Poema: FAVELÁRIO
NACIONAL
Carlos Drummond de Andrade
Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...
Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987)
Entendendo o poema:
01 – Nos versos: “Mas,
favela, ciao, / que este nosso papo / está ficando tão desagradável. / vês que
perdi o tom e a empáfia do começo?” Verifica-se a presença predominante das
funções de linguagem:
a)
Apelativa e referencial.
b)
Poética e referencial.
c)
Metalinguística e apelativa.
d)
Fática e emotiva.
02 – Neste poema o que o
autor aborda?
Ele faz uma breve
análise da situação das favelas brasileiras na década de 1960.
03 – Leia este trecho do
poema e responda:
“Tenho
medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.”
Assinale a alternativa que melhor
sintetiza as ideias expressas no trecho do poema:
a)
A favela é um lugar perigoso, habitado por
pessoas sem moral.
b)
O medo é um sentimento associado à favela
como locus da violência, constante ameaça à ordem urbana.
c)
A cidade é um espaço segregado, que
dificulta o conhecimento e o contato com o diferente e reforça preconceito
sociais.
d)
Os habitantes da cidade são culpados pela
pobreza e pela violência urbana.
e)
A violência está presente no imaginário
social sobre as favelas e atenua as barreiras da segregação especial.
04 – Em uma das opções
abaixo, percebe-se que o verbo foi utilizado de forma coloquial, não seguindo a
rigidez imposta pelas regras gramaticais. Assinale a opção em que há essa
ocorrência:
a)
“E nos desconheces, como igualmente não te
conhecemos?”
b)
“Custa ser irmão / custa abandonar
nossos privilégios”.
c)
“Vês que perdi o tom e a empáfia do começo?”
d)
“Aqui só vive gente, bicho nenhum / tem essa
coragem”.
05 – Nos versos abaixo,
percebe-se que foram utilizadas figuras de linguagem, enfatizando o sentimento
do eu lírico. Porém, há uma opção em que não se verifica esse fato. Assinale-a.
a)
“Baixou em mim na viração / direto, rápido,
telegrama nasal”.
b)
“Medo: não de tua lâmina nem de teu
revólver”.
c)
“Aqui só vive gente, bicho nenhum”.
d)
“Favela, erisipela, mal-do-monte”.
06 – Assinale a alternativa
em que a função sintática exercida pela oração em destaque está corretamente
indicada.
a)
“Medo de que sintas como sou culpado” –
Adjunto adverbial.
b)
“Custa ser seu irmão” – Objeto direto.
c)
“... telegrama nasal anunciando
morte...” – Adjunto adnominal.
d)
“Medo só de te sentir, encravada” – Objeto
direto.
07 – Assinale a alternativa
que apresenta uma análise INACEITÁVEL sintática ou semanticamente.
a)
O vocábulo melhor introduz uma espécie de retificação do que foi
anteriormente abordado.
b)
Os dois pontos no versos 7 (sete)
foram utilizados para introduzir a enumeração das características do mau
cheiro.
c)
Em “e culpados somos de pouca ou nenhuma
irmandade”, o termo em destaque complementa o nome que exerce função
sintática de predicativo do sujeito.
d)
O pronome demonstrativo este foi utilizado para marcar uma posição no tempo presente
em que se estabelece o diálogo.