Música(Atividades): Vou me
Embora Pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
In: Manuel Bandeira. Poesia completa e
prosa,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. 425.
Entendendo a canção:
01 – Os versos “Vou-me
embora pra Pasárgada / Aqui eu não sou feliz” exprimem o desejo do eu lírico de
fugir da realidade concreta e adentrar outro tipo de realidade, a sonhada ou
idealizada. Esse desejo se associa ao escapismo dos escritores românticos, e a
oposição existente no texto entre o aqui e o lá faz lembrar os versos da
“Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, veja:
“Minha
terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
“Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite
-- Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”
a)
A que espaço se refere o cá/lá de cada um?
Para Gonçalves Dias, o cá é Portugal; para Bandeira, é a realidade
concreta, no Brasil ou em qualquer outro lugar.
b)
Que semelhanças e diferenças há entre o lá de
Gonçalves Dias e o lá de Manuel Bandeira?
Para ambos, o lá representa um mundo de delícias. Contudo, para
Gonçalves Dias o lá é o Brasil, a pátria; enquanto para Bandeira não se coloca
a questão da pátria, o lá é um mundo imaginário.
02 – Pasárgada é o mundo da
liberdade, do permitido, da realização plena dos desejos. Opõe-se diretamente,
portanto, ao mundo real, cheio de proibições, de regras, de lógica e de moral.
a)
Em sua lógica particular, o eu lírico afirma:
“Lá sou amigo do rei”. Que vantagens há nessa condição?
Essa condição hipoteticamente lhe permitiria estar acima de todas as
leis.
b)
Identifique no texto exemplos de transgressão
das normas da considerada “boa conduta social”.
Consumo de drogas (alcaloides) e namorar prostitutas.
c)
Os surrealistas consideravam a razão uma
verdadeira prisão para a criação artística. Assim, procuravam desenvolver
métodos que a driblassem, como o uso de non sense (textos sem nexo) e, assim,
alcançar a liberdade total. Identifique, no poema, um exemplo de non sense.
Está na 2ª estrofe: “Joana a Louca de Espanha / Rainha e falsa
demente / vem a ser contraparente / Da nora que eu nunca ative.”
03 – Pode-se dizer que esse
poema de Manuel Bandeira também é uma espécie de canção de exílio? Por quê?
Sim. Porque o poeta quer largar tudo e ir
para um lugar em que poderá viver melhor. Mas esse “exílio” é interno; o poeta
sente-se infeliz e quer ir buscar a felicidade.
04 – É válido afirmar que a
Pasárgada de Manuel Bandeira é a expressão de um ideal nacionalista e coletivo
como é a terra brasileira na “Canção do exílio” de Gonçalves Dias? Por quê?
Não. Pois a Pasárgada
de Bandeira é um lugar mítico, uma terra de felicidades e prazeres que só
existe na imaginação do poeta. O que é saudade da terra natal, em Gonçalves
Dias, em Bandeira é saudade de um tempo feliz.
05 – Do ponto de vista da
forma, há semelhanças entre os textos? Justifique sua resposta.
Sim, pois ambos
são compostos de redondilhas maiores (versos de sete sílabas poéticas).
06 – Na 3ª estrofe, o poema
faz menção a um conjunto de ações comuns na infância. Levando em conta os dados
biográficos do autor, explique por que essas ações são supervalorizadas.
Certas ações
simples do cotidiano – andar de bicicleta, tomara banhos de mar, etc. –
tornaram-se impossíveis para o poeta, por força da tuberculose. Assim, figuram
no mundo imaginário de Pasárgada.
07 – Releia a última estrofe
do poema de Bandeira. Nela se percebe que, às vezes, o mundo de prazeres
oferecidos por Pasárgada sucumbe.
a)
Identifique os versos em que isso ocorre.
Principalmente estes: “Quando de noite me der / vontade de me
matar”.
b)
Com base nos três últimos versos da estrofe,
identifique o elemento que se opõe à morte e se configura como saída para ao eu
lírico.
É o sexo. É a manifestação de amor e prazer físico do eu lírico.