CRÔNICA: UM DIA EM SALA
DE AULA
Fernando Sabino
Dona Risoleta, professora de
religião, tinha horror a baratas. E vejam só o que aconteceu quando seus alunos
descobriram isso.
A aula de religião não contava ponto nem influía na nossa média, mas a
diretora nos obrigava a frequentar.
Um dia apareceu uma barata na sala de aula. Descobrimos então que Dona
Risoleta tinha horror a baratas: soltou um grito, apontou a bichinha com o dedo
trêmulo e subiu na cadeira, pedindo que matássemos. Era uma barata grande, daquelas
cascudas.
A classe inteira se mobilizou para matá-la. Foi aquele alvoroço: empurrões, cotoveladas, pontapés, risos e gritaria, todos querendo atingi-la primeiro. E a coitada, feito barata tonta, escapando no chão. Até que, de repente, tive a sorte de dar com ela passando a correr entre meus pés - e esmigalhei-a em uma pisada só.
A classe inteira se mobilizou para matá-la. Foi aquele alvoroço: empurrões, cotoveladas, pontapés, risos e gritaria, todos querendo atingi-la primeiro. E a coitada, feito barata tonta, escapando no chão. Até que, de repente, tive a sorte de dar com ela passando a correr entre meus pés - e esmigalhei-a em uma pisada só.
Fui aclamado como herói, vejam só: herói por ter matado uma barata. Até
Dona Risoleta me agradeceu trêmula, descendo da cadeira e me dando um beijo na
testa. Esse beijo a turma não me perdoou, durante muito tempo fui vítima da
maior gozação: diziam que dona Risoleta estava querendo me namorar.
Deste episódio nasceu uma brincadeira que passamos a fazer em toda aula
de religião, duas vezes por semana. Alguém trazia uma barata viva dentro de uma
caixa de fósforos vazia, para soltar na sala de aula entre as carteiras, até
que um aluno denunciasse a sua presença. Quando não era a dona Risoleta que
soltava um gritinho:
- Uma barata!
- Uma barata!
(...)
Um dia ela foi reclamar providências da diretora, dizendo que o prédio era velho, estava precisando de uma limpeza em regra, vivia cheio de baratas. Naquele tempo não havia dedetização, de modo que a diretora não tomou providência nenhuma, nunca tinha visto barata na escola. Aquilo eram fricotes de Dona Risoleta.
Um dia ela foi reclamar providências da diretora, dizendo que o prédio era velho, estava precisando de uma limpeza em regra, vivia cheio de baratas. Naquele tempo não havia dedetização, de modo que a diretora não tomou providência nenhuma, nunca tinha visto barata na escola. Aquilo eram fricotes de Dona Risoleta.
E a coisa ficou por isso mesmo, de vez em quando aparecendo uma
baratinha, para alegrar a aula de religião. Houve uma que subiu pela perna da
professora e foi se esconder debaixo da sua roupa. A mulher deu um pulo de
três metros de altura se sacudindo toda, aos berros, como se estivesse louca,
por pouco não se atirou pela janela.
Até que o Dico um dia esqueceu na carteira uma caixa de fósforos com a
barata dentro. Sem saber para que diabo aquele aluno havia de ter trazido
fósforos de casa, se todos nós éramos crianças, não fumávamos, dona Risoleta,
curiosa, abriu a caixa. A barata saltou em sua cara num voo aflito, largando
pedaços de asas no ar, e se refugiou nos seus cabelos. A coitada só faltou
desmaiar de susto. Saiu correndo feito doida com barata e tudo e foi nos
denunciar à diretora.
O Dico acabou suspenso por uma semana, como responsável por todas as
baratas que já tinham aparecido. Com isso, ficou sob ameaça de perder o ano,
por falta de frequência.
SABINO, Fernando. Do livro O Menino no espelho. 2. ed.
Rio de Janeiro, Record, s.d. p.112-5.
(Título nosso)
Antes de responder às questões propostas,
leia atentamente as explicações e exemplos abaixo.
DESCRIÇÃO
Descrever é procurar recriar
na imaginação de nosso leitor a imagem de um ser qualquer (um homem, um animal,
um objeto, um lugar, um ambiente), através de uma detalhada enumeração das suas
características.
Quando uma descrição é bem-feita, nosso
leitor (ou ouvinte) consegue imaginar como é o ser por nós descrito, mesmo sem
tê-lo diante dos olhos.
Podemos descrever um personagem não
apenas fisicamente, dando suas características exteriores, mas também através
de suas ações, suas opiniões, seu caráter, seus gostos, seus sentimentos e
emoções, seu modo de ser (caracterização psicológica).
Só para comprovar o que dissemos, veja
dois bons exemplos de descrição retirados do livro Amarelinho, de Ganymedes
José:
DESCRIÇÃO
FÍSICA:
Magro, miúdo e
desconjuntado, joelhos que pareciam bolas de tênis, loirinho anêmico de olhos
azuis descorados – parecia nem ter sangue. Por isso, tinha o apelido de
Amarelinho.
DESCRIÇÃO
PSICOLÓGICA:
O
Nanico? Apesar de pequeno era esperto como o diabo. Ele sempre arrombava as fechaduras
ou, tirando os pinos das dobradiças, abria as portas. Contava que, uma vez,
tinha feito uma bomba. Podia ser verdade, O Nanico tinha uma cuca ótima,
consertava até rádio. Como aquele que tinha roubado de um fusquinha.
GANYMEDES JOSÉ. Amarelinho. São Paulo, Moderna, 1983. p,7-8.
Entendendo o texto:
01 – Onde se passa a história desse texto?
Em uma sala de aula.
02 – Refaça com elementos do
texto uma descrição física de dona Risoleta.
Magrela que
parecia galho seco e usava óculos de lentes grossas.
03 – Refaça também a descrição psicológica de dona
Risoleta.
Era
antipática, ranzinza e tinha horror de baratas.
04 – O que aconteceu na
classe que acabou gerando um grande rebuliço?
Um dia apareceu uma barata e os alunos
descobriram que dona Risoleta tinha verdadeiro horror de baratas.
05 – Qual foi a reação de dona Risoleta?
Soltou um grito,
apontou a bichinha com dedo trêmulo e subiu na cadeira, pedindo para os alunos
matarem a barata.
06 – Como o autor descreve a barata?
Era uma barata
grande, daquelas cascudas.
07 – Ironicamente, como o
autor descreve a barata ao tentar escapar dos meninos?
E a coitada,
feita barata tonta, escapando por entre nossas violentas patadas no chão.
08 –
Qual a atitude do personagem-narrador e quais as consequências para ele?
Ele teve a sorte
de dar com ela passando a correr entre seus pés e esmigalhou-a numa pisada só.
Foi aclamado com herói e dona Risoleta lhe deu um beijo na testa e a turma não
me perdoou, dizendo que dona Risoleta estava querendo me namorar.