domingo, 4 de novembro de 2018

CONTO: CEM ANOS DE PERDÃO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

Conto: Cem anos de perdão             

                          Clarice Lispector

        O conto se passa em um bairro rico de Recife, próximo a um palacete. Este lugar, que tem a beleza como uma de suas principais características, tem um jardim também muito bonito, que chama a atenção das personagens do conto. A partir daí, a história “começa” (fatos importantes ocorrem).
        Um dia, duas meninas passaram por esse bairro e avistaram tal palacete, que chamava a atenção. Elas queriam se apropriar dele, mas não podiam. Uma delas ficou encantada com uma das rosas que viram neste mesmo lugar, e então, a roubou, tomando cuidado para não ser vista. O enredo basicamente se desenvolve em torno dos pensamentos para tal roubo, já que o desejo por aquela rosa, para esta menina, era tão grande. Enquanto ela pegava as rosas, sua amiga vigiava, para que ninguém as visse. Com o passar do tempo, passaram a roubar não só rosas com frequência, como pitangas também.
        Apesar do narrador dizer que não se arrepende por roubar rosas quando pequena, o leitor nota que ela nunca esqueceu esse fato, conservando em sua memória todos os detalhes (inclusive os emocionais) da primeira vez em que roubou rosas, e procurando desculpar-se ao dizer que tem cem anos de perdão.
        Podemos classificar resumidamente, as partes que constituem o conto, tais como a situação inicial, o conflito, o clímax e o desenlace. A situação inicial é basicamente o fato das duas amigas olharem para os palacetes. O conflito se dá quando uma delas teve o desejo de uma flor. O clímax, por sua vez, é o roubo da flor, pois o resto do conto se baseia em tal ato. Já o desenlace, é o fato das meninas passarem a não roubarem apenas flores, como pitangas também, e isso indica que ambas gostaram e continuaram o que estavam fazendo (roubar).
        Apenas duas personagens fazem parte deste conto e estas são apresentadas ao leitor logo no começo. Ao decorrer deste, alteramos a imagem que tínhamos sobre ambas, pois não imaginaríamos que elas roubariam flores/pitangas, já que no começo, parecem ser inocentes.  Uma destas meninas é a narradora. Ela pode ser caracterizada por uma narradora em primeira pessoa protagonista, e também conta a história através de uma posição central, pois já que não narrou algo momentâneo, está distante dos acontecimentos, mas apesar disto, nos conta detalhadamente tudo o que aconteceu, e então, notamos que todos os eventos, personagens e elementos da história giram ao seu redor.  Já a sua amiga, pode ser caracterizada como uma personagem co-protagonista, pois possui uma relação próxima com o protagonista e o ajuda na busca de seu objetivo, ou seja, no roubo das rosas.
        O espaço em que o conto se passa compromete o que as personagens farão ao decorrer do mesmo, isto é, o que elas fizeram dependeu de onde estavam. Pelo fato de, logo no começo, avistarem um palacete que se situava em um bairro rico, ficaram comovidas com o mesmo e é a partir desta comoção que o conto se desenvolve. 
        Notamos que, para o narrador, a rosa era um desejo inevitável, ou seja, a menina tinha necessidade de possuí-la. Não sabemos ao certo porque ela tinha um desejo tão grande em roubar rosas, talvez para tentar substituir outras necessidades que tinha, como o desejo daqueles palacetes, ou apenas por vontade de cometer um erro.
        Quando a menina se depara com a rosa, se distancia daquilo imposto pela sociedade (cultura), ou seja, da proibição do roubo, e então, a partir daí, os valores, os princípios, as normas, as regras e os costumes são deixados de lado. A menina deseja a rosa, sem medo do que pode acontecer, pois enfrenta com muita naturalidade o fato de ter que roubá-la se quiser possuí-la. Este ato é considerado natural, apesar de parecer errado. A menina então enfrenta o mal e experimenta praticar ações consideradas pela sociedade como criminosas, assim como dito anteriormente.
        Pode-se perceber que esse conto relaciona o ato de roubar flores e pitangas com o erotismo, que não se expressa explicitamente. Ao decorrer da narrativa, imaginamos detalhadamente as descrições deste ato e o conto nos surpreende, pois logo no começo notamos que ele seria simples, mas depois, tudo muda. A autora faz com que nos aprofundemos mais na história narrada, devido ao aprofundamento na descrição detalhada do roubo da rosa e das pitangas, e a predominância da cor vermelha. Esse conto nos comove, pois a menina não queria apenas furtar flores e pitangas.

Entendendo o conto: 
01 – Quais são as personagens principais?
      O Autor, duas meninas, o Jardineiro.

02 – O que acontece na história?
      O texto fala de uma menina que queria uma rosa, mas como o jardineiro não dava, ela decidiu roubar, quando ela finalmente conseguiu, a rosa se espedaçou.

03 – Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada?
      Num dia lindo ensolarado, num castelo.

04 – Quem narra? É possível ser identificado? Dá para saber quem está contando a história?
      O narrador-personagem. Sim. Sim porque ao ler podemos identificar que tem uma pessoa contando a história.

05 – O narrador conta de fora ou ele também é um dos personagens?
      Ele também é um personagem.

06 – Há tema (uma situação) abordado por este texto que tem semelhança com uma situação do conto “A Bela e a Fera”. Qual é esta situação?
      Porque assim como a menina roubava as rosas o pai da bela também roubou a rosa do castelo do monstro.

07 – Faça um resumo da História: (Mínimo de 5 linhas, uso suas próprias palavras)
      Num dia lindo, duas meninas estavam brincando na rua, quando uma das meninas viu uma rosa, e fica fascinada com a beleza da rosa, sabendo que o jardineiro é muito cuidadoso com seu jardim. A garota resolveu roubar a rosa com a sua amiga, ela roubou, mais ao roubar a rosa começou a se despedaçar na sua mão.











POEMA: ORAÇÃO SEM NOME - ROSE MARIE MURARO E FREI RAIMUNDO CINTRA - COM GABARITO


Poema: Oração sem nome

          O autor desse poema, quem o sabe? Foi encontrado em pleno campo de batalha, no bolso de um soldado americano desconhecido; do rapaz estraçalhado por uma granada, restava apenas intacta esta folha de papel.

Escuta, Deus:
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram-me que tu não existes,
E eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado a tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas,
Vi teu céu estrelado
E compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás a minha mão.
Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo
Achei a luz para enxergar o teu rosto.
Dito isto, já não tenho muita coisa a te contar:
Só que… que… tenho muito prazer em conhecer-te.
Faremos um ataque à meia-noite.
Não sinto medo.
Deus, sei que tu velas…
Há! É o clarim! Bom Deus, devo ir embora.
Gostei de ti… vou ter saudade… Quero dizer:
Será cruenta a luta, bem o sabes,
E esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta!
Muito amigos não fomos, é verdade.
Mas… sim, estou chorando!
Vês, Deus, penso que já não sou tão mau.
Bem, Deus, tenho de ir.
Sorte é coisa bem rara.
Juro, porém: já não receio a morte.

Rose Marie Muraro e Frei Raimundo Cintra, As mais belas orações de todos os tempos

Entendendo o poema:
01 – O tratamento com que o jovem soldado se dirigiu a Deus foi um tratamento:
a) familiar
b) irreverente
c) reverencial
d) cerimonioso

02 – Antes da guerra, para o jovem, Deus simplesmente:
a) estava afastado
b) não era considerado um amigo
c) não existia
d) não atendia às suas orações.

03 – A frase que está de acordo com a questão anterior é:
a) “Escuta, Deus”
b) “Disseram-me que tu não existes… e eu, tolo, acreditei”
c) “Muito amigos não fomos”
d) “…vi teu céu estrelado”.

04 – A descoberta de Deus pelo soldado americano veio através:
a) da luta cruenta
b) do soar do clarim
c) da trincheira rasgada por granadas
d) do céu estrelado

05 – O pressentimento da morte aparece numa das expressões do soldado. Que expressão mostra essa possibilidade?
a) “Muito amigos não fomos, é verdade”
b) “…e esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta”
c) “Bem, Deus, tenho de ir”
d) “…será cruenta a luta”

06 – “Não sinto medo”. Essa frase pode ser resumida em apenas uma palavra:
a) coragem
b) otimismo
c) ilusão
d) temor

07 – A expressão que melhor traduz o ambiente de guerra é:
a) “Achei a luz…”
b) “…será cruenta a luta”
c) “… inferno hediondo”
d) “Deus, sei que tu velas…”

08 – O encontro com Deus despertou no jovem soldado uma visão de seu mundo interior. Dessa visão, ele concluiu que:
a) “Sorte é coisa bem rara”
b) “… tenho muito prazer em conhecer-te”
c) “Muito amigos não fomos, é verdade”
d) “… já não sou tão mau”

09 – A frase que revela a comoção e o arrependimento do jovem é:
a) “Bom dia!”
b) “Gostei de ti…”
c) “Mas… sim, estou chorando!”
d) “…vou ter saudade”

10 – A alternativa INCORRETA a respeito do texto é:
a) O soldado anônimo, em sua análise existencial, confronta conceitos que antes julgava estarem certos.
b) Por se tratar de um texto poético, há o emprego da linguagem conotativa, como no uso da expressão “inferno hediondo”, para se referir ao cenário da guerra.
c) A palavra oração, presente no título, justifica-se devido ao diálogo proposto pelo jovem com Deus.
d) Caso fosse suprimida a introdução precedente ao poema, a interpretação não seria prejudicada, uma vez que inexistem informações importantes no trecho.

11 – Assinala a alternativa correta sobre as palavras do texto:
a) Se retirarmos o acento de apertarás, originar-se-á uma nova palavra.
b) A palavra ataque é proparoxítona.
c) Compreender recebia acento, mas isso mudou com a Reforma Ortográfica.
d) As únicas monossílabas do texto são: só, já, hás.

12 – Em qual dos itens abaixo a acentuação gráfica NÃO está devidamente justificada?
a) será: vocábulo oxítono terminado em A.
b) porém: vocábulo oxítono terminado em EM.
c) há: vocábulo oxítono terminado em A.
d) céu: vocábulo com ditongo aberto.

13 – Assinala a palavra com ditongo aberto que NÃO recebe mais acento:
a) troféu
b) colmeia
c) papeis
d) céu.

14 – Marca a alternativa que preenche as lacunas da frase: Os ______ de ______ exercem as atividades ______.
a) microempresários, Ijuí, tranquilamente
b) micro-empresários, Ijuí, tranquilamente
c) micro-empresários, Ijui, tranquilamente
d) microempresários, Ijuí, tranquilamente

15 – Por serem proparoxítonos, deveriam estar acentuados todos os vocábulos da opção:
a) rubrica, versiculo, hospede
b) arcaico, camera, avaro
c) leucocito, alcoolatra, folclórico
d) periodo, tematico, erudito

16 – Qual dos hiatos NÃO deve ser acentuado?
a) saúde
b) contribuía
c) tainha
d) caído.





TEXTO: EU NÃO CONSIGO MAIS - JUCA KFOURI - COM QUESTÕES GABARITADAS


Texto: Eu não consigo mais
      
                                       Juca Kfouri

        “Eu não consigo mais”
        “Não é que eu não queira jogar mais, é que não consigo mais.”
        Mais claro, sincero, franco, impossível.
      Era Guga, se dirigindo aos torcedores depois de perder na estreia do Torneio Aberto do Brasil, na Costa do Sauípe, por 2 a 0, com parciais de 7/5 e 6/1.
        O nome do vencedor, um tenista argentino, sinceramente, e sem nenhum menosprezo, não interessa.
        Porque sem que tenha culpa disso, ele como é como o forasteiro que ganha o duelo com o velho xerife já sem forças, por mais que tenha sido o melhor do oeste, do sul e do norte e do leste.
       Guga não consegue mais, depois de ter conseguido ser o número 1 do mundo por quase uma temporada inteira.
        Não entender a dor de Guga, não entender o sofrimento de Guga, não entender o prazer de Guga, não entender o esforço de Guga e não entender a despedida de Guga não é só não entender de Guga, é não entender a vida que, como a de Guga, é repleta de altos e baixos.
        A de Guga, aliás, muito mais de altos do que baixos.

              Juca Kfouri. Disponível em: http://blogdofuca.blog.uol.com.br
                                                                                             Acesso em: 0 nov. 2011.
Entendendo o texto:
01 – Na crônica do dia anterior, o jogador argentino fora apresentado através de uma oração subordinada adjetiva explicativa. Já nesse segundo momento, o cronista refere-se a ele “como o forasteiro que ganha o duelo com o velho xerife já sem forças”. Essa oração subordinada adjetiva restritiva singulariza o jogador? Explique sua resposta.
      Não. Ela não singulariza o jogador, pois tem como antecedente “o forasteiro”. Assim, o adversário, que já não era valorizado na crônica anterior, é agora tratado como ainda menos importante.

02 – Por que se pode afirmar que a oração subordinada adjetiva restritiva “que ganha o duelo com o velho xerife já sem forças” tem sentido pejorativo?
      Porque ela remete a uma personagem dos filmes de faroeste que tem por característica ser um falso herói e, portanto, um herói desprezível: é aquele que constrói sua vitória sobre a fraqueza circunstancial do outro e não sabe sua própria força.

03 – Nesse texto, Guga não é qualificado mediante orações subordinadas adjetivas. Para explicar seu sofrimento, seu prazer, sua despedida, o que o cronista qualifica é a vida, que é repleta de altos e baixos. Qual é o efeito criado por essa oração subordinada adjetiva explicativa no texto?  
      Ela traz ao texto o senso comum: qualquer leitor já sentiu na pele que a vida tem momentos de alegria e de tristeza, de sucesso e de fracasso, de expansão e de recolhimento. O cronista, que no texto anterior exaltou Guga por ser mais talentoso, bem-sucedido, esforçado e competente do que a maioria das pessoas, agora desperta a compreensão e a simpatia do público ara com ele, exatamente por ser igual a todos naquilo que é inerente ao ser humano (estar exposto às contrariedades da vida).                               

sábado, 3 de novembro de 2018

MÚSICA: CANÇÕES E MOMENTOS - MILTON NASCIMENTO - COM GABARITO


Música: Canções e Momentos
                               Milton Nascimento

Há canções e há momentos
Eu não sei como explicar
Em que a voz é um instrumento
Que eu não posso controlar
Ela vai ao infinito
Ela amarra todos nós
E é um só sentimento
Na plateia e na voz
Há canções e há momentos
Em que a voz vem da raiz
Eu não sei se é quando triste
Ou se quando sou feliz
Eu só sei que há momento
Que se casa com canção
De fazer tal casamento
Vive a minha profissão
                          Composição: Nascimento

Entendendo a canção:

01 – Marque o verso da poesia em que o cantor revela perder o domínio, ou seja, o controle sobre sua voz:
a) (  ) “Eu não sei como explicar”
b) (X) “Que não posso controlar”
c) (  ) “E é um só sentimento”
d) (  ) “Em que a voz vem da raiz”
e) (  ) “Que se casa com a canção.”

02 – “De fazer tal casamento / Vive a minha profissão.” A que casamento o trecho acima refere-se?
a) (  ) Da plateia com a voz.
b) (X) Da voz com a canção.
c) (  ) Da tristeza com a felicidade.
d) (  ) Das canções com os momentos.
e) (  ) Do infinito com as pessoas.

03 – De que trata a canção?
      Fala do fazer poético, ou seja, metalinguagem incorporada.

04 – O que o eu lírico diz no verso: “Ela amarra todos nós”, a quem ele se refere?
      Refere-se a voz.

05 – De que vive a profissão do eu lírico?
      Vive de fazer tal casamento da canção com a voz.

06 – No verso: “Há canções e há momentos”, que figura de linguagem pode-se encontrar?
      Anáfora.

07 – Segundo o eu lírico, existe um momento em que há um só sentimento. Onde ele acontece?
      Acontece na plateia e na voz.


EXERCÍCIOS - PREPOSIÇÃO - ENSINO FUNDAMENTAL - COM GABARITO


EXERCÍCIOS   - PREPOSIÇÃO

PREPOSIÇÃO – é a palavra invariável que relaciona dois termos. Nessa relação, um termo completa ou explica o sentido do outro.
Preposições essenciais são palavras que funcionam puramente como preposição: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, perante, sem, sob, sobre, trás.

Resolva os exercícios

01 – Circule as preposições:
a) Filho coloque os pratos sobre a mesa.
b) Vou viajar para São Paulo.
c) O Amaral pegou a encomenda.
d) Ele está entre amigos.
e) Conversamos sobre nossos estudos.

f) Sempre lutamos contra a má vontade de alguns.

g) Estou mais uma vez sem meu ajudante.

h) A criançada partiu para o acampamento.
 i)             Aquela chácara é de meus tios.

j) A excursão chegará a Manaus hoje.

l) Você já viajou de avião?

m) Contamos com poucos recursos para concluir a obra.


02 – Use todas as preposições abaixo para ligar as palavras das frases abaixo: 
Até    -      desde      -     após      -     a     -      sobre      -     sem       -    perante   -   para   -   com   -   de

a) Você veio de Pernambuco.

b) Saímos desde as 10 horas.

c) Comprei um lenço para você.

d) Estou gripada desde sábado.

e) Estou com muita dor de cabeça.

f) Conversamos sobre o assunto.

g) Todos são iguais perante a lei.

h) Prefiro chá com açúcar. 

i) Mauro vai colocar açúcar para que esteja bem adoçado.

j) Lourenço leu a carta perante todos.

l) Hoje foi sem dúvida o dia certo.

m) Viajei para capitais europeias.

n) Andarei de bicicleta.

o) Montarei em burro bravo.




“Só a educação transforma! E é essa certeza que nos faz, a cada dia que passa, aprimorar nosso trabalho educacional!”

TEXTO: MEGABYTES DE PAIXÃO - MAX GEHRINGER - COM QUESTÕES GABARITADAS


Texto: MEGABYTES DE PAIXÃO
          
                                 Max Gehringer

        Se o disco rígido parar e o sistema der pau, ainda resta uma esperança.
        O Vandemilson – mais conhecido na empresa como vand@ekonometrikon.com.br – estava digitando mais um dos incontáveis e-mails que despachava todos os dias quando, justo na hora de ele teclar o emoticon de fechamento (:-\, "tou meio em dúvida") -  pif!  -, o sistema cai. E aí o Vandemilson se põe a pressionar todas as combinações imagináveis de Ctrl e Alt, até se convencer de que, realmente, aquele era um problema de proporções cósmicas. E fez então a única coisa que lhe restava fazer: ficou ali encarando a tela escura, com aquela mesma cara que um pinguim faria se, de repente, acordasse no meio do Deserto do Saara.
        Dez minutos de vigília depois, como nada de prático acontecesse, o Vandemilson resolveu fazer algo inédito em sua rotina diária: levantar-se da cadeira. E, uma vez em pé, pôde constatar que o local onde trabalhava era enorme, repleto de baias iguais à sua, centenas delas, distribuídas ao longo de cinco corredores que atravessavam todo o pavimento. Havia até quadros na parede, bebedouros, vasos... e, então, veio a grande surpresa: num estalo, o Vandemilson notou algo ali que ele nunca percebera antes: pessoas! Um bando de gente, em pé ou circulando lentamente, e todo mundo com uma expressão de espanto idêntica à dele. Foi então que ele ouviu um som, vindo da baia vizinha:
        -- Oi.
        Levou alguns segundos até o Vandemilson racionalizar e decodificar exatamente o que era aquilo: uma voz! E, aparentemente, humana. Emitida por uma loirinha que, o Vandemilson logo concluiu, estava se dirigindo a ele.
        -- Tudo bem? Eu sou a Natália.
        -- Natália... O Vandemilson se pôs a conjeturar como aquele nome ficaria numa fonte Matisse ITC, corpo 14, em itálico. E foi então que a Natália proferiu a frase mágica, que tocou profundamente o coração do Vandemilson:
        -- A nat@ekonometrikon.com.br!
        A Nat! O Vandemilson já havia mandado milhões de e-mails para ela, e recebido outros tantos, só que nunca imaginara que ela pudesse ter, assim, vamos dizer, cabelo, boca, braços... Mas ela tinha. E, aliás, era até bem configurada, com um design bastante atraente. E o Vandemilson imediatamente a visualizou numa tela, com uma placa de vídeo GeForce 4, sem distorções de imagem...
        -- Você é o Vand, né? Adoro os seus forwards!
        Naquele exato momento, o Vandemilson se deu conta de que a queda do sistema poderia não ter sido tão catastrófica assim. E, já meio deslumbrado, perguntou a Nat:
        -- Isso aí no seu micro é um gravador de DVD?
        -- É, então. RW, até 4.7 giga. Eu mesma instalei.
        Aquela era, definitivamente, a mulher com que o Vandemilson sempre sonhara. Para ser perfeita, só faltava ela ser digital. Mas a versão analógica até que não era de se jogar fora, e o Vandemilson resolveu pular o setup e partir para o quick start. E arriscou uma questão íntima:
        -- Quantos giga tem o seu HD?
        -- 60. Mas vou aumentar para 120.
        -- E esse ícone ali no cantinho...
        -- KaZaA, né? Nível "Supreme Being".
        Um ser supremo! Foi uma paixão instantânea e avassaladora. O Vandemilson passou a imaginar como seria maravilhoso passar horas e horas, assim, plugado, com alguém como a Nat. Poderiam compartilhar softwares. Intercambiar arquivos. E um dia, quem sabe, só ele e ela, distantes do mundo, os dois online numa sala de chat. Não dava para perder uma oportunidade daquelas, e o Vandemilson sacou que, dali em diante, tudo seria uma mera questão de resolução:
        -- Qual é a resolução de sua tela?
        -- 1 024 por 768. Mas eu só curto AVI. E detesto compressão!
        O Vandemilson também! E aí ele não conseguiu mais resistir:
        -- Escuta, Nat, não quero parecer precipitado, mas... posso pegar no seu mouse?
        Um mouse a laser sem fio, suave, que reagia ao mais leve toque dos dedos. E as caixas de som da Nat? Perfeitas e bem torneadas. O Vandemilson tremia só de pensar no hardware dela, com uma nova surpresa em cada slot. Mas... será que ela toparia uma interface?
        -- Uma hora qualquer, se você quiser, eu poderia te mostrar meus links...
        -- Ah, eu ia adorar!
        E aí o Vandemilson sentiu aquela modulação típica de uma paixão ao primeiro clique. Seus olhos brilharam com intensidade (32 bits) e ele deu um longo suspiro -- em wav.
        E começou então a pensar (um processo fisiológico de inputs e out puts que não requer o uso de equipamentos periféricos). Ele estava ali na empresa havia quanto tempo? Quase dois anos? E não conhecia ninguém. Nem o nome do seu gerente ele sabia (embora soubesse o que realmente interessava, a senha de acesso dele). Mas o que eram as pessoas que gravitavam a seu redor? Apenas letras e arrobas em seu catálogo de endereços eletrônicos.
        Quanto ao resto do mundo, tudo ia e vinha via internet ou estava armazenado em arquivos de imagens digitalizadas. Seu universo inteirinho cabia numa tela de 17 polegadas. E o Vandemilson concluiu que só havia uma palavra capaz de definir tudo aquilo: "debugged". Ou, traduzindo, "felicidade".
        Nessa equação de vida, a única variável nova era a Nat. Por ela, quem sabe, até valeria a pena dar um reboot e arriscar um relacionamento mais chegado. E foi nesse exato instante que o sistema entrou de novo no ar. Mas, antes que a Nat desaparecesse na baia, o Vandemilson se encheu de coragem e fez a proposta:
        -- Então, fica assim?
        -- Fica. A gente se tecla.
        E até hoje os dois continuam conectados numa boa, a uma média de quatro send por hora. Quando querem se ver ao vivo, é simples: os dois ligam as webcams de seus micros. O fato de continuarem a poucos centímetros de distância um do outro não conta. Afinal, este é o século 21. O século digital, onde abraços se tornaram abs, beijos se transformaram em bjs e bom humor virou.
        Mas o mais importante de tudo é que, se um dia a paixão for para a lixeira, tudo irá ser resolvido sem traumas nem lances emocionais. E em apenas 1 segundo: shut down? Ok.

Entendendo o texto:

01 – Nesse texto, a narrativa se desenvolve a partir da queda do sistema de computadores num escritório.
a) Qual é o tema o texto?
      O assunto do texto é sobre uma nova paixão virtual que é descoberta após uma queda no sistema.

b) Como as personagens se identificavam e se relacionavam até esse momento?
      Os personagens se identificavam e relacionam por e-mail e forwards.

02 – Ao levantar-se da cadeira, Vandemilson faz várias descobertas.
a) O que ele descobre sobre o seu local de trabalho?
      O Vandemilson descobre que o local onde ele trabalhava era enorme, repleto de baias, pessoas, vasos, paredes e bebedouros.

b) O que a personagem sente ao encontrar pessoas trabalhando tão próximas?
      Ele se sente espantado, exatamente como as pessoas se sentiam ao seu redor.

03 – O autor, ao conquistar o texto, utiliza um conjunto de palavras e expressões comuns a um determinado grupo.
a) A que grupo de leitores esse texto é mais especialmente dirigido?
      Esse texto é especialmente dirigido ao grupo de pessoas que entendem de computadores. Os famosos informáticos.

b) Analisando o veículo de publicação do texto, por que o autor escolheu esse tipo de linguagem para escrever a crônica?
      Pois o lugar em que os personagens trabalhavam era repleto de computadores. Isso então fez o autor a usar esse tipo de linguagem virtual. (Internetês).

c) O que a linguagem empregada no texto, com tantas palavras e termos ligados à informática, pretende expressar?
      Essa linguagem é uma das formas do personagem (Vandemilson) expressar o seu amor pela outra personagem
(Natália).

d) Observe as expressões de informática utilizadas no texto. Podem-se encontrar algumas no sentido figurado? Quais são elas e em que sentido estão empregadas?
      Sim, como: "posso pegar no seu mouse", que tem o sentido de posso pegar na sua mão? Caixas de som bem torneadas, que tem o sentido de pernas torneadas.

04 – Releia do 14º ao 18º parágrafo. Ao se dar conta de que Natália era, definitivamente, a mulher com quem sempre sonhara, Vandemilson arriscou uma questão íntima.
a) Na conversa estabelecida entre eles, percebe-se um jogo de sentidos: o sentido real e o figurado. Qual é o sentido real, denotativo dessa conversa?
      O sentido real pode ser uma pergunta como: que música você curte.

b) E qual é o sentido figurado?
      O sentido figurado também pode ser: Qual é a resolução de sua tela?

c) Após ouvir as respostas de Natália, como Vandemilson se sente?
      O Vandemilson sentiu aquela modulação típica de uma paixão ao primeiro clique.

d) Que termos são empregados para descrever o modo como Vandemilson vê Nat e o que ele sente?
      Ele vê a Nat como uma variável, e então ele se sente cheio de coragem e lhe faz uma proposta.

e) Observe a construção das falas do diálogo. São frases curtas ou longas? O que elas determinam sobre a maneira de as pessoas se relacionarem?
      As frases são curtas, isso mostra a linguagem dos internautas de hoje, que abreviam muitas palavras para se comunicar.

05 – Esse texto retrata a visão do cronista sobre um tema do cotidiano. Qual o ponto de vista do cronista sobre as relações interpessoais?
      O cronista afirma que o importante de tudo é que se um dia a paixão for para a lixeira, tudo irá ser resolvido sem traumas nem lances emocionais.

06 – No último parágrafo, o cronista expõe o que pensa sobre o assunto desenvolvido na crônica.
a) Levando em conta o veículo de publicação do texto e o público-alvo, qual pode ter sido o objetivo dessa crônica?
      O objetivo dessa crônica é ao mesmo tempo crítico e divertido que fala sobre o mundo cada vez mais virtual.

b) Que sentidos podem ser atribuídos a esse parágrafo?
      O sentido que pode ser atribuído a esse último parágrafo é de que o amor pode ser resolvido sem brigas e traumas.