terça-feira, 28 de abril de 2020

MENSAGEM ESPÍRITA: A CORTINA DO "EU" -FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER (EMMANUEL) PARA REFLEXÃO

Reflexão: A Cortina Do “eu”

   “Porque todos buscam o que é seu e não o que é do Cristo Jesus.” – Paulo. (Filipenses, 2:21.)

   Em verdade, estudamos com o Cristo a ciência divina de ligação com o Pai, mas ainda nos achamos muito distantes da genuína comunhão com os interesses divinos.
 Por trás da cortina do “eu”, conservamos lamentável cegueira diante da vida.
 Examinemos imparcialmente as atitudes que nos são peculiares nos próprios serviços do bem, de que somos cooperadores iniciantes, e observaremos que, mesmo aí, em assuntos da virtude, a nossa percentagem de capricho individual é invariavelmente enorme.
           A antiga lenda de Narciso permanece viva, em nossos mínimos gestos, em maior ou menor porção.
           Em tudo e em toda parte, apaixonamo-nos pela nossa própria imagem.
        Nos seres mais queridos, habitualmente amamos a nós mesmos, porque, se demonstram pontos de vista diferentes dos nossos, ainda mesmo quando superiores aos princípios que esposamos, instintivamente enfraquecemos a afeição que lhes consagrávamos.
        Nas obras do bem a que nos devotamos, estimamos, acima de tudo, os métodos e processos que se exteriorizam do nosso modo de ser e de entender, porquanto, se o serviço evolui ou se aperfeiçoa, refletindo o pensamento de outras personalidades acima da nossa, operamos, quase sem perceber, a diminuição do nosso interesse para com os trabalhos iniciados.
        Aceitamos a colaboração alheia, mas sentimos dificuldade para oferecer o concurso que nos compete.
        Se nos achamos em posição superior, doamos com alegria uma fortuna ao irmão necessitado que segue conosco em condição de subalternidade, a fim de contemplarmos com volúpia as nossas qualidades nobres no reconhecimento de longo curso a que se sente constrangido, mas raramente concedemos um sorriso de boa-vontade ao companheiro mais abastado ou mais forte, posto pelos Desígnios Divinos à nossa frente.
        Em todos os passos da luta humana, encontramos a virtude rodeada de vícios e o conhecimento dignificante quase sufocado pelos espinhos da ignorância, porque, infelizmente, cada um de nós, de modo geral, vive à procura do “eu mesmo”.
        Entretanto, graças à Bondade de Deus, o sofrimento e a morte nos surpreendem, na experiência do corpo e além dela, arrebatando-nos aos vastos continentes da meditação e da humildade, onde aprenderemos, pouco a pouco, a buscar o que pertence a Jesus-Cristo, em favor da nossa verdadeira felicidade, dentro da glória de viver.

Francisco Cândido Xavier.
Fonte Viva – 4° livro da Coleção “Fonte Viva”.
(Interpretação dos Textos Evangélicos)
Ditado pelo Espírito – Emmanuel.


domingo, 26 de abril de 2020

POEMA: O POETA E A ROSA - VINÍCIUS DE MORAES - COM QUESTÕES GABARITADAS

POEMA: O Poeta E A Rosa
               Vinicius de Moraes
                                  
Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação.

É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa...)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa.

– Que foi? – balbucia o poeta
E a rosa; – Calhorda que és!
Para de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!

E o poeta vê uma criança
Suja, esquálida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa.

– São milhões! – a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
Fora, como a dar comida
A todas essas crianças.

O poeta baixa a cabeça.
– É aqui que a rosa respira...
Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouvira

Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta.
                                         Compositor: Vinicius De Moraes
Entendendo a canção:

01 – Que tema é abordado no poema?
      Fala da vaidade do ser humano.

02 – Que estrofe do poema expressa mais claramente o entusiasmo do eu lírico pela rosa branca?
      Na primeira estrofe.

03 – Por que a rosa branca ficou indignada?
      Porque o poeta não tinha visto uma criança comendo um torrão da terra.

04 – De que espécie era a rosa branca?
      Era da espécie mais franca / E de seiva mais raivosa.

05 – A rosa branca berra – São milhões – milhões de quem?
      Milhões de crianças a morrer de fome.

06 – Que faz a rosa branca num acesso de raiva?
      Arranca as pétalas, lança-as / Fora, como a dar comida / A todas essas crianças.

07 – Que faz o passarinho que ouvirá toda a disputa quietinho?
      Faz um cocozinho na cabeça do poeta.



POEMA: A VOLTA DA MULHER MORENA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Poema: A VOLTA DA MULHER MORENA
          
    Vinícius de Moraes

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.


Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena!

                                                            Vinícius de Moraes
Entendendo o poema:

01 – Em relação à mulher, nesse poema, pode-se afirmar que:
a)   Ela representa o pecado e precisa ser eliminada para que o eu lírico encontre a paz.
b)   Ela é vista de maneira espiritualizada e idealizada.
c)   Ela é descrita como motivação do pecado, mas, apesar disso, o eu lírico mantém-se alheio a seus encantos.
d)   Ela é vista com naturalidade, e o desejo sexual não apresenta problema para o eu lírico.

02 – O título do poema é composto pelo substantivo “volta” que tem o sentido de regresso, por quê?
      Significa uma perturbação constante e fonte de perdição.

03 – O poeta usa um vocativo nos primeiros versos. Cite-o.
      “Meus amigos, meus irmãos...”.

04 – Por que o eu lírico pede aos seus amigos e irmãos que ceguem os olhos da mulher morena?
      Porque os olhos da mulher morena estão envolvendo-o e tirando-lhe o sono.

05 – Em relação à mulher, nesse poema, pode-se afirmar que:
a)   Ela representa o pecado e precisa ser eliminada para que o eu lírico encontre a paz.
b)   Ela é vista de maneira espiritualizada e idealizada.
c)   Ela é descrita como motivação do pecado, mas, apesar disso, o eu lírico mantém-se alheio a seus encantos.
d)   Ela é vista com maturidade, e o desejo sexual não apresenta problema para o eu lírico.

06 – Por que o eu lírico nomeia-a como “mulher morena”?
     Desta forma ela perde sua individualidade e constitui uma alegoria demoníaca levando o homem ao pecado.

07 – As imagens do corpo feminino são carregadas de fortes impressões sensoriais e sensuais. Cite algumas.
      Lábios maduros, úmidos e inquietos; olhos envolventes; peitos que sufocam à noite; braços lassos que são como raízes.

08 – Como a mulher morena hipnotiza o eu lírico?
      De forma que todas as partes abominadas do corpo tornam-se centro de atração, isto é, a personificação do pecado.






CONTO: SE A TERRA NÃO EXISTISSE, A GENTE PISAVA ONDE? RICARDO AZEVEDO - COM GABARITO

Conto: Se a terra não existisse, a gente pisava onde?
           
Ricardo Azevedo

   Tênis é de lona e borracha. Cueca é de pano e elástico. Caderno é de arame e folha de papel. Televisão é de plástico com uma antena em cima e uma tela na frente.
        Casa é feita de telhado, parede, piso, porta e janela. Vaca é de couro, chifre e quatro tetas pingando leite. Cachorro é um ônibus peludo cheio de pulgas. Ser humano é feito de carne, osso, coração e ideias na cabeça.
        E o mundo em que vivemos?
        O mundo é um monte de terra cercada de água por todos os lados.
        A água é o mar, o rio, o lago, a chuva, a poça, a lágrima e o cuspe.
        A terra é a terra mesmo.
        Tem gente que pensa que terra só serve para cavar buraco no chão, para ser hotel de minhoca, para enfiar poste de luz ou então para sujar o pé de lama em dia de chuva, mas não é nada disso.
        Se não fosse a terra, a gente pisava onde?
        Se não fosse a terra, a gente construía nossa casa onde?
        E as cidades? E as estradas? E os campinhos de futebol?
        Sem a terra a gente não ia jogar bola nunca mais!
        (...).
        Pensando bem, a terra é a coisa mais importante do mundo em que vivemos. Ela é o solo, o chão, a gleba, o piso, o porto, o lugar onde a gente fica em pé e constrói a vida.
        Para falar a verdade, a terra é uma espécie de mãe. A mãe de todos nós.
        De onde vêm as árvores para dar sombra e segurança? Da terra.
        De onde vêm as frutas para a gente chupar? Da terra.
        De onde vem a nascente do rio? E a flor? E o passarinho? E a onça? E a tartaruga? E a borboleta? E o macaco? E o besourinho? E todos os bichos do mundo inteiro menos os peixes e as estrelas-do-mar?
        Sem a terra, não ia ter nem milho, laranja, caqui, jabuticaba, banana, pera, uva, cacau, pitanga, mexerica, romã, maçã, abacate, melancia, abacaxi, nem amendoim nem nada.
        O mundo ia ser só um monte de coisa nenhuma cercado de água para todos os lados.
        Mas a terra tem seus truques. Ela não gosta de ser maltratada, não senhor!
        Quando fazem queimadas ou destroem o mato ou enchem o chão de lixo e porcaria a terra fica triste vira deserto, corpo árido, seco, estéril, que não dá mais nada.
        Ela, que era generosa, formosa, úmida, florida, risonha, fofa, macia, fértil, cheia de sombra, cheia de perfume, cheia de riachinhos, borboletas, besourinhos, bichinhos e bichões, de repente fica tão dura e rachada que só consegue inventar pó, areia e desolação.
        Se a terra fosse um deserto ia ter chão, mas como a gente ia ficar?

                                                     Ricardo Azevedo. In: Revista Nova Escola, ano 17, n° 149. São Paulo, Abril, janeiro/fevereiro/2002.
                                    Fonte: Português – De olho no futuro – 3° ano – Cassia Garcia de Souza / Lúcia Perez Mazzio – Quinteto Editorial. p. 112-16.
Entendendo o conto:

01 – O principal objetivo do texto é ressaltar a importância da terra ou promover a ideia de que a terra é algo sem valor?
      É ressaltar a importância da terra.

02 – Na sua opinião, as pessoas têm se preocupado em cuidar da terra? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Que outro título você daria para esse texto?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Releia o seguinte trecho: “Ela é o solo, o chão, a gleba, o piso, o porto, o lugar onde a gente fica em pé e constrói a vida.”.
a)   A expressão destacada na frase pode ser substituída pela palavra nós. Reescreva o trecho fazendo essa substituição e realize as alterações necessárias.
Ela é o solo, o chão, a gleba, o piso, o porto, o lugar onde nós ficamos em pé e construímos a vida.

b)   Na sua opinião, a expressão a gente é mais usada na linguagem formal ou informal?
É mais usada na linguagem informal.

c)   Para você, por que o autor desse texto preferiu usar a gente no lugar de nós?
Provavelmente, o autor quis deixar o texto com uma linguagem mais simples e acessível para o leitor.

05 – Nesse texto o autor utilizou muitos pontos de interrogação. Você saberia explicar por que ele propõe tantos questionamentos?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Talvez para promover no leitor uma reflexão acerca dos cuidados que se deve ter com a terra.




PEÇA TEATRAL: CAVEIRINHA - LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO - COM GABARITO

PEÇA TEATRAL: Caveirinha
         
   Luís Francisco Carvalho Filho

        [São catorze salas, de catorze juízes, lado a lado, unidas por um longo corredor. As portas permanecem fechadas, para que o trança-trança não atrapalhe. As audiências são marcadas com intervalo de cinco minutos entre uma e outra. Há pressa, não há pontualidade. Os intimados aguardam a chamada num saguão apertado, onde uma sucessão de fileiras de bancos de madeira se organiza em um pequeno auditório. Carta precatória é um procedimento: o juiz faz a inquirição de alguém e remete o texto para o juiz de outro lugar. O juiz daqui não conhece o caso e, provavelmente, nunca mais vai ouvir falar no processo.]
        Juiz: Qual o seu nome?
        G...: G...
        Juiz: Dizem os autos do inquérito policial que o senhor, R... e T... deram causa à morte de L..., provocando, por negligência, um acidente de trabalho na Indústria de Farinha. Diz a Justiça Pública que a vítima no recebeu treinamento para trabalhar na máquina, tendo sido sugado pelos exaustores no terceiro dia de trabalho. A morte da vítima foi imediata, o corpo foi dilacerado. O senhor e R... são acusados de omissão. Nada fizeram para evitar o acidente, apesar de previsível. T... é acusado de contratar a vítima, sem treinamento, para a realização de um trabalho perigoso. O que o senhor tem a dizer sobre a denúncia? O senhor conheceu a vítima?
        G...: Não. Eu sou um dos proprietários da indústria e trabalho aqui, na cidade. Eu me dedico à área financeira. A indústria fica a cem quilômetros. Há uma gerência industrial, chefiada por um administrador habilitado e bastante experiente no ramo, que cuida justamente de toda essa parte técnica. Nós sempre seguimos as regras de prevenção do Ministério dos Acidentes. Não houve negligência.
        Juiz: O senhor presenciou os fatos?
        G...: Não.
        Juiz: O que o senhor sabe do acidente?
        G...: Eu fui informado pelo meu gerente, uma hora depois, por telefone.
        Juiz: O que ele disse?
        G...: Disse que a vítima havia sido imprudente, que tinha ingressado na área de ventilação da máquina, que é cercada por tapumes. Disse que o rapaz foi socorrido imediatamente, mas morreu a caminho do hospital, que já avisara a família e que estava providenciando o enterro. Ele não tinha autorização para entrar ali, não tinha nada para fazer ali. Ali só entram mecânicos. Há uma placa, na parede, avisando do perigo. A placa tem uma caveirinha vermelha desenhada.
        Juiz: Ele recebeu treinamento?
        G...: Sim. A máquina não é perigosa. O operário não mantém contato com nenhuma engrenagem capaz de ferir. É fácil de ser operada. Ela só é barulhenta e os operários usam um protetor de ouvido. O trabalhador recebeu instruções, foi advertido para não entrar naquele recinto.
        Juiz: Se o senhor é inocente, por que então o senhor acha que foi denunciado?
        G...: Eu não sei. Talvez preconceito. Meu advogado diz que é preconceito. Mas eu não sou um empresário poderoso, minha empresa é pequena.
        Juiz: [Ditando.] Que não presenciou os fatos descritos na denúncia e nega a acusação. Que alega ser inocente, vítima de preconceito contra o empresariado. Que o interrogando trabalha na cidade e cuida da parte financeira da firma. Que a indústria tem um gerente técnico, que é responsável. Que recebeu um telefonema do gerente e soube do acidente. Que a culpa foi da vítima e que havia uma placa vermelha com o desenho de uma caveira no local, indicando perigo, e que mesmo assim ele foi irresponsável e desobedeceu. [Para o réu.] Quanto tempo durou o treinamento?
        G...: Não há um treinamento específico, porque eles não lidam com a parte mecânica da máquina, o senhor entende? Ele simplesmente jogava espigas de milho e mandioca no funil da máquina. Sem risco.
        Juiz: Mas quanto tempo durou o treinamento?
        G...: É imediato. Não há necessidade de cursos ou de aprendizados mais complexos.
        Juiz: Ele teve aulas?
        G...: Não, aulas não. Não precisava...
        Juiz: Ele já trabalhou na máquina no primeiro dia?
        G...: Sim, como todos os outros. Os novos empregados observam os companheiros antigos, começam ajudando, e começam a trabalhar. Não há perigo. Nunca houve um acidente.
        Juiz: Alguém tentou detê-lo?
        G...: Não, ninguém; olha, ninguém viu ele entrar naquela sala.
      Juiz: [Ditando.] Que o aprendizado da vítima foi imediato, sem preleções. Que os trabalhadores da indústria trabalham nas máquinas, já no primeiro dia de emprego, fáceis de ser operadas. Que os operários observam como os outros fazem e começam logo a trabalhar. Que a vítima só jogava milho e mandioca no funil e não corria riscos. Que a máquina é barulhenta e os operários usam fones de ouvido. Que a vítima não deveria estar naquele local e que ninguém o impediu. [Para o réu.] A vítima foi socorrida?
        G...: Sim, ele foi levado para o hospital, mas já estava morto.
        Juiz: Conhece os outros réus?
        G...: Sim. R... é meu sócio, cuida da parte comercial, e T... é o gerente da indústria.
        Juiz: Conhece as testemunhas do promotor?
        G...: Não.
      Juiz: [Ditando.] Que a vítima morreu a caminho do hospital. Que conhece os co-réus, sendo R... o seu sócio e T... o gerente. Que nada tem para alegar contra as testemunhas. Que sai ciente do prazo de três dias para defesa prévia e de que não pode mudar de endereço sem comunicar ao juízo deprecante, saindo também ciente da data da audiência. Nada mais...
        [O juiz é surpreendido pela intervenção.]
        Advogado: Excelência, eu sei que o advogado não pode interferir no interrogatório, nem é essa a minha intenção, mas eu gostaria, pela ordem, que alguns esclarecimentos do réu ficassem consignados no termo.
        Juiz: O senhor não pode interferir mesmo. Mas faltou alguma coisa? O quê? O réu não reclamou de nada.
        Advogado: É papel do advogado reclamar... O réu informou a Vossa Excelência que recebeu a notícia do acidente por um telefonema de seu gerente industrial. No termo ficou constatado que o réu “soube do acidente”. Eu peço...
        Juiz: Olha, eu não vejo nenhum erro no meu termo. Ele não presenciou o acidente. Não é? Ele ouviu falar do acidente, ele soube por telefone. Está certo? Qual o problema?
        Advogado: Excelência, tal como está no termo, o réu aparenta uma certa indiferença em relação aos fatos. Mas ele foi informado imediatamente, cobrou providências... Ele não ouviu dizer, ele foi informado, percebe? Tal como está escrito, parece que o réu reagiu com indiferença à notícia da tragédia. Não é o senhor quem julgará a causa. O juiz do caso pode fazer uma interpretação desfavorável do interrogatório. Correto?
        Juiz: Está bem. [Ditando.] Dada a palavra ao defensor, foi dito que ficasse consignado que o réu informou a esse juízo que soube do acidente, por um telefonema do co-réu T..., que já havia tomado todas as providências. – Está bem assim, doutor?
        Advogado: Obrigado, Excelência. É um detalhe, mas o réu informou que os operários usam “protetores de ouvido”. No termo ficou constando que eles usam “fones de ouvido”. São coisas diferentes...
        Juiz: Olha, doutor, eu me lembro muito bem, ele falou “fone de ouvido”. Não posso admitir que o senhor conduza o interrogatório. O que o senhor disse?
        G...: Eu disse que os operários usam “protetores de ouvido”, é um equipamento exigido pela legislação.
        Juiz: É “protetor”, é? O senhor falou “fone de ouvido”. Eu me lembro.
        G...: Não, eu disse “protetor”. Tenho certeza.
        Juiz: [Ditando] Que a vítima usava protetor de ouvido e não fone de ouvido, como constou acima.
        Advogado: Excelência, eu gostaria ainda que ficasse esclarecido que ninguém, na indústria, percebeu que a vítima entrou no recinto proibido antes do acidente.
        Juiz: Ah, ele não falou isso.
    Advogado: Excelência, quando o acusado respondeu a pergunta do senhor, informando que ninguém deteve a vítima, ele disse que ninguém na fábrica viu a vítima entra no local. Assim, ninguém poderia detê-la. Não é? O termo está incompleto.
        Juiz: Ele não disse isso, doutor. O senhor sabe que eu fui gentil. Eu permiti sua atuação. O senhor sabe, a lei não permite interferências da defesa e da acusação no interrogatório, mas o senhor vem e abusa. Assim, não dá. O senhor não pode induzir as palavras do interrogado.
        Advogado: Eu não induzi o réu a nada, Excelência. Eu não admito... Olha, eu agradeço a sua tolerância, eu... Eu gostaria de lembrar que o interrogatório é um ato de defesa do réu, que a palavra do réu não pode ser censurada e que tudo deve ser transcrito da maneira mais fiel possível. Eu sugiro que o senhor pergunte ao réu sobre o que ele disse realmente e se Vossa Excelência desejar, pode também consignar minha interferência.
        Juiz: O senhor não disse isso, disse?
        G...: Disse sim. Ninguém da indústria viu quando ele entrou no local do acidente.
        Juiz: [Ditando.] Que após interferência do advogado de defesa, o réu informou que havia dito que ninguém na empresa viu a vítima entrar na sala onde veio a falecer, referência esta não ouvida antes por este juízo. [Para a escrevente.] Chega, vamos encerrar este termo...
                             CARVALHO FILHO, Luís Francisco. Nada mais dito nem perguntado. São Paulo, Editora 34, 2001. p. 41-6.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 96-102.
Entendendo o texto:

01 – O texto lido, criado por um escritor, é a reprodução de uma audiência em que o juiz interroga o réu. Apresenta características de um texto de teatro. Que características são essas?
      Rubricas; falas de personagens, sem narrador.

02 – Apesar de ser ficcional, o texto parece extremamente realista, saindo diretamente dos tribunais. Justifique essa afirmativa.
      O autor, advogado criminalista, consegue transpor para a linguagem escrita os diálogos e os termos jurídicos com uma fidelidade incrível. Parece que o texto tem autonomia, é quase transcrição de algo gravado.

03 – Qual é o objetivo do primeiro parágrafo eu está entre colchetes?
      Descrever o ambiente do fórum onde se passa a audiência a ser relatada e explicar o procedimento adotado, que é uma carta precatória.

04 – O procedimento relatado é uma carta precatória, isto é, o juiz faz o interrogatório e remete o texto para um juiz de outro lugar, que fará o julgamento. Sendo assim, como deve ser a linguagem utilizada?
      A linguagem deve ser objetiva, precisa e extremamente fiel ao que foi dito no interrogatório.

05 – No texto, foram empregados dois tipos de discurso: o direto e o indireto. Em que situação foi empregada cada uma dessas formas de discurso?
      Discurso direto: no diálogo entre o juiz e o réu e entre o juiz e o advogado.
      Discurso indireto: nas passagens em que o juiz reproduz para a escrevente o que o réu falou.

06 – “Não houve negligência.” O que o réu quer dizer com essa afirmativa?
      Não houve descuido, desleixo, desatenção.

07 – Segundo o réu, qual foi a causa da morte da vítima?
      Imprudência: a pessoa entrou em lugar cercado por tapumes com aviso de perigo na parede.

08 – No texto, o juiz, ao ditar para a escrevente, começa as frases com que. É, em geral, dessa maneira que juízes e delegados relatam depoimentos. Como se pode explicar esse uso?
      O juiz está empregando o discurso indireto ao ditar para a escrevente. O emprego do que pressupõe um texto anterior: O réu afirmou / relatou / disse... Como essa frase introdutória é óbvia no contexto, o juiz a suprime.

09 – O advogado do réu interfere no interrogatório três vezes. Você concorda com as observações que ele faz? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – A linguagem com que o advogado se dirige ao juiz é bastante formal e mesmo cerimoniosa. Que pronome o advogado emprega que revela esse nível formal de linguagem?
      Os pronomes de tratamento Excelência e Vossa Excelência.

11 – Na última fala do advogado, há um período que justifica muito bem a razão de suas interferências no interrogatório. Transcreva-o.
      “Eu gostaria de lembrar que o interrogatório é um ato de defesa do réu, que a palavra do réu não pode ser censurada e que tudo deve ser transcrito da maneira mais fiel possível.”

12 – Releia o primeiro trecho que o juiz dita para a escrevente. Compare-o com as falas do réu. Que declarações foram omitidas ou alteradas pelo juiz, além do que foi observado pelo advogado?
      O juiz omitiu que a indústria ficava a cem quilômetros da cidade, onde o réu trabalhava. Não disse que o administrador era habilitado e bastante experiente no ramo, mas simplesmente que ele era responsável. Mandou escrever que a vítima foi irresponsável e desobedeceu o aviso de perigo; o réu só dissera que a vítima tinha sido imprudente. O aviso, segundo o réu, era uma placa com uma caveirinha vermelha; de acordo com o juiz, havia uma placa vermelha com uma caveira.

13 – Caveirinha, no texto, significa perigo. Por que o texto se chama “Caveirinha”? Quem é que corre perigo, nesse caso?
      O réu corre perigo porque pode sofrer injustiça devido à interpretação que o juiz faz de suas afirmações. 



sábado, 25 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): SINA - DJAVAN - COM GABARITO

Música(Atividades): Sina
                                                                                     Djavan

Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome pra poder falar de amor

Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz

A luz de um grande prazer
É irremediável neon
Quando o grito do prazer
Açoitar o ar, réveillon

O luar, estrela do mar
O sol e o dom
Quiçá, um dia, a fúria desse front
Virá lapidar o sonho
Até gerar o som
Como querer Caetanear
O que há de bom.
                                               Composição: Djavan
Entendendo a canção:

01 – Qual é o tema da canção?
      Fala de um cotidiano amoroso.

02 – A palavra “lapidar” é usada como metáfora incorporando qual significado?
      O significado de “construir”, “proporcionar”.

03 – O autor usa as palavras “quiçá” e “front”. Quais os significados, respectivamente?
      Quiçá: significa “quem sabe”.
      Front: significa “frente de batalha”.

04 – Nesta canção existe alguns estrangeirismos (palavras vindas de outros idiomas). Cite-os.
      Jazz, art-nouveau, neon, réveillon e front.

05 – Também encontramos um neologismo nesta canção. Qual?
      Caetanear – que provém do nome do compositor brasileiro Caetano Veloso, tendo o significado de “compor como Caetano”, usando desta maneira como uma homenagem.

06 – De que sina o autor se refere?
      Do destino, da sorte, enfim mescla a complexidade com metáforas.


POEMA: CASO COMPLICADO (SOBRE CONSUMISMO) - CARLOS QUEIROZ TELLES - COM GABARITO

Poema: Caso complicado
           
                                                               Carlos Queiroz Telles

Essa história de dinheiro
é um caso complicado...
O que se ganha é contado,
pedido, sofrido, suado.
O que se gasta, porém,
nem sempre é o precisado.

Tudo e todos nos ensinam
a gastar, gastar, gastar.
Compre isso, compre aquilo,
compre vida, compre amor...
A gente acaba querendo
o que quer e o que não quer,
o necessário e o inútil,
o falso e o verdadeiro,
como se o tal dinheiro
caísse em penca do céu.

Mas não cai... e aí começa
a maior das chateações.
Vontades que não tem jeito,
invejas de fazer medo,
desejos que não se entendem,
sonhos de sonhos desfeitos.
O que fica é uma vontade eterna
de querer mais
e uma tristeza sem graça
de não ser o que se é.

Essa história de dinheiro
é um caso complicado...
Será que a vida ensina
o que fazer para encontrar
o tal mapa da mina?
Carlos Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões, cit.,p.25.
                 Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora -1998 – p.150
Entendendo o poema:
01 – De que se trata o poema?
       Faz uma abordagem sobre o consumismo.

02 – Nos versos: “... como se o tal dinheiro / caísse em penca do céu.” Que figura de linguagem há nestes versos?
      Hipérbole – ênfase expressiva de exagero “penca”.

03 – Por que existem tantos produtos descartáveis?
      Pela praticidade, baixo custo, muitos modelos, variedades de cores, fácil descarte, não há perdas de tempo com limpeza, etc.

04 – Em que versos podemos encontrar a figura de linguagem personificação?
      Nos versos: “... e uma tristeza sem graça / de não ser o que se é.”

05 – O título do poema motiva a leitura?
      Sim, pois chama a atenção para alguma coisa complicada.

06 – Há efeitos sonoros no poema? Quais?
      Nos versos: “O que se ganha é contado, / pedido, sofrido, suado.”. Aliteração (repetição de fonemas).
      Nos versos: “Compre isso, compre aquilo, / compre vida, compre amor...”. Anáfora (repetição de palavras ou expressões).