terça-feira, 5 de junho de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: AO PERDEDOR, AS LATINHAS - ROGÉRIO MENEZES - COM GABARITO


Artigo de opinião: Ao perdedor, as latinhas


      Nem a mais visionária das mães-dinás poderia imaginar: o ofício de catador de latinhas tornou-se uma profissão como outra qualquer. Com os ecos da crise econômica se abatendo sobre todos nós, o zé-povinho precisa usar a criatividade para continuar vivo – ou, pelo menos, emitindo alguns, ainda que mínimos, sinais vitais. Resultado: à Lavoisier, o lixo metálico produzido pelas classes A, B, C e D ajuda a comprar brioches para alimentar a classe Z, aquele lumpesinato que cada vez aumenta mais de consistência e volume nas grandes e pequenas cidades do país.
        Carnaval é festa esperada com ansiedade por essa nova categoria de profissionais que os IBGEs da vida ainda não catalogaram. Nada mais justo: nesse período, de alto consumo de produtos armazenados em invólucros de alumínio, tiram o pé da lama. E o que se viu por aí, pelas ruas do país, foi um aguerrido exército, sempre à espreita para catar aquela latinha que, displicentemente, alguém acabou de jogar no chão.
        Não existe limitação de idade para o exercício da profissão de catador de latinhas. Também não exige formação específica, nem o ensino fundamental completo, nem rudimento de alfabetização. O básico para se tornar exímio profissional do setor é aquela condição humana que nos leva a fazer seja lá que diabo for para não virar comida de abutres.
        Salvador, no Carnaval, uma das maiores usinas de geração de latinhas de cerveja e refrigerantes do planeta, é a Meca, o lugar ideal, a cidade dos sonhos de todos esses valentes profissionais que vivem das sobras do lixo ocidental: a Las Vegas deles.
        Os catadores de latinhas podem ser família completa: pai, mãe e muitos filhos, todos imersos na faina diária de coletar o maior número possível de peças de alumínio para revenda. Ao final de suada semana de trabalho, podem faturar talvez R$5, talvez R$10, o que pode parecer pouco para gente como a gente, que está na base da pirâmide invertida, também conhecida como elite. Para eles, não. Serve ao menos para adiar a morte por fome, bala ou vício.
        No Carnaval de Salvador, o espaço nobre para os catadores de latinhas é aquele, virtual, criado entre a passagem de um bloco de trio e outro. Em ritmo de emboscada, espremidos entre as paredes dos prédios e a multidão que saracoteia ao redor, mergulham sem medo no lixo alumínio recém-jogado e enchem muitos sacos com as cobiçadas peças.
        Ser catador de latinhas pode parecer fácil, mas não é. O.k., não precisa de exame vestibular. Muito menos daquela série de documentos que se costuma exigir quando somos admitidos em algum emprego. Mas o exercício dessa profissão requer rapidez, agilidade, disposição física, fôlego e certo estoicismo. Afinal de contas, não deve ser muito reconfortante para o ego viver das sobras do lixo produzido por outros homens, aparentemente tão filhos de Deus quanto.
        De qualquer forma, não será de todo absurdo se, da próxima vez que perguntarmos a alguma criança da periferia das metrópoles o que gostaria de ser quando crescer, ouvirmos: “Quero ser catador de latinhas, tiô!”

Rogério Menezes, Revista Época de 19 de março de 2001.


Entendendo o texto:

01 – Assinale a ÚNICA alternativa que NÃO corresponde às ideias apresentadas pelo autor.
A) As pessoas são levadas a catar latinhas para não morrer de fome.
B) A luta pela sobrevivência nas cidades fez surgir uma nova profissão: catador de latinhas.
C) Catar latinhas é uma profissão rendosa, pois permite aos seus profissionais comprar brioches.
D) É humilhante precisar catar latinhas para sobreviver.

02 – Neste texto, o autor faz crítica a:
A) as pessoas que jogam latinhas de cervejas ou refrigerantes no chão, sujando as cidades.
B) a desigualdade social, fazendo com que algumas pessoas tenham que viver do lixo produzido por outras.
C) o alto consumo de bebidas durante o Carnaval, gerando um aumento excessivo de lixo metálico.
D) o fato de o zé-povinho catar latas na rua, atrapalhando a imagem do país no exterior.

03 – Assinale a ÚNICA alternativa em que a palavra ou expressão em destaque NÃO está adequadamente interpretada de acordo com seu sentido no texto.
A) “...pai, mãe e muitos filhos, todos imersos na faina diária de coletar o maior número possível de peças de alumínio...” (linhas 19-20) = trabalho
B) “Nem a mais visionária das mães-dinás poderia imaginar: o ofício de catador de latinhas tornou-se uma profissão...” (linhas 1-2) = videntes
C) “Resultado: à Lavoisier, o lixo metálico produzido pelas classes A, B, C e D ajuda a comprar brioches para alimentar a classe Z ...” (Linhas 4-5) = nada se perde, mas se transforma.
D) “...não será de todo absurdo se, da próxima vez que perguntarmos a alguma criança da periferia das metrópoles...” (linhas 33-34) = vizinhança.

04 – Assinale a ÚNICA alternativa em que as palavras ou expressões NÃO denunciam as condições sub-humanas dos catadores de latinhas:
A) profissionais que vivem das sobras do lixo ocidental.
B) categoria de profissionais que os IBGEs da vida ainda não catalogaram.
C) classe Z.
D) aguerrido exército.

05 – Comparando os textos de Rogério Menezes e de Machado de Assis, pode-se dizer que:
A) a paz significa a destruição das duas tribos; da mesma forma a luta de classes deve significar a destruição das classes sociais.
B) como perdedores, os catadores de latinhas devem ser suprimidos para que as pessoas de outras classes sociais sobrevivam.
C) os catadores de latinhas e a tribo derrotada na guerra merecem nosso ódio e compaixão.
D) a classe Z não será exterminada se conseguir sobreviver com o lixo produzido pelas outras classes.

06 – As expressões “Ao vencedor, as batatas” e “Ao perdedor, as latinhas” permitem-nos concluir que:
A) as batatas e as latinhas vazias são troféus de guerra.
B) vencedores e perdedores nunca ganham realmente.
C) as latinhas estão para as batatas assim como as tribos em guerra estão para as classes sociais na batalha do dia-a-dia.
D) as batatas e as latinhas garantem aos vencedores e perdedores a sobrevivência.

07 – Comparando os textos de Rogério Menezes e de Machado de Assis, pode-se dizer que:
A) a paz significa a destruição das duas tribos; da mesma forma a luta de classes deve significar a destruição das classes sociais.
B) como perdedores, os catadores de latinhas devem ser suprimidos para que as pessoas de outras classes sociais sobrevivam.
C) os catadores de latinhas e a tribo derrotada na guerra merecem nosso ódio e compaixão.
D) a classe Z não será exterminada se conseguir sobreviver com o lixo produzido pelas outras classes.

08 – As expressões “Ao vencedor, as batatas” e “Ao perdedor, as latinhas” permitem-nos concluir que:
A) as batatas e as latinhas vazias são troféus de guerra.
B) vencedores e perdedores nunca ganham realmente.
C) as latinhas estão para as batatas assim como as tribos em guerra estão para as classes sociais na batalha do dia-a-dia.
D) as batatas e as latinhas garantem aos vencedores e perdedores a sobrevivência.



CONTO: COMO FUNCIONA O TERMÔMETRO - MARA FIGUEIRA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Conto: Como funciona o termômetro?

        Um dia, você acorda se sentindo meio quente, com o corpo mole, sem vontade de fazer nada. Põe a mão na testa e se pergunta: será que estou com febre? Para saber a resposta, só tem um jeito: usar o termômetro. Mas, como será que ele funciona?
        Ao colocarmos o termômetro embaixo do braço, ocorre uma troca de calor entre o nosso corpo e esse instrumento. A nossa temperatura não muda, mas o termômetro, ao contrário, vai esquentando e acaba ficando com a mesma temperatura da gente. Em geral, quando algum material esquenta, ele se expande, ou seja, ocupa mais espaço. Esse é o caso do mercúrio, que vai subindo pelo tubo quando a temperatura aumenta. [...]

FIGUEIRA, Mara. CHC, Rio de Janeiro, n. 165, jan./fev. 2006.
Entendendo o conto:

01 – Qual é a finalidade do texto?
      Como sugere o próprio título, o texto objetiva explicar como funciona o termômetro utilizado para aferir a temperatura de nosso corpo.

02 – Identifique os referentes dos termos sublinhados a seguir:
a)   “[...] uma troca de calor entre o nosso corpo e esse instrumento.”:
 “O termômetro”.

b)   “[...] esquenta, ele se expande, ou seja, ocupa mais espaço.”:
 “Algum material”. 

03 – “Um dia, você acorda se sentindo meio quente [...]”. Assinale a alternativa em que a concordância nominal foi feita de forma incorreta, segundo a norma culta:
a) Naquele dia, a temperatura de seu corpo estava meio alta.
b) Não sentia ânimo para nada, pois o seu corpo estava meio mole.
c) Estava com febre. Por isso, ela se sentia meia indisposta.
d) Não consegui aferir a temperatura de meu filho, visto que o termômetro está meio desregulado.  

04 – “Em geral, quando algum material esquenta, ele se expande, ou seja, ocupa mais espaço.”. Aponte outros termos que poderiam substituir o verbo destacado no contexto acima:
      Dilata, estende, alarga, difunde...

CONTO: ACROBATAS RUPESTRES - HENRIQUE CALDEIRA COSTA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Conto: Acrobatas rupestres

        Conheça os mocós, roedores do sertão brasileiro ameaçados de extinção
        Enquanto viajava pelo interior da Bahia em 1817, Maximilian, o príncipe aventureiro de Wied – hoje uma região da Alemanha –, tomou conhecimento da existência de um tipo de roedor até então desconhecido pelos pesquisadores, chamado pela população local de mocó. Assim que voltou para casa, o príncipe tratou de escrever sobre sua viagem ao Brasil e as muitas descobertas que fez, incluindo a primeira descrição técnica sobre esse curioso animal.
        Hoje, a espécie é conhecida pelos cientistas como Kerodon rupestris. O nome Kerodon tem origem na língua grega e quer dizer “dente com chifre”, talvez porque, dependendo do ponto de vista, os dentes molares do mocó lembrem chifrezinhos. Já o significado do nome rupestris é fácil: essa palavra vem do latim, língua que deu origem ao português, e quer dizer “que vive nas rochas”. Habitar ambientes repletos de pedras, chamados afloramentos rochosos ou lajedos, é uma característica típica dos mocós.
        Mas não é em qualquer tipo de lajedo que os mocós vivem. O Kerodon rupestris é encontrado no sertão do nordeste do Brasil e no norte de Minas Gerais. Se você mora nessa região, provavelmente já deve ter ouvido falar dele – ou melhor, pode ser até que tenha visto um!
        Durante mais de 150 anos, a única espécie de mocó conhecida era Kerodon rupestris. Mas, na década de 1960, pesquisadores brasileiros encontraram mocós em afloramentos rochosos no estado de Goiás, região central do país. Anos depois, em 1997, eles foram oficialmente identificados como uma nova espécie, chamada Kerodon acrobata – seu nome se deve à habilidade com a qual esses mocós se movimentam em seu ambiente natural. Em 2010, a espécie também foi encontrada no sul do estado do Tocantins.
        Infelizmente, tanto Kerodon rupestris quanto K. acrobata estão ameaçados de extinção. O principal motivo é a caça: muitas pessoas afirmam que a carne dos mocós é saborosa, e, por conta disso, eles são procurados como fonte de alimento. Nos últimos anos, os cientistas têm percebido que a caça aos mocós e a destruição de seu hábitat natural têm causado uma redução das populações desses bichos na natureza. Se nada for feito, essas espécies podem acabar desaparecendo. Precisamos mudar essa história!

                                        COSTA, Henrique Caldeira. Disponível em:

                                                 http://chc.org.br/acrobatas-rupestres/.

                                                        Acesso em: 29 de maio de 2016.
Entendendo o conto:
01 – Identifique a passagem que expõe o objetivo do texto:
      “Conheça os mocós, roedores do sertão brasileiro ameaçados de extinção”. 

02 – Associe as ideias, elencadas a seguir, aos seus respectivos parágrafos:
() Citação dos locais onde vivem os mocós no Brasil.
() O alerta quanto à redução das populações de mocós.
() A descoberta do mocó pela ciência. 
() Explicação etimológica do nome científico atribuído ao mocó.
() A descoberta, por pesquisadores brasileiros, de uma nova espécie de mocós. 

03 – Encontra-se registro de opinião do autor em:
a) “[...] dependendo do ponto de vista, os dentes molares do mocó lembrem chifrezinhos.”.
b) “Habitar ambientes repletos de pedras [...] é uma característica típica dos mocós.”.
c) “Mas não é em qualquer tipo de lajedo que os mocós vivem.”.
d) “Infelizmente, tanto Kerodon rupestris quanto K. acrobata estão ameaçados de extinção.”. 

04 – “Nos últimos anos, os cientistas têm percebido que a caça aos mocós e a destruição de seu hábitat natural têm causado uma redução das populações desses bichos na natureza.”. As formas verbais destacadas indicam ações:
a) iniciadas no presente. 
b) habituais no passado recente.
c) iniciadas no passado e que continuam nos dias atuais.
d) que já foram encerradas.

05 – “[...] provavelmente já deve ter ouvido falar dele – ou melhor, pode ser até que tenha visto um!”. O termo grifado indica:
a) ênfase
b) retificação
c) ratificação
d) prioridade

06 – “Se nada for feito, essas espécies podem acabar desaparecendo.”. Tendo em vista o contexto, a parte sublinhada substitui:
      Kerodon rupestris e K. acrobata.