quinta-feira, 4 de maio de 2017

SIMULADO SOBRE REALISMO COM GABARITO

SIMULADO SOBRE  REALISMO  COM GABARITO

Questão 1
A escola realista, que contou com nomes como Machado de Assis, Raul Pompéia e Aluísio Azevedo, teve como principais características:
a) retorno aos ideais românticos defendidos pela literatura indianista de José de Alencar;
b) preocupação com a métrica e com a metalinguagem na arte literária;
c) retratar a sociedade e suas mazelas, em uma linguagem irônica e impiedosa sobre o homem e suas máscaras sociais.
d) confronto direto com o ideário religioso, estabelecendo um paradoxo com a literatura barroca.
e) defesa da cultura popular brasileira, resgatando símbolos e arquétipos do folclore nacional.

Questão 2
O Realismo, escola literária cujo principal representante brasileiro foi Machado de Assis, tem como característica principal a retratação da realidade tal qual ela é, fugindo dos estereótipos e da visão romanceada que vigorava até aquele momento. Sobre o contexto histórico no qual o Realismo está situado, são corretas as proposições:
I- O Brasil vivia tempos de calmaria política e social, havia um clima de conformidade, configurando o contentamento da colônia com sua metrópole, Portugal.
II- Em virtude das intensas transformações sociais e políticas, o Brasil é retratado com fidedignidade, reagindo às propostas românticas de idealização do homem e da sociedade.
III- O país vivia o declínio da produção açucareira e o deslocamento do eixo econômico para o Rio de Janeiro em razão do crescimento do comércio cafeeiro.
IV- Tem grande influência das teorias positivistas originárias na França, onde também havia um movimento de intensa observação da realidade e descontentamento com os rumos políticos e sociais do país.
V- Surgiu na segunda metade do século XX, quando no mundo eclodiam as teorias de expansões territoriais que culminaram nas duas grandes guerras. O Realismo teve como propósito denunciar esse panorama de instabilidade mundial.
Estão corretas:
a) todas estão corretas.
b) apenas I e II estão corretas.
c) I, II e III estão corretas.
d) II, III e IV estão corretas.
e) I e V estão corretas.

Questão 3
“(...) Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. (...)”.
De acordo com a leitura da célebre frase que integra o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, podemos afirmar que Machado de Assis filiou-se à tendência:
a) Modernista.
b) Naturalista.
c) Árcade.
d) Positivista.
e) Realista.


Questão 4
Sobre o Realismo, é incorreto afirmar que:
a) Surge em um contexto econômico, social e político conturbado e de grandes transformações.
b) Faz uma dura crítica ao Romantismo e à maneira idealizada com a qual o homem era retratado pelos olhos dos escritores que se dedicaram a essa escola literária.
c) Utiliza uma linguagem repleta de maneirismos, com predominância da subjetividade, cuja estética contemplava a metalinguagem e o ideal da arte pela arte.
d) Foi inaugurado por Machado de Assis, tendo no escritor seu maior expoente, perpetuando a estética realista até os dias de hoje.
e) Influenciado pelos ideais positivistas, o Realismo negava a teoria metafísica, buscando explicação nas coisas práticas e presentes na vida do homem.



Questão 5 . (ENEM) Óbito do autor
(…) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova:
– ”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (….)
(Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilustrado por Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.)

Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor:
a) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.
b) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.
c) distorce a cena descrita no romance.
d) expressa um sentimento inadequado à situação.
e) contraria o que descreve Machado de Assis.
 Questão 6.  (UFPR) Eça de Queirós afirmava:
“O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.”
Para realizar essa proposta literária, quais os recursos utilizados no discurso realista? Selecione-os na relação abaixo e depois assinale a alternativa que os contém:

1- Preocupação revolucionária, atitude de crítica e de combate;
2- Imaginação criadora;
3- Personagens fruto da observação; tipos concretos e vivos;
4- Linguagem natural, sem rebuscamentos;
5- Preocupação com mensagem que revela concepção materialista do homem;
6- Senso de mistério;
7- Retorno ao passado;
8- Determinismo biológico ou social.
a)1, 2, 3, 5, 7, 8
b)1, 3, 4, 5, 8.
c)2, 3, 4, 6, 7.
d)3, 4, 5, 6, 8.
e)2, 3, 4, 5, 8.
Questão 7-  Das características abaixo, assinale a que não pertence ao Realismo:
a) Preocupação critica.
b) Visão materialista da realidade.
c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
d) Valorização da Igreja.
e) Determinismo na atuação das personagens.
Questão 8
 Podemos verificar que o Realismo revela:
I   – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro.
II  – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um sentido para o encadeamento dos fatos.
III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos.
Assinale:
a) se as afirmativas II e III forem corretas;
b) se as três afirmativas forem corretas;
c) se apenas a afirmativa III for correta;
d) se as afirmativas I e II forem corretas;
e) se as três afirmativas forem incorretas.
 Questão 9
 (FMTM ) Assinale a alternativa em que se encontram características da prosa do Realismo:

a) Objetivismo; subordinação dos sentimentos a interesses sociais; críticas às instituições decadentes da sociedade burguesa.
b) Idealização do herói; amor visto como redenção; oposição aos valores sociais.
c) Casamento visto como arranjo de conveniência; descrição objetiva; idealização da mulher.
d) Linguagem metafórica; protagonista tratado como anti-herói; sentimentalismo.
e) Espírito de aventura; narrativa lenta; impasse amoroso solucionado pelo final feliz.
  Questão 10
 (Mack) Assinale a alternativa correta.
“Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho amiga do ninho e das carícias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério. (…)
Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre … E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!”
(Eça de Queirós, O primo Basílio)
a) A prosa realista, com intuito moralizador, desmascara o casamento por interesse, tão comum no século XIX, para defender uma relação amorosa autêntica, segundo princípios filosóficos do platonismo.
b) A prosa romântica analisa mais profundamente a natureza humana, evitando a apresentação de caracteres padronizados em termos de paixões, virtudes e defeitos.
c) A prosa realista põe em cena personagens tipificados que, metamorfoseados em heróis valorosos, correspondem à expressão da consciência e valores coletivos.
d) A prosa realista, apoiando-se em teorias cientificistas do século XIX, empreende a análise de instituições burguesas, como o casamento, por exemplo, denunciando as bases frágeis dessa união.
e) A prosa romântica recria o passado histórico com o intuito de ironizar os mitos nacionais.
 Questão 11
 (UEMG) Sobre o conteúdo e a estrutura do romance Dom Casmurro, todos os comentários das alternativas abaixo são coerentes e adequados, EXCETO:
a) Pela leitura da trama que orienta o enredo, o leitor é levado à conclusão de que o narrador-protagonista foi, de fato, traído pela sua amada, Capitu.
b) A reconstrução da casa no Engenho Novo para recuperação do espaço perdido em Mata- Cavalos não permite ao narrador a recuperação do seu passado.
c) O título do romance constitui uma referência irônica ao narrador e aponta o seu estado de conflito em relação ao passado.
d) A força da narrativa não se concentra no enredo, mas nas reflexões, digressões e na maneira ambivalente com que o narrador tenta reconstituir os fatos.

 Questão 12
(ESPM) Assinale a opção que contenha trecho com a conhecida digressão metalinguística presente na obra de Machado de Assis:
a) Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores: “Vai vassouras! vai espanadores!”.
b) Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma cousa que morrer (…).
c) Rubião não sabia que dissesse; Sofia, passados os primeiros instantes, readquiriu a posse de si mesma; respondeu que, em verdade, a noite era linda (…).
d) Assim chorem por mim todos os olhos de amigos e amigas que deixo neste mundo, mas não é provável. Tenho-me feito esquecer.
e) Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às
orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros (…).
Questão 13

 (PUC) Leia os trechos abaixo:
I- “Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela… “
II- “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.”
As duas citações acima integram o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Delas pode inferir-se que:
a) em ambas há igual manifestação da relação temporal e espacial.
b) apenas em uma há referência espacial geográfica e sentimental.
c) nenhuma apresenta discrepância semântica entre as relações espaciais.
d) ambas operam com a relação de tempo e de espaço.
e) nenhuma revela discrepância semântica entre as relações temporais.
 Questão 14
 Sobre o Realismo, assinale a afirmativa correta.
a) O romance é visto como distração e não como meio de crítica às instituições sociais decadentes.
b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos.
c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo.
d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico.
e) O Realismo vê o Homem somente como um produto biológico.
Questão 15
Assim como a obra D. Casmurro, são também obras pertencentes ao Realismo.
a) Grande Sertão: Veredas e Os Sertões
b) Luzia-Homem e Iracema
c) Aves de Arribação e Iaiá Garcia
d) O Mulato e Memórias Póstumas de Brás Cubas
 GABARITO 
Resposta Questão 1
Alternativa “c”. Contrariando a linguagem literária vigente, que até então estava ancorada nos ideais românticos e na metalinguagem da literatura parnasiana, o Realismo rompeu com a subjetividade e com os eufemismos na linguagem que minimizavam a fealdade do caráter humano, representando o mundo exterior tal qual ele é, assim como o homem e suas relações sociais.

Resposta Questão 2
Alternativa “d”.

Resposta Questão 3
Alternativa “e”. Machado de Assis foi o maior expoente da Literatura realista produzida no Brasil, inaugurando o estilo com o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.


Resposta Questão 4
Alternativa “c”. Uma das principais características do Realismo era a objetividade da linguagem, evitando assim uma visão subjetiva sobre o homem e a sociedade. A arte literária ganhou um caráter denunciativo, ao expor, através da Literatura, graves problemas sociais.

Resposta Questão 5 .
Alternativa “a”Ao associar o texto e a imagem, percebemos algumas variações na descrição da cena, como por exemplo, a chuva. Os fortes traços na imagem demonstram a presença de uma chuva forte, enquanto que, no velório, o personagem Brás Cubas descreve a situação com uma chuva miúda, fraca. 
 Resposta Questão 6.
Alternativa “b” : Entre as informações analisadas, os únicos itens que não condizem com a estética realista são os números 2, 6 e 7. Uma das principais características do Realismo é o objetivismo e o compromisso com a realidade, desvinculando-se da imaginação e do senso de mistério. Ademais, como o realismo busca retratar as relações sociais do presente, o retorno ao passado seria incoerente ao movimento literário. 
 Resposta Questão 7.
Alternativa “dO movimento realista se desvincula de qualquer relação com os preceitos religiosos. O realismo possui um olhar crítico para as ações dos personagens, que são reflexos do ser humano.
 Resposta Questão 8.
 Alternativa “b”: Todas as alternativas estão relacionadas ao movimento realista.
 Resposta Questão 9.
 Alternativa “aA única alternativa correta é a letra A. As outras alternativas apresentam características de outras escolas literárias, como a idealização amorosa, dos personagens, final amoroso feliz e redenção pelo amor. Esses aspectos estão associados ao Romantismo.
 Resposta Questão 10.
Alternativa “d O realismo acrescenta um olhar crítico sobre as relações, principalmente sobre o casamento que, muitas vezes, é fragilizado por meio dos interesses de ascensão financeira. Na obra de Eça de Queiroz, a personagem Luísa vivia em um casamento ocioso, o que a faz procurar novos anseios e desejos, quando se tornará uma mulher adúltera.
 Resposta Questão 11.
 Alternativa “a”Não é possível concluir se, de fato, houve a traição de Capitu. A narração do narrador-personagem induz o leitor a pensar que sim, entretanto, pelo próprio narrador também atuar como personagem, apenas o seu ponto de vista é analisado dentro do enredo.
 Resposta Questão 12.
 Alternativa “b”Conseguimos perceber a metalinguagem na alternativa B, pois o narrador retoma a ideias de uma capítulo que ele mesmo produziu. 
 Resposta Questão 13.
 Alternativa “b”: Apenas no tópico I, o autor faz uma relação entre a distância espacial e sentimental. Já no tópico II, o autor faz uma referência temporal para expressar o tempo em que ele e Marcela ficaram juntos, baseado nos recursos financeiros de Brás Cubas.
 Resposta Questão 14.
 Alternativa ”dO Realismo rompe com todos os traços do movimento anterior, o Romantismo. Nesse sentido, busca abordar a realidade das relações amorosas e explorar críticas sobre as relações sociais.
Resposta Questão 15
Alternativa “d”.


quarta-feira, 3 de maio de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: AIDS E CARNAVAL - COM INTERPRETAÇÃO/ GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO:  AIDS E CARNAVAL

        Toda vez que lançamos uma campanha de carnaval, somos questionados sobre os resultados desse investimento que o Ministério da Saúde faz desde o início da epidemia de aids no Brasil.
        Os resultados não tem seu impacto imediato mensurável, como numa pesquisa de rua, mas estão aí na redução de quase 13 % nas novas notificações de aids entre 1999 e 2001 e no aumento de mais de 300% no consumo de preservativos masculinos comercializados no Brasil, que, de 1993 a 2000, saltou de 70 milhões para 350 milhões de unidades por ano. Além disso, a distribuição de preservativos, por parte do ministério da Saúde, cresceu de 18 milhões de unidades por ano, no início da década de 1990, para 200 milhões em 2001. Para este ano, a previsão é distribuirmos 300 milhões de preservativos.
        O brasil é um dos poucos países do mundo que tratam da questão da aids de forma tão clara nos veículos de comunicação. Outros países da região e muitos países desenvolvidos até hoje encontram dificuldades para veicular campanhas de massa informando sobre as formas de transmissão da doença e estimulando o uso do preservativo como meio de preveni-la.
        Nossas campanhas são discutidas elaboradas com um comitê técnico-cientifico que inclui representantes de organizações da sociedade civil, universidades e especialistas em prevenção às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e à aids. O público-alvo escolhido é aquele para o qual as transmissões ocorrem mais: no ano passado foi endereçada aos homens que tem múltiplas parcerias sexuais e a deste ano aos heterossexuais jovens.
        Por que essa insistência? Porque a prevalência da aids vem caindo entre outros segmentos que no passado eram mais vulneráveis à transmissão do HIV (homossexuais e usuários de drogas) e aumentando entre os heterossexuais e as mulheres. A forma de transmissão por relações sexuais entre homens e mulheres já responde por 52% dos casos de aids notificados no país – 215.810 até junho de 2001.
        Quando fazemos uma campanha de massa estamos democratizando a informação. A escolha das datas de veiculação dessas campanhas também é importante. No carnaval atingimos todas as faixas etárias e aproveitamos um momento de alta descontração dos brasileiros para lembra-los de que a aids não acabou e a camisinha ainda é a melhor forma de prevenção contra a doença.
        O lembrete é oportuno, porque nos quatro dias de folia as pessoas costumam fazer uso de álcool e a sexualidade fica em alta. Estamos presentes também nos principais desfiles, com a distribuição de preservativos, folhetos, abanadores e outros materiais impressos. Esse trabalho é feito com a colaboração fundamental da sociedade civil, sem a qual seria impossível distribuir 8 milhões de preservativos em todo o Brasil.
        Mas as estratégias de prevenção à aids não se restringem apenas às campanhas pontuais. O trabalho é feito o ano inteiro com os diversos segmentos da população: estudantes, caminhoneiros, profissionais do sexo, índios, garimpeiros, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis, presidiários, operários, em assentamentos rurais, com mulheres, profissionais da saúde e professores, para citar alguns.
         Os investimentos anuais em prevenção e tratamento chegam perto de US$ 400 milhões, mas os resultados são animadores. A incidência da epidemia, que estava estabilizada em torno de 22 mil novos casos por ano até 1998, caiu para 20 mil novos casos em 1999 e 15 mil em 2000. O uso do preservativo no Brasil chega a 60% entre os jovens, um resultado que só o países do Primeiro Mundo tem alcançado. Isso, sim, é resultado de prevenção.
        Nos principais centros do país, as mortes por aids caíram 70% de 1996 para cá e as internações hospitalares foram reduzidas em 80%. Isso é resultado do tratamento. A soma desses dois polos de atuação – prevenção e tratamento – faz do programa de controle da aids do Brasil um modelo para todo o mundo. Mas isso não significa que devemos relaxar. A aids é uma doença cuja cura e vacina ainda estão distante.
        Os especialistas em comunicação e a experiência brasileira mostram que as campanhas de massa são essenciais. O Brasil é um país privilegiado por poder fazê-las. Além dos esforços da mobilização social, a cultura brasileira de tolerância e solidariedade tem permitido que questões delicadas relacionadas à epidemia de aids sejam tratadas de maneira franca, clara e honesta.
        O carnaval, como uma das maiores manifestações populares do país, além de ser um grande motivo de festa e descontração, tem se mostrado um excelente canal para tratar do assunto. Seria impossível deixarmos passar essa grande oportunidade.

 TEIXEIRA, Paulo Roberto. Folha de São Paulo, 9 fev. 2002. Caderno A, p. 3.

1 – “Aids e carnaval” é basicamente um texto de opinião. O autor defende uma tese: a de que a campanha de prevenção da aids no carnaval e eficiente.
Para sustentar sua tese, ele apresenta argumentos quantitativos (dados). Quais são eles? Ou, perguntando de outro modo: porque, na opinião do autor, a campanha é eficiente?
       2º parágrafo – A campanha, segundo o autor, é eficiente porque, em três anos, fez diminuir quase 13% as novas notificações de aids e, em sete anos, fez aumentar em 300% o consumo de preservativos masculinos.

2 – Que justificativa o autor dá para as campanhas dos últimos anos terem sido dirigidas a homens que tem múltiplas parceiras sexuais e a heterossexuais jovens?
       5º parágrafo – O fato de a ocorrência de aids ter caído entre os segmentos da população que eram antes mais vulneráveis (homossexuais e usuários de drogas) e aumentado entre os heterossexuais e as mulheres.

3 – Segundo o autor, qual é a importância de uma campanha de massa?
       6º parágrafo – A campanha de massa democratiza a informação.

4 – Por que as campanhas contra a aids são veiculadas principalmente durante o carnaval?
       6º e 7º parágrafos – Porque é possível, neste período, atingir todas as faixas etárias e, ao mesmo tempo, aproveitando o clima de descontração da festa, lembrar a todos que a aids não acabou e que é preciso prevenir-se contra ela.

5 – Por que o programa de combate à aids do Brasil é modelo para todo o mundo?
       9º e 10º parágrafos – O programa de combate à aids do Brasil é modelo para todo o mundo pelos resultados alcançados pela prevenção e pelo tratamento.

6 – Que justificativa o autor dá aos leitores para afirmar que o Brasil é um país privilegiado quanto às campanhas de massa contra a aids?
       11º parágrafo – O autor acredita que há no Brasil uma cultura de tolerância e solidariedade que tem permitido que questões delicadas relacionadas à epidemia da aids sejam tratadas de maneira franca, clara e honesta.

7 – Por que, segundo o autor, é importante a participação da sociedade civil na campanha durante o carnaval?
       7º parágrafo – Sem a participação da sociedade civil, seria impossível distribuir amplamente os preservativos em todo o país.

terça-feira, 2 de maio de 2017

CONTO: AMOR - LUIZ VILELA - COM GABARITO

CONTO - AMOR
                  LUIZ VILELA

Ela apontou para a vitrine:
--- Olha ali que amor de sapato”
Chegaram mais de perto. Ele viu seu rosto refletido difusamente no vidro: um rosto cansado, encardido, a barba crescida.
--- Não é um amor?
--- É.
--- Qual que você está pensando? Estou falando é aquele ali, aquele branco ali, ó.
--- Eu sei.
--- Aquele branco de lá.
Ele olhava fixo para o vidro, aproximando e afastando a cabeça, tentando apanhar a imagem completa de seu rosto, que parecia fugir numa brincadeira diabólica.
--- Você acha mesmo?
--- Acha o quê?
--- Bonito, esse sapato, o que...
--- Acho; não falei que acho?
--- Então qual que é Ele?
--- Aquele ali – arriscou.
--- Não.
--- Estou falando aquele segundo, de lá pra cá.
--- Na fila de cima?
--- É.
--- Também não.
--- Então é aquele furadinho ali.
--- Furadinho? Ah: também não.
--- Então não sei, pronto.
Começou a andar, de cara fechada. Ela o acompanhou.
Era fim de tarde, avenida movimentada, pessoas voltando para casa com embrulhos, rapazes na beirada do passeio, colegiais em grupos, lojas fechando, filas, rosto cansados, gastos, suados, barulho dos lotações, estalo dos elétricos.
--- Estava só querendo puxar conversa – ela falou – Não era caso de você ficar assim,
--- Assim?
--- Com essa cara.
--- Quê que tem minha cara?
--- Nada. Não tem nada.
Ele olhou para ela: ela não olhou para ele.
--- Está bem, aqui minha cara, ó – fez uma careta alegre. – tá boa assim?
--- Não foi pra chatear que eu estava perguntando; queria só puxar conversa; você estava tão calado...
--- Eu sei, bem, eu sei – Ele falou, sem raiva, sem irritação, sem mágoa, pensando como devia ser bom estar àquela hora lá em cima daquela serra, aquela serra alta, aquela serra calma, longe, azulada, que aparecia lá no fim da avenida, por trás dos edifícios.
--- Mas se você não quer conversar, então não conversemos; como você quiser.
--- Eu quero – quero o quê? pensou, sem se importar com a resposta, olhando para um lotação que passou soltando fumaça.
--- Você anda tão diferente... – ela desabafou. – Calado, distraído... ríspido...
--- Estou cansado.
--- Você sempre diz isso.
--- E quê que você queria que eu dissesse?
--- A verdade.
--- E essa não é a verdade?
--- Não.
--- Então qual que é a verdade?
Ela não respondeu.
--- Hem, qual que é a verdade? Você não vai me dizer?
Ela não respondeu.
--- Bem, então não diga.
--- Você não é mais como era antes, quando nos conhecemos...
--- E você; você acha que é a mesma? Ninguém é sempre o mesmo.
--- Você era alegre, brincalhão...
--- Bem, eu estou cansado, você não vê? Não vê que eu estou cansado? Olha pra minha cara: não vê?
--- Não é cansaço.
--- Então me diga quê que é.
--- Você sabe.
--- Não sei.
--- Sabe sim.
--- Juro que não sei.
--- Você não gosta mais de mim.
--- É? Escuta: por que você diz isso se sabe que eu gosto, hem?
--- Se você gostasse você não estaria assim.
--- Assim como?
--- Como está agora.
--- Ai meu Deus – ele passou a mão pelo rosto sofridamente.
--- Aí, não estou dizendo? Não pode falar nada que você explode.
--- Isso é explodir?
--- Você está uma pilha.
--- Tá bom; então não vou falar mais nada; não posso falar mais nada que você diz que eu estou explodindo, ríspido, uma pilha e não sei mais o quê.
--- Não fale, a boca é sua.
--- Sua é que não é.
--- Ainda bem.
O silêncio ia inteirar um quarteirão, quando ele falou:
--- Por que não podemos passar sem brigas? Por que a gente tem que estar sempre brigando?
--- Não é minha culpa.
--- Eu sei: é minha.
--- Hoje, por exemplo: estava só puxando conversa e você...
--- Foi ríspido, já sei; não precisa começar tudo de novo.
--- Quer saber duma coisa? O melhor é nós terminarmos.
--- Terminarmos?
Ele sentiu um frio.
--- Não combinamos mais mesmo.
De repente tudo perdido, não há mais palavras nem gestos, só um espaço escuro sufocando a garganta.
--- Acho que não é caso disso... Não é caso da gente terminar... Eu sei, reconheço que estou mesmo como você falou: mas não é minha culpa – falou de cabeça baixa, como quem pede perdão. – Não é porque eu quero que eu estou assim.
Haviam chegado ao ponto de ônibus, que já estava para sair.
--- Vou tomar esse ainda – disse ela. – Tenho de chegar mais cedo hoje em casa.
Ele olhou para ela, e não sabendo o que dizer, voltou a olhar para o chão.
--- Até logo – ela disse.
--- Amanhã te telefono?
--- Se você quiser.
--- E você?
Ela já havia entrado no ônibus.
Da janelinha olhou para ele: mas não sorriu, nem abanou lhe a mão.
Ele ficou vendo o ônibus se distanciar pela avenida, o rosto abatido, pensando por que o amor era tão difícil.
                                          VILELA, Luiz. Amor. In: _____. Tarde da noite. 2. ed.
                                                                            São Paulo, Ática, 1980. p. 58-61.

1 – No diálogo das personagens predomina o nível coloquial de linguagem. Copie três expressões que comprovem essa afirmativa.
       Qual que você está pensando; aquele branco ali, ó; Qual que é ele? puxar conversa; E quê que você queira...

2 – O contista concentra-se em fixar um momento que seja muito importante, singular, na vida das personagens.
a)     Que momento é esse, no conto lido?
A consciência de que o relacionamento amoroso é complexo.

b)    Que frase do último parágrafo resume o significado desse momento?
“... por que o amor era tão difícil.”

c)     Que fato serve de pretexto para desencadear esse momento?
Uma discussão a propósito de um par de sapatos exposto numa vitrina.

3 – O cenário onde se passa a ação é urbano.
a)     Que trecho do conto opõe ao cenário urbano um ambiente bucólico?
“... como devia ser bom estar àquela hora lá em cima daquela serra,
aquela serra calma, longe, azulada, que aparecia lá no fim da avenida, por trás dos edifícios.”

b)    Qual é a função dessa oposição?
O aluno deverá deduzir que o autor enfatiza, por antítese, a dificuldade de viver numa cidade grande.


GABRIELA, CRAVO E CANELA - JORGE AMADO -(FRAGMENTO) COM GABARITO

GABRIELA, CRAVO E CANELA
Jorge Amado

        Só Gabriela parecia não sentir a caminhada, seus pés como que deslizando pela picada muitas vezes aberta na hora a golpes de facão, na mata virgem. Como se não existissem as pedras, os tocos, os cipós emaranhados. A poeira dos caminhos da caatinga a cobrira tão por completo que era impossível distinguir seus traços. Nos cabelos já não penetrava o pedaço de pente, tanto era pó se acumulara. Parecia uma demente perdida nos caminhos. Mas Clemente sabia como ela era deveras e o sabia em cada partícula de seu ser, na ponta dos dedos e na pele do peito. Quando os dois grupos se encontraram, no começo da viagem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos rolavam sobre o cangote, espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolve-la, ele a enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente, mordendo uma goiaba.
        --- Tu parece que nem veio de longe...
        Ela riu:
        --- A gente tá chegando. Tá pertinho. Tão bom chegar.
        Ele fechou ainda mais o rosto sombrio:
        --- Num acho não.
        --- E por que tu não acha? – levantou para o rosto severo do homem seus olhos ora tímidos e cândidos, ora insolentes e provocadores. – Tu não saiu para vir trabalhar no cacau, ganhar dinheiro? Tu não fala noutra coisa.
        --- Tu sabe por quê – resmungou ele com raiva. – Pra mim esse caminho podia durar a vida toda. Num me importava...
        No riso dela havia certa mágoa, não chegava a ser tristeza, como se estivesse conformada com o destino:
        --- Tudo que é bom, tudo que é ruim também termina por acabar.
        Uma raiva subia dentre dele, impotente. Mais uma vez, controlando a voz, repetiu a pergunta que lhe vinha fazendo pelo caminho e nas noites insones:
        --- Tu não quer mesmo ir comigo pras matas? Botar uma roça, plantar cacau junto nós dois? Com pouco tempo a gente vai ter roçado seu, começar a vida.
        A voz de Gabriela era cariciosa mas definitiva:
        --- Já te disse minha tenção. Vou ficar na cidade, não quero mais viver no mato. Vou me contratar de cozinheira, de lavadeira ou pra arrumar casa dos outros...
        Acrescentou numa lembrança alegre:
        --- Já andei de empregada em casa de gente rica, aprendi cozinhar.
        --- Aí tu não vai progredir. Na roça, comigo, a gente ia fazendo seu pé-de-meia, ia tirando pra frente...
        Ela não respondeu. Ia pelo caminho quase saltitante. Parecia uma demente com aquele cabelo desmazelado, envolta em sujeira, os pés feridos, trapos rotos sobre o corpo. Mas Clemente a via esguia e formosa, a cabeleira solta e o rosto fino, as pernas altas e o busto levantado. Fechou ainda mais o rosto, queria tê-la com ele para sempre. Como viver sem o calor de Gabriela?

    AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. São Paulo, Martins, s.d. p. 82-3.

Cangote: nuca.
Insolente: atrevido, ousado, arrogante.
Tenção: intenção, plano.

1 – O que fazia com que Gabriela parecesse uma “demente perdida nos caminhos”?
       O fato de ela estar toda suja, coberta pela poeira da caatinga.

2 – Os olhos de Gabriela são reveladores de algumas de suas características. Que características são essas? Responda, utilizando substantivos abstratos.
       Candura, timidez, insolência e provocação.

3 – Por que Clemente sentia raiva?
       Porque Gabriela não queria ficar com ele no campo: ela queria mesmo era tentar a vida na cidade.

4 – Transcreva do texto as expressões que demonstram a sensualidade de Gabriela.
       “Os cabelos rolavam sobre o cangote, espalhando perfume”; “o corpo esguio”; “A voz de Gabriela era cariciosa”; “Clemente a via esguia e formosa, a cabeleira solta e o rosto fino, as pernas altas e o busto levantado”.
       


UM CERTO CAPITÃO RODRIGO - ÉRICO VERÍSSIMO - (FRAGMENTO) COM GABARITO

UM CERTO CAPITÃO RODRIGO

        Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do vigário.
        --- Padre! – gritou, sem apear. Esperou um instante. Depois: --- Padre! A porta da meiágua abriu-se e o vigário apareceu.
        --- Capitão! – exclamou ele, aproximando-se do amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com força
        --- Foi só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão. Eu não queria lastimar o amigo...
        --- Muito obrigado, Rodrigo, muito obrigado. --- O Padre Lara sacudiu a cabeça, desalentado. --- Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os Amarais são cabeçudos e tem muita munição.
        --- Eu também sou cabeçudo e tenho muita munição.
        --- Por que não espera o amanhecer?
        Rodrigo deu de ombros.
        --- Pra não deixar a coisa esfriar.
        --- Olhe aqui. Vou lhe dar uma ideia. Antes de começar o assalto, por que vosmecê não me deixa ir ao casarão ver se o Cel. Amaral consente em se render pra evitar uma carnificina?
        --- Não, padre. Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti. Não é assim que diz nas Escrituras? Se alguém me convidasse pra eu me render eu ficava ofendido. Um homem não se entrega.
        --- Mas não há nenhum desdouro. Isto é uma guerra entre irmãos.
        --- São as mais brabas, padre, são as mais brabas.
        De cima do cavalo Rodrigo ouvia a respiração chiante e dificultosa do sacerdote. Lembrou-se das muitas conversas que tiveram noutros tempos.
        --- Vosmecê é um homem impossível... – disse o padre, desolado.
        --- Acho que esta noite vou dormir na cama do velho Ricardo. – Sorriu. – Mas sem a mulher dele, naturalmente... E amanhã de manhã quero mandar um próprio levar ao chefe a notícia de que Santa Fé é nossa. A Província toda está nas nossas mãos. Desta vez os legalistas se borraram! Até logo, padre.
        Apertaram-se as mãos.
        --- Tome cuidado, capitão. Vosmecê se arrisca demais.
        --- Ainda não fabricaram a bala que há de me matar! – Gritou Rodrigo, dando de rédea.
        --- A gente nunca sabe – retrucou o padre.
        --- E é melhor que não saiba, não é?
        --- Deus guie vosmecê!
        --- Amém! – replicou Rodrigo, por puro hábito, pois aprendera a responder assim desde menino.
        O padre viu o capitão dirigir-se para o ponto onde um grupo de seus soldados o esperava. A noite estava calma. Galos de quando em quando cantavam nos terreiros. Os galos não sabem de nada – refletiu o padre. Sempre achara triste e agourento o canto dos galos. Era qualquer coisa que o lembrava da morte. Voltou para casa, fechou a porta, deitou-se na cama com o breviário na mão, mas não pode orar. Ficou de ouvido atento, tomado duma curiosa espécie de medo. Não era medo de ser atingido por uma bala perdida. Não era medo de morrer. Não era nem medo de sofrer na carne algum ferimento. Era medo do que estava para vir, medo de ver os outros sofrerem. No fim de contas – se esmiuçasse bem – o que ele tinha mesmo era medo de viver, não de morrer.
                                    VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento 1; o continente.
                                                             São Paulo, Círculo do livro, s.d. p. 314-5.

Meiágua: habitação com telhado de um só plano.
Desdouro: descrédito, desonra.
Próprio: mensageiro, portador.
Breviário: livro de rezas.

1 – Com que finalidade Rodrigo foi à casa do vigário?
       Rodrigo queria verificar se o padre não estava no casarão que is ser atacado.

2 – Qual era a posição assumida pelo padre na luta entre Rodrigo e a família Amaral?
       O padre servia de intermediário, tentando apaziguar as duas famílias que brigavam.

3 – Rodrigo apesenta algumas características de comportamento semelhantes às de seus inimigos. Que características são essas?
        A teimosia e a persistência.

4 – Rodrigo justifica sua atitude ao padre por meio de um recurso bastante convincente. Que recurso é esse?
        Rodrigo utiliza versículos bíblicos.

5 – Que frases do texto revelam um traço supersticioso do padre? Transcreva-as.

        “Sempre achara triste e agourento o canto dos galos. Era qualquer coisa que o lembrava da morte”.

FOGO MORTO - JOSÉ LINS DO REGO - (FRAGMENTO) COM GABARITO

FOGO MORTO
José Lins do Rego

        A luz das lanternas sujava a brancura do luar. Passou a carruagem na porta do Capitão Vitorino, com os cavalos arrastando-se num passo de cansados. Vitorino viu no carro o velho sentado com a família. O senhor do engenho não lhe tirou o chapéu, mas ouviu bem a voz de D. Amélia, dando-lhe boa-noite. O cachorro do Lula pensava que ele fosse um camumbembe qualquer. Botara-o uma vez fora de sua casa. Aquilo era uma leseira de marca. Trepado naquele carro, e com o cercado vazio, as várzeas no mato, o engenho parado. A lua cobria os arvoredos que o vento brando sacudia de neve. Naquele silencia, ouvia as campainhas do cabriolé, de longe, tinindo, enquanto os cachorros começaram a latir para a lua. Cantavam os galos no poleiro de Sinhá Adriana.
        --- Minha velha, amanhã tenho que ganhar os campos. Não sou marica para ficar dentro de casa. As eleições estão aí e nestes últimos dias nada tenho feito. Vou dar uma queda no José Paulino que vai ser um estouro.
        --- Vitorino, eu te acho ainda muito machucado.
       --- Não tenho mais nada. Você não viu o compadre e o cego como estavam andando? Apanharam muito e não ficaram de papo pro ar numa rede como mulher parida. Um homem que se preza não deve se entregar. Vou para a cabala, amanhã, na feira de Serrinha. Quero olhar para a cara de Manuel Ferreira. Este cachorro vive na Serrinha roubando o povo com parte de que é deputado. É outra safadeza de José Paulino, deixar que vá para a Assembleia do Estado num tipo como Manuel Ferreira. Boto abaixo tudo isto.
        --- É, Vitorino, mas tu vai sofrer outra desfeita.
        --- Que desfeita? Um homem que luta não é desfeiteado. Cala esta boca. Peguei-me com a força e botei três réus na rua. Isto é ser desfeiteado? Por que você não se danou com o filho? Era melhor. Pelo menos não me vinha com estas palavras de ofensa. O seu marido, mulher, não traz desfeita para casa. Não me diga mais uma coisa desta.
        Levantou-se outra vez, e saiu para a frente de casa.
        Vitorino, tem cuidado com o sereno, tu podes apanhar um resfriado. Ontem levaste a noite tossindo. Bota o chapéu na cabeça.
        O velho não respondeu. Os cachorros latiam desesperadamente.
        --- Estes pestes não param. Parece que querem morde a lua.
        --- Entra para dentro, Vitorino, está muito frio. A friagem da lua te faz mal.
        Ele não respondeu. No outro dia sairia pelo mundo para trabalhar pelo povo. Para ele, Antônio Silvino e o Tenente Maurício, José Paulino e Quinca do Engenho Novo, todos valiam a mesma coisa. Quando entrasse na casa da Câmara sacudiriam flores em cima dele. Dariam vivas, gritando pelo chefe que tomava a direção do município. Mandaria abrir as portas da cadeia.  Todos ficariam contentes com o seu triunfo. A queda de José Paulino seria de estrondo. Ah, com ele não havia grandes mandando em pequenos. Ele de cima quebraria a goga dos parentes que pensavam que a vila fosse bagaceira de engenho.
        --- Vitorino, vem dormir.
        --- Já vou.
        E, escorado no portal da casa de taipa, de chão de barro, de paredes pretas, Vitorino era dono do mundo que via, da terra que a lua branqueava, do povo que precisava de sua proteção.

                                   REGO, José Lins do. Fogo Morto. 14. ed. Rio de Janeiro,
                                                                                  José Olympio,1973. p.287-8.

Camumbembe: vadio, vagabundo.
Leseira: moleza, preguiça; tolice.
Cabriolé: carruagem leve, de duas rodas, puxada por um cavalo.
Cabala: trama, conspiração.
Desfeita: ofensa, injúria; derrota.
Goga: vaidade, orgulho.

1 – Na visão do Capitão Vitorino, como o Coronel Lula de Holanda o considera?
        Como um vadio, um vagabundo qualquer.

2 – Segundo o Capitão Vitorino, o Coronel Lula não tinha razão para ser tão orgulhoso, deixando de cumprimenta-lo. O que o levava a pensar assim?
        O Coronel Lula não tinha razão para ser tão orgulhoso porque estava parado, o cercado vazio e as várzeas no mato.

3 – Qual é a intenção do Capitão Vitorino na sua primeira fala à mulher?
        Acabar com o José Paulino.

4 – Como sinhá Adriana reage diante do comportamento de seu marido?
        Sinhá Adriana ainda o considera muito machucado, sem condições para brigar ou lutar por qualquer coisa.

5 – A crítica considera o Capitão Vitorino um herói quixotesco. “Quixotesco” é um adjetivo que se refere a Dom Quixote, personagem criada pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes. Esse adjetivo designa uma pessoa ingênua, sonhadora, romântica ou mesmo aquela que se envolve em confusões. Quais as atitudes do Capitão Vitorino que podem ser consideradas quixotescas?
        Sair pelo mundo e lutar pelo povo; sentir-se dono do mundo e achar que o povo precisava de sua proteção.


VIDAS SECAS - GRACILIANO RAMOS - (FRAGMENTO) COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO: VIDAS SECAS
                                       Graciliano Ramos


        Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
        Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao bingo, pôs-se a fumar regalado.
        --- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
        Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
        Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
        --- Você é um bicho, Fabiano.
        Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
        Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
        --- Um bicho, Fabiano.
        Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
        Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xíquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinha Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.
        Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.
        Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. (...) Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que se demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.
        Deu estalos com os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as mãos grossas e cabeludas. Fabiano recebeu a carícia, enterneceu-se:
        --- Você é um bicho, Baleia.
        Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio, Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.

  RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 27. ed. São Paulo, Martins, 1970. p. 53-5.

Juazeiro: árvore característica da caatinga nordestina.
Camarinha: quarto; esconderijo de malfeitores no mato.
Gretado: rachado.
Esgaravatar: limpar.
Aió: bolsa de caça.
Binga: lampião de querosene; isqueiro tosco.
Imbu: fruto do imbuzeiro; árvore própria da caatinga.
Mucunã: espécie de planta.
Quipá: vegetação nordestina.
Mandacaru: grande cacto.
Xiquexique: espécie de cacto.
Catingueira: arbusto típico da caatinga.
Baraúna: espécie de árvore.
Gutural: relativo ou pertencente à garganta.
Cambaio: de pernas fracas, trôpego.

1 – “Fabiano ia satisfeito.” Qual é a causa dessa satisfação?
       A sensação de estar arrumado.

2 – O que leva Fabiano a sentir-se um homem?
       O fato de ter encontrado um lugar para se instalar juntamente com toda a sua família.

3 – Sentir-se homem foi imprudente de sua parte. Como ele se sente de fato?
       Ele se sentia um bicho, ocupado em tomar conta de coisas alheias.

4 – Fabiano e sua família não podiam integrar-se à terra em que estavam. A que fato isso se deve?
       Isso se deve ao fato de a terra não pertencer a eles.

5 – No texto há três referências à animalização de Fabiano. Destaque os números das linhas em que tais referências ocorrem.
       Linhas 24, 47,58 e 59.