professora.

                              Respostas de Maria Luzinete, 10 anos.

        “Dê que o Piauí foi colonizado?

        Através da fazenda de gado.

        Qual era os acontecimentos principal dos moradores?

        Religioso como missa, novenas, casamento.

        Qual foi a primeira capela do Piauí?

        A primeira capela do Piauí foi de Nossa Senhora da Vitória.

        E onde foi construída?

        Nas terra da fazendas Cabrobó.

        Qual foi o primeiro governador da capitania?

        João Pereira Calda”.

        Maria da Cruz, 14, é a única professora do povoado de Tucuns, distrito de São Félix do Piauí. Ela ensina aos alunos o pouco que sabe. A lição que escrevia na lousa tinha erros de todo tipo (leia acima). Ela precisa do emprego para ajudar a família. Seu pai vem todo ano para o interior de São Paulo, cortar cana como boia-fria.

        Folha – Você é formada?

        Maria da Cruz – Só estudei até a 4ª série. Queria até continuar com o meu estudo, mas como os pais desses meninos (os alunos) estavam muito aperreados, não queriam que perdessem o ano, em vim.

        Folha – Você pensa em continuar os estudos?

        Maria da Cruz – Ah, eu penso em me formar em alguma coisa. Tenho essa fé que eu consigo.

        Folha – Qual o seu salário?

        Maria da Cruz – Eu não tenho salário, por causa que eu sou de menor e o meu grau de estudo é muito pouco. Eu ganho R$ 35.

        Folha – Por mês?

        Maria da Cruz – É, por mês.

        Folha – Você gosta de das aula?

        Maria da Cruz – Gosto. Não é muito ruim, não.

        Folha – Você namora, sabe o que é fazer sexo?

        Maria da Cruz – Eu, não. Não sei, não. Não entendo sexo.

        Folha – Nem suas amigas sabem??

        Maria da Cruz – Possa que entendam, mas só que elas nunca me explicaram. Essas coisas eu não imagino com que fosse nada. (MF).

                                      Folha de S. Paulo, 15 set. 1997. Folhateen.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 119/23.

Entendendo o texto:

01 – Identifique o significado das expressões em destaque.

a)   “Não tem errada não”.

Problema, dúvida.

b)   “Para eles, o sertão é sem chance”.

Algo em que nem se quer pensar, fora de cogitação.

02 – As expressões destacadas no exercício anterior são gírias muito comuns entre adolescentes da classe média. A reportagem de Marilene Felinto foi apresentada em um caderno da Folha de S. Paulo dedicado a leitores adolescentes. Qual o efeito produzido sobre o leitor pelo uso dessas expressões?

      As expressões aproximam aluno e texto.

03 – Nos dois primeiros parágrafos, são comparadas a vida de um adolescente da classe média e a vida de um adolescente que vive no sertão. Considerando o público a que se destina o jornal em que o texto foi publicado, responda:

a)   Que efeito essa comparação poderia surtir sobre o leitor?

A comparação permite que o leitor do jornal reconhecer a existência de adolescentes que não vivem experiências semelhantes às suas.

b)   Que efeito essa comparação surte sobre você?

Resposta pessoal do aluno.

04 – “No sertão, o céu não é perto como parece daqui. O sertão está mais para as bandas do inferno, sim senhor”.

a)   Considerando o jornal em que foi publicado o texto, identifique a que lugar se refere o pronome daqui.

Refere-se à cidade de São Paulo.

b)   As palavras céu e inferno são usadas no texto em sentido conotativo. A que espécie de céu a autora se refere?

O céu seria realização profissional e pessoal, “sucesso na vida”.

c)   De acordo com o texto, por que no sertão “o céu não é perto como parece daqui”?

Porque o sertão não há perspectiva, não há possibilidade de o adolescente crescer e conquistar uma vida melhor.

d)   Por que o sertão estaria mais para as bandas do inferno?

Porque é quente, árido e é uma região em que há muito sofrimento, como o texto comprova.

05 – “O sertão é para conhecer, ir ver. Saber como vive a juventude do interior, de lá de dentro de um Brasil que nem aparece em jornal nem nunca viu um”.

a)   Após afirmar que “o sertão é para conhecer”, a autora afirma que o sertão não aparece no jornal. O que se pode concluir dessa sequência de afirmações?

Pode-se concluir que a vida no sertão não é divulgada, é escondida, e que somente indo até lá o leitor terá chance de realmente compreender como ela é.

b)   Em sua opinião, por que o sertão não aparece no jornal?

Resposta pessoal do aluno.

c)   No seu ponto de vista, em que aspectos a vida de um adolescente de uma grande metrópole poderia mudar se ele fosse conhecer o sertão?

Resposta pessoal do aluno.

06 – No quarto parágrafo, são mencionados diversos nomes.

a)   Por que a autora afirma que são nomes diferentes?

Porque são diferentes para o leitor do jornal, que vive em São Paulo, cidade em que esses nomes não são comuns.

b)   Nesse parágrafo, a autora convida o leitor adolescente a conhecer o sertão. Relacione esse convite à apresentação dos nomes.

Essa sequência desperta a atenção do leitor para pessoas que são diferentes dele até no nome, mas que são cidadãos do mesmo país.

07 – “... Na pobreza bárbara da falta d’água, na escuridão do analfabetismo e da falta de luz elétrica”.

a)   Qual o significado de bárbara no texto?

Não civilizado, atrasado.

b)   Por que o analfabetismo é comparado à escuridão?

Porque sem saber ler, uma pessoa dica excluída de todo um universo, fica “cega” para uma parte do que já foi conquistado pelo ser humano.

c)   A autora fala em barbárie, escuridão, para logo depois iniciar o parágrafo que segue afirmando que os jovens do sertão vivem da chama do fogo. O que podemos concluir a partir dessa sequência de afirmações?

Podemos concluir que, para a autora do texto, o sertão está em uma outra era, privado dos recursos sociais e tecnológicos disponíveis para os jovens paulistas de classe média, leitores do artigo.

08 – “... alimentando sonhos curtos de conseguir um emprego de secretária, telefonista, mascate”.

a)   Nos dois primeiros parágrafos do texto, a autora fala das aspirações profissionais dos leitores, adolescentes de classe média ou alta. Que aspirações seriam essas?

Eles sonham com a graduação, o diploma de terceiro grau.

b)   Considerando essa informação, por que os sonhos dos jovens do sertão são classificados de curtos?

Porque são sonhos com profissões que não exigem graduação e que têm remuneração inferior a profissões que requerem a graduação.

09 – “Para vestir qual farda, em defesa de qual pátria?” O sertanejo não tem pátria? Por quê?

      O sertanejo tem pátria, mas a pátria esqueceu ou ignorou o sertanejo.

10 – “Os sonhos são curtos, e as distâncias ainda são medidas em léguas”. A autora contrapõe extensão dos sonhos e das distâncias. Qual o efeito dessa comparação?

      Enfatizar a dificuldade da vida no sertão.

11 – Maria da Cruz é professora, embora não tenha completado a graduação.

a)   Por que ela se tornou professora?

Porque não havia ninguém para ocupar essa função.

b)   Para você, quais podem ser as consequências de não haver professores qualificados para atender a comunidade do distrito de São Felix do Piauí?

Resposta pessoal do aluno.

12 – Em sua opinião, quais podem ser as consequência de uma menina de 14 anos não ter qualquer informação sobre sexo como Maria da Cruz?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: chamar a atenção para o fato de que essa ignorância expõe a jovem à violência, a doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez indesejada.

13 – Leia novamente o título: “Viagem ao território espinhoso dos excluídos”. Considerando as reflexões feitas sobre o texto, responda:

a)   Espinhoso está sendo usado em sentido denotativo ou conotativo? Por quê?

Conotativo, pois, embora o sertão seja um local de clima realmente árido, é espinhoso pelo fato de as pessoas que vivem ali experimentarem muitas dificuldades.

b)   Quem seria os excluídos?

As pessoas que vivem no sertão.

c)   Estariam excluídos de quê?

De todo o progresso aproveitado por algumas classes sociais.

14 – Que conclusões você elaborou a partir da reflexão sobre o texto?

      Resposta pessoal do aluno.

15 – Após responder às questões, você deve ter percebido que a escolha de cada palavra tem um significado especial em um texto. Em que essa observação pode contribuir para suas próximas redações?

      Resposta pessoal do aluno.

16 – Considerando ainda a reflexão feita sobre o sexo, responda: de que forma a preocupação com o destinatário, a pessoa a quem se dirige o texto, influencia a construção do texto?

      A preocupação com o destinatário determina o vocábulo, a estrutura e até a linha de argumentação.

 

BIOGRAFIA: PABLO PICASSO - COM QUESTÕES GABARITADAS

 BIOGRAFIA: Pablo Picasso (1881 – 1973)

           MaryAnn F. Kohl e Kim Solga

        Pablo Picasso é um dos artistas mais famosos de todos os tempos. Ele foi um gênio artístico e é lembrado particularmente por seu estilo de arte chamado de Cubismo.

        Picasso cresceu na Espanha e, mais tarde, estudou e viveu em Paris. Quando criança, demonstrava um talento artístico incrível e era considerado uma criança prodígio. Na verdade, seu pai, que também era artista, deu a ele todo seu material de arte, já que Picasso, então com 13 anos, demonstrava ter um talento tão impressionante. Quando tinha 19 anos, já era um artista profissional, com completa formação. Picasso mudou-se para Paris e viveu uma vida muito simples e pobre, enquanto pintava mais de duzentas obras. Esses quadros mostram sua tristeza em relação à vida pobre dos que habitavam em torno dele. Este período foi chamado de Fase Azul.

        Nessa época, ele começou a fazer um tipo mais feliz de pintura, mostrando palhaços e artistas de circo. Esse período foi chamado de Fase Rosa.

        A seguir, começou a pintar quadros que se pareciam mais com um quebra-cabeça com as peças fora de ordem. Às vezes, Picasso colava coisas em seus quadros, como recortes de jornal, um rótulo de garrafa, botões, tecido ou barbante – uma técnica chamada de colagem [...].

        O artista pintou até o dia em que morreu, aos 92 anos.

        Picasso e os outros cubistas tentaram criar uma nova forma de ver as coisas na arte. Eles olhavam para alguma coisa e tentavam desmembrá-la, em sua forma de pintar. Por exemplo, Picasso tentava mostrar os modelos que pintava de todos os lados ao mesmo tempo, e não apenas de um único ponto de vista. Ele podia mostrar uma mulher com os olhos voltados para a direita, mas seu nariz voltado para a esquerda.

        Suas formas básicas do corpo eram mudadas para formar cúbicas ou quadradas, em várias direções ao mesmo tempo. Ele poderia parecer-se com algo como um quebra-cabeça ou um espelho quebrado. Muitos outros artistas aprenderam com o que Picasso pintou e o incorporaram em suas próprias esculturas e pinturas. O Cubismo mudou o conceito de arte e abriu o caminho para o Surrealismo e a arte moderna.

      Descobrindo grandes artistas – A prática da arte para crianças. Porto Alegre, Artmed, 2001.

Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 125-6.

Entendendo o texto:

01 – No texto, as autoras reforçam a afirmação de que Pablo Picasso é um dos artistas mais famosos de todos os tempos dizendo que ele foi um “gênio artístico”. Na sua opinião, o que significa ele ser considerado um gênio artístico?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Significa dizer que ele tinha um grande talento para as artes.

02 – Quais características são próprias de uma criança prodígio?

      Grande capacidade intelectual e / ou criativa.

03 – Qual afirmação do texto reforça a ideia de que Picasso era uma criança prodígio?

      A afirmação de que o pai, que era um artista, deu todo o seu material de arte ao filho Pablo, quando este tinha 13 anos.

04 – Biografia é um relato sobre as várias etapas da vida de uma pessoa. Portanto, o texto lido pode ser considerado um texto biográfico. Vamos pensar um pouco sobre ele:

a)   Qual aspecto da vida de Picasso foi destacado no texto? Quais fatos foram deixados de lado?

O aspecto artístico. Os fatos da vida pessoal. Pouca coisa é dita a respeito da vida pessoal do artista.

b)   Identifique o livro de onde foi tirado esse texto biográfico. Por que, na sua opinião, as autoras selecionaram justamente esses fatos da vida do pintor?

A escolha das autoras tem relação com o objetivo do livro, que é revelar o trabalho de grandes artistas para jovens leitores.

05 – Considere o destaque dado pelas autoras à obra artística de Picasso e responda:

a)   A quais etapas da vida artística de Picasso o texto se refere?

O texto refere-se as Fases Azul e Rosa, ao Cubismo e à colagem.

b)   Caracterize brevemente cada uma dessas etapas. Para isso, leia o primeiro parágrafo do texto.

Resposta pessoal do aluno.

06 – Logo no início do texto, o leitor é informado de que Picasso é lembrado por ser representante do Cubismo. Leia o segundo parágrafo, e formule uma explicação para o Cubismo.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

       

TEXTO: COM SETE NOTAS APENAS... HILDEGARD FEIST - COM GABARITO

Texto: Com sete notas apenas...

           Hildegard Feist

        Você já reparou que criança adora fazer barulho? Mas às vezes não é só barulho que criança faz. Preste atenção num bebezinho, por exemplo, que nem sabe falar. Pois ele já fica lá no berço repetindo dá-dá-dá ou mã-mã-mã, e de repente você percebe que aquela cantilena até que tem uma certa melodia. O nenê está cantando! E, quando começa a bater palminhas ou a sacudir aqueles chocalhos, mostra que também tem ritmo.

        Com ritmo e melodia ele está fazendo música – bem primitiva, é verdade, mas não deixa de ser música.

        Essa é uma das razões pelas quais muita gente acredita que a música é a arte mais antiga do mundo. Se o bebê faz música naturalmente, por que nosso antepassado da caverna, que sob certos aspectos era um nenezão crescido, não haveria de fazer?

        Os arqueólogos, aqueles profissionais que escavam a terra procurando restos de um passado distante, encontraram uns pedaços de ossos meio esquisitos que bem podem ter sido os primeiros instrumentos musicais da humanidade.

        Mas isso é só uma hipótese. O que sabemos com certeza é que há mais de três mil anos já se fazia música no Egito dos faraós. E sabemos disso porque várias pinturas do Egito antigo mostram pessoas tocando tambor, flauta, harpa e outros instrumentos.

        A música também esteve presente na Grécia antiga, muitos séculos antes de Cristo. Os gregos daquela época remota adoravam fazer vasos pintados, dos quais uma grande quantidade chegou intacta até nossa época e hoje se encontra em vários museus do mundo. Pois muitos desses vasos mostram figuras de homens e mulheres tocando lira, flauta, pandeiro...

        [...]

          O problema da notação

        No teatro grego a música também estava sempre presente, cantada e tocada. Mas o sistema de notação musical – em outras palavras, o modo de registrar a melodia – era muito complicado: os gregos usavam letras de seu alfabeto para representar o tom e a duração dos sons, bem como as pausas da melodia.

        Ao longo dos séculos os músicos tentaram criar um sistema de notação mais simples e funcional, porém em geral só contribuíram para complicar ainda mais a situação.

        Até que no século XI o monge Guido d’Arezzo (c.997 – c. 1050) conseguiu acabar com a confusão. Organizou os sistemas de notação musical existentes e deu nome para as notas: ut, ré, mi, fá, sol, lá si. Depois esse “ut” virou “dó”; as outras notas mantiveram os mesmos nomes.

        Também se pode chamar as notas por letras, começando pelo “lá”, que nesse esquema vira “A”. Nas músicas para violão, por exemplo, você encontra a marcação A, B, C, D, E, F, G, correspondente a lá, si, dó, ré, mi, fá, sol.

        Existem apenas sete notas musicais, como você percebeu, mas com elas se fez e se faz muita coisa.

        [...]

          Vozes e instrumentos

        A música pode ser vocal ou instrumental. Pelos nomes você já percebeu que o vocal é executada com a voz e a instrumental com instrumento. Nos dois casos podemos ouvir uma única pessoa, um pequeno conjunto ou um grupo grande.

        No caso de música vocal, quando só uma pessoa ou um pequeno conjunto se apresenta, quase sempre é com o acompanhamento de um ou mais instrumentistas. Quando um grupo grande de cantores – um coral – se apresenta, pode ou não haver acompanhamento instrumental. Já um instrumentista, tocando sozinho, num pequeno conjunto ou num grupo grande de músicos, não precisa necessariamente de elementos vocais.

          Os componentes da orquestra

        Um grupo grande de músicos – mais de cinquenta, digamos – forma a orquestra. Na frente da orquestra fica um pequeno estrado, chamado pódio, onde se posiciona o maestro ou regente, que é a pessoa encarregada de dirigir os músicos, ou seja, de determinar como eles devem tocar: mais depressa, mais devagar, mais forte, mais suave e assim por diante. Para sinalizar as diferentes maneiras de tocar, o maestro geralmente usa uma vareta fina, de uns cinquenta centímetros de comprimento, chamada batuta; mas também pode usar apenas as mãos.

        Tradicionalmente a orquestra se compõe de três tipos de instrumentos: de corda, sopro e percussão. Existem outros critérios para classifica-los, porém esse é o mais comum.

        Os instrumentos de corda são tocados com arco ou com os dedos. Vamos ver primeiro os que são tocados com arco. São quatro: violino, viola (que não tem nada a ver com a viola usada na música sertaneja), violoncelo e contrabaixo. Todos eles se parecem muito: olhando-os pela primeira vez você pode achar que cada um é o outro em tamanho reduzido.

        O violino é o menor deles e também o que tem os sons mais agudos. A viola é um pouco maior que o violino e tem um som ligeiramente mais grave. O violoncelo é muito maior que a viola e tem um som bem grave e aveludado. Por fim o contrabaixo parece um violoncelo maior e tem um som gravíssimo.

        [...]

        Os instrumentos de sopro são mais numerosos que os de corda, e você não precisa decorar o nome de todos eles. A flauta é, talvez, o mais antigo; tem um som agudo e muito bonito. Parece um pouco com o oboé, que também foi inventado há muito tempo. Igualmente bem antigo é o vibrante e agudo trompete. A clarineta, o fagote e o corne-inglês têm um som mais grave e aveludado que a flauta e o oboé. E ainda mais grave é o som da trompa, do trombone e da tuba. A parte principal desses instrumentos é o tubo, e, quanto maior o tubo, mais grave o som.

        Agora só falta falar dos instrumentos de percussão, que o músico toca percutindo – em geral com baquetas, ou varetas – para marcar ou acentuar o ritmo. O líder desse grupo é o tímpano, uma espécie de tambor; compõe-se de uma caixa metálica arredondada que tem na parte superior uma pele bem esticada, na qual o músico bate com umas baquetas chamadas bilros; geralmente há na orquestra entre dois e quatro tímpanos.

        O grupo inclui também o xilofone, formado por lâminas de madeira de comprimento variado; o triângulo, uma simples vareta de ferro dobrada em forma de triângulo, como o nome indica; e o bombo, ou bumbo, que não passa de um tambor bem grande. Existem ainda os pratos, dois círculos de metal com mais ou menos cinquenta centímetros de diâmetro, que são tocados com baquetas ou batendo-se um no outro.

Pequena viagem pelo mundo da arte, Hildegard Feist.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 201/6.

Entendendo o texto:

01 – Lendo o primeiro parágrafo, você concorda com o que a autora diz?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Você sabe o que é melodia? E ritmo? Pesquise e responda.

      Melodia: sucesso agradável de sons.

      Ritmo: modalidade de compasso que caracteriza uma espécie de composição.

03 – Todos os ritmos são interessantes e contagiantes? Argumente.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Por que se acredita que a música é a mais antiga das artes? Opine, concluindo.

      Parágrafo 1 a 3. Resposta pessoal do aluno.

05 – Quem são os arqueólogos? Qual é sua função?

      Parágrafo 4. Sugerir pesquisas mais profundas à classe.

06 – A música, segundo os historiadores, tem quanto tempo de existência? E como se prova isso?

      É a arte mais antiga. Há mais de 3 mil anos já se fazia música no Egito. E se o bebê faz música, naturalmente, o homem da caverna a fazia também.

07 – Quais os instrumentos mais antigos ou mais tocados nos tempos dos faraós?

      Tambor, flauta, harpa, alaúde, oboé, lira.

08 – Na Grécia antiga, a música já se fazia presente. Como o homem tem conhecimento disso?

      Através de vasos pintados, onde se veem figuras tocando instrumentos musicais.

09 – Você sabe como funciona o sistema de notação da música? Procure pesquisar junto a músicos, professores e conte para a classe.

      Resposta pessoal do aluno.

10 – No século XI, o monge Guido d’Arezzo conseguiu facilitar essa notação, acabando com a confusão da música escrita. É interessante verificar o que ele criou. Fale sobre isso.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Como funciona um conjunto vocal de pequeno porte? Responda de acordo com o que você vê e ouve no rádio e na tevê.

      Resposta pessoal do aluno.

12 – O que é uma orquestra? O que é o pódio? Quem é o maestro e quais seus instrumentos para reger a orquestra?

      “Um grupo grande de músicos – mais de cinquenta, digamos – forma a orquestra. Na frente da orquestra fica um pequeno estrado, chamado pódio, onde se posiciona o maestro ou regente, que é a pessoa encarregada de dirigir os músicos, ou seja, de determinar como eles devem tocar: mais depressa, mais devagar, mais forte, mais suave e assim por diante. Para sinalizar as diferentes maneiras de tocar, o maestro geralmente usa uma vareta fina, de uns cinquenta centímetros de comprimento, chamada batuta; mas também pode usar apenas as mãos.”

13 – Quais são os instrumentos de corda?

      “Os instrumentos de corda são tocados com arco ou com os dedos. Vamos ver primeiro os que são tocados com arco. São quatro: violino, viola (que não tem nada a ver com a viola usada na música sertaneja), violoncelo e contrabaixo. Todos eles se parecem muito: olhando-os pela primeira vez você pode achar que cada um é o outro em tamanho reduzido.

        O violino é o menor deles e também o que tem os sons mais agudos. A viola é um pouco maior que o violino e tem um som ligeiramente mais grave. O violoncelo é muito maior que a viola e tem um som bem grave e aveludado. Por fim o contrabaixo parece um violoncelo maior e tem um som gravíssimo.”

14 – Quais são os instrumentos de sopro? Qual o mais antigo deles? Qual a parte principal desses instrumentos (na orquestra). Por quê?

      “Os instrumentos de sopro são mais numerosos que os de corda, e você não precisa decorar o nome de todos eles. A flauta é, talvez, o mais antigo; tem um som agudo e muito bonito. Parece um pouco com o oboé, que também foi inventado há muito tempo. Igualmente bem antigo é o vibrante e agudo trompete. A clarineta, o fagote e o corne-inglês têm um som mais grave e aveludado que a flauta e o oboé. E ainda mais grave é o som da trompa, do trombone e da tuba. A parte principal desses instrumentos é o tubo, e, quanto maior o tubo, mais grave o som.”

15 – Você sabe a diferença entre som grave e som agudo? Procure no dicionário e responda.

      Grave: som produzido por ondas de pequena frequência.

      Agudo: som produzido por ondas de grande frequência.

16 – Quais são os instrumentos de percussão? Qual é o mais importante deles?

      Tímpano (espécie de tambor), xilofone, triângulo, bumbo e pratos. O mais importante é o tímpano.

17 – De todos esses instrumentos, sabendo os nomes e a imagem visual, qual deles você já conhecia? Onde você os viu sendo tocados?

      Resposta pessoal do aluno.

 


MÚSICA(ATIVIDADES): RELAMPIANO - LENINE E PAULINHO MOSKA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Relampiano


                                            (Lenine e Paulinho Moska)

Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal prá alguém
Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
E tá vendendo drops
No sinal

Todo dia é dia
Toda hora é hora
Neném não demora
Pra se levantar

Mãe lavando roupa
Pai já foi embora
E o caçula chora
Pra se acostumar
Com a vida lá de fora
Do barraco

Hai que endurecer
Um coração tão fraco
Pra vencer o medo
Do trovão
Sua vida aponta
A contramão

Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
E tá vendendo drops
No sinal

Tudo é tão normal
Todo tal e qual
Neném não tem hora
Pra ir se deitar

Mãe passando roupa
Do pai de agora
De um outro caçula
Que ainda vai chegar

É mais uma boca
Dentro do barraco
Mais um quilo de farinha
Do mesmo saco
Para alimentar
Um novo João Ninguém
A cidade cresce junto
Com neném

Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal prá alguém

Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
E tá vendendo drops
No sinal

 

ENTENDENDO A CANÇÃO

 

1)   De que trata a canção?

Fala sobre a trágica realidade das crianças que, em vez de terem uma infância saudável, vagam pelas ruas em busca de sobrevivência.

 

2)   Nestes versos abaixo, o que o eu lírico fala sobre esta criança?

“Com a vida lá de fora do barraco,

          Hai que endurecer um coração tão fraco,

          Para vencer o medo do trovão,

     Sua vida aponta a contramão”.

 

 Que a situação vivida por esta criança sensível e emotiva, mas que por conta de assumir responsabilidades deve se endurecer o coração, dando espaço pra razão, para vencer as adversidades e perigos dessa vida.

 

3)NÃO é correto afirmar que o texto
    a) apresenta estrangeirismos.
    b) utiliza, denotativamente, a palavra "contramão".
    c) tem, no título, um exemplo do registro coloquial da língua.
    d) faz uma denúncia social sobre a situação dos meninos de rua.

4) Sobre o gênero literário desse texto, é correto afirmar que há
    a) traços do épico, como personagens e narrador.
    b) elementos do lírico, como rimas e figuras de linguagem.
    c) mistura entre o épico e o lírico, com a valorização de ambos.
    d) características do drama, com apontamentos para a  representação.

 

      5) Que crítica a sociedade é abordada nessa canção?

                Que a sociedade já está acostumada todos os dias passarem por neném, sem sequer se dar conta de que o neném na verdade é uma criança, que foi esquecida pelas políticas públicas e que foi e é anulada socialmente sem saber o porquê de tanta maldade. Assim o neném é explorado de todas as formas possíveis, pela sociedade, por seus pais e pelo sistema.    

 

        6) Que sentido o eu lírico dá ao fato de chamar várias vezes a criança de “neném”?

           É chamado de “neném”, pois é uma representação da criança de periferia, que por muitas vezes não tem essa opção de ter medo dentro dele, faça chuva ou faça sol, ela precisa ir trabalhar do jeito que der para arrecadar dinheiro para os pais, que por muitas vezes estão em situação de extrema pobreza.

 

     7) No refrão da canção, Lenine leva em consideração a palavra drops, uma palavra da língua inglesa. Que significado tem no contexto dessa canção?

       Tem o significado de gota, porém, este drops que Lenine coloca são as balas vendidas em semáforos, onde há perigo com a circulação de trânsito.

 

    8) Na 4ª estrofe Lenine faz uma referência ao mítico Che Guevara, que diz a frase “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, que analogia faz com a canção?

        O endurecer desta estrofe serve para a criança se acostumar com o que chamamos de “mundão”, sendo isso o mundo fora de sua casa, de seu lar.