segunda-feira, 1 de novembro de 2021

AUTOBIOGRAFIA: LÁZARO RAMOS, A ILHA (FRAGMENTO) - NA MINHA PELE - COM GABARITO

 Autobiografia: LÁZARO RAMOS, A ILHA (Fragmento)

      [...]

        Minha história começa numa ilha com pouco mais de duzentos habitantes, na baía de Todos os Santos. Uma fração de Brasil praticamente secreta, ignorada pelas modernidades e pelos mapas: nem o (quase) infalível Google Maps consegue encontrá-la. É nessa terra minúscula, a Ilha do Paty, que estão minhas raízes. O lugar é um distrito de São Francisco do Conde — município a 72 quilômetros de Salvador, próximo a Santo Amaro e conhecido por sua atual importância na indústria do petróleo. Na ilha, as principais fontes de renda ainda são a pesca, o roçado e ser funcionário da prefeitura.

        No Paty, sapatos são muitas vezes acessórios dispensáveis. Para atravessar de um lado para o outro na maré de águas verdes, o transporte oficial é a canoa, apesar de já existirem um ou outro barco, cedidos pela prefeitura. Ponte? Nem pensar, dizem os moradores, em coro. Quando alguém está no “porto” e quer chegar até o Paty, só precisa gritar: “Tomaquê!”.

        Talvez você, minha companhia de viagem, não saiba o que quer dizer “tomaquê”. É uma redução, como “oxente”, que quer dizer “O que é isso, minha gente”. Ou “Ó paí, ó”, que é “Olhe pra isso, olhe”. Ou seja, é simplesmente “Me tome aqui, do outro lado da margem”. É muito mais gostoso gritar “Tomaquê!”.          

        Assim, algum voluntário pega sua canoa e cruza, a remo, um quilômetro nas águas verdes e calmas. Entre os dois pontos da travessia se gastam uns quarenta minutos. Essa carona carrega, na verdade, um misto de generosidade e curiosidade. Num lugar daquele tamanho, qualquer visita vira assunto, e é justamente o remador quem transporta a novidade.

        Até hoje procuro visitar a ilha todos os anos. Gosto de entender minha origem e receber um abraço afetuoso dos mais velhos. Vou também para encontrar um sentimento de inocência, uma felicidade descompromissada, que só sinto por lá.

        Graças à sua refinaria de petróleo, São Francisco do Conde é um dos municípios mais ricos do país. (....) Essa dinheirama, porém, não chega até o cotidiano de quem mora no Paty. Eles até conseguem ver vantagens na vida simples que levam: como não há violência, não há polícia na ilha, e as portas das casas estão sempre abertas para quem quiser entrar. O que faz falta mesmo é a água encanada. Para tudo: dar descarga nos banheiros, lavar pratos e roupas, tomar banho.

        Não faz muito tempo, luz também era luxo. Na minha infância, a energia elétrica vinha de um único gerador, usado exclusivamente à noite, quando os televisores eram ligados nas novelas. As janelas da casa de meu avô, que teve uma das primeiras TVs do Paty, ficavam sempre cheias de gente. Era o nosso cineminha.

        [...]

Lázaro Ramos. Na Minha Pele. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. p.16-17.

Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 11-2.

Entendendo a autobiografia:

01 – O texto está organizado em parágrafos, marcados por uma entrada em branco na mudança de linha e um sinal de pontuação final. Releia o primeiro parágrafo.

a)   A qual localidade referem-se as passagens abaixo?

Referem-se à Ilha do Paty, onde o autor nasceu.

I – “[...] Ilha com pouco mais de duzentos habitantes, na Baía de Todos os Santos”.

II – “Uma fração de Brasil praticamente secreta, ignorada pelas modernidades e pelos mapas [...]”.

III – “[...] nem o (quase) infalível, Google Maps conseguiu encontrá-la.”

IV – “[...] terra minúscula [...]”.

b)   Que características do lugar são reforçadas pela caracterização feita pelo autor nas passagens acima?

A pequena dimensão da ilha e seu afastamento em relação às modernidades.

c)   Com base em seu conhecimento de mundo, explique o que vem a ser Google Maps. Por que ele seria quase infalível, segundo o autor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O Google Maps é uma ferramenta digital que localiza lugares em mapas. A ferramenta seria “(quase) infalível” porque há, ao menos, um lugar que ela não localiza – a Ilha do Paty.

d)   O modo detalhado pelo qual o autor apresenta seu local de nascimento é importante para o leitor? Por quê?

Sim, porque o autor o descreve com detalhes e o leitor pode imaginar que ele nasceu num lugar bem pequeno e afastado de tudo.

02 – Identifique no texto mais algumas informações sobre o autor.

a)      Ele ainda mora na ilha? Justifique sua resposta com uma passagem do texto.

Não. Isso pode ser deduzido do trecho: “Até hoje procuro visitar a Ilha todos os anos”.

b)      No último parágrafo, o autor fala de um tempo passado. Que lembranças ele traz para o texto?

Ele fala do tempo em que não havia luz na ilha e se recorda das janelas da casa de seu avô, que funcionavam como cinema, porque dali as pessoas viam televisão.

c)       Com base nas informações do texto, como você imagina a infância do autor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Foi uma criança livre, que viveu em uma ilha sem violência, em contato com a natureza. Tem boas lembranças do avô e dos hábitos da ilha, como andar descalço e aproveitar a generosidade dos habitantes.

d)      Que sentimentos ele parece ter em relação a ilha? Escolha elementos do texto para explicar sua resposta.

Aparenta ter sentimentos positivos, pois afirma, por exemplo, que gosta de visitar o lugar todos os anos e reencontrar os mais velhos. Isso o faz “encontrar um sentimento de inocência uma felicidade descompromissada”, que só sente em seu lugar de origem.

03 – O estilo de vida dos moradores da ilha é o mesmo da época em que o autor era criança? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Parece haver poucas mudanças, já que a vida dos habitantes permanece simples (a travessia de canoa, a inexistência de pontes, o hábito de manter as casas abertas, etc.). A principal mudança foi a chegada da luz elétrica.

04 – Nas frases a seguir, aparecem elementos linguísticos, como verbos, pronomes, que indicam ser o próprio autor quem relata sua história.

        “Minha história começa numa ilha.”

        “Até hoje procuro visitar a ilha todos os anos.”

a)   Em que pessoa verbal foi escrito o relato?

Na 1ª pessoa.

b)   Destaque do texto mais uma passagem que confirme o uso dessa pessoa verbal.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “Gosto de entender minha origem e receber um abraço afetuoso dos mais velhos”; “Vou também para encontrar um sentimento de inocência, uma felicidade descompromissada, que só sinto por lá”.

c)   Indique as duas alternativas corretas. Esse tipo de relato:

(X) Produz um efeito de verdade, de que o autor conta o que de fato aconteceu na vida dele.

(  ) Tem efeito de dissimulação e incerteza, porque o autor admite estar inventando tudo.

(   ) Afasta autor e leitor, porque esse último desconfia do que lê, já que tudo parece invenção.

(   ) Constrói efeito de fantasia e ficção, porque nada do que se conta parece ter verdadeiramente acontecido.

(X) Aproxima autor e leitor, porque este último acredita na sinceridade do relato pessoal.

05 – Na seção Antes da leitura você e seus colegas pensaram em algumas hipóteses sobre o conteúdo do livro “Na Minha Pele”, depois de ler o texto suas ideias iniciais se confirmaram? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.     

06 – No texto aparecem algumas formas abreviadas, ou seja, reduzidas, de expressões, como oxente, que significa “O que é isso, minha gente”; e Ó paí, ó em vez de “Olhe pra isso, olhe”.

a)   As expressões abreviadas usadas pelos habitantes da ilha mostram um uso próprio da região. Em que situações essas expressões são empregadas por eles?

No dia-a-dia, nas conversas entre eles, no uso cotidiano.

b)   O autor diz que é “mais gostoso” usar a forma abreviada tomaquê do que a frase completa “me tome aqui, do outro lado da margem”.

Os falantes são os habitantes da ilha e essa é a forma usada por todos da região para pegar a canoa no dia-a-dia; é uma forma familiar, mais simples e mais direta, que identifica os moradores da ilha e todos de lá a reconhecem.

c)   Você provavelmente utiliza expressões como essas ou outras abreviações em seu dia-a-dia. Discorra sobre algumas situações em que você as utiliza.

Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia a seguinte passagem do texto.

        “Graças à sua refinaria de petróleo, São Francisco do Conde é um dos municípios mais ricos do país. (....) Essa dinheirama, porém, não chega até o cotidiano de quem mora no Paty. [...]”.

a)   Em vez de usar a palavra dinheiro, o autor preferiu dizer dinheirama. O que significa a palavra empregada?

Muito dinheiro.

b)   O autor usa a palavra num contexto em que está criticando a distribuição do dinheiro arrecadado pelo município. Qual é a crítica que ele faz?

Ele diz que o munícipe é um dos mais ricos do país por causa da refinaria de petróleo, mas que o dinheiro não ajuda a melhorar o dia-a-dia da população.

c)   Pode-se dizer que o aumentativo empregado ajuda a construir a crítica? Por quê?

Sim, porque, ao usar o aumentativo, o autor quis mostrar que a quantidade de dinheiro é muito grande. Isso reforça a crítica: se é tanto dinheiro, por que os moradores não veem melhorias em seu dia-a-dia?

 

AUTOBIOGRAFIA: JOSÉ SARAMAGO(FRAGMENTO) - FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO - COM GABARITO

 Autobiografia: José Saramago (Fragmento)

              Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal.

        [...]

        Fui bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano. Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos…) tesoureiro da associação académica… Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter “antológico”, que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.

        [...]

José Saramago. Autobiografia de José Saramago. Fundação José Saramago. Disponível em: www.josesaramago.org/autobiografia-de-jose-saramago. Acesso em: 29 mar. 2018.

Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 36-7.

Entendendo a autobiografia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Alcunha: apelido, nome não oficial criado para identificar alguém com base em uma característica específica dessa pessoa.

·        Antológico: algo notável, exemplar, que merece ser lembrado; pertencente a uma antologia ou coletânea de textos.

·        Fadado: destinado (a algo).

·        Fruição: prazer.

·        Herbáceo: relativa ou semelhante a erva.

·        Liceu: estabelecimento em que antigamente era ministrado o Fundamental II e o Ensino Médio.

·        Tesoureiro: pessoa responsável pelo dinheiro e pelas finanças de uma empresa, instituição, etc.

02 – Você deve ter percebido que a grafia de certas palavras do texto é diferente da grafia delas no português do Brasil.

a)   Observe as palavras quilómetros e académica. Como são grafadas no Brasil? O que a diferença indica?

No Brasil, são grafadas quilômetro e acadêmica. Indica que a vogal com acento agudo, em Portugal, é aberta, e no Brasil, com acento circunflexo, é fechada.

b)   Em certas palavras, os portugueses usam consoantes que indicam uma particularidade da pronúncia deles, diferente da pronúncia brasileira. Encontre no texto a forma da palavra noturnos tal como é usada em Portugal.

Nocturnos.

c)   Em outros casos, os portugueses eliminam uma consoante, como na palavra registo. Qual é a forma usada no português do Brasil?

Registro.

03 – O tema principal do trecho lido é:

a)   O surgimento do gosto pela literatura.

b)   A pobreza dos camponeses portugueses.

c)   Os problemas de identidade do narrador.

d)   A dificuldade de estudar francês e literatura em uma escola de ensino profissional.

04 – Releia o trecho a seguir:

        “[...] Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter “antológico”, que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. [...]”.

·        Consulte o glossário e responda às questões.

a)   Por que o autor afirma que os livros escolares de Português têm caráter antológico?

Porque os livros escolares reúnem textos e esses textos são exemplares, são textos importantes e representativos.

b)   Por que, segundo o autor, a leitura desses livros abriu para ele as portas para a “fruição literária”?

Porque ele passou a gostar de Literatura. A leitura dos textos, nos livros escolares, fez com que descobrisse o prazer da literatura.

05 – O trecho em que o autor da autobiografia aparece em 1ª pessoa é:

·        “A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional [...]”.

·        “[Cabe esclarecer que Saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres]”.

·        “E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.”

·        “O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura.”

06 – Releia o trecho a seguir e responda às questões.

        “Fui bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano. Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos…) tesoureiro da associação académica… Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. [...]”.

a)   Predominam sequências de que tipo?

Narrativas.

b)   Qual marcador temporal introduz a passagem do narrador de uma fase escolar a outra?

Depois.

 

ARTIGO DE OPINIÃO: O PROGRESSO DA CIÊNCIA - TATIANA ROQUE - COM GABARITO

 Artigo de opinião: O progresso da ciência

Por Tatiana Roque – 17/06/2018 0:00

 Uma artimanha para enfraquecer as instituições públicas de ensino e ciência, reduzindo seu orçamento, é apresentá-las como dissociadas da sociedade, sorvedoras de recursos e descompromissadas com o desenvolvimento social e econômico. Para desmontar essa armadilha, a comunidade acadêmica precisa iluminar as pontes que ligam o conhecimento aos avanços do país. A universidade será mais forte quanto mais parecer robusta, transparente e útil aos olhos da população.

        O Brasil produz a maior parte de suas vacinas, economiza importações e erradica doenças. No auge da Zika, encontramos uma resposta rápida para a relação com a microcefalia. Ficamos fortes na indústria de medicamentos e na inovação em petróleo e gás. Tudo surgiu de arranjos entre empresas, universidades, institutos de pesquisa e órgãos do governo.

        Nossas instituições sofrem com cortes de verba quando mais precisam caminhar em direção à inovação tecnológica e social. O Ipea mostrou que empresas inovadoras pagam melhores salários e geram empregos mais estáveis. São mais produtivas. O investimento em ciência básica é público em qualquer país, mas a inovação é um processo interativo, com transferência de conhecimento ao tecido produtivo.

        Em 2016 o Brasil aprovou o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, regulamentado em 2018. É uma lei que incentiva as relações entre pesquisa pública e tecido produtivo, reduzindo a burocracia. Órgãos públicos passaram a ter o direito de compartilhar laboratórios, equipamentos, materiais e instalações e a negociar direitos de exploração de produtos e tecnologias. Foram reduzidos entraves excessivos da Lei 8.666 e a insegurança jurídica dos investimentos em pesquisa.

        Mecanismos já aplicados com sucesso em áreas tecnológicas devem agora se tornar disponíveis para áreas como cultura e ciências sociais. Entre universidade, empresa e sociedade há camadas que estimulam a integração, como parques tecnológicos e centros de inovação. Programas em ciência, cultura e tecnologia têm grande potencial para dinamizar a economia criativa, especialmente no Rio de Janeiro. São um caminho para reaquecer as cadeias produtivas do audiovisual e dos jogos eletrônicos, por exemplo.

        É possível encontrar soluções sustentáveis para segurança alimentar e nutricional, energia, habitação, saúde, saneamento, meio ambiente, agricultura familiar, geração de emprego e renda. A meta já constava do documento da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2010. Ele propõe tornar mais eficiente e ágil a máquina pública — diminuindo a burocracia, um instrumento de exclusão social — e a apropriação da C&T pelas comunidades locais. Temos bons planos e infraestrutura de pesquisa para o Brasil encontrar um modelo de desenvolvimento mais justo, sustentável e menos dependente de bens primários. Basta vontade política para implementá-los.

Tatiana Roque é professora de Matemática e Filosofia da UFRJ

         ROQUE, Tatiana. O progresso da ciência. O Globo, Rio de Janeiro, 17 jun. 2018. Opinião, p. 19.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 350-7.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Dissociado: separado, desagregação, apartado.

·        Microcefalia: é uma condição neurológica na qual a cabeça e o cérebro são de um tamanho menor que o normal, o que prejudica o desenvolvimento mental.

·        Sorvedor: relativo a desperdício, a fazer mau uso de algo.

·        Zika: doença notificada no Brasil pela primeira vez em 2015, ligada ao sistema neurológico e caracterizada por febre e dores nas articulações, entre outros sintomas.

02 – Converse com seus colegas e professor sobre as hipóteses que você levantou antes da leitura.

a)   Sua expectativa sobre o posicionamento da autora se confirmou?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Os argumentos que você encontrou no artigo foram os que você pensou que encontraria?

Resposta pessoal do aluno.

03 – O tema do artigo de opinião da professora Tatiana Roque é o progresso da ciência. Qual é o ponto de vista defendido por ela?

      Ela defende que o progresso da ciência depende de vontade política para implementar planos já existentes que promovem a integração entre empresa, universidade e sociedade.

04 – Em artigos de opinião, a escolha do vocabulário feita pelo autor é muito importante, uma vez que o uso de determinadas palavras funciona como estratégia para explicitar ou ocultar uma opinião sobre o que está sendo discutido.

a)   No primeiro parágrafo do artigo são usadas as palavras artimanha e armadilha. A que elas se referem?

Elas se referem à visão errônea, no ponto de vista da autora, de que as instituições de ensino e ciência estão dissociadas da sociedade, representam desperdício de recursos e não têm compromisso com o desenvolvimento social e econômico.

b)   Qual a finalidade da autora ao utilizar essas palavras?

Essas palavras são usadas pela autora para explicitar seu posicionamento sobre os argumentos em relação às universidades.

c)   Com essas palavras a autora mostra sua concordância ou discordância sobre o que está sendo discutido?

Ela mostra sua discordância deixando claro que esse argumento é um engano.

05 – Em um artigo de opinião, o autor costuma apresentar, no início, seu ponto de vista a respeito do tema sobre a qual vai desenvolver sua argumentação.

a)   Marque a afirmação que evidencia a estratégia escolhida por Tatiana Roque para iniciar seu texto argumentativo.

(  ) A argumentação inicia-se com a apresentação de fatos concretos sobre as instituições públicas de ensino e ciência.

(  ) A argumentação começa com uma comparação entre o passado e o presente das universidades.

(  ) A argumentação é introduzida com a observação de uma mudança na linha do tempo.

(X) A argumentação começa rebatendo os argumentos contrários ao ponto de vista que se quer defender.

b) Justifique sua resposta.

Tatiana Roque parte de contra-argumentos para construir a argumentação a favor de sua posição.

06 – No primeiro parágrafo do artigo, a autora apresenta uma missão para a comunidade acadêmica.

a)   Qual é essa missão?

A missão apresentada por Tatiana é que cabe à comunidade acadêmica mostrar à sociedade como o conhecimento e os avanços do país caminham juntos.

b)   É possível concluir que a autora se sente responsável por essa missão? Por quê?

Sim, porque, no artigo, ele procura, por meio de argumentos, mostrar como a universidade e as parcerias são importantes para o avanço do país.

07 – Qual alternativa a seguir é a correta em relação à linguagem empregada no texto?

(  ) No texto, predomina uma linguagem pessoal, cuja principal marca é o uso da 1ª pessoa do singular.

(X) No texto, predomina uma linguagem relativamente impessoal, com emprego da 1ª pessoa do plural.

(  ) No texto, predomina uma linguagem impessoal, com emprego de verbos e pronomes na 3ª pessoa do singular.

·        Justifique sua resposta.

A autora toma certo distanciamento para falar a respeito do tema, mas, em determinados momentos, ela emprega a 1ª pessoa do plural, como recurso de generalização. Por exemplo, no trecho “Temos bons planos [...]”, o “nós” representa todos os brasileiros, incluindo a autora. Já no início do texto, a 1ª pessoa do plural funciona para sinalizar que ela pertence ao grupo da “comunidade científica”.

08 – Volte ao segundo parágrafo do artigo e observe os argumentos que a autora apresenta para comprovar o papel das instituições de ensino e ciência no Brasil. Agora responda:

a)   Quais exemplos a autora apresenta como argumentos?

Ela argumenta que as universidades, em parceria com empresas, institutos de pesquisa e órgãos do governo, conseguiram desenvolver estudos sobre zika vírus, vacinas e medicamentos. Também cita a inovação em petróleo e gás.

b)   Esses exemplos têm relação com qual trecho do primeiro parágrafo?

·        Justifique sua resposta.

Esses exemplos têm relação com o contra-argumento no primeiro parágrafo, principalmente com o trecho “Uma artimanha é [...] apresenta-las como dissociadas da sociedade”. Os exemplos buscam convencer o leitor de que as universidades estão atentas às questões da sociedade.

09 – Releia o terceiro parágrafo do artigo de opinião e responda:

a)   De que maneira os cortes de verbas nas instituições de ensino e ciência impactam na inovação tecnológica e social?

Os cortes impedem que as instituições caminham em direção à inovação tecnológica e social, uma vez que comprometem a produtividade e a estabilidade.

b)   Nesse parágrafo a autora cita uma fonte de referência. Qual?

Ela cita o Ipea, fonte de referência em estudos ligados à política pública.

·        Na sua opinião, por que é importante citar uma fonte de referência em um artigo de opinião?

A citação de fonte de referência em artigo de opinião funciona como argumento de autoridade. Ao citar o Ipea, ela reforça sua visão sobre a importância do investimento em ciência e inovação.

10 – Leia um trecho da notícia publicada no portal da Agência Brasil sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação e responda às questões.

        Governo regulamenta Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação

        Publicado em 08/02/2018 – 14:14

        Por Yara Aquino – Repórter da Agência Brasil Brasília

        O Diário Oficial da União de hoje (8) publicou decreto que regulamenta o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei n° 13.243/2016) e traz a expectativa de desburocratizar as atividades de pesquisa e inovação no país. As novas regras criam mecanismos para integrar instituições científicas e tecnológicas e incentiva investimentos em pesquisa.

        [...]

AQUINO, Yara. Governo regulamenta Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. Agência Brasil, Brasília, 8 fev. 2018. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2018-02/governo-regulamenta-marco-legal-da-ciencia-tecnologia-e-inovacao. Acesso em: 25 jul. 2019.

a)   Qual é a relação entre esse fato noticiado e a questão abordada no artigo de opinião?

A autora se posiciona favoravelmente ao fato noticiado: a regulamentação do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, considerado, por ela, um bom plano para o desenvolvimento da C&T no Brasil.

b)   Essa regulamentação resolve qual problema à Lei n° 8.666, citada no quarto parágrafo do artigo de opinião “O progresso da ciência”? Por quê?

A regulamentação resolve os problemas burocráticos e a insegurança jurídica dos investimentos em pesquisa, porque incentiva as relações entre pesquisa pública e tecido produtivo, permitindo o compartilhamento de laboratórios, materiais, instalações e a negociação dos direitos de produtos e tecnologias.

c)   Qual palavra expressa a opinião da autora Tatiana Roque, sobre a Lei n° 8.666?

É a palavra excessivos, que demonstra a opinião da autora sobre os entraves da Lei 8.666.

11 – A autora mostra-se favorável à parceria entre universidade, empresa e sociedade na área de inovação e tecnologia.

a)   Quais argumentos apresentados no texto buscam convencer o leitor sobre esse posicionamento?

A autora cita os benefícios econômicos e a possibilidade de criação de um modelo de desenvolvimento mais justo, sustentável e menos dependente de bens primários.

b)   Com relação ao custeio da ciência básica, qual é a posição da autora?

Ela defendeu o investimento público em ciência básica, como é feito em outros países do globo.

12 – Releia o trecho do quinto parágrafo:

        Mecanismos já aplicados com sucesso em áreas tecnológicas devem agora se tornar disponíveis para áreas como cultura e ciências sociais. Entre universidade, empresa e sociedade há camadas que estimulam a integração, como parques tecnológicos e centros de inovação. Programas em ciência, cultura e tecnologia têm grande potencial para dinamizar a economia criativa, especialmente no Rio de Janeiro. São um caminho para reaquecer as cadeias produtivas do audiovisual e dos jogos eletrônicos, por exemplo.”

ROQUE, Tatiana. O progresso da ciência. O Globo, Rio de Janeiro, 17 jun. 2018. Opinião, p. 19.

a)   De acordo com a autora, quais são os benefícios que a integração tecnológica trará ao serem estendidos para as áreas de cultura e ciência sociais?

Para a autora, os benefícios são a maior integração entre universidade, empresas e sociedade, a dinamização da economia criativa e o reaquecimento das cadeias produtivas do audiovisual e dos jogos eletrônicos.

b)   Na sua opinião, por qual razão a autora destaca o Rio de Janeiro?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Possivelmente porque conhece melhor a realidade fluminense, uma vez que trabalha na UFRJ. Além disso, pode ter sido uma estratégia para dialogar com os leitores de O Globo, um jornal com sede e grande circulação no Rio de Janeiro.

13 – Releia o último parágrafo do artigo de opinião e responda:

        “É possível encontrar soluções sustentáveis para segurança alimentar e nutricional, energia, habitação, saúde, saneamento, meio ambiente, agricultura familiar, geração de emprego e renda. A meta já constava do documento da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2010. Ele propõe tornar mais eficiente e ágil a máquina pública — diminuindo a burocracia, um instrumento de exclusão social — e a apropriação da C&T pelas comunidades locais. Temos bons planos e infraestrutura de pesquisa para o Brasil encontrar um modelo de desenvolvimento mais justo, sustentável e menos dependente de bens primários. Basta vontade política para implementá-los.”

                   ROQUE, Tatiana. O progresso da ciência. O Globo, Rio de Janeiro, 17 jun. 2018. Opinião, p. 19.

a)   O que a autora cita de positivo na conclusão do seu artigo?

Ela cita a existência de planos e infraestrutura de pesquisa no Brasil.

b)   Qual ressalva ela faz no fechamento do texto? Por quê?

Ela ressalva que é preciso vontade política para implementar os planos que já existem.