sábado, 23 de junho de 2018

RESENHA: CONTAS DA SELVA - HORÁCIO QUIROGA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Resenha: Quiroga escreve para crianças de forma inusitada 
                          Michel Laub

        A ficção infanto-juvenil costuma ser avaliada com certa condescendência, mais comprometida com a formação do cidadão que com a do leitor. 
        Não é difícil perceber os resultados desse paternalismo: histórias politicamente corretas, com temas que tentam aproximar a literatura da "realidade cotidiana" ou despertar a consciência para a diversidade social, étnica e religiosa do mundo, frequentemente ganham elogios e adoções em escolas na mesma medida em que sua estética insossa é ignorada. 
        Diante de um cenário assim, é promissor o lançamento de uma coletânea como "Contos da Selva" (1918), do uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937). Anunciado como infanto-juvenil, mas talvez mais próximo das narrativas para crianças, o livro chama atenção por abdicar de um caráter utilitário, que emprestaria às suas histórias uma pregação ecológica ou um sentido moral. 
        Quiroga obtém esse resultado, quase sempre, experimentando com as convenções da fábula e do causo. No primeiro caso, em textos como "O Papagaio Pelado", cujo protagonista se vinga de uma onça que o atacou indicando seu paradeiro a um caçador, tem-se os bichos que falam e agem como humanos, mas não a lição edificante no desfecho. No segundo, a verossimilhança e coerência narrativa do causo são abandonadas em textos como "As Meias dos Flamingos", talvez a mais inusitada de todas, em que pássaros entram fantasiados num baile de cobras e passam o resto da vida pagando pelo erro. 
        Resta saber se ambas as soluções, cuja originalidade é louvável, mas externa à fruição estética das histórias, são suficientes para garantir o valor literário de "Contos da Selva". A resposta é difícil, até porque há contos que fogem à regra aqui descrita, como "A Abelhinha Malandra", fábula tradicional e previsível, ou "A Tartaruga Gigante", sem a densidade que transforma o relato em literatura. 
        Por outro lado, há qualidades inegáveis na prosa de Quiroga: o classicismo elegante, que ficaria bem num texto contemporâneo, e a generosidade descritiva, que torna acessível o mundo então pouco explorado de bichos e plantas das províncias argentinas -lugares onde o autor viveu muitos anos. 
        Somada a isso, a capacidade de comover em construções simples como "A Gama Cega", sobre um veado salvo por um caçador, ou "História de Dois Filhotes de Quati e de Dois Filhotes de Homem", que mostra uma convivência terna entre as espécies, dão ao livro um balanço positivo. Não para transformá-lo num clássico, mas o bastante para ser lido com interesse quase um século depois de sua publicação. 

Disponível em: 

Entendendo a Resenha:
01 – A respeito da resenha, responda: 
a)   Qual é a obra resenhada? 
O livro Contos da Selva.

b)   Quem é o autor dessa obra? 
O uruguaiano Horacio Quiroga.

c)   A que público ela se destina?
A obra é dirigida ao público infanto-juvenil, mas o autor da resenha a considera mais voltada para o infantil.

d)   Quem é o autor da resenha? 
Michel Laub.

02 – Segundo o autor da resenha, a ficção infanto-juvenil tem sido avaliada por um único ângulo. 
a)   Qual é o principal critério de avaliação da ficção infanto-juvenil?
O critério didático, moralizador.

b)   Segundo esse critério, como seria um bom livro infanto-juvenil? 
Seria aquele composto de "histórias politicamente corretas, com temas que tentam aproximar a literatura da 'realidade cotidiana' ou despertar a consciência para a diversidade social, étnica e religiosa do mundo".

c)   O autor da resenha considera esse um bom critério? Por quê? 
Não. Ele considera que há muita condescendência e paternalismo nesse critério; o autor o considera limitador.

03 – A obra resenhada pode ser considerada um exemplo do que comumente se avalia como boa ficção infanto-juvenil? Explique sua resposta. 
      Não, pelo contrário, a obra resenhada abre mão da pregação ecológica ou de apresentar um sentido moral.

04 – Além de comentar o conteúdo normalmente presente na ficção infanto-juvenil, o autor da resenha também avalia a estética que predomina nesses livros. Qual é a opinião dele sobre isso? 
      Segundo o autor, a ficção infanto-juvenil em geral uma "estética insossa".

05 – No quarto parágrafo, o resenhista afirma que o escritor obtém certo resultado "experimentando com as convenções da fábula e do causo". 
a)   O que é convencional no gênero fábula? E no gênero causo? 
Convenções da fábula: animais que falam, desfecho moralizante, narrativa curta.
Convenções do causo: presença de humor, transmissão oral, criação popular, possibilidade de estar baseado no fato real.

b)   Se um autor "faz experimentos" com essas convenções, o que, na prática, ele deve estar fazendo?" 
O escritor provavelmente está mexendo no que é característico daquele gênero, alterando um pouco sua estrutura, mas não a ponto de o gênero deixar de ser reconhecido.

06 – A que o autor se refere ao empregar as expressões indicadas a seguir? 
a)   "No primeiro caso" e "No segundo" (quarto parágrafo) 
Ao experimentar com as convenções da fábula;
Ao experimentar com as convenções do causo.

b)   "ambas as soluções" (quinto parágrafo) 
A experimentação com as convenções da fábula e com as do causo.

07 – No quinto parágrafo, o autor afirma que as soluções são originais, mas que essa originalidade é "externa à fruição estética das histórias". Qual das alternativas a seguir explica o que se deve entender por isso?
I. Que os textos (apesar do conteúdo surpreendente) não foram escritos de modo a chamar a atenção pela beleza de sua forma. 

II. Que as criações originais que o contista pensou para as histórias tiveram de ser explicadas fora do texto. 
08 – O autor da resenha afirma que o livro não tem qualidades para ser considerado um clássico. Que livros clássicos para o público infanto-juvenil você conhece? 
      Alguns clássicos infanto-juvenis: A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne; Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll; As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain; Caninos brancos, de Jack London; Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, entre outros.

09 – Escolha a declaração que reflete, de modo geral, a avaliação do autor. 
I. Não recomenda a obra, apontando exclusivamente seus pontos fracos. 
II. Recomenda a obra, apontando apenas seus pontos fortes. 
III. Recomenda a obra, apontando seus pontos fortes e fracos. 


CONTO: UNS BRAÇOS - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

Conto: UNS BRAÇOS
             Machado de Assis


     Inácio estremeceu, ouvindo os gritos do solicitador, recebeu o prato que este lhe apresentava e tratou de comer, debaixo de uma trovoada de nomes, malandro, cabeça de vento, estúpido, maluco.
        - Onde anda que nunca ouve o que lhe digo? Hei de contar tudo a seu pai, para que lhe sacuda a preguiça do corpo com uma boa vara de marmelo, ou um pau; sim, ainda pode apanhar, não pense que não. Estúpido! maluco!
        - Olhe que lá fora é isto mesmo que você vê aqui, continuou, voltando-se para D. Severina, senhora que vivia com ele maritalmente, há anos. Confunde-me os papéis todos, erra as casas, vai a um escrivão em vez de ir a outro, troca os advogados: é o diabo! É o tal sono pesado e contínuo. De manhã é o que se vê; primeiro que acorde é preciso quebrar-lhe os ossos... Deixe; amanhã hei de acordá-lo a pau de vassoura!
        D. Severina tocou-lhe no pé, como pedindo que acabasse. Borges espeitorou ainda alguns impropérios, e ficou em paz com Deus e os homens.
        Não digo que ficou em paz com os meninos, porque o nosso Inácio não era propriamente menino. Tinha quinze anos feitos e bem feitos. Cabeça inculta, mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, que quer saber e não acaba de saber nada. Tudo isso posto sobre um corpo não destituído de graça, ainda que mal vestido. O pai é barbeiro na Cidade Nova, e pô-lo de agente, escrevente, ou que quer que era, do solicitador Borges, com esperança de vê-lo no foro, porque lhe parecia que os procuradores de causas ganhavam muito. Passava-se isto na Rua da Lapa, em 1870.
        Durante alguns minutos não se ouviu mais que o tinir dos talheres e o ruído da mastigação. Borges abarrotava-se de alface e vaca; interrompia-se para virgular a oração com um golpe de vinho e continuava logo calado.
        Inácio ia comendo devagarinho, não ousando levantar os olhos do prato, nem para colocá-los onde eles estavam no momento em que o terrível Borges o descompôs. Verdade é que seria agora muito arriscado. Nunca ele pôs os olhos nos braços de D. Severina que se não esquecesse de si e de tudo.
        Também a culpa era antes de D. Severina em trazê-los assim nus, constantemente. Usava mangas curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo abaixo do ombro; dali em diante ficavam-lhe os braços à mostra. Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar; mas é justo explicar que ela os não trazia assim por faceira, senão porque já gastara todos os vestidos de mangas compridas. De pé, era muito vistosa; andando, tinha meneios engraçados; ele, entretanto, quase que só a via à mesa, onde, além dos braços, mal poderia mirar-lhe o busto. Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanhou-os, atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou. Ao pescoço, um lenço escuro, nas orelhas, nada. Tudo isso com vinte e sete anos floridos e sólidos.
        Acabaram de jantar. Borges, vindo o café, tirou quatro charutos da algibeira, comparou-os, apertou-os entre os dedos, escolheu um e guardou os restantes. Aceso o charuto, fincou os cotovelos na mesa e falou a D. Severina de trinta mil coisas que não interessavam nada ao nosso Inácio; mas enquanto falava, não o descompunha e ele podia devanear à larga.
        Inácio demorou o café o mais que pôde. Entre um e outro gole alisava a toalha, arrancava dos dedos pedacinhos de pele imaginários ou passava os olhos pelos quadros da sala de jantar, que eram dois, um S. Pedro e um S. João, registros trazidos de festas encaixilhados em casa. Vá que disfarçasse com S. João, cuja cabeça moça alegra as imaginações católicas, mas com o austero S. Pedro era demais. A única defesa do moço Inácio é que ele não via nem um nem outro; passava os olhos por ali como por nada. Via só os braços de D. Severina, - ou porque sorrateiramente olhasse para eles, ou porque andasse com eles impressos na memória.
        - Homem, você não acaba mais? bradou de repente o solicitador.
       Não havia remédio; Inácio bebeu a última gota, já fria, e retirou-se, como de costume, para o seu quarto, nos fundos da casa. Entrando, fez um gesto de zanga e desespero e foi depois encostar-se a uma das duas janelas que davam para o mar. Cinco minutos depois, a vista das águas próximas e das montanhas ao longe restituía-lhe o sentimento confuso, vago, inquieto, que lhe doía e fazia bem, alguma coisa que deve sentir a planta, quando abotoa a primeira flor. Tinha vontade de ir embora e de ficar. Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. Voltava à tarde, jantava e recolhia-se ao quarto, até a hora da ceia; ceava e ia dormir. Borges não lhe dava intimidade na família, que se compunha apenas de D. Severina, nem Inácio a via mais de três vezes por dia, durante as refeições. Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada.
        - Deixe estar, - pensou ele um dia - fujo daqui e não volto mais.
        Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitia encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. Agüentava toda a trabalheira de fora toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços.
        Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma coisa Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim.
        - Que é que você tem? disse-lhe o solicitador, estirado no canapé, ao cabo de alguns minutos de pausa.
        - Não tenho nada.
        - Nada? Parece que cá em casa anda tudo dormindo! Deixem estar, que eu sei de um bom remédio para tirar o sono aos dorminhocos...
        E foi por ali, no mesmo tom zangado, fuzilando ameaças, mas realmente incapaz de as cumprir, pois era antes grosseiro que mau. D. Severina interrompia-o que não, que era engano, não estava dormindo, estava pensando na comadre Fortunata. Não a visitavam desde o Natal; por que não iriam lá uma daquelas noites? Borges redarguia que andava cansado, trabalhava como um negro, não estava para visitas de parola, e descompôs a comadre, descompôs o compadre, descompôs o afilhado, que não ia ao colégio, com dez anos! Ele, Borges, com dez anos, já sabia ler, escrever e contar, não muito bem, é certo, mas sabia. Dez anos! Havia de ter um bonito fim: - vadio, e o côvado e meio nas costas. A tarimba é que viria ensiná-lo.
        D. Severina apaziguava-o com desculpas, a pobreza da comadre, o caiporismo do compadre, e fazia-lhe carinhos, a medo, que eles podiam irritá-lo mais. A noite caíra de todo; ela ouviu o tlic do lampião do gás da rua, que acabavam de acender, e viu o clarão dele nas janelas da casa fronteira. Borges, cansado do dia, pois era realmente um trabalhador de primeira ordem, foi fechando os olhos e pegando no sono, e deixou-a só na sala, às escuras, consigo e com a descoberta que acaba de fazer.
        Tudo parecia dizer à dama que era verdade; mas essa verdade, desfeita a impressão do assombro, trouxe-lhe uma complicação moral que ela só conheceu pelos efeitos, não achando meio de discernir o que era. Não podia entender-se nem equilibrar-se, chegou a pensar em dizer tudo ao solicitador, e ele que mandasse embora o fedelho. Mas que era tudo? Aqui estacou: realmente, não havia mais que suposição, coincidência e possivelmente ilusão. Não, não, ilusão não era. E logo recolhia os indícios vagos, as atitudes do mocinho, o acanhamento, as distrações, para rejeitar a ideia de estar enganada. Daí a pouco, (capciosa natureza!) refletindo que seria mau acusá-lo sem fundamento, admitiu que se iludisse, para o único fim de observá-lo melhor e averiguar bem a realidade das coisas.
       Já nessa noite, D. Severina mirava por baixo dos olhos os gestos de Inácio; não chegou a achar nada, porque o tempo do chá era curto e o rapazinho não tirou os olhos da xícara. No dia seguinte pôde observar melhor, e nos outros otimamente. Percebeu que sim, que era amada e temida, amor adolescente e virgem, retido pelos liames sociais e por um sentimento de inferioridade que o impedia de reconhecer-se a si mesmo. D. Severina compreendeu que não havia recear nenhum desacato, e concluiu que o melhor era não dizer nada ao solicitador; poupava-lhe um desgosto, e outro à pobre criança. Já se persuadia bem que ele era criança, e assentou de o tratar tão secamente como até ali, ou ainda mais. E assim fez; Inácio começou a sentir que ela fugia com os olhos, ou falava áspero, quase tanto como o próprio Borges. De outras vezes, é verdade que o tom da voz saía brando e até meigo, muito meigo; assim como o olhar geralmente esquivo, tanto errava por outras partes, que, para descansar, vinha pousar na cabeça dele; mas tudo isso era curto.
        - Vou-me embora, repetia ele na rua como nos primeiros dias.
        Chegava a casa e não se ia embora. Os braços de D. Severina fechavam-lhe um parêntesis no meio do longo e fastidioso período da vida que levava, e essa oração intercalada trazia uma ideia original e profunda, inventada pelo céu unicamente para ele. Deixava-se estar e ia andando. Afinal, porém, teve de sair, e para nunca mais; eis aqui como e porquê.
      D. Severina tratava-o desde alguns dias com benignidade. A rudeza da voz parecia acabada, e havia mais do que brandura, havia desvelo e carinho. Um dia recomendava-lhe que não apanhasse ar, outro que não bebesse água fria depois do café quente, conselhos, lembranças, cuidados de amiga e mãe, que lhe lançaram na alma ainda maior inquietação e confusão. Inácio chegou ao extremo de confiança de rir um dia à mesa, coisa que jamais fizera; e o solicitador não o tratou mal dessa vez, porque era ele que contava um caso engraçado, e ninguém pune a outro pelo aplauso que recebe. Foi então que D. Severina viu que a boca do mocinho, graciosa estando calada, não o era menos quando ria.
     A agitação de Inácio ia crescendo, sem que ele pudesse acalmar-se nem entender-se. Não estava bem em parte nenhuma. Acordava de noite, pensando em D. Severina. Na rua, trocava de esquinas, errava as portas, muito mais que dantes, e não via mulher, ao longe ou ao perto, que lhe não trouxesse à memória. Ao entrar no corredor da casa, voltando do trabalho, sentia sempre algum alvoroço, às vezes grande, quando dava com ela no topo da escada, olhando através das grades de pau da cancela, como tendo acudido a ver quem era.
        Um domingo, - nunca ele esqueceu esse domingo, - estava só no quarto, à janela, virado para o mar, que lhe falava a mesma linguagem obscura e nova de D. Severina. Divertia-se em olhar para as gaivotas, que faziam grandes giros no ar, ou pairavam em cima d'água, ou avoaçavam somente. O dia estava lindíssimo. Não era só um domingo cristão; era um imenso domingo universal.
        Inácio passava-os todos ali no quarto ou à janela, ou relendo um dos três folhetos que trouxera consigo, contos de outros tempos, comprados a tostão, debaixo do passadiço do Largo do Paço. Eram duas horas da tarde. Estava cansado, dormira mal a noite, depois de haver andado muito na véspera; estirou-se na rede, pegou em um dos folhetos, a Princesa Magalona, e começou a ler. Nunca pôde entender por que é que todas as heroínas dessas velhas histórias tinham a mesma cara e talhe de D. Severina, mas a verdade é que os tinham. Ao cabo de meia hora, deixou cair o folheto e pôs os olhos na parede, donde, cinco minutos depois, viu sair a dama dos seus cuidados. O natural era que se espantasse; mas não se espantou. Embora com as pálpebras cerradas viu-a desprender-se de todo, parar, sorrir e andar para a rede. Era ela mesma, eram os seus mesmos braços.
        É certo, porém, que D. Severina, tanto não podia sair da parede, dado que houvesse ali porta ou rasgão, que estava justamente na sala da frente ouvindo os passos do solicitador que descia as escadas. Ouviu-o descer; foi à janela vê-lo sair e só se recolheu quando ele se perdeu ao longe, no caminho da Rua das Mangueiras. Então entrou e foi sentar-se no canapé. Parecia fora do natural, inquieta, quase maluca; levantando-se, foi pegar na jarra que estava em cima do aparador e deixou-a no mesmo lugar; depois caminhou até à porta, deteve-se e voltou, ao que parece, sem plano. Sentou-se outra vez cinco ou dez minutos. De repente, lembrou-se que Inácio comera pouco ao almoço e tinha o ar abatido, e advertiu que podia estar doente; podia ser até que estivesse muito mal.
        Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na rede, dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça inclinava-se um pouco do lado da porta, deixando ver os olhos fechados, os cabelos revoltos e um grande ar de riso e de beatitude.
        D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação diabólica. Recuou ainda, depois voltou, olhou dois, três, cinco minutos, ou mais. Parece que o sono dava à adolescência de Inácio uma expressão mais acentuada, quase feminina, quase pueril. Uma criança! disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que todos trazemos conosco. E esta ideia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a turvação dos sentidos.
        - Uma criança!
        E mirou-o lentamente, fartou-se de vê-lo, com a cabeça inclinada, o braço caído; mas, ao mesmo tempo que o achava criança, achava-o bonito, muito mais bonito que acordado, e uma dessas ideias corrigia ou corrompia a outra. De repente estremeceu e recuou assustada: ouvira um ruído ao pé, na saleta do engomado; foi ver, era um gato que deitara uma tigela ao chão. Voltando devagarinho a espiá-lo, viu que dormia profundamente. Tinha o sono duro a criança! O rumor que a abalara tanto, não o fez sequer mudar de posição. E ela continuou a vê-lo dormir, - dormir e talvez sonhar.
        Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina ter-se-ia visto a si mesma na imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada; depois inclinar-se, pegar-lhe nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os famosos braços. Inácio, namorado deles, ainda assim ouvia as palavras dela, que eram lindas cálidas, principalmente novas, - ou, pelo menos, pertenciam a algum idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas três e quatro vezes a figura esvaía-se, para tornar logo, vindo do mar ou de outra parte, entre gaivotas, ou atravessando o corredor com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando, inclinava-se, pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que inclinando-se, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca.
        Aqui o sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na imaginação e fora dela. A diferença é que a visão não recuou, e a pessoa real tão depressa cumprira o gesto, como fugiu até à porta, vexada e medrosa. Dali passou à sala da frente, aturdida do que fizera, sem olhar fixamente para nada. Afiava o ouvido, ia até o fim do corredor, a ver se escutava algum rumor que lhe dissesse que ele acordara, e só depois de muito tempo é que o medo foi passando. Na verdade, a criança tinha o sono duro; nada lhe abria os olhos, nem os fracassos contíguos, nem os beijos de verdade. Mas, se o medo foi passando, o vexame ficou e cresceu. D. Severina não acabava de crer que fizesse aquilo; parece que embrulhara os seus desejos na ideia de que era uma criança namorada que ali estava sem consciência nem imputação; e, meia mãe, meia amiga, inclinara-se e beijara-o. Fosse como fosse, estava confusa, irritada, aborrecida mal consigo e mal com ele. O medo de que ele podia estar fingindo que dormia apontou-lhe na alma e deu-lhe um calafrio.
        Mas a verdade é que dormiu ainda muito, e só acordou para jantar. Sentou-se à mesa lépido. Conquanto achasse D. Severina calada e severa e o solicitador tão ríspido como nos outros dias, nem a rispidez de um, nem a severidade da outra podiam dissipar-lhe a visão graciosa que ainda trazia consigo, ou amortecer-lhe a sensação do beijo. Não reparou que D. Severina tinha um xale que lhe cobria os braços; reparou depois, na segunda-feira, e na terça-feira, também, e até sábado, que foi o dia em que Borges mandou dizer ao pai que não podia ficar com ele; e não o fez zangado, porque o tratou relativamente bem e ainda lhe disse à saída:
        - Quando precisar de mim para alguma coisa, procure-me.
        - Sim, senhor. A Sra. D. Severina...
        - Está lá para o quarto, com muita dor de cabeça. Venha amanhã ou depois despedir-se dela.
        Inácio saiu sem entender nada. Não entendia a despedida, nem a completa mudança de D. Severina, em relação a ele, nem o xale, nem nada. Estava tão bem! falava-lhe com tanta amizade! Como é que, de repente... Tanto pensou que acabou supondo de sua parte algum olhar indiscreto, alguma distração que a ofendera, não era outra coisa; e daqui a cara fechada e o xale que cobria os braços tão bonitos... Não importa; levava consigo o sabor do sonho. E através dos anos, por meio de outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à daquele domingo, na Rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos. Ele mesmo exclama às vezes, sem saber que se engana:
        - E foi um sonho! um simples sonho!

Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis –
Coleção Prestígio - Ediouro - s/d.
 Entendendo o conto:
Atividades:
01 – Qual é o foco narrativo do conto “Uns braços” de Machado de Assis?
      Narrador observador.

02 – Qual é o assunto do conto?
      O assunto do conto é sobre um rapaz chamado Inácio, que se apaixona por uma jovem muito bonita chamada Severina.

03 – Apresente os personagens contidos nessa narrativa e suas características físicas e psicológicas.
      Inácio: Cabeça inculta, mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, tudo isso posto sobre um corpo não destituído de graça, ainda que mal vestido.
      D. Severina: Usava mangas curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo abaixo do ombro; dali em diante ficavam-lhe os braços à mostra. Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar. Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum adorno; o próprio penteado consta de muito pouco. Ao pescoço, um lenço escuro, nas orelhas, nada.
      Solicitador: Zangado, grosseiro, andava sempre cansado, trabalhava como um negro.

04 – Onde e quando se passa a história narrada?
      Rua da lapa, 1970.

05 – O trecho “Inácio estremeceu, ouvindo os gritos do solicitador, recebeu o prato que este lhe apresentava e tratou de comer, debaixo de uma trovoada de nomes, malandro, cabeça de vento, estúpido, maluco.” que inicia o conto, não nos aponta o motivo pelo qual o solicitador encontra-se tão nervoso com o personagem Inácio. No entanto, podemos verificar o porquê das “trovoadas de nomes” um pouco mais adiante no texto. Sendo assim, por que o solicitador estava tão bravo com Inácio?
      Borges estava bravo com Inácio porque ele era muito preguiçoso e estava dormindo ao invés de levantar para trabalhar.

06 – Em que parte do texto, verificamos uma justificativa para o título dado ao conto?
      “Sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos.”

07 – De acordo com o texto, como pode ser caracterizada a relação do solicitador Borges com a esposa?
     Fuzilando ameaças, mas realmente incapaz de cumpri-las.

08 – Apesar de desejar e pensar várias vezes na ideia de deixar a casa do solicitador, Inácio não tem coragem e permanece ali. Por quê?
      Porque Inácio estava apaixonado pela D. Severina. 

09 – Qual é o momento de maior tensão na narrativa? Transcreva o trecho.
      Foi quando D. Severina beijou Inácio. ''...até que inclinando-se, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca...'' 

10 – Em relação ao beijo presente na história:
a) Para qual dos personagens, ele aconteceu apenas no sonho?
      Para Inácio foi apenas um sonho.

b) Para qual, ele aconteceu na realidade?
      Foi realidade para D. Severina.

11 – O narrador do conto é onisciente, isto é, domina o universo mental das personagens, sabendo a respeito delas mais do que elas podem compreender. Ao mesmo tempo, fornece a nós, leitores, indícios, pista sobre a história que vai contar: trata-se de uma história de amor e sedução.
a)   Em qual parágrafo percebemos a paixão de Inácio por D. Severina?
No sétimo parágrafo.

b)   Que relação há entre esse parágrafo e o título do conto?
Nesse parágrafo, ficamos sabendo que o título do conto refere-se aos braços de D. Severina, para os quais Inácio olha apaixonadamente.

c)   Como você explicaria a atenção que Inácio dedica aos braços de D. Severina?
Inácio não ousa mirar D. Severina nos olhos: acostuma-se, então, a espreita-la à mesa de olhos baixos. Assim, só consegue ver seus braços. Além disso, não era comum as mulheres trazerem os braços nus. Daí chamarem tanto a atenção do adolescente.

12 – Na sua opinião, é verdadeira a afirmação de que D. Severina é culpada da paixão de Inácio? Por quê?
      Não. D. Severina é simples, sem adornos, nem bonita nem feia, “antes grossa que fina”, seus braços andam nus não por faceirice, mas por falta de vestidos de manga comprida.

13 – Chama-se interpolação um comentário à margem do texto, geralmente colocado entre parênteses. No conto um exemplo de interpolação é a expressão “capciosa natureza!”, com a qual o narrador se refere a D. Severina. Na sua opinião, o que há de irônico nessa interpolação?
      Essa interpolação é irônica porque se refere à malícia de D. Severina ao lidar com a própria consciência, fingindo algo que não sentia para se eximir de denunciar o rapaz ao marido.

14 – Ao longo do desenvolvimento do enredo, vamos percebendo indícios de que D. Severina ao mesmo tempo rejeita e compartilha o desejo de que é objeto.
a)   Com que atitudes ela revela essa reação ambígua?
D. Severina revela essa reação ambígua ora sendo áspera ora sendo meiga com Inácio; ora esquivando-lhe os olhos; ora demorando-os nele.

     b) Dentre as atitudes contraditórias de D. Severina, predominam as de proximidade ou de afastamento? Justifique.
         Predominam as atitudes de proximidade, que assumem um modo maternal de expressão.

15 – O clímax ou ponto culminante da história acontece num “imenso domingo universal”.
a)   Que passagem indica que nesse conto há uma rememoração do passado no presente?
A passagem é “Nunca ele esqueceu esse domingo”.

b)   Como você interpreta a expressão: “Um imenso domingo universal”, tendo em vista os acontecimentos que se desencadeiam?
Domingo universal pode significar um tempo “fora do tempo”, um feriado, um momento absoluto em que um sonho de um adolescente se transforma em realidade.

16 – Para qual dos protagonistas o encontro foi real e para qual foi imaginário? Por quê?
      O encontro foi imaginário para Inácio, porque ele beijou em sonho S. Severina. Para ela, no entanto, foi um encontro real, já que beijou de fato o rapaz, enquanto esse dormia.




sexta-feira, 22 de junho de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): BALADA DO LOUCO - NEY MATOGROSSO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Balada do louco

                                  NEY MATOGROSSO

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu…

Entendendo a canção:

01 – A canção é construída, fundamentalmente pela oposição entre:

a)   Felicidade / infelicidade.

b)   Fama / anonimato.

c)   Normalidade / anormalidade.

d)   Riqueza / pobreza.

e)   Religiosidade / santidade.

02 – As conjunções (por, e, se, mas) marcam respectivamente as seguintes relações de sentido:

a)    Finalidade, adição, causa, concessão.

b)   Causa, adição, condição, adversidade.

c)   Consequência, adição, proporção, conclusão.

d)   Explicação, adversidade, finalidade, concessão.

e)   Explicação, consequência, causa, adversidade.

03 – Qual é a concepção de loucura apresentada na canção?

      De acordo com a canção, a maior loucura seria “não ser feliz” e a loucura seria um ato de fuga com a finalidade de chegar a felicidade.

04 – Qual é a crítica presente na letra da canção?

      Crítica os padrões ditos normais.

05 – Você concorda com o trecho da canção: “Eu juro que é melhor não ser o normal”? De acordo com a canção, o que seria ser normal?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O normal é você não ousar ser diferente do padrão social estabelecido, querer a aprovação dos outros.

06 – Explique os seguintes versos da canção: “Sim sou muito louco, não vou me curar / Já não sou o único que encontrou a paz”.

      Nestes versos o eu lírico afirma ser a loucura uma forma de atingir a felicidade, de ter poder.

07 – De acordo com a canção, o que é ser louco? Você conhece alguém que seja / pensa assim?

      A canção mostra a loucura de acordo com o “eu lírico” de um louco, ou seja, a questão “ser louco” é definida pelo discurso de um louco. Resposta pessoal do aluno.

08 – Você considera que os loucos sejam felizes, como diz a canção? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno.

09 – A “Balada do Louco” nos revela que questões?

      A questão da discriminação, sobretudo com deficientes mentais.

10 – Ela nos faz refletir sobre o quê?

      Que precisamos evoluir no quesito respeito às diferenças, principalmente pessoas preconceituosas que definem padrões e condenam as diferenças que expõem pessoas fora dos limites desses padrões.

11 – Por que o eu lírico afirma que é feliz?

      De acordo com a música, a maior loucura seria “não ser feliz” e a loucura seria um ato de fuga com a finalidade de chegar à felicidade.

12 – O eu lírico se considera “louco”? Justifique sua resposta com versos da canção.

      Sim. “Sim sou muito louco, não vou me curar”.

13 – Na sua opinião, o que é pensar como louco?

      Resposta pessoal do aluno.

14 – Uma pessoa pode considerar-se louco e feliz ao mesmo tempo? Justifique sua resposta.

      Sim. Num mundo onde existe tanta diversidade, de raça, religião, cultura, nível social, econômico, é um crime rotular como “diferentes” pessoas que apresentam alguma deficiência ou necessidade de cuidados especiais como infelizes.

 

 

 


FILME(ATIVIDADES): FRIDA - JULIE TAYMOR - SINOPSE E QUESTÕES GABARITADAS

Filme(ATIVIDADES): FRIDA

Data de lançamento 4 de abril de 2003 (2h 00min)
Direção: Julie Taymor
Gêneros BiografiaDrama
Nacionalidades EUACanadáMéxico

SINOPSE E DETALHES
        Frida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, ele teve um agitado casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu companheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush), além de várias outras mulheres.

Entendendo o filme:

01 – A autora desse comentário sobre o filme Frida mostra-se impressionada com o fato de a pintora:
a)   Ter uma aparência exótica.
b)   Vender bem a sua imagem.
c)   Ter grande poder de sedução.
d)   Assumir sua beleza singular.
e)   Recriar-se por meio da pintura.

02 – Quem é Frida Kahlo?
      Uma pintora mexicana de renome na história da arte.

03 – O filme perpassa a vida de Kahlo desde quando?
      Desde a sua adolescência até o ano de sua morte.

04 – Podemos ver no filme que cenas importantíssimas da vida de Frida?
      O momento em que ela foi acometida pelo trágico acidente; seu relacionamento com o pintor mexicano Diego Rivera; suas viagens pelo mundo; seu amor natural pelos animais; seus momentos boêmios; suas opções políticas; quando ela hospedou Trotsky em sua casa; e diversos outros instantes.

05 – Cite três momentos que você considera mais importante no filme?
      Primeiro: O acidente de ônibus sofrido pela pintora, no início de sua juventude;
      Segundo: Ela sofrendo um aborto espontâneo e pintando esse momento;
      Terceiro: O fim de seu casamento, em que ela corta os cabelos e aparece na tela com uma tesoura nas mãos vestida de homem.

06 – Os alunos com um dos artístico podem criar cartazes que se aproximam da abordagem autobiográfico de Kahlo.
      Resposta pessoal do aluno.


TEXTO: AVE MENSAGEIRA - MARINA MOTOMURA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: Ave Mensageira
          Por que a pomba branca é o símbolo da paz?
      
                                                 Marina Motomura


        A alegoria da pomba branca como mensageira da paz está em passagens da Bíblia. Um desses episódios é narrado no capítulo 8 do Gênesis, primeiro livro do Velho Testamento. Noé, que esperava na arca o fim do dilúvio, mandou um animal mensageiro para ver se as águas haviam baixado.
        O primeiro escolhido foi o corvo, que ficou voando para lá e para cá – e perdeu a oportunidade de ganhar a simpatia da humanidade. Então Noé enviou uma pomba. Na primeira viagem, ela não encontrou nenhum lugar para pousar. Sete dias depois, foi novamente solta e retornou com um ramo de oliveira no bico. Isso, de acordo com a narrativa bíblica, simbolizava a paz entre Deus e os homens. "Além disso, o ramo de oliveira significava também garantia de alimento, de remédio e da bênção divina", diz o teólogo Tércio Machado Siqueira, da Universidade Metodista de São Paulo. Há também citações à pomba nos Evangelhos. Assim que Jesus foi batizado, o espírito de Deus desceu sobre ele em forma de uma pomba. Desde então, a pomba é associada ao Espírito Santo. Apesar de não haver menção da cor dessas pombas na Bíblia, os costumes da época explicam porque, nas representações, elas sempre são brancas.
        "A pomba era muito usada por judeus pobres em sacrifícios. O animal não poderia ser pintado ou doente, deveria ser branco", afirma Siqueira.


Entendendo o texto:
01 – Segundo o texto, por que a pomba foi o animal escolhido para representar a paz?
      Porque quando Noé a enviou lá fora para ver se as águas haviam baixado, ela retornou com um ramo de oliveira no bico, e de acordo com a narrativa Bíblica, simbolizava a paz entre Deus e os homens.

02 – E por que essa pomba geralmente é branca?
      Segundo a Bíblia, assim que Jesus foi batizado, o espírito de Deus desceu sobre ele em forma de uma pomba, apesar de não haver menção da cor, nas representações, elas são brancas.

03 – Analisando o texto, por que a pomba da paz está no divã?
      Porque o mundo está em guerra sem saber a causa, há um massacre entre gente que não se conhece, para proveito de pessoas que se conhecem, mas que não se massacram.

04 – Analise a expressão fisionômica da pomba da paz. Qual o sentimento transmitido pela expressão dela? Justifique.
      Ela simboliza pureza, simplicidade, harmonia, esperança e felicidade reencontrada.
      Representa, portanto, aquilo que o homem possui de imperecível e impalpável, um princípio vital, a alma, a essência do amor. É o símbolo do amor.