terça-feira, 7 de julho de 2020

CRÔNICA: A LIÇÃO DA BORBOLETA - AUTOR DESCONHECIDO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A Lição da Borboleta


Um homem, certo dia, viu surgir uma pequena abertura num casulo. Sentou-se perto do local onde o casulo se apoiava e ficou a observar o que iria acontecer, como é que a lagarta conseguiria sair por um orifício tão miúdo. Mas logo lhe pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso, como se tivesse feito todo o esforço possível e agora não conseguisse mais prosseguir. Ele resolveu então ajuda-la: pegou uma tesoura e rompeu o restante do casulo. A borboleta pôde sair com toda a facilidade… mas seu corpo estava murcho; além disso, era pequena e tinha as asas amassadas.

        O homem continuou a observá-la porque esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se estendessem para serem capazes de suportar o corpo que iria se firmar a tempo. Nada aconteceu! Na verdade a borboleta passou o restante de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Nunca foi capaz de voar.

        O que o homem em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura eram o modo pelo qual Deus fazia com que o fluido do corpo daquele pequenino inseto circulasse até suas asas para que ela ficasse pronta para voar assim que se livrasse daquele invólucro.

        Algumas vezes o esforço é justamente aquilo de que precisamos em nossa vida. Se Deus nos permitisse passar através da existência sem quaisquer obstáculos, Ele nos condenaria a uma vida atrofiada. Não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nunca poderíamos alçar voo.

Autor Desconhecido.

Entendendo a crônica:

01 – Esse texto é marcado por uma linguagem:

a)   Científica.

b)   Informal.

c)   Jornalística.

d)   Regional.

02 – O assunto desse texto é:

a)   A transformação da lagarta.

b)   A descrição de um casulo.

c)   A solidariedade do homem.

d)   Os obstáculos da vida da borboleta.

03 – O autor utiliza-se desse texto para falar sobre a transformação. Qual é, de fato, a grande lição que ele quer transmitir?

a)   A natureza precisa da ajuda do ser humano.

b)   As pessoas não são capazes de voar.

c)   A força vem dos obstáculos que enfrentamos.

d)   Muitas vezes, perdemos as forças para continuar.

04 – Esse texto é:

a)   Um classificado.

b)   Uma crônica.

c)   Um conto.

d)   Uma notícia.

 


MÚSICA(ATIVIDADES): PARA O MANO CAETANO -LOBÃO - COM GABARITO

Música(Atividades): Para o Mano Caetano

                                  Lobão

O que fazer do ouro-­de-tolo quando um doce bardo brada à toda a brida, em velas pandas, suas esquisitas rimas?

Geografia de verdades, Guanabaras postiças saudades banguelas, tropicais preguiças? A boca cheia de dentes de um implacável sorriso morre a cada instante que devora a voz do morto, e com isso, ressuscita vampira, sem o menor aviso.

A voz do morto que não presta depoimento perpetua seu silêncio de esquecimento na lápide pós ­ moderna do eterno desalento:

E é o Raul, é o Jackson, é o povo brasileiro. É o hip hop, a entropia, entropicália do pandeiro do passado e do futuro, sem presente nem devir.

É o puteiro que os canalhas não conseguem habitar mas cafetinam. É a beleza de veludo que o sub-mundo tem pra dar mas os canalhas subestimam.

E regurgitando territórios-corrimões de um rebolado agonizante resta o glamour fim-de-festa-ACM de um império do medo carnavalizante.

Será que a hora é essa? A boca cheia de dentes vaticina: Não pros mano, Não pras mina. Sim pro meu umbigo, meu abrigo minhas tetas profanadas, Santo Amaro. Doce amaro, vacas purificadas.

Amaro bárbaro, Dândi-dendê. Minhas narinas ao relento cumulando de bundões que, por anos acalento. Estes sim, um monte de zé ­ mané que sob minha égide se transformam em gênios sem quê nem porquê.

Sobrancelho Victor Mature, delineando darravento. Eu americano? Não! Baiano! Soy lobo por ti Hollywood quem puder me desnature sob o sol de Copacabana. E eu soy lobo-bolo? Lobo-bolo. Tipo, pra rimar com ouro-de-tolo?

Oh, Narciso Peixe Ornamental! Tease me, tease me outra vez ou em banto baiano. Ou em português de Portugal. Se quiser, até mesmo em americano de Natal. Isso é língua! Língua é festa! Que um involuntário da fátria com certeza me empresta.

Numa canção de exílio manifesta, aquele banzo baiano. Meu amado Caetano, me ensinando a falar inglês, London, London. E verdades, que eu, Lobón contesto, como empolgado aprendiz, enviando esta aresta a quem tanto me disse e diz:

Amado Caetano: Chega de verdade! Viva alguns enganos! Viva o samba, meio troncho, meio já cambaleando. A bossa já não é tão nova como pensam os americanos.

A tropicália será sempre o nosso Sargeant Pepper pós baiano!

O Roque errou, você sabe disso. Digo isso sem engano. E eu sei que vou te amar, seja lá como for, portanto um beijo no seu lado super bacana. Uma borracha no dark side-macbeth-ACM por enquanto.

Ah! Já ia me esquecendo. Lembranças do Ariano.

Lupicínias saudações aqui do mano!

Esta bala perdida que te fala, rapá!

Te amo, te amo.

                                      Composição: Lobão.

Entendendo a canção:

01 – Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:

a)   “Quando um doce bardo brada a toda brida”. (V. 2).

b)   “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (V. 2).

c)   “Que devora a voz do morto”. (V. 5).

d)   “Lobo-bolo / Tipo pra rimar com ouro de tolo?” (V. 27-8).

e)   “Tease me, tease me outra vez” (V. 29).

02 – Por que esta canção é considerada uma querela (amorosa) entre Caetano Veloso e Lobão?

      Porque no ano 2.000, Caetano Veloso lançou a canção “Rock’n Raul”, uma homenagem a obra de Raul Seixas. Na canção ele faz às vezes de ghostwriter do espírito de Raul, que, por sua vez, autobiograficamente, passa em revista sua estadia por aqui, pelo mundo dos vivos, entre outras coisas, apontando seus herdeiros: “Manos” que tentam implantar o jeito norte-americanês de sobreviver: a ideologia da segregação racial explícita, cantada pelo rap e hip hop, por exemplo, que se desvia da linha de cordialidade brasileira.

03 – Esta canção com “rimas esquisitas” é considerada uma bala que percorre a biografia estética e social de Caetano Veloso, por quê?

      Porque esta bala não é tão perdida quanto quer ser, pois tem destino certo: as verdades que o outro tenta construir.

04 – Segundo Barthes (2003, p. 221) “O crítico não pode pretender ‘traduzir’ a obra, sobretudo de modo mais claro, pois não há nada mais claro do que a obra”. Que crítica é feita por Lobão?

      Lobão investe em uma crítica não do mundo, mas do discurso ficcional, analisa e destrói para coroar com o “eu te amo”, em repetições cansadas, no final de seu testemunho. A crítica é uma leitura profunda: de quem ama.

05 – Como ele usa a figura de linguagem ironia na canção?

      Sua ironia está em fazer perguntas à linguagem de Caetano Veloso, utilizando a própria linguagem dele.

06 – Cite um fragmento de outra canção que há em “Para o mano Caetano”.

      A expressão “a boca cheia de dentes” vem dos versos “eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”, música: Ouro-de-tolo – Raul Seixas.

07 – Ao final, é o próprio Lobão quem convida Caetano a suspender o juízo, a viverem alguns enganos e manter a dúvida, por quê?

      Porque a dúvida é quem permite ao sujeito continuar a querer saber.


POEMA: SEGUNDA CANÇÃO DE MUITO LONGE - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

Poema: Segunda canção de muito longe

              Mário Quintana

Havia um corredor que fazia cotovelo:

Um mistério encanando com outro mistério, no escuro...

 

Mas vamos fechar os olhos

E pensar numa outra cousa...

 

Vamos ouvir o ruído cantado, o ruído arrastado das correntes no algibe,

Puxando a água fresca e profunda.

Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas.

Nós nos debruçávamos à borda, gritando os nomes uns dos outros,

E lá dentro as palavras ressoavam fortes, cavernosas como vozes de leões.

Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu.

Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal, que limitava o mundo,

Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais, os grilos e as estrelas...

Havia todos os ruídos, todas as vozes daqueles tempos...

As lindas e absurdas cantigas, tia Tula ralhando os cachorros,

O chiar das chaleiras...

Onde andará agora o pince-nez da tia Tula

Que ela não achava nunca?

A pobre não chegou a terminar a Toutinegra do Moinho,

Que saía em folhetim no Correio do Povo!...

A última vez que a vi, ela ia dobrando aquele corredor escuro.

Ia encolhida, pequenininha, humilde. Seus passos não faziam ruído.

E ela nem se voltou para trás!

Mario Quintana.

Entendendo o poema:

01 – No poema, o eu lírico retorna à infância embalado pelas recordações do passado, que é evocado em uma linguagem subjetiva. Na primeira estrofe, ocorre-lhe a imagem de um corredor. A partir da leitura desse trecho, pode-se inferir que:

a)   Como esse corredor era escuro e terminava numa curva fechada (dificilmente enxergamos o que vem depois dela), a intersecção dele com o outro corredor era um ponto de mistério.

b)   O mistério deixa de existir quando o eu lírico encontra seus amigos do outro lado da curva fechada.

c)   O corredor é, somente, um pretexto para que o eu lírico fique afastado das brincadeiras.

d)   O eu lírico nunca atingira o outro lado do corredor.

02 – A partir da segunda estrofe, o eu lírico continua a convocar o leitor a acompanha-lo em suas novas lembranças. Tendo em vista tal citação, pode-se concluir que a palavra que marca uma mudança dos fatos entre a primeira e as demais estrofes é ......................., apresentando o sentido de ...............................

a)   E / adição.

b)   Vamos / convite.

c)   Mas / oposição.

d)   Olhos / realidade.

03 – Que temática é abordada no poema, se baseando no título?

      O título direciona a temática para um passado distante, perdido ou esquecido na memória do sujeito poético.

04 – O poeta abre a sua produção com o verbo “haver” no pretérito imperfeito que se repete ao longo do texto em três versos seguintes para evidenciar o quê?

      Que embora a ação seja passada, ela permanece ressoando no presente, pois trata-se de fatos inacabados e, portanto, ainda persistentes.

05 – Nos versos: “Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal, que limitava o mundo”. O que o sujeito poético nos fala no verso sublinhado?

      Que o muro do quintal limita o mundo exterior e interior. O exterior configura-se no desconhecido, no mundo perigoso, já o mundo interior sintetiza a proteção o acalanto e os prazeres da infância protegida.

06 – Por que o corredor é símbolo de mistério?

      Porque a dimensão da casa é percebida pela indicação do corredor, que fazia cotovelo, aumentando o enigma do espaço, pois não se podem vislumbrar fatos que ocorrem no seu final.

07 – Que ruídos da infância o sujeito poético nos conduz?

      A água do poço, o chiar das chaleiras liga-se à ideia do aconchego do lar e ao preparo de refeições.    

 

 


POEMA: A LUA É DO RAUL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: A lua é do Raul

              Cecília Meireles

Raio de lua.

Luar.

Lua do ar

azul.

Roda da lua.


Aro da roda

na tua

rua,

Raul!

Roda o luar

na rua

toda

azul.

Roda o aro da lua.

Raul,

a lua é tua,

a lua da tua rua!

A lua do aro azul.

      Cecília Meirelles.

Entendendo o poema:

01 – Leia o trecho abaixo e copie as rimas:

“Raul,

a lua é tua,

a lua da tua rua!

A lua do aro azul.”

      As rimas são: Raul/azul; tua/rua.

02 – Que figura de linguagem há no verso: “A lua é do Raul”?

      Metáfora.

03 – Que versos do poema há repetição de consoante, ou seja, a figura de linguagem chamada aliteração?

      “Roda da lua. / Aro da roda / na tua / rua, / Raul!”

04 – Esse verso do poema “A lua é do Raul”: “Roda o luar / Na rua / Toda / Azul”, significa a mesma coisa que:

a)   A luz da lua à rua e a deixa com o mesmo brilho azul.

b)   A luz da lua chega na rua e um menino andando de bicicleta.

 

 

 


POEMA: AINDA QUE MAL - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Ainda que Mal

             Carlos Drummond de Andrade

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.

Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'

Entendendo o poema:

01 – Analisando o poema quanto:

a)   Estrutura estrófica contém mais do que 10 versos.

b)   Os versos se caracterizam como irregulares.

c)   A rima é interpolada.

d)   A figura retórica presentes neste poema é a anáfora.

02 – De que se trata o poema?

      O eu lírico manifesta todas as contradições e imperfeições que atravessam os relacionamentos amorosos.

03 – Que dificuldade o eu lírico encontra em seu relacionamento?

      Dificuldades de comunicação e compreensão da falta de verdadeiro entendimento ou intimidade entre o casal, o amor prevalece.

04 – Em que verso o eu lírico duvida da própria paixão?

      “Ainda que mal te ame”.

05 – Quase todos os versos do poema consistem em um mesmo tipo de oração subordinada.

a)   Qual é a conjunção subordinada que introduz essas orações?

Ainda que.

b)   Como se classifica essas orações subordinadas?

Subordinadas adverbiais concessivas.

c)   Qual é a oração principal dessas orações adverbiais?

“Ainda assim te pergunto”.

06 – O termo que introduz a maioria dos versos do texto acima estabelece relação de:

a)   Comparação.

b)   Condição.

c)   Concessão.

d)   Conformidade.

e)   Finalidade.

07 – Destaque no poema:

a)   Um verso em que a expressão “ainda que mal” tenha um valor concessivo.

“Ainda que me julgues” e também “Ainda que mal me exprima”.

b)   Um verso em que a expressão “ainda que mal” tenha uma conotação de polidez, indicando cuidado ao introduzir uma pergunta.

“Ainda que mal pergunte”.

08 – As pessoas gramaticais em que estão os verbos e os pronomes empregados no poema permitem deduzir que o assunto diz respeito ao relacionamento entre duas pessoas.

a)   A que pessoas gramaticais se referem os verbos e os pronomes?

As pessoas gramaticais referidas são: Eu (Primeira Pessoa do Singular) e Tu (Segunda Pessoa do Singular).

b)   Qual é o tipo de relacionamento existente entre o eu lírico e a pessoa a quem ele se dirige? Comprove sua resposta com uma palavra do texto.

O poema dá a entender que o eu lírico possui um relacionamento do tipo amoroso para com a pessoa que ele se dirige durante todo o texto. Podemos perceber isso pelo seguinte verso “Me salvo e me dano: Amor”.

09 – As oscilações semânticas da expressão ainda que mal (expressando polidez ou concessão) podem estar relacionadas com o tipo de envolvimento que há entre as duas pessoas. Como parece ser o relacionamento entre elas: seguro e equilibrado ou difícil e oscilante? Justifique com elementos do poema.

      O relacionamento está pendendo para o lado mais do difícil e oscilante. Podemos perceber isso em quase todo o texto com as seguintes expressões: “Mal me julgues”; “mal desculpes”; “mal respondas” e entre outras.

 


POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL

                 Mário de Andrade

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.

Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.

Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!

Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!

Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.

(ANDRADE, Mário. In: Poesias completas. São Paulo, Círculo do Livro, 1976. p. 286-7).

 

Entendendo o poema:

01 – Pesquise o significado das seguintes palavras:

·        Lundu: dança de origem africana segundo Aurélio Buarque de Holanda, desde meados do século XIX, lundu passou a ser também uma canção (modinha) de caráter cômico.

·        Enquizila: aborrece, importuna; variante da palavra quizila, de origem africana.

·        Escurez: o mesmo que escuridão; Mário de Andrade preferia as formas escurez e escureza.

·        Caipora: que traz azar; palavra de origem tupi (caa, ‘mato’; porá, ‘morando’, ‘habitante’) que designa um ente fantástico, o qual, segundo os indígenas brasileiros, provoca desgraças.

·        Capoeira: terreno roçado; assim como a palavra caipira, capoeira é de origem tupi.

·        Gupiara: palavra de origem tupi que designa, em regiões de exploração de ouro, o cascalho ralo que encobre as jazidas.

·        Caruru: palavra de origem africana que designa várias plantas de valor nutritivo, utilizadas em pratos típicos da comida afro-brasileira.

·        Bajé: cidade gaúcha.

·        Pixé: palavra de origem tupi que significa ‘mau cheiro’.

·        Chué: ordinário, de pouco valor.

·        Guariba: macaco.

02 – De que se trata o poema?

      O autor defende, com bom humor e ironia, a importância da cultura popular na formação de uma identidade genuinamente brasileira.

03 – No primeiro verso, o eu lírico se coloca na posição de um escritor que “incomoda muita gente”. A partir do que é apresentado nas demais estrofes, por que isso acontece?

     O incômodo acontece porque em seus poemas ele fala sobre diversas culturas.

04 – O Lundu também é conhecido como: landum; lundum e londu. Faz referência a um canto e dança que teve origem no continente africano e que, posteriormente, foi introduzido aqui no Brasil nosso país. Provavelmente foi trazido por escravos angolanos. Por que o autor usou este termo?

      Porque o termo possibilita ao poema o sentido de mistura de culturas.

05 – Explique o motivo da palavra “xavié” vir entre aspas e as palavras bagé, pixé e chué não?

      Porque foi usada na linguagem coloquial.

06 – Qual o tema principal tratado por Mário de Andrade? O que o poeta critica em seu poema?

      Mário de Andrade fala sobre as diferenças culturais. Critica o desconhecimento / a falta de respeito com nossa língua regional.

07 – No poema, há uma alteração estrutural no que se refere ao uso da:

a)   Métrica.

b)   Rima.

c)   Linguagem de dicionário.

d)   Linearidade do discurso.

08 – A estrofe: “Cortina de brim caipora, / Com teia caranguejeira / E enfeite ruim de caipira, / Fale fala brasileira / Que você enxerga bonito / Tanta luz nesta capoeira.”, escrito entre 1927 e 1928, o que o autor quis dizer?

      O autor ilustra bem o pensamento do escritor paulistano, que propunha a retirada de “cortinas” para que o diálogo entre vida, história, música e literatura iluminasse a cultura nacional.

09 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – Neste poema, Mário de Andrade enfatiza o seu esforço de criação de uma expressão literária nacional, e, para tanto, utiliza vocabulário que resgata as regiões do Brasil.

II – Além da linguagem, Mário de Andrade resgata as raízes culturais do país, como a culinária e a representação artística.

III – Na primeira estrofe, Mário de Andrade faz uso da figura de linguagem antítese, ao empregar as palavras “difícil/fácil” e “luz/escurez”. Essas antíteses evidenciam a contradição vivenciada pelos intelectuais brasileiros que, com os olhos no estrangeiro, não conseguem compreender este poeta brasileiro.

É (são) correta(s) afirmação(ões):

a)   I e II.

b)   Todas.

c)   Apenas III.

d)   II e III.

10 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – No próprio poema, Mário de Andrade identifica a solução para que os leitores não o considerem um escritor difícil: que falem e aprendam a “fala brasileira”.

II – No décimo verso, Mário de Andrade dá um conselho ao seu leitor, por meio do emprego do modo verbal imperativo.

III – Nos dois últimos versos, o escritor utiliza-se do discurso indireto para indicar o significado da palavra guariba. É (são) correta(s) a(s) afirmação (ões):

a)   I e II.

b)   Apenas I.

c)   Todas.

d)   II e III.

11 – Nos versos: “Não carece vestir tanga / Pra penetrar meu caçanje!”, no trecho em destaque há a seguinte figura de linguagem:

a)   Sinestesia.

b)   Assonância.

c)   Paradoxo.

d)   Metonímia.

 



 


CRÔNICA: PRETO E BRANCO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Preto e branco

               Fernando Sabino

        Perdera emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse; por constrangimento, afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar: escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser seu mais velho companheiro de noitadas. 

        De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. 

        E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua México, já distraídos de seus passados tropeços, mas, tropeçando obstinadamente no inglês com que se entendiam -- quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. 

        Era o sambista seu amigo.

        Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais tarde incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo de maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. 

        Pensou rapidamente em se esquivar -- não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera -- acaso jamais chegara sequer a se lembrar de que se tratava de um preto! Agora, com o gringo ali ao seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. 

        E não era mesmo com ele. 

        Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano, também seu amigo. 

(Fernando Sabino)

Entendendo a crônica:

01 – Identifique as personagens protagonistas dessa narrativa e aponte suas características, de acordo com suas ações no texto.

      O homem que procurava emprego: no momento estava inseguro, fragilizado por sua difícil situação, mostrou-se preconceituoso e equivocado; – o sambista negro, seu amigo: bom sujeito, espontâneo, afetuoso.

02 – A vida da personagem principal passa por várias modificações, durante o texto. Indique-as.

      Primeiramente, ele perde um emprego, chega a passar fome, e afasta-se dos amigos. Depois, quando ele consegue um emprego, agarra-se tanto a ele, que, por medo, finge não conhecer seu amigo negro.

03 – Por que ele acredita que cumprimentando o amigo negro, seu emprego correria risco?

      Porque ele pensou que todo americano era preconceituoso e como ele estava com seu chefe americano, ficou com medo que aquela relação de amizade o prejudicasse. “Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação”.

04 – Sendo inevitável, como o personagem cumprimentou o amigo sambista? O que aconteceu em seguida?

      Ele cumprimentou da maneira mais discreta possível, mas não adiantou, pois o sambista atravessou a rua em sua direção, deixando-o em estado de pânico.

05 – Relate o que passou pela cabeça do personagem que justifique seu pânico.

      Primeiramente, ele pensou em se esquivar, não deu certo, pois o chefe já se detivera também, ao ver o preto se aproximar. Depois ele, pela primeira vez, reparou o quanto o amigo era preto, e por último, ele se justifica afirmando que passar fome, só era bonito nos romances, e que o amigo iria compreender suas razões.

06 – Explique por que a frase “E não era mesmo com ele”, é importante para a narrativa.

      Porque é essa frase que demarca a mudança total dos acontecimentos. Pois, a partir dela, ficamos sabendo que o negro se aproximara para cumprimentar o americano e não o personagem central.

07 – Justifique, com uma passagem do texto, o fato de que o sambista pode nem ter visto o personagem central, pois dirigira seu olhar para o americano.

      “Porque antes de cumprimenta-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços...”

08 – O que indica o verbo “acolher” no último parágrafo?

      Que o americano se adiantou para abraçar o sambista e que este “recebeu de maneira afetuosa” o abraço.

09 – Então, não há registro de comportamento preconceituoso no texto?

      Há sim, mas não como se supunha: do americano para com o negro, mas sim do personagem central para com o americano.

10 – Explique o jogo de palavras que aparece na frase: “... já distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando obstinadamente o inglês...”

      Nos dois casos a palavra “tropeço” está no sentido conotativo, indicado dificuldades. Dificuldades passadas, quando estava desempregado e dificuldades em falar inglês.

11 – Qual seria essa “ética ianque”, citada pela personagem central?

      A ética americana, que ao seu ver, consideraria desaconselhável a amizade entre pessoas de etnias diferentes, principalmente, devido ao cargo que o personagem exercia.