quinta-feira, 10 de maio de 2018

CRÔNICA: UM DIA EM SALA DE AULA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: UM DIA EM SALA DE AULA
                       Fernando Sabino
    Dona Risoleta, professora de religião, tinha horror a baratas. E vejam só o que aconteceu quando seus alunos descobriram isso.
         Magricela como Olívia Palito, mulher do Popeye, parecia um galho seco dentro do vestido escuro. Era antipática e ranzinza. Usava óculos de lentes grossas: não enxergava direito, vivia confundindo um aluno a outro.
        A aula de religião não contava ponto nem influía na nossa média, mas a diretora nos obrigava a frequentar.
        Um dia apareceu uma barata na sala de aula. Descobrimos então que Dona Risoleta tinha horror a baratas: soltou um grito, apontou a bichinha com o dedo trêmulo e subiu na cadeira, pedindo que matássemos. Era uma barata grande, daquelas cascudas.
        A classe inteira se mobilizou para matá-la. Foi aquele alvoroço: empurrões, cotoveladas, pontapés, risos e gritaria, todos querendo atingi-la primeiro. E a coitada, feito barata tonta, escapando no chão. Até que, de repente, tive a sorte de dar com ela passando a correr entre meus pés - e esmigalhei-a em uma pisada só.
        Fui aclamado como herói, vejam só: herói por ter matado uma barata. Até Dona Risoleta me agradeceu trêmula, descendo da cadeira e me dando um beijo na testa. Esse beijo a turma não me perdoou, durante muito tempo fui vítima da maior gozação: diziam que dona Risoleta estava querendo me namorar.
        Deste episódio nasceu uma brincadeira que passamos a fazer em toda aula de religião, duas vezes por semana. Alguém trazia uma barata viva dentro de uma caixa de fósforos vazia, para soltar na sala de aula entre as carteiras, até que um aluno denunciasse a sua presença. Quando não era a dona Risoleta que soltava um gritinho:
        - Uma barata!
        (...)
        Um dia ela foi reclamar providências da diretora, dizendo que o prédio era velho, estava precisando de uma limpeza em regra, vivia cheio de baratas. Naquele tempo não havia dedetização, de modo que a diretora não tomou providência nenhuma, nunca tinha visto barata na escola. Aquilo eram fricotes de Dona Risoleta.
        E a coisa ficou por isso mesmo, de vez em quando aparecendo uma baratinha, para alegrar a aula de religião. Houve uma que subiu pela perna da professora e foi se esconder debaixo da sua roupa. A mulher deu um pulo de três metros de altura se sacudindo toda, aos berros, como se estivesse louca, por pouco não se atirou pela janela.
        Até que o Dico um dia esqueceu na carteira uma caixa de fósforos com a barata dentro. Sem saber para que diabo aquele aluno havia de ter trazido fósforos de casa, se todos nós éramos crianças, não fumávamos, dona Risoleta, curiosa, abriu a caixa. A barata saltou em sua cara num voo aflito, largando pedaços de asas no ar, e se refugiou nos seus cabelos. A coitada só faltou desmaiar de susto. Saiu correndo feito doida com barata e tudo e foi nos denunciar à diretora.
        O Dico acabou suspenso por uma semana, como responsável por todas as baratas que já tinham aparecido. Com isso, ficou sob ameaça de perder o ano, por falta de frequência.


SABINO, Fernando. Do livro O Menino no espelho. 2. ed.
Rio de Janeiro, Record, s.d. p.112-5. (Título nosso)

      Antes de responder às questões propostas, leia atentamente as explicações e exemplos abaixo.

DESCRIÇÃO
      Descrever é procurar recriar na imaginação de nosso leitor a imagem de um ser qualquer (um homem, um animal, um objeto, um lugar, um ambiente), através de uma detalhada enumeração das suas características.
      Quando uma descrição é bem-feita, nosso leitor (ou ouvinte) consegue imaginar como é o ser por nós descrito, mesmo sem tê-lo diante dos olhos.
       Podemos descrever um personagem não apenas fisicamente, dando suas características exteriores, mas também através de suas ações, suas opiniões, seu caráter, seus gostos, seus sentimentos e emoções, seu modo de ser (caracterização psicológica).
        Só para comprovar o que dissemos, veja dois bons exemplos de descrição retirados do livro Amarelinho, de Ganymedes José:

DESCRIÇÃO FÍSICA:
         Magro, miúdo e desconjuntado, joelhos que pareciam bolas de tênis, loirinho anêmico de olhos azuis descorados – parecia nem ter sangue. Por isso, tinha o apelido de Amarelinho.

DESCRIÇÃO PSICOLÓGICA:
         O Nanico? Apesar de pequeno era esperto como o diabo. Ele sempre arrombava as fechaduras ou, tirando os pinos das dobradiças, abria as portas. Contava que, uma vez, tinha feito uma bomba. Podia ser verdade, O Nanico tinha uma cuca ótima, consertava até rádio. Como aquele que tinha roubado de um fusquinha.
                           GANYMEDES JOSÉ. Amarelinho. São Paulo, Moderna, 1983. p,7-8.

Entendendo o texto:
01 – Onde se passa a história desse texto?
     Em uma sala de aula.

02 – Refaça com elementos do texto uma descrição física de dona Risoleta.
      Magrela que parecia galho seco e usava óculos de lentes grossas.

03 – Refaça também a descrição psicológica de dona Risoleta.
      Era antipática, ranzinza e tinha horror de baratas.

04 – O que aconteceu na classe que acabou gerando um grande rebuliço?
      Um dia apareceu uma barata e os alunos descobriram que dona Risoleta tinha verdadeiro horror de baratas.

05 – Qual foi a reação de dona Risoleta?
      Soltou um grito, apontou a bichinha com dedo trêmulo e subiu na cadeira, pedindo para os alunos matarem a barata.

06 – Como o autor descreve a barata?
      Era uma barata grande, daquelas cascudas.

07 – Ironicamente, como o autor descreve a barata ao tentar escapar dos meninos?
      E a coitada, feita barata tonta, escapando por entre nossas violentas patadas no chão.

08 – Qual a atitude do personagem-narrador e quais as consequências para ele?
      Ele teve a sorte de dar com ela passando a correr entre seus pés e esmigalhou-a numa pisada só. Foi aclamado com herói e dona Risoleta lhe deu um beijo na testa e a turma não me perdoou, dizendo que dona Risoleta estava querendo me namorar.



         

POEMA: ANINHA E SUAS PEDRAS - CORA CORALINA - COM GABARITO

Poema: Aninha e Suas Pedras

           
 Cora Coralina


Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

                       CORALINA, C. Vinténs de cobre: meias confissões de Aninha.  São Paulo: Global, 2001. 
 Entendendo o poema:

01 – O eixo temático presente no poema relaciona-se:
a)   Ao trabalho do poeta que deve ser norteado pelo registro metalinguístico.
b)   Ao caráter metafórico que é constituído de elementos pitorescos.
c)   Ao verso prosaico que renova o modo tradicional de composição.
d)   Á educação pela arte que transmite valores estéticos restritos.
e)   Á arte poética que incentiva a função de pensar e reformular a vida factual.

02 – Depreende-se, da leitura do poema, que:
a)   O trabalho doméstico é inferior à criação literária.
b)   A criação literária é algo individualista e não pode se estender a outros.
c)   A criação literária, nascida da simplicidade e de dificuldade, é uma forma de perpetuação.
d)   A criação literária é causa necessária da perpetuação da simplicidade e de dificuldade.

03 – O título do poema, somado a informações biográficas da autora, mostra que o eu lírico:
a)   Sente-se melancólico diante das dificuldades descritas.
b)   Revela sua própria experiência e a estende aos outros.
c)   Demonstra decepção ao perceber sua vida mesquinha.
d)   Observa a vida ao seu redor do modo indiferente.

04 – Aninha, segundo o texto, pode e deve fazer praticamente tudo, MENOS:
a)   Dar, literalmente, de beber às pessoas que gostam dela.
b)   Buscar outros desafios, abandonando os erros do passado.
c)   Ter a vida constantemente renovada.
d)   Mudar sua maneira de viver, uma vez que esta é mesquinha.
e)   Tomar parte da poesia e assim manter-se nas outras pessoas.

05 – O poema “Aninha e suas pedras”, pelas características do gênero a que pertence, tem duas fortes orientações: ser universal e ser atemporal. Esses dois aspectos específicos deste poema residem no fato de que o poema:
a)   Demarca uma pessoa específica da via da autora, a quem se dirige um conselho real e delimitado em um tempo pretérito.
b)   Consiste em uma repreensão entre membros de determinada família, partindo de um adulto a um ente mais jovem, exortando este último a refazer a vida.
c)   Tem a ver com um conselho polido a alguém mais jovem, por meio de linguagem predominantemente denotativa.
d)   Refere-se a uma mensagem simbólica a um leitor geral, que, a qualquer momento, pode tomar para si as injunções postas nos versos.
e)   Dirige-se denotativamente a certa pessoa, informando a acerca da chance que ela tem de refazer a sua vida e orientando-a a não impedir que outras pessoas façam uso da leitura.

06 – É coerente depreender do poema várias interpretações, EXCETO:
a)   Entende-se que o que há na oração “Ajuntando novas pedras”, pode-se levar à destruição do ser a quem o texto se dirige.
b)   Para que Aninha se reconstrua, ela precisa refazer sua vida, recriar, reinventar.
c)   Transforma a vida em um poema fará Aninha eterna para outras pessoas.
d)   Há muitas pessoas e coisas na vida de Aninha e ela não pode impedir que as pessoas leiam poesias.
e)   A vida de Aninha deixa de ser mesquinha se ela viver a poesia.

07 – A autora na letra do poema nos chama a atenção para quê?
      Para as infinitas possibilidades de reinício e de reinvenção das pessoas.

08 – A palavra “pedra” no poema é apenas sugestão imagéticas, por quê?
      Porque ela evoca ideias associativas, de ordem abstrata e sensorial para cada leitor.

09 – As pedras guardam a memória das coisas que passam e que se passaram com a poeta. A figura da pedra toma, assim, o quê?
      Uma áurea de eternidade, pois enquanto nós passamos por eles, elas nos sobrevivem.

10 – No Verso:
        “Remova pedras e planta roseiras e faz doces.” Metaforicamente o que poeta queria dizer?
      A pedra enquanto figuração da vida dura que ela teve; utiliza a imagem de carregar pedras, um fardo pesado e dureza.

11 – Você gostou da poesia? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

12 – O que mais lhe chamou a atenção no poema?
      Resposta pessoal do aluno.


CRÔNICA: RETRATO DE VELHO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: Retrato de velho 
               Carlos Drummond de Andrade

   Tem horror a criança. Solenemente, faz queixa do bisneto, que lhe sumiu com a palha de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao chegar o avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
        No trocar de roupa, atira no chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, para lavar.
    Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha, retira o que é seu, lava-o, passa-o. Mal, naturalmente.
        – Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele desperdice água.
        Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde já se viu? Isso aqui é o paraíso das criadas. A patroa acorda cedo para despertar a cozinheira. Ele se levanta mais cedo ainda, e vai acordar a dona de casa:
        – Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
        As empregadas reagem contra a tirania, despedem-se. E sem empregadas, sua presença ainda é mais terrível.
        As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de mal súbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca-vergonha é essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem é mais virgem?
        – Vovô, o senhor é um monstro!
        E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.
        – A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhora deixa?
        – Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
        – Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudo quanto é festa.
        – Papai, a gente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
        – É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
        Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito é guardá-lo por três meses e deixá-lo ir para outra casa, brigado. Mais três meses, e nova mudança, nas mesmas condições. O velho é duro:
        – Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! – queixa-se ao sair.
        Mas volta.
        – Descobri que paciência é uma forma de amor – diz-me uma das filhas, sorrindo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Retrato de velho. In A bolsa & a vida.
Rio de Janeiro, 1962. p. 207-209.
 Entendendo a crônica:

01 – Que tipo de narrador aparece nessa crônica e em que pessoa a narrativa se constrói?
      O narrador é observador, embora, na última frase, apareça como interlocutor. Por isso, a narrativa é construída na 3ª pessoa.

02 – A personagem principal, aqui, tem seu “retrato” minuciosamente feito pelo narrador. Mas ele usa de dois procedimentos diferentes:
a)   Ele mesmo, narrador, ou outra personagem, apresenta as características do pai/sogro/avô;
Os exemplos são vários. Um deles é a fala da neta. O narrador fala em “velho implicante”, “coriáceo”, “duro”.

b)   As atitudes e falas do velho falam por si, completam o retrato feito pelos outros.
Todas as falas dele são reveladoras. Você pode escolher. Também no início, ele é apresentado agindo: esparramando sua roupa e depois catando-a.

03 – Embora os fatos apresentados sejam todos passados, os verbos aparecem no presente. Que sentido isso traz para você.
      No presente, temos a impressão de que se está montando mesmo um retrato. O presente aproxima a cena, torna-a atual.

04 – No texto, há várias passagem de humor. Indique pelo menos duas situações em que ele se faz presente.
·        A cena do pintor doente e quase expulso.
·        O diálogo sobre as moças saindo com os rapazes.

05 -  Que intenções você acredita que teve o autor, ao escrever essa crônica?
      Além de fazer literatura, ou fazendo literatura, ele parece querer divertir o leitor.

06 – Que sentimentos das pessoas para com esse velho ficam evidenciados nos texto?
      As empregadas, possivelmente, expressam raiva. Mas os familiares mais velhos têm paciência, os jovens e as crianças reagem às implicâncias: uma reclama, o pequeno esconde coisas dele.

07 – A lição primordial passada pelo texto, diz respeito à/ao:
a) Paciência que se deve ter com os mais velhos.
b) As empregadas, muitas vezes, abusam de seus direitos.
c) Os idosos são antiquados e não sabem respeitar o próximo.
d) Gírias do passado ainda devem ser utilizadas nos dias atuais.
e) Não devemos ter paciência com os mais velhos.

08 – Relacione as palavras grifadas com a definição dada entre parênteses e indique a alternativa errada:
a) “para vingar-se de seus ralhos intempestivos.” (=inoportuno)
b) “Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem?” (=Corrompendo)
c) “Ele suspeita que pretendem subtraí-las...” (=lavar)
d) “E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.” (=retire)
e) “– Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis!” (Tornar uma bodega/bagunça).



CONTO: O MACACO E A VIOLA - CONTO DA CULTURA POPULAR NORDESTINA - COM GABARITO



    Certa vez, logo cedo pela manhã, um macaco que andava pela estrada, resolveu que queria ganhar uma viola para lhe acompanhar na vida. O problema era que ele não tinha nada. Então, resolveu se sentar à beira do caminho e esperar algum milagre acontecer. Quando ele se sentou estirou seu grande rabo atravessando o caminho.
        Foi quando veio um homem numa carroça de boi. O homem disse:
        --- Macaco! Tire seu rabo da estrada que eu quero passar!
        --- Que nada! Pode passar por cima! Meu rabo é muito forte!
        --- Macaco! O pneu da carroça vai quebrar seu rabo e o senhor vai querer outro.
        --- Não se incomode! Pode passar assim mesmo! Já disse que meu rabo é muito forte!
        Então, como o homem da carroça tinha pressa resolveu passar por cima do rabo do macaco. Foi daí que o rabo do macaco se quebrou e o danado, mesmo com muito grito de dor, falou para o homem:
        --- Eu quero meu rabo!
        --- Eu lhe disse que seu rabo ia quebrar, mas você teimou comigo. Agora deu no que deu!
        --- Só sei que quero meu rabo! Ou você me dar um rabo ou me dar uma viola!
        --- Eu não tenho viola nenhuma! A única coisa que eu tenho é um facão.
        --- Então, ou me dá o rabo, ou me dá o facão!
        Foi daí que o homem deu o facão para o macaco e seguiu seu caminho.
        O macaco, de posse do facão foi andando pela estrada, quando encontrou no caminho uma mulher cortando lenha com os dentes.
        --- Minha senhora! Cortando lenha com os dentes? Tome esse facão!
        --- Não posso aceitar, seu macaco! Eu já quebrei todos os meus facões para fazer fogueira! Depois, se eu quebrar o seu facão o senhor vai querer outro.
        --- Que nada! Meu facão é forte!
        Com a insistência do macaco, a mulher aceitou o facão. Ela cortou tanta lenha que o facão se quebrou.
        O macaco, que tinha ido dar uma volta, quando voltou foi logo perguntando:
        --- Cadê meu facão?
        --- Se quebrou!
        --- Se quebrou não! Você quem quebrou! Eu quero meu facão!
        --- Mas o senhor disse que seu facão era forte e que ele não se quebraria!
        --- Não importa! Eu quero meu facão! Ou meu facão ou uma viola!
        Mas a mulher não tinha viola. O que ela tinha era somente um cesto velho.
        O macaco aceitou o tal cesto no lugar do facão e foi embora. A mulher, coitada, voltou a cortar lenha com os dentes.
        Lá pela tarde, quando chegou na cidade, encontrou uma mulher que estava vendendo os pães na saia da roupa.
        --- Minha senhora! Vendendo pão na roupa? Que falta de higiene! Tome este cesto!
        --- Quero não, seu macaco! Eu vendo muito pão! Se eu colocar meus pães no seu cesto, ele pode se esbagaçar todo... Vou perder meus pães e o senhor vai ficar sem seu cesto!
        --- Que nada! Meu cesto é muito forte! Pode vender seus pães sem medo! O macaco insistiu tanto, que a mulher aceitou o cesto. O macaco tinha ido conhecer a cidade e quando encontrou a mulher novamente, só a viu com um pão na mão.
        --- Ué! Cadê meu cesto?
        --- Seu cesto estava muito velho! Se esbagaçou assim que coloquei meus pães nele. Só consegui segurar este pão.
        --- Não quero saber! Ou você me dar o cesto ou então me dar esse pão! Eu quero mesmo é uma viola, mas já estou vendo que você não tem condição de me dar uma... Então o pão vai servir.
        A pobre mulher deu o pão para o macaco e foi embora.
        O macaco sentiu muita vontade de comer o pão, mas se ele o comesse voltaria a não ter nada. Então, como já tinha anoitecido ele entrou numa casa e se espantou ao encontrar duas moças tomando café com cinzas.
        --- Mas o que vejo? Tomando café com cinzas? Comam este pão!
        --- Seu macaco! O senhor só tem um pão. Como esse pão vai dar para nós três? É melhor o senhor comer sozinho! Nós já estamos acostumadas a comer cinzas.
        --- Que nada! Nem estou com fome! Podem comer! Está delicioso! Comam! Comam! O macaco deixou o pão em cima da mesa e deu uma saidinha.
        As moças, que há tempos não viam pão resolveram dividir o pão ao meio e comeram todinho. Quando o macaco chegou perguntou:
        --- Cadê meu pão?
        --- Você mandou a gente comer!
        --- Mas vocês poderiam, pelo menos, ter deixado um pedacinho pra mim! Eu quero meu pão!
        --- Mas a gente não tem pão, seu macaco! A gente não tem nada! Só temos a nós mesmas!
        --- Então, eu quero uma moça de vocês pra mim no lugar do pão!
        As moças, sem opção, tiraram par ou ímpar para saber quem iria com o macaco. De posse de uma das moças, lá se foi ele de braços dados. Lá pelas 10 da noite, entrou num baile e viu vários casais dançando. Também tinha dois homens dançando juntos. O macaco foi em direção deles e falou:
        --- Meus senhores! Dançando homem com homem? Longe de mim o preconceito, mas acho que vocês deveriam dançar com essa moça! Experimente dançar com essa moça linda como esta!
        --- Realmente a moça é muito linda, seu macaco! Mas o senhor só tem uma e nós somos dois.
        --- Tenho certeza que vocês vão encontrar um jeito para resolver esse problema. Ela além de linda é muito forte. Vai aguentar dançar com os dois. O macaco nem quis argumentar muito. Foi deixando a moça com os cavalheiros e deu um jeito de sair de mansinho.
        Os homens não conseguiam entrar em acordo de quem dançaria com a moça primeiro. Cada um pegou em um braço da moça e começou a brigar por ela. Na disputa, de puxa pra lá e puxa pra cá, a moça quebrou os braços. Nessa hora o macaco voltou ao salão e disse:
        --- O que vocês fizeram com minha moça?
        --- Você disse que sua moça era forte!
        --- Disse sim! Mas não lhes dei o direito de quebra-la toda! Agora, lhes darei três opções: Ou vocês me dão uma nova moça, ou eu vou até a delegacia, ou vocês me dão uma viola.
        Os homens, com medo de serem presos compraram a viola de um dos tocadores do baile e entregaram ao macaco. As pessoas do baile ajudaram a moça e levaram-na ao hospital.
        O macaco, enfim, conseguiu o que ele queria e foi embora cantarolando pelo caminho de volta para casa:
        --- Do meu rabo ganhei um facão! Do facão ganhei um cesto! Do cesto ganhei um pão! Do pão ganhei uma moça! E da moça ganhei uma viola... Tinguilin tim tim o macaquinha já vai embora... Tinguilin tim tim o macaquinho já vai embora.
        E lá se foi o macaco feliz com sua viola! “Esta história entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser que conte outra!”.

     Conto da Cultura Popular Nordestina - Adaptação:
Prof. MSc. Edilma Silva Santos. 
 Entendendo o conto:
01 – Por que o título do conto é O Macaco e a Viola”?
      Porque o sonho do macaco era ganhar uma viola, para ser a tua companheira.

02 – Para poder ganhar uma viola. O que o macaco decidiu fazer?
      Sentou-se à beira do caminho e esperou uma milagre acontecer.

03 – Quando o macaco sentou-se à beira do caminho o rabo comprido atravessou, o que aconteceu com seu rabo?
      Como o macaco achava que seu rabo era muito forte, não quis tirar do caminho e uma carroça passou por cima e quebrou-o.

04 – O macaco aproveitou o momento, que o rabo quebrou e cobrou do carroceiro, você me dá outro rabo ou uma viola. Qual foi a resposta do carroceiro?
      “Eu não tenho viola nenhuma! A única coisa que tenho é um facão.”

05 – O macaco continuou sua viagem, encontrou uma senhora cortando lenha com os dentes, e ofereceu o facão a ela, que terminou quebrando. O que a senhora deu como pagamento?
      Como a senhora não tinha uma viola, deu um cesto velho.

06 – Chegando a cidade, o macaco viu uma mulher vendendo pães na roupa. E ofereceu o cesta velho. O que aconteceu com o cesto e qual foi a cobrança do macaco?
      Como o cesto era velho, se desmanchou, caindo os pães, sobrando apenas um pão, o que ela deu como pagamento pelo cesto.
07 – Ao encontrar duas moças tomando café com cinzas, ficou com dó, e deu o pão para as moças. Mas, como ele também estava com fome e as moças não deixaram nem um pedaço pra ele, o que ele quis receber delas?
      Como as moças não tinham nada, uma foi com ele, como forma de pagamento.
08 -  O macaco ofereceu a moça a dois homens que dançavam juntos num baile. Qual foi a resposta deles? Justifique com trecho do conto.
      “Realmente a moça é muito linda, seu macaco! Mas o senhor só tem uma e nós somos dois.”

09 – O que aconteceu com a moça, na disputa dos homens para saber com quem ela iria dançar?
      Cada um pegou em um braço da moça e começou a puxar até quebrar o braços.

10 – Qual foi as opções que o macaco deu aos dois homens, por terem quebrado os braços da moça?
      Ele deu três opções:
·        Vocês me dão outra moça.
·        Eu vou até a delegacia.
·        Vocês me dão uma viola.

11 – Diante das opções, qual foi a decisão tomada por eles?
      Para evitarem de ser preso, eles compraram a viola de um dos tocadores do baile e entregaram ao macaco.

12 – Como o macaco tinha conseguido o que queria, ganhar a viola, o que ele cantarolava voltando para casa? Justifique.
      “Do meu rabo ganhei um facão! Do facão ganhei um cesto! Do cesto ganhei um pão! Do pão ganhei uma moça! E da moça ganhei uma viola... Tinguilin tim tim o macaquinha já vai embora... Tinguilin tim tim o macaquinho já vai embora.”

13 – Qual a moral da história?
       “Esta história entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser que conte outra!”.