Causo: Dois
caboclos na enfermaria
Rolando
Boldrin
Lá na minha terra tinha um caboclo que
vivia reclamando de uma dor na perna. E, coincidentemente, um compadre dele
tinha também a mesma dor na perna, e também estava sempre reclamando da danada.
Só que nenhum deles tinha coragem de ir
ao médico. Ficavam mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de
jeito nenhum. Até que um deles teve uma ideia:
Caboclo 1 – Ê, cumpadi, nóis
véve sofrendo muito com a danada dessa dor na perna... Por que é
que nóis num vamu junto no dotô? Vamos lá. A gente faz
a consulta, e tal, se interna no mesmo quarto... Daí fazemo o
tratamento e vemo o que acontece. Se curar, tá bom demais!
O compadre gostou da ideia, tomou
coragem e lá se foram os dois.
Quando chegaram ao hospital, o médico
pediu para o primeiro deitar na cama e começou a examinar. Fez algumas
perguntas e foi apertando a perna do caboclo:
Doutor – Dói aqui?
Caboclo 1 – Aiiii...
Doutor – E aqui, como é que está?
Caboclo 1 – Aii, aii, aii! ... Dói
demais!
E o outro só olhando. Quando chegou a
vez dele, o médico foi cutucando, apertando, mas nada de ele gemer. Ficou
quieto o tempo todo. Aí o médico foi embora e o compadre estranhou:
Caboclo 1 - Mas, cumpadi... a
minha porta doeu demais da conta com os aperto do hômi... Como é que a sua
não doeu nadica de nada?
Caboclo 2 – E ocê acha que eu
vou dá a perna que dói pro hômi apertá?!?!?!
Rolando Boldrin. Dois caboclos na
enfermaria. In: ANDREATO, Elifas. Brasil – Almanaque de cultura popular. 2017.
Fonte: Livro
– Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP
5ª edição- 2018. p. 197-9.
Entendendo o causo:
01 – O causo é iniciado com
a expressão: “Lá na minha terra”.
Responda:
a)
Por que narrador inicia o causo dessa forma?
Porque ele está se apresentando como contador de causo e utiliza
essa expressão para dar uma ideia de veracidade ao fato, por ter acontecido em
sua terra.
b)
O foco narrativo está em primeira ou em
terceira pessoa? Explique.
Embora o narrador use o pronome em primeira pessoa minha, o foco
narrativo está em terceira pessoa, porque ele não participa dos fatos que
conta.
02 – Releia os dois
primeiros parágrafos do causo e responda:
a)
Como o narrador apresenta os personagens?
Um caboclo que sentia dor na perna e, coincidentemente, um compadre
dele, outro caboclo, com a mesma dor, mas que não procuravam um médico.
b)
Vivendo uma situação em comum, o que os dois
personagens decidem?
Ir até o hospital juntos procurar um médico.
c)
Pesquise no dicionário o significado da
palavra caboclo.
Indivíduo mestiço, filho de branco com indígena; indivíduo simples
do sertão, com pele bronzeada de sol e cabelos lisos; pessoa da área rural;
caipira.
d)
Qual(is) desses significados pode(m)
relacionar-se ao causo?
Indivíduo simples do sertão; pessoa da área rural; caipira.
03 – Releia o trecho a
seguir:
“Ficavam
mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de jeito nenhum.”
a)
Que características dos personagens o
narrador está enfatizando nesse trecho? Explique.
São enfatizadas a teimosia e a desconfiança dos personagens.
b)
Em sua opinião, o que a atitude dos
personagens pode revelar sobre o comportamento de muitas pessoas em relação a
procurar um médico?
Resposta pessoal do aluno.
04 – Para prender a atenção
e criar expectativa no leitor/ouvinte, o contador relata os mínimos detalhes da
ida dos dois personagens ao médico. Responda:
a)
Quais detalhes são descritos da consulta do
caboclo 1?
O médico pediu que se deitasse na cama, fez perguntas e apertou a
perna dele, que sentiu muita dor, enquanto seu compadre olhava.
b)
Quais detalhes são descritos da consulta do
caboclo 2?
O médico foi cutucando, apertando, mas nada de ele gemer.
05 – Releia o diálogo entre
o médico e o caboclo 1.
“Quando
chegaram ao hospital, o médico pediu para o primeiro deitar na cama e começou a
examinar. Fez algumas perguntas e foi apertando a perna do caboclo:
Doutor – Dói aqui?
Caboclo 1 – Aiiii!
Doutor – E aqui, como é que está?
Caboclo 1 – Aii, aii, aii! ... Dói
demais!”
a)
Embora o texto lido seja um causo, com que
outro gênero textual ele se assemelha? Explique as semelhanças.
As semelhanças se apresentam pelo nome dos personagens antecedendo
suas falas e pela forma como as frases estão colocadas, como se o personagem
estivesse dramatizando.
b)
Que recursos linguísticos são usados para
expressar a sensação do personagem que está sob cuidados médicos?
Uso da interjeição “Aiiii” e da pontuação expressiva com os pontos
de exclamação.
c)
Que efeito de sentido o autor promove ao usar
esses recursos na fala do personagem?
Para tornar a história interessante, o contador usa diferentes
recursos expressivos de linguagem, como o recurso do uso de interjeição e do
ponto de exclamação.
d)
É possível observar, no trecho destacado
acima, que, além do discurso direto, o autor utiliza o discurso indireto.
Transcreva os trechos em que isso ocorre.
“[...] o médico pediu
para o primeiro deitar na cama [...]”; “[o médico] Fez algumas perguntas.”
06 – Leia o quadro a seguir
sobre o gênero textual causo.
Os causos
são histórias de tradição oral, contadas, geralmente, em uma linguagem
espontânea, que registra o jeito de falar típico de determinada região ou
localidade. Envolvem fatos pitorescos (inusitados, curiosos, surpreendentes),
reais, fictícios ou ambos; e podem ou não envolver o narrador.
Os contadores
de causos apresentam vários recursos que costumam prender a atenção de
seus ouvintes, como entonação, gestos, suspense, efeitos de surpresa, humor,
etc. Características como sotaque e vocabulário da região são naturais a muitos
deles.
Responda:
a)
Que fato pitoresco é contado no causo?
Dois “caboclos” que sentiam uma dor danada na perna resolveram ir
juntos ao médico. Um deles foi examinado e sentiu uma dor horrível quando o
médico apertou a perna dele. O outro não demonstrou nenhuma reação no momento
do exame. Ao ser questionado pelo companheiro se a perna não tinha doido quando
foi examinada, ele disse que não mostrou a perna que doía, para o médico não
apertar.
b)
Segundo o contador, essa história é real ou
fictícia? E você, o que acha?
De acordo com o contador, a história é lá da terra dele, então, para
ele, é real. Resposta pessoal do aluno.
c)
Que fato provoca efeito de humor no leitor ou
ouvinte do causo?
É o fato de o caboclo ter mostrado a perna boa para o médico não
apertar a perna que doía.
07 – Nos diálogos, os
caboclos e o médico representam de forma diferente os modos de falar dos
personagens. Responda:
a)
Qual variedade linguística é usada para
representar o modo de falar dos caboclos?
A variedade regional do português brasileiro.
b)
Na fala dos caboclos, que efeito de sentido o
uso dessa variedade linguística pode provocar?
O modo de falar possibilita caracterizar melhor os personagens e
inferir seus valores humanos e sociais.
c)
Qual é a variedade linguística usada para
representar o modo de falar do médico?
O modo de falar do médico emprega a variedade urbana de prestígio,
de acordo com a norma-padrão da língua.
d)
Na fala do médico, que efeito de sentido o
uso dessa variedade linguística pode provocar?
Resposta pessoal do aluno.