sexta-feira, 14 de junho de 2019

HISTÓRIA EM QUADRINHOS - SUJEITO - CONCORDÂNCIA NOMINAL - COM GABARITO

HISTÓRIA EM QUADRINHOS - SUJEITO - CONCORDÂNCIA NOMINAL 
Cebolinha: Cebolinha em apuros! de Maurício de Sousa. Porto Alegre: L&PM, 2010.


Entendendo a tira:

01 – Por que Cebolinha acha que os equilibristas correm perigo?
      Porque eles podem cair da corda bamba, machucando-se gravemente.

02 – Por que o Cascão acha que o equilibrista está protegido?
      Porque ele carrega um guarda-chuva com ele.

03 – Leia as orações a seguir:
1     “... esses equilibristas colem peligo...”.
2     “... ele está até muito bem protegido!”

a)   Identifique o sujeito e o núcleo do sujeito dessa orações. A que classe gramatical eles pertencem?
1     – Sujeito: esses equilibristas; núcleo: equilibristas (substantivo). 2 – Sujeito: ele; núcleo: ele (pronome).

b)   Em que gênero e número esses núcleos foram empregados?
Na oração 1, foi empregado no masculino e no plural. Na oração 2, foi empregado no masculino e no singular.

c)   Passe para o singular a frase que está no plural e para o plural a que está no singular.
1 – Esse equilibrista cole peligo. 2 – Eles estão até muito bem protegidos.

d)   Além do verbo, que outras palavras concordaram em gênero e número com os núcleos do sujeito?
O pronome esses e o particípio protegido, com função de adjetivo na frase. Explique aos alunos que muito, até e bem são advérbios, portanto são invariáveis.

TEXTO: AS INFLUÊNCIAS DO CINEMA NA SAÚDE - ELISA FERREIRA - COM GABARITO

Texto: As influências do cinema na saúde
                       
                Elisa Ferreira

        Cinema é local de lazer, entretanto, alguns filmes podem ser considerados danosos à saúde. Médicos australianos, após casos de desmaios e enjoos, advertiram os cidadãos do país de que o filme 127 Horas, não é indicado para algumas pessoas devido ao realismo da cena de uma mutilação. Além dele, alguns filmes como Babel e Tropa de Elite causaram reações em alguns telespectadores, devido ao nível de realidade em cena.
        Segundo Marisa Palácios, vice-diretora e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc-UFRJ), é possível que o sistema nervoso dos espectadores, ao se deparar com a realidade forçadamente, cause reações indesejáveis. Ela destaca, no entanto, que, para que saber mais sobre o assunto, é preciso um estudo aprofundado sobre os filmes e cada pessoa, avaliando faixa etária, sexo e histórico médico.
        Do ponto de vista psicológico, Marisa acredita que a reação que o filme provoca não é diferente da sensação diante de uma situação semelhante na vida cotidiana. Para ela, a censura seria algo negativo, já que não há censura para a realidade. “Poderíamos dizer que essas coisas sem dúvida fazem mal à saúde. Mas não é possível simplesmente não exibi-las, elas não deixam de acontecer”, expõe a vice-diretora do Iesc.
        Marisa ainda acredita que, apesar de algumas situações serem extremas e desconfortáveis, mesmo na vida real, apresentá-las no cinema é uma forma interessante de reflexão. 

        Filmes 3D

        Alguns especialistas questionam as exibições de tecnologia 3D, que acrescentam maior realidade às cenas. Os riscos são reduzidos quando os óculos, que tem a finalidade de transformar a ilusão da tela em 3D, são utilizados de maneira correta e sem grandes frequências. Além disso, a predisposição para algumas doenças, principalmente dores de cabeça, enxaquecas, tonturas, náuseas e até vertigem são fatores importantes para o mal-estar causado ao longo da sessão.
        Marisa orienta para a higienização dos óculos: “qualquer coisa que se ofereça ao uso individual tem que ter padrões adequados de higienização, particularmente os óculos podem estar contaminados e produzir uma conjuntivite, por exemplo”. Algumas Secretarias de Saúde Brasileiras já se manifestaram a respeito da higiene do material e notificaram diversas salas de cinema para que façam a correta higienização dos óculos, mas, para isso, é necessária severa fiscalização.

Entendendo o texto:

01 – A reportagem é um texto que costuma apresentar a opinião de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, com o assunto. Essas pessoas, ao opinarem sobre os fatos, comumente empregam expressões indicadoras de intenção, sentimentos e/ou grau de envolvimento em relação ao conteúdo da informação. O sentido das expressões  é possível (2º parágrafo) e sem dúvida (3º parágrafo) no texto, é, respectivamente:
a)   Certeza – obrigação.
b)   Obrigação – permissão.
c)   Apreciação – proibição.
d)   Proibição – obrigação.
e)   Probabilidade - certeza.

02 – Os tempos verbais utilizados na reportagem podem denotar uma intenção do falante, e não o momento da ação. É o caso do futuro do pretérito. A forma verbal poderíamos (3º parágrafo) foi utilizada com a intenção de:
a)   Expor o ponto de vista de uma especialista.
b)   Tornar menos autoritária a afirmação.
c)   Mostrar compromisso com as influências do cinema na saúde.
d)   Revelar um posicionamento coletivo sobre o assunto.
e)   Convencer os leitores das influências maléficas do cinema na saúde.

03 – A alternativa em que a palavra ou a expressão destacada NÃO tem como referente no texto o que vem explicitado nos parênteses é:
a)   3º parágrafo: "Poderíamos dizer que essas coisas..." (Refere-se a "reações dos telespectadores".).
b)   1º parágrafo: "Além dele, alguns filmes..." (Refere-se a "o filme 127 Horas".).
c)   2º parágrafo: "Ela destaca, no entanto, que..." (Refere-se a "Marisa Palácios".).
d)   4º parágrafo: "...apresentá-las..." (Refere-se a "algumas situações".).
e)   2º parágrafo: "...para saber mais sobre o assunto..." (Refere-se à possibilidade de o sistema nervoso dos espectadores, ao se deparar com a realidade forçadamente, causar reações indesejáveis.).

04 – A reportagem é um texto predominantemente expositivo que costuma apresentar a opinião de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, com o assunto. Essas pessoas, ao opinar sobre os fatos, comumente empregam expressões indicadoras de intenção, sentimentos e ou grau de envolvimento em relação ao conteúdo da informação. É o caso das expressões “é possível” e “sem dúvida”. O que elas indicam no texto?
      São elementos modalizadores que indicam menor ou maior comprometimento do autor com as informações apresentadas, respectivamente.

05 – Os tempos verbais também podem denotar uma intenção do falante, e não o momento da ação. É o caso do futuro do pretérito. Por que a entrevista utilizou a forma “poderíamos” no 3° parágrafo?
      Para tornar menos autoritária a afirmação.

06 – As opiniões dos entrevistados podem ser apresentadas através do discurso indireto, como ocorre no 2° parágrafo, ou através do discurso direto.
a)   Qual sinal de pontuação está sendo usado no texto para separar o discurso direto?
    Aspas.

b)   Por que a inclusão desse recurso é importante nesse gênero textual?
O discurso direto na reportagem confere maior credibilidade às informações.

07 – Os pronomes pessoais são importantes elementos de coesão textual, podendo fazer referência a elementos do contexto extralinguístico/situacional e linguístico/textual. Indique a que se referem, na reportagem, os pronomes sublinhados a seguir:
a)   “Além dele, alguns filmes...” (1° parágrafo).
         “O filme 127 horas”

b)   Ela destaca, no entanto, que...” (2° parágrafo).
         “Marisa Palacios”

c)   “Para ela, a censura...” (3° parágrafo).
         “Marisa”

d)   “... elas não deixam de acontecer” (3° parágrafo).
         “Essas coisas”

e)   “... não exibi-las...” (3° parágrafo).
         “Essas coisas”

f)    “... apresenta-las...” (4° parágrafo).
         “Algumas situações”

08 – Além dos pronomes, expressões nominais também podem ter função referencial. Indique os referentes das expressões “essas coisas” e “o assunto”. Elas denotam sentido menos ou mais específico que seus referentes?
      “Essas coisas” possui referente implícito no texto, deduzido a partir das informações. Seriam as cenas realistas mostradas nos filmes, que podem causar reações indesejáveis nos espectadores. “O assunto” refere-se ao fato de que o sistema nervoso dos espectadores, ao se deparar com a realidade forçadamente, possa causar reações.

09 – As conjunções e locuções conjuntivas não só sintática, mas também semanticamente os segmentos textual. Além de ajudarem a estabelecer a coesão textual, muitas vezes, são pistas para perceber as intensões expressas no texto. Indique os sentidos produzidos por esses conectivos nos trechos a seguir:
a)   “Cinema é local de laser, entretanto, alguns filmes...” (1° parágrafo).
b)   “Ela destaca, no entanto, que...” (2° parágrafo).
      Demonstram que o jornalista deseja apresentar diferentes pontos de vista ao contrapor fatos: aspectos positivos e negativos do cinema (a) e resultado da pesquisa e necessidade de aprofundar os estudos (b).

10 – As preposições e locuções prepositivas também são importantes para o estabelecimento da coesão textual, exprimindo diferentes valores semânticos. Indique as circunstâncias introduzidas por elas nos trechos a seguir:
a)   Após casos de desmaios e enjoos” (1° parágrafo).
Tempo.

b)   Devido ao realismo da cena...” (1° parágrafo).
Causa.

c)   Sobre os filmes e cada pessoa” (2° parágrafo).
Assunto

d)   Para saber mais” (2° parágrafo)
Finalidade.

e)   Apesar de algumas situações serem extremas e desconfortáveis” (4° parágrafo).
         Oposição, contraste.

11 – Qual o objetivo do autor ao utilizar a expressão “vice-diretora e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (LESC-UFRJ)” (2° parágrafo. As virgulas poderiam ser retiradas? Explique.
      Tem função explicativa/informativa, principal característica da reportagem. Costuma materializar a intenção do produtor do texto de destacar alguma característica – no caso da reportagem, de apresentar as credenciais da entrevistada, que fazem com que seja aceita como “autoridade” no assunto. O termo deve ser separado, por vírgulas (travessões ou parênteses), do elemento a que se refere visto ser um esclarecimento complementar.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): DE UNS TEMPOS PRA CÁ - CHICO CÉSAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

ATIVIDADES COM A Música: De Uns Tempos Pra Cá

                                           Chico César
De uns tempos pra cá
os móveis, a geladeira
o fogão, a enceradeira
a pia, o rodo, a pá
coisas que eu quis comprar
deu vontade de vender
e ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

De uns tempos pra cá
o carro, a casa, o som
tv, vídeo, livros, bom...
o que em tese faz um lar
admito eu quis comprar
começo a me arrepender
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar

De uns tempos pra cá
o pufe, a escrivaninha
sabe a mesa da cozinha?
lençóis, louça e o sofá
não precisa se alterar
pensei em me desfazer
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

De uns tempos pra cá
telefone, bicicleta
minhas saídas mais secretas
tô pensando em deixar
dê no que tiver que dar
seu amor me basta ter
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar

                                      Composição: Chico César

Entendendo a canção:
01 – Qual é o tema da canção?
      O eu lírico demonstrar estar apaixonado e disposto de desfazer de coisas para ficar com sua amada.

02 – O eu lírico conta algo que:
a)   Está acontece no presente.
b)   Aconteceu em um passado bem próximo.
c)   Aconteceu num passado distante.
d)   Acontecerá num futuro bem próximo.

03 – Encontre na canção um verso ou expressão que confirme sua resposta da pergunta dois.
      “De uns tempos prá cá...”

04 – Por que o eu lírico quer se desfazer de tantas coisas?
      Só para ficar com sua amada.

05 – Ele diz que coisas e servem pra quê?
      Servem só pra tropeçar têm seu brilho no começo, mas se viro pelo avesso são fardo pra carregar.

06 – Você acha que quando amamos alguém, alguma coisa muda em nossa vida? Comente.
      Resposta pessoal do aluno.



POEMA: O CÂNTICO DA TERRA - CORA CORALINA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: O cântico da terra
              Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

Entendendo o poema:

01 – Cora Coralina, autora deste poema, é a grande poetisa do estado de Goiás, e utilizou em suas obras imagens rurais. Assinale a alternativa em que todas as palavras retiradas do texto, e que formam um campo semântico, remetem à zona rural:
a)   Espiga – roça – gado.
b)   Ventre – materno – seio.
c)   Berço – filho – pão.
d)   Homem – mulher – amor.
e)   Lavrador – fartura – lida.

02 – Em que versos evocam o lavrador, ressaltam seus objetos de trabalho, materializando mais uma vez a ideologia capitalista?
      “A ti ó lavrado, tudo quanto é meu. / Teu arado, tua foice, teu machado”.

03 – Que conselho o poema passa para os leitores na sua última estrofe?
      O eu poético está dizendo que é preciso trabalhar (lavrar), este refrão “e dono de sítio, felizes seremos”, descreve justamente o sistema de produção do capitalismo, o trabalho que dignifica o homem e a corrida pelo maior lucro, sempre.

04 – A associação entre terra e mulher é expressa no verso:
a)   “Sou a espiga generosa de teu gado”.
b)   “Sou o chão que se prende”.
c)   “Sou a razão de tua vida”.
d) “Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor”.

05 – A religiosidade do poema é revelada no verso:
a)   “A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.”
b) “De mim vieste pela mão do Criado
    c) “Eu sou a grande Mãe Universal.”
    d) “Sou a telha da coberta de teu lar.”

06 – O texto “O cântico da terra” pode ser considerado um poema porque os:
a)   Organiza-se em estrofes com o mesmo número de versos.
b) Explora a sonoridade e o duplo sentido das palavras
    c) Apresenta rima no final de todos os verso.
    d) Utiliza expressões da linguagem formal.

07 – Na quinta estrofe, o poema refere-se:
a)   Ao reencontro com o amor.
b) Ao retorno do viajante
     c) à morte do lavrador.
     d) à volta aos braços da mãe.

08 – O texto é um poema que conta:   
a)   O exílio do poeta.
b)   A criação do mundo.
c)   A origem da vida.
d)   A infância do lavrador.

09 – O eu poético através dos versos nos possibilita compreender um espaço social rural, como terra, gado, e o próprio trabalhador do campo, por isso é considerado, o quê?
      É considerado o hino do lavrador.

10 – O que nos sugere o título do poema, “O Cântico da Terra”?
      Sugere a determinação de uma dada religiosidade, pois Cântico se refere às antigas cantigas religiosas, como forma de poetizar as orações, hino comumente se refere a um canto de louvor a alguém ou uma nação.

11 – O poema é construído a partir de várias metáforas que formam imagens poéticas. Na sétima estrofe, é possível reconhecer que se faz referência a (ao):
a)   Vida.
b)   Morte.
c)   Nascimento.
d)   Meio ambiente.
e)   Desmatamento.





POESIA: CANTE DE LÁ... QUE EU CANTO DE CÁ - PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO


Poesia: CANTE DE LÁ... QUE EU CANTO DE CÁ

PATATIVA DO ASSARÉ

Poeta, cantô da rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.
Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá, que eu canto cá.

Você teve educação,
Aprendeu muita ciência,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa experiência.

Nunca fez uma boa palhoça,
Nunca trabalhou na roça,
Não pode conhecê bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê almoço de feijão
E a janta de mugunzá,
Vivê pobre, sem dinheiro,
Trabalhando o dia inteiro,
Socado dentro do mato,
De aprecata currelepe,
Pisando em riba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.

Você é muito ditoso,
Sabe lê, sabe escrevê,
Pois vá cantando o seu gôzo,
Que eu canto meu padecê.
Enquanto a felicidade
Você canta na cidade,
Cá no sertão eu enfrento
A fome, a dô e a miséria.
Pra sê poeta deveras,
Precisa tê sofrimento.

Sua rima, inda que seja
Bordada de prata e de ouro,
Para a gente sertaneja
É perdido este tesouro.
Com o seu verso bem feito,
Não canta o sertão direito
Porque você não conhece
Nossa vida aperreada.
E a dô só é bem cantada,
Cantada por quem padece.

Só canta o sertão direito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciência de Jó,
Puxando o cabo da enxada,
Na quebrada e na chapada,
Molhadinho de suó.

Amigo, não tenha queixa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De qual maneira se pega
Num ferro pra trabalhá,
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá que eu canto cá.

Repare que a minha vida
É diferente da sua.
A sua rima polida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem diferente,
Meu verso é como a semente
Que nasce em riba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obras da criação.

Mas porém, eu não invejo
O grande tesouro seu,
Os livros do seu colégio,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima completa,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada galho
E um verso em cada fulô.
 
Seu verso é uma mistura
É um tal sarapaté,
Que quem tem pouca leitura,
Lê, mas não sabe o que é.
Tem tanta coisa encantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistério e condão
E outros negócio impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.

Canto as fulô e os abróio
Com todas coisas daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se às vez andando no vale
Atrás de curá meus males
Quero repará pra serra,
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um dilúvio de rima
Caindo em riba da terra.

Mas tudo é rima rasteira
De fruta de jatobá,
De folha de gameleira
E fulô de trapiá,
De canto de passarinho
E da poeira do caminho,
Quando a ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa vida é diferente
E nosso verso também.
 
Repare que diferença
Existe na vida nossa:
Enquanto eu tô na sentença,
Trabalhando em minha roça,
Você lá no seu descanso,
Fuma o seu cigarro manso,
Bem perfumado e sadio;
Já eu, aqui tive a sorte
De fumá cigarro forte
Feito de palha de milho.
 
Você, vaidoso e faceiro,
Toda vez que quer fumá,
Tira do bolso um isqueiro
Do mais bonito metá.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meu artifício
Arranjado por aqui,
Feito de chifre de gado,
Cheio de algodão queimado,
Boa pedra e bom fuzí.
 
Sua vida é divertida
E a minha é grande pena.
Só numa parte de vida
Nós dois samo bem iguá:
É no direito sagrado,
Por Jesus abençoado
Pra consolá nosso pranto,
Conheço e não me confundo
Da coisa melhó do mundo
Nós goza do mesmo tanto.

Eu não posso lhe invejá
Nem você invejá eu
O que Deus lhe deu por lá,
Aqui Deus também me deu.
Pois minha boa mulhé,
Me estima com muita fé,
Me abraça, beija e quer bem
E ninguém pode negá
Que das coisa naturá
Tem ela o que a sua tem.

Aqui findo esta verdade.
Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.
Já lhe mostrei um espêio,
Já lhe dei grande consêio
Que você deve tomá.
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá que eu canto cá.
                                  Patativa do Assaré

Entendendo a poesia:

01 – A poesia acima são décimas (estrofes de dez versos) que seu autor, classificava como poesia matuta. Nelas, a oposição entre lá e cá, ou seja, entre poesia de salão e poesia da criação, autoriza dizer que existe no campo da linguagem uma:
a)   Metáfora do conflito de classes por meio do contraste entre a literatura elitizada e a popular.
b)   Superioridade da experiência adquirida na natureza em relação à obtida em meio à civilização.
c)   Associação entre as variedades linguísticas e as diversidades de repertórios culturais.

02 – A poesia é construída sobre uma antítese, isto é, uma relação entre ideias contrastantes. Que elementos são colocados em oposição? Como eles se caracterizam?
      A poesia é construída com base na presença de uma antítese, que é notada no decorrer do texto onde podemos perceber que o eu lírico fala que não precisa do que tem na cidade, mas sim do que tem no sertão, evidenciando as diferenças entre as duas realidades.

03 – A linguagem evidencia marcas de uma variedade linguística regional brasileira. Qual?
      Sim, a linguagem evidencia a presença de uma variação linguística regional, onde temos o sertanejo como linguagem presente, de alguém interiorano.

04 – Analise e compare as formas paioça e trabaiou, que aparecem na poesia, com as formas palhoças e trabalhou. Que diferença você observa em relação à grafia e a pronúncia entre os dois pares de palavras?
      A grafia e a pronuncia são feitas de formas diferentes, onde temos que a presença do “lh” é retirado das palavras, para que possa ser feita a substituição do “io”.

05 – Essa diferença na grafia das palavras alterou o número de letras e de fonemas em cada uma delas? Explique.
      O número de letras foi alterado, mas o número de fonemas não necessariamente, apresentando o mesmo número de fonemas que falamos em ambos os casos, mas são colocados de formas diferenciadas.

06 – Observe como foram escritas as palavras cantô, precisá, favô e conhecê. Que letra foi substituída em todas elas?
      Na escrita das palavras cantô, precisá, favô e conhecê temos a retirada da letra “r” e do acréscimo de acentos nas vogais.

07 – Os acentos circunflexos foram colocados nessas palavras por razões relativas à modalidade oral ou escrita? Explique o que você entendeu a respeito disso.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os acentos podem ser relacionados a modalidade linguística, nesta poesia ao regionalismo.