quinta-feira, 23 de maio de 2019

ROMANCE: VIAGENS DE GULLIVER - JONATHAN SWIFT - COM QUESTÕES GABARITADAS

Romance: Viagens de Gulliver
     
    Viagem a Lilliput – Após a tempestade, um reino em miniatura

        A tempestade começou de repente. Ondas de mais de 30 metros envolviam o navio e o jogavam de um lado para outro, como se fosse de brinquedo. Rajadas de vento logo destruíram as velas. 
       Eu era o médico de bordo e fiquei esperando o pior.
        -- Recifes a estibordo!
        O grito desesperado do marinheiro que estava na gávea soou quase ao mesmo tempo que o barulho do choque do majestoso veleiro Antílope, no qual viajávamos, com a pedras. Foi uma confusão dos diabos. Tripulantes correndo em todas as direções, gente gritando, outros jogando-se no mar, cada um tentando salvar a própria pele.
        Estava quase paralisado pelo medo, as mãos grudadas na amurada do convés, quando fui cuspido para fora do navio, que já se inclinava perigosamente. Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim – confesso que não me lembro como consegui – estava num pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o máximo possível do Antílope, que começava a afundar. Sabíamos que, se ficássemos por perto, seríamos tragados pelo oceano por causa do redemoinho que sempre se forma em torno de uma embarcação quando está submergindo.
        O esforço valeu, mas foi sobre-humano. Exaustos, largamos um pouco os remos e deixamo-nos levar pelas ondas, apesar do perigo ainda presenta. Foi só o tempo de curvar um pouco o corpo para a frente, a fim de aliviar a tensão nas costas... De repente, uma onda traiçoeira, surgida da escuridão, jogou o bote longe, despejando-nos outra vez na água.
        Ao voltar à tona, apavorado, tentei enxergar algum companheiro do bote. Sentindo que ia afundar, a água entrando em minha boca, gritei por eles como pude, uma, duas, sei lá quantas vezes. A única resposta foi o estrondo das ondas e o zunir do vento. Parecia definitivo: eu estava ali, no meio do oceano, sozinho...
        No entanto, logo reagi. Estava vivo e isto, diante das circunstâncias, já era alguma coisa. Minha preocupação passou a ser só uma: manter-me vivo. Comecei então a nadar às cegas.
        Lutei com as ondas durante horas a fio. De vez em quando, para mexer outros músculos, nadava cachorrinho. Foi assim que, ao esticar uma das pernas, toquei em alguma coisa que parecia o fundo. Seria possível? Não podia acreditar. Estiquei novamente a perna, bem devagarinho, e lá estava, sólido, o fundo do mar. Pude então ficar de pé, com a água batendo no meu queixo. Com o resto das forças, caminhei em direção à praia, onde, exausto, deixei o corpo cair sobre a areia fofa. Estava salvo, pelo menos de morrer afogado. Olhando o céu, ainda com estrelas, a primeira imagem que me apareceu foi a de minha mulher Mary e das crianças.
        Mary havia discordado totalmente desta minha viagem: fez de tudo para que eu desistisse. Lembrou minhas promessas de nunca mais navegar (eu adorava viajar por mar), contou velhas histórias de navios engolidos pelo oceano ou devorados por monstros e disse ainda que eu deveria cumprir minhas obrigações de pai e marido.
        Não adiantou. Minha paixão pela aventura tinha uma força irresistível. Exercia uma atração incontrolável sobre mim e despertava-me uma sensação que eu amava desde a juventude. Logo que me formei em medicina, embarquei como médico de bordo para correr o mundo e os riscos das novas rotas de navegação. Por causa disso tudo, eu embarcara no Antílope, deixando o porto de Bristol, Inglaterra, no dia 4 de maio de 1699.
        Assim, pensando em Mary, nas crianças e em grandes aventuras, adormeci profundamente, longe de imaginar que estava sendo observado por alguns olhinhos escondidos na selva.
        Não sei por quantas horas dormi. Ao acordar, senti o sol nos olhos. Tentei mover a cabeça e não consegui: meus cabelos estavam presos ao chão. Tentei me levantar e não pude: meu corpo estava como que colado na areia. Meu Deus! O que estaria acontecendo? Para piorar a situação, senti algo subindo pela minha perna esquerda. Pensei que fosse algum siri ou caranguejo. Mas aquela coisinha logo alcançou meu peito... Baixei bem os olhos, como se fosse examinar a ponta de meu nariz, e vi uma criaturinha humana de menos de um palmo de altura, observando-me com o mesmo olhar de espanto com que eu a encarava.
        Percebi então que dezenas de outros homenzinhos como aquele corriam pelo meu corpo. Assustado, dei um tremendo berro. Foi como um terremoto para eles. Apavorados, começaram a atirar-se ao chão. Deviam ser centenas, pelo burburinho que produziam.
        Um deles, mais corajoso, gritou:
        -- Hekinah degul!
        Todos começaram a repetir a mesma coisa, cada vez mais alto. Só pensei em sair dali. Concentrei minhas forças no braço esquerdo e consegui libertá-lo. Todo o meu corpo estava amarrado por centenas de linhas a ganchos espetados no chão. Antes que pudesse soltar as outras amarras com a mão esquerda, ouvi um segundo grito uníssono:
        -- Tolgo phonac!
        Era uma ordem de ataque, por que senti centenas de pequenas flechadas em minha mão esquerda e no rosto. Eram como picadas de agulhas. Já irritado, tentei livrar-me delas, mexendo o corpo o quanto podia. Mas recebi uma chuva maior de flechadas e resolvi aquietar-me para pensar melhor no que fazer.
        Enquanto isso, eles construíram rapidamente um minipalanque de meio metro de altura do meu lado esquerdo, próximo à minha cabeça. Alguns deles subiram até lá, e aquele que parecia o chefão do grupo deu um novo grito: então uns 50 homenzinhos cortaram os fios que prendiam minha cabeça, e eu a virei em direção ao palanque.
        Nesse momento, o tal chefe proferiu um longo discurso, do qual não entendi coisa alguma. Pela entonação, imaginei que fazia ameaças. Quando terminou, ficaram todos em silêncio, olhando para mim, como se eu tivesse entendido tudo e devesse responder. Fiz uma cara de bons amigos, de quem não quer briga e, com a mão esquerda, tentei mostrar que estava com fome.
        O chefe entendeu imediatamente, o que foi um alívio. Já haviam mandado preparar a comida: a uma ordem sua, mais de 100 homenzinhos começaram a subir por uma escada, encostada em meu corpo, para trazer os alimentos até minha boca. Eram pernis e lombos assados de carneiro, menores do que asas de passarinho, que eu comia com pãezinhos do tamanho da unha do meu dedo mínimo. Havia também o que beber. Colocaram em minha mão esquerda tonéis de vinho, cada um equivalente a um copo dos nossos. Fui bebendo, um a um, rapidamente.
        Percebi que ficaram surpresos com a quantidade que eu comia e a velocidade com que o fazia, mas notei que estavam completamente à vontade ao me alimentar. Passeavam pelo meu corpo com desenvoltura e eu bem que me senti tentado a pegar uns 30 ou 40 e atirá-los todos no chão. Porém, logo me lembrei das flechadas... Além disso, de alguma maneira, eu tinha firmado um acordo de paz ao ficar submisso e não podia atacar um povo que me dava comida em abundância e com tanta boa vontade.
        Terminada a refeição, todos os homenzinhos que estavam me alimentando desceram pela escada. Logo após, apenas um subiu em mim, pela perna direita. Bem solene, chegou ao meu rosto e mostrou suas credenciais com as armas do reino. Em seguida subiu a comitiva, mais ou menos umas 12 pessoas. Depois, todos desceram e foram novamente para o palanque.
        O homenzinho das credenciais iniciou então novo discurso, só que desta vez acompanhado de muita mímica. Falava várias vezes a palavra Lilliput, que mais tarde eu soube ser o nome do país, e apontava em certa direção: era a capital, para onde o rei havia decidido que eu seria levado. Fiz gestos indicando que eu queria ser desamarrado, mas a autoridade presente foi firme e sacudiu a cabeça negativamente. Fiquei zangado e tentei soltar-me outra vez. Fui atingido então por milhares de flechas, por que agora os meus pequenos inimigos eram muito mais numerosos. Pedi desculpas pelo incidente e demonstrei que concordava com as condições impostas.
        -- Pelom selan – ordenou Sua Excelência.
        Os homenzinhos que estavam no chão começaram a cuidar de mim, passando um unguento para aliviar a dor das flechadas. Ao mesmo tempo foram soltando, aos poucos, as amarras que me prendiam o lado esquerdo do corpo, o que me permitiu, com alívio, mudar de posição. Eu nada podia fazer, mesmo livre pela metade, pois estava com muito sono: os pequenos habitantes daquela terra haviam misturado ao vinho um remédio para dormir.
        Tonto, já quase adormecendo, pude ainda ver chegar perto de mim uma enorme carreta de madeira, sobre rodas.
        [...]
          Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Trad. Cláudia Lopes.
São Paulo: Scipione, 1991. p. 5-10.
Entendendo o romance:
01 – De acordo com o texto qual o significado das palavras abaixo:
·        Recife: formação rochosa, em áreas de pouca profundidade.
·        Estibordo: o lado direito do navio, para quem o vê da popa para a proa.
·        Gávea: plataforma a certa altura dos mastros de um navio.
·        Amurada: lado interno do costado de uma embarcação.
·        Convés: qualquer dos pisos ou pavimentos de um navio.
·        Unguento: tipo de pomada.

02 – O título é sempre um elemento importante em um texto. Após a leitura do título do capítulo apresentado, foi possível prever o que seria narrado? Comente.
      Sim, pois ocorreu uma tempestade e, em seguida, o personagem principal da história conheceu uma ilha com seres muito pequenos, em miniatura, como sugere o título.

03 – No final do texto, o narrador diz que dormiu, pois os homenzinhos haviam misturado um remédio para dormir à bebida oferecida a ele.
a)   Você já conhecia essa história? Comente.
Resposta pessoal do aluno.

b)   Em caso negativo, o que você acha que aconteceu com o médico após ele ter dormido?
Resposta pessoal do aluno.

04 – O texto que você leu é uma narrativa. Identifique qual dos elementos da narrativa permite caracterizá-lo como de aventura.
      O enredo: construído por meio de uma ação envolta de acontecimentos que dão ritmo acelerado e empolgante à narrativa (classifica-se como aventura porque no texto é retratada uma ação arriscada, perigosa, extraordinária); O espaço: mar, ilha distante e desconhecida.

05 – A partir da leitura, é possível descobrir quem narra a história? Em que pessoa do discurso se encontra a narrativa? Explique.
      Sim. A narrativa está em 1ª pessoa, pois quem narra a história é o personagem que vivencia os fatos, no caso, o médico Gulliver.

06 – O narrador constrói a narrativa com poucos diálogos e com uma descrição intensa das cenas e sensações vividas. Comente o efeito que o emprego desse modo de narrar acarreta à narrativa de aventura.
      A narrativa centrada mais nas ações que no diálogo permite ao leitor imaginar os acontecimentos de forma mais próxima da que os personagens viveram.

07 – Nos primeiros parágrafos do texto, o narrador explica como foi iniciada a aventura e descreve uma situação muito perigosa e emocionante. Que situação é essa?
      Uma tempestade em alto-mar.

08 – Ao perceber que estava sozinho, Gulliver ficou apavorado. Em que momento ele se deu conta disso? O que ele fez em seguida?
      Ele percebeu que estava sozinho quando uma onda traiçoeira surgiu na escuridão e jogou o bote longe, fazendo com que seus companheiros sumissem no mar. Em seguida, ele decidiu que ia manter-se vivo e nadou às cegas até encontrar uma praia.

09 – Logo que chegou a praia, o narrador lembrou-se das palavras de sua mulher, que, em vão, tentou impedi-lo de realizar aquela aventura pelo mar.
a)   Por que ela quis impedi-lo?
Porque temia os perigos que ele poderia enfrentar e também porque queria que ele ficasse com ela e com os filhos.

b)   O que o motivava a seguir viagem apesar dos perigos descritos por sua esposa?
Sua paixão pela aventura, que despertava nele uma sensação de prazer muito grande.

10 – Ao acordar na praia após naufragar, o médico encontrou habitantes muito diferentes do que estava acostumado a ver. Tanto Gulliver quanto os homenzinhos ficaram apavorados. O que provocou tanto assombro e espanto?
      A aparência de cada um. Os homenzinhos eram seres muito pequenos e Gulliver um ser “gigante”. Assim, todos ficaram assustados em virtude do diferente, do desconhecido.

11 – O médico não entendia o que os moradores daquela ilha estavam dizendo. No entanto, como ele conseguiu perceber o que aqueles homenzinhos queriam comunicar?
      Por meio da entonação da voz e de alguns gestos que eles faziam.

12 – Quando conheceu os homenzinhos, Gulliver não conseguiu se comunicar de imediato com eles. De que forma Gulliver estabeleceu um acordo de paz com os habitantes da ilha?
      Gulliver demonstrou concordar com as condições impostas.

13 – Releia o trecho seguinte: “Ondas de mais de 30 metros envolviam o navio e o jogavam de um lado para outro, como se fosse de brinquedo”.
a)   A que a palavra em destaque se refere?
A palavra em destaque retoma a palavra navio.

b)   A que classe de palavras a palavra destacada pertence?
Pertence à classe dos pronomes, no caso, pronome pessoal oblíquo.

c)   Que efeito de sentido o uso desse recurso dá ao texto?
Esse recurso elimina a repetição de uma determinada palavra, evitando que ele se torne repetitivo.

14 – Releia o seguinte trecho: “[...] Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim – confesso que não me lembro como consegui – estava num pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o máximo possível do Antílope, que começava a afundar.”

a)   De quem é essa fala? Qual é a função dos travessões nesse trecho? Explique.
Essa fala é de Gulliver. O travessão indica o acréscimo de uma informação, um comentário a mais sobre o que está sendo dito.

b)   Que outro sinal gráfico poderia ser usado para desempenhar a mesma função? Encontre no texto um exemplo que justifique sua resposta.
Os parênteses. “Eu adorava viajar por mar”.

15 – Quando percebe que está sozinho, o narrador diz: “Parecia definitivo: eu estava ali, no meio do oceano, sozinho...”.
a)   A que palavra a expressão em destaque se refere?
À palavra definitivo.

b)   Que função sintática essa expressão exerce?
Aposto explicativo.

c)   Identifique outro trecho do texto em que essa mesma estrutura aparece.
“Minha preocupação passou a ser só uma: manter-me vivo”.

16 – Observe as expressões em destaque nos trechos a seguir e escreva o significado com que elas foram empregadas.
a)   Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim [...].
Recuperei a consciência.

b)   O esforço valeu, mas foi sobre-humano.
Fora do comum.

c)   Comecei então a nadar às cegas.
Sem rumo preestabelecido.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

POEMA: AO LONGE OS BARCOS DE FLORES - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

Poema: Ao longe os barcos de flores
             
   Camilo Pessanha

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
-- Perdida voz que de entre as mais se exila,
-- Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Clepsidra e outros poemas. Lisboa, Edições Ática, 1973.

Entendendo o poema:

01 – Que elementos simbolistas encontramos, numa primeira leitura do poema?
      A musicalidade, a sugestão de sensações vagas, indefinidas e a atmosfera de sonho e tristeza.

02 – Que versos, repetidos, intensificam a atmosfera de sensações vagas e indefinidas, predominante no texto?
      “Só, incessante, um som de flauta chora / Viúva, grácil, na escuridão tranquila”.

03 – Exemplifique os seguintes recursos simbolistas, presentes nos versos da questão 2:
a)   Imagens musicais.
“Um som de flauta chora”.

b)   Aliterações e assonâncias.
Aliteração: consoantes s e t. Assonância: vogais ó e i.

c)   Imagens de solidão.
“Só”; “Viúva... na escuridão tranquila”.

d)   Imagens de sutileza.
Os dois versos são imagens sutis, reforçadas pela palavra “grácil”.

04 – Encontre um exemplo de sinestesia na 1ª estrofe do poema.
      O último verso da estrofe – “Festões de som dissimulando a hora” – constitui um exemplo de sinestesia, já que associa imagens visuais e auditivas (“festões de som...”).

05 – Que sinais de pontuação o clima de “sugestão do indefinível”, tipicamente simbolista, que faz desse poema um dos mais sugestivos exemplos da presença do estilo em Portugal?
      Trata-se das reticências.

POEMA: MUSA IMPASSÍVEL - FRANCISCA JÚLIA - COM GABARITO

Poema: MUSA IMPASSÍVEL
                
         Francisca Júlia

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.



Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.

               In Péricles Eugênio da Silva Ramos. Panorama da poesia brasileira:
Parnasianismo, vol. 3. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira, 1959.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado das palavras abaixo:
·        Sobrecenho: semblante severo.
·        Idílico: amoroso.
·        Descante: canto.
·        Anguiforme: que tem a forma de serpente.
·        Marcial: relativo à guerra.
·        Hemistíquio: a metade de um verso alexandrino, e, por extensão, de qualquer verso.
·        Creba: repetida.
·        Calhau: fragmento de rocha dura, pedra solta, seixo.

02 – Ao longo do soneto, o sujeito poético tem como interlocutora a sua musa, isto é, a sua fonte de inspiração artística.
a)   Quais as características da musa, presentes no primeiro quarteto?
As características são a impassibilidade: “Um gesto sequer de dor ou de sincero”; a beleza virginal: “o cândido semblante”; e o orgulho, a gravidade: o “sobrecenho austero”

b)   Ainda de acordo com essa estrofe e com os dois versos iniciais do segundo quarteto, que comportamentos a musa deve rejeitar, para manter suas características?
Os comportamentos que a musa deve rejeitar são a tristeza e também o “suave e idílico descante”, isto é, o canto amorosa.

c)   Tais comportamentos lembram que estilo literário? Por quê?
Tais comportamentos lembram o Romantismo, pois são de natureza emocional.

03 – A “Musa Impassível” parnasiana é fundamentalmente anti-romântica. Como o título e os seis versos iniciais do poema justificam a 1ª parte dessa afirmação?
      O título do poema e também seus versos iniciais justificam a 1ª parte dessa afirmação na medida em que caracterizam a musa parnasiana como impassível, impessoal, indiferente e austera; atributos claramente racionalistas e, portanto, anti-românticos.

04 – Nos tercetos aparecem alguns dos principais traços estilísticos valorizados pelos parnasianos, que buscavam sobretudo a perfeição formal, de acordo com os critérios clássicos. Exemplifique tais traços com passagens dessa parte, depois de observar o exemplo abaixo.
Descritivismo impessoal e objetivo (versos elaborados com tal racionalidade e precisão que parecem existir sem interferência humana):

        “Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
        Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
        Ora o surdo rumor de mármores partidos”.

a)   Preciosismo linguístico e vocabular (busca da palavra rara e perfeita, dos elementos poéticos – a métrica, a rima, as imagens, as estruturas sintáticas, etc.
“Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva.”

b)   Culto ao equilíbrio clássico e referências à mitologia greco-latina.
“Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.”

05 – Considerando as características do Parnasianismo percebidas até agora, dê a sua opinião: a poesia parnasiana é resultado da inspiração ou do trabalho, da “transpiração”?
      Para os poetas parnasianos a poesia resulta muito mais de “transpiração” do que de inspiração.

06 – Agora compare os estilos das Escolas Realistas: de um lado o Realismo e o Naturalismo e, de outro, o Parnasianismo. Encontre uma semelhança e uma diferença entre eles.
      O que aproxima essas escolas é a postura racionalista, anti-romântica e os cuidados técnicos na elaboração da obra de arte. Quanto à diferença, enquanto o Realismo e o Naturalismo são engajados politicamente, no Parnasianismo predomina o esteticismo, o ideal da “arte pela arte”.  








TEXTO: VIOLÊNCIA SOCIAL - ALUNO DO 3º ANO ENSINO MÉDIO - COM GABARITO

Texto: VIOLÊNCIA SOCIAL

        A violência no Brasil acontece pela diferença econômica e social que existe nas sociedades nacionais.
        O Brasil está mudando, crescendo e progredindo, só que ainda existe a má distribuição de renda para as populações. Assim o “cidadão” privilegiado vivendo na pobreza, na miséria fica revoltado e tem como solução de vida violentar os outros para sobreviver.
        Para outros a sobrevivência formada na miséria é se adaptar as drogas para fugir da realidade e não saber o que se faz.
        Dentro dessas desigualdades encontra-se o comércio clandestino de armas que se transforma em um ato comum do dia-a-dia do cidadão. A arma é usada como um utensílio “doméstico”.
        Entretanto o Estado deve dar prioridades a classe baixa, investindo em educação, moradia, saúde, uma distribuição de renda bem feita, para chegarem numa condição de vida melhor e para que esta parte social não tenha necessidades de procurarem e violentarem outras pessoas para terem uma vida decente.
                                                      Aluno do 3° ano do ensino médio.
Entendendo o texto:

01 – No primeiro parágrafo do texto contém apenas uma ideia-núcleo, que foi desenvolvida. Além disso, a expressão “nas sociedades nacionais” não foi bem empregada.
a)   Que termo substituiria adequadamente a expressão mencionada?
Classes sociais.

b)   Que ideias secundárias poderiam garantir, nesse parágrafo, o desenvolvimento da ideia-núcleo e a progressão textual?
Entre outras possibilidades, o autor poderia ter descrito o perfil das classes sociais a que se refere.

02 – Na passagem do 1° parágrafo para o 2° parágrafo, não há nenhuma palavra que retome um termo ou uma ideia anteriormente expressos, do que resulta a impressão de que esses parágrafo estão soltos, isto é, sem coesão. Procure perceber a relação entre esses dois parágrafos e responda:
a)   Que ideia do 1° parágrafo o autor tenta desenvolver no 2° parágrafo?
A ideia de que a violência resulta das diferenças entre as classes sociais.

b)   Que outra redação poderia ser dada ao primeiro período do 2° parágrafo, de modo a explicitar a relação de continuidade existente entre os dois?
Essas diferenças sociais continuam existindo, apesar de o país estar mudando, crescendo e progredindo.

c)   Que outras ideias secundárias poderiam dar progressão ao texto, desenvolvendo a ideia-núcleo lançada nesse parágrafo?
As causas da “revolta” do cidadão pobre e as razões de a violência tornar-se uma saída para ele poderiam ser especificadas pelo autor.

03 – No 3° parágrafo, as ideias são pouco desenvolvidas.
a)   Está claro, no texto, a quem se refere o pronome outros da expressão “Para outros”? Caso não, que redação você daria a esse trecho, de modo a garantir a relação de continuidade desse parágrafo com o anterior?
Não. Esse pronome só estaria bem-empregado se, no parágrafo anterior, houvesse uma expressão como “para alguns”. Nesse caso, teríamos algo como “Por outro lado / Para outros, a única forma de sobreviver na miséria é fugindo da realidade por meio das drogas”.

b)   Que outras ideias poderiam ser desenvolvidas nesse parágrafo?
Entre outras, o autor poderia aprofundar a ideia de que miséria e drogas estão relacionadas, tanto no aspecto do consumo quanto no de tráfico.

04 – No quarto parágrafo, o autor emprega uma marca de continuidade, constituída pela expressão “Dentro dessas desigualdades”. Na sua opinião, essa expressão está bem-empregada no conteúdo? Justifique.
      Não, pois tendo a única referência à desigualdade ocorrido no 1° parágrafo (“diferença econômica e social”), ela já se encontra distante: além disso, não se tratou do lado privilegiado da sociedade, de modo que não houve contraposição entre um lado e outro.

05 – O último parágrafo é iniciado com a conjunção adversativa entretanto, cujo papel é estabelecer oposição entre as ideias. Considerando-se a relação que normalmente há entre a conclusão e as partes anteriores de um texto, a palavra entretanto estabelece a conexão adequada à finalização do texto? Se sim, justifique. Se não, aponte a conjunção que substituiria satisfatoriamente a palavra entretanto.
      Não. O sentido pretendido pelo autor é de conclusão. Logo, caberia uma palavra ou expressão como portanto, assim, desse modo, etc.

06 – O texto não fugiu ao tema proposto. Apesar disso, não pode ser considerado um bom texto, em virtude de alguns problemas relacionados à textualidade. Identifique esses problemas.
a)   Ausência de sinalizadores claros de continuidade, que garantem a retomada de palavras e ideias.
b)   Ausência de ideias secundárias, que fundamentam a ideia-núcleo dos parágrafos, de modo a garantir a progresso textual e o grau adequado de informatividade ao texto.
c)   Ausência de introdução, na qual é lançada uma tese ou ideia principal; de desenvolvimento, em que são lançados os argumentos; da conclusão.
d)   Emprego inadequado de termos, o que comprovante a coerência e a coesão das ideias.




TEXTO: POSOLOGIA E CONTRAINDICAÇÕES: VIDE BULA - GUIA DO ESTUDANTE - COM GABARITO

Texto: Posologia e contraindicações: vide bula
                          
    Guia do estudante

        O riso, antes restrito a piadas, comédias e conversas informais, tornou-se “assunto sério”, material de pesquisa. E, depois de muitos estudos acerca desse tema, comprovou-se a estreita ligação entre o senso de humor e a vida harmônica da sociedade: aquele que mantém o sorriso no rosto está mais apto a lidar com seus próprios problemas e a se relacionar com os outros.
        Primeiramente, o bom humor afasta o desespero trazido pelos obstáculos cotidianos que a vida impõe. Frente a situações difíceis e penosas, é comum que as pessoas tenham reações incoerentes e descontroladas, como considerar tudo incontornável. Nesses casos, o riso funciona como uma luz que clareia a questão e aponta bons caminhos. Enfim, os dotados de senso de humor se mostram menos rígidos e mais pró-ativos na resolução dos problemas dia-a-dia.
        A segunda capacidade importante desse estado de espírito é plenamente notada nas relações interpessoais. O riso, por constituir uma linguagem universal, já representa um forte fator de aproximação; enquanto o bom humor tem papel essencial na manutenção de qualquer amizade ou “coleguismo”. Devido ao poder de flexibilidade que essa característica concede, aqueles que a possuem também costumam tolerar mais as diferenças e lidar melhor com as pessoas.
        Há, contudo, limites para o humor; não se deve confundir risos descontraídos com gargalhadas maníacas e constantes. Muitas pessoas veem a vida como uma piada eterna, na tentativa de escapar dos obstáculos encontrados, e têm dificuldades para distinguir os momentos em que é preciso manter uma postura séria e lutar pelo que se deseja.
        Tanto nas questões individuais quanto nas interpessoais, o bom humor tornou-se pré-requisito, pois traz consigo uma gama enorme de qualidades indispensáveis para a vida em sociedade. Deve-se apenas atentar ao “vício do riso” para não o transformar em obsessão. Em todos os outros casos, rir é mesmo o melhor remédio e não tem contraindicações. 

                     Guia do estudante – Redação vestibular 2008. São Paulo: Abril, 2008. p. 44.

Entendendo o texto:

01– O texto inicia-se com uma afirmação.
a)   Que nova ideia é introduzida depois a respeito dessa afirmação?
A ideia de que há uma ligação entre o senso de humor e a vida harmônica da sociedade.

b)   Que palavra retoma a palavra “riso” no 1° parágrafo?
É sorriso.

02 – O 2° parágrafo do texto inicia-se com a expressão Primeiramente. Qual é o papel dessa expressão nesse parágrafo? Indique a resposta CORRETA.
a)   Dar continuidade ao texto, retomando a ideia apresentada no 1° parágrafo.
b)   Introduzir um exemplo, dando progressão ao texto.
c)   Mudar de assunto, introduzindo um exemplo.

03 – No 3° parágrafo do texto:
a)   Que expressão retoma a ideia apresentada no 2° parágrafo, mostrando, através da enumeração. Que haverá uma continuidade do que foi dito nele?
A segunda capacidade importante.

b)   Considerando-se os parágrafos anteriores, há informações novas nesse parágrafo? Justifique.
Sim. O tema é o mesmo, mas nesse paragrafo a estudante aborda um outro aspecto do riso: a contribuição dele para as relações interpessoais.

04 – A sequência de um texto se constrói com um duplo movimento: um de retomada (continuidade) e outro de acréscimo de novas informações (progressão). Releia o 4° parágrafo.
a)   Que palavra faz uma ressalva ao que foi discutido nos parágrafos anteriores?
A palavra contudo.

b)   Que informação nova é acrescentada ao texto, garantindo sua progressão?
Que o humor tem limites.

c)   Levante hipóteses: Por que a estudante que defendeu, nos parágrafos anteriores, o riso, resolve fazer uma ressalva em relação a ele?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Para enriquecer o texto e mostrar que mesmo as coisas boas, em excesso, podem se tornar negativas.

05 – Observe o parágrafo final. Qual é o papel dele no texto?
      Concluir o que estava sendo desenvolvido ao longo do texto e sugerir que devemos rir, pois é o melhor remédio e não tem contraindicações.




terça-feira, 21 de maio de 2019

POEMA: BUDISMO MODERNO - AUGUSTO DOS ANJOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: BUDISMO MODERNO
      
       Augusto dos Anjos

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!

In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.84.

Entendendo o poema:
01 – Qual é o tema do poema “Budismo Moderno”?
      É um poema fundamentado numa visão pessimista e niilista do budismo que predominou no Ocidente no fim do século XIX e no início do século XX.

02 – O que é Budismo?
      O budismo é a doutrina fixada na crença do desapego material e disseminada por Buda, conforme os estágios das quatro nobres verdades: 
1.   Tudo é dor; 
2.   A dor nasce do desejo; 
3.   A dor cessa com a extinção do desejo; 
4.   Para extinguir o desejo deve-se seguir o caminho dos oito passos da tradição budista. 

03 – O que enfatiza o “Budismo Moderno”?
      O budismo moderno enfatiza a meditação, a leitura e a compreensão racionalista dos textos sagrados. 

04 – Identifique no poema de Augusto dos Anjos, imagens inusitadas que aproximam o texto das propostas de ilogismo e absurdo que seriam feitas pelo Surrealismo cerca de vinte anos mais tarde.
      Principalmente a imagem de cortar a pessoa com uma tesoura.

05 – Relacionar o poema de Augusto dos Anjos ao Simbolismo e ao Naturalismo e observar pontos de contato entre essas estéticas e o poema.
      O poema aproxima-se da estética simbolista quanto à visão de mundo, à dor de existir, ao pessimismo; e aproxima-se da estética naturalista quanto ao vocabulário científico e a visão materialista e científica da vida.