Texto: HISTORINHA
URBANA
– Pare na esquina – disse o passageiro.
O chofer obedeceu.
– São cinco reais – informou ele,
indicando os números antes de fazer o taxímetro voltar a zero. O passageiro
estendeu-lhe uma nota de dez:
– Cobre aqui.
O motorista balançou negativamente a
cabeça:
– Não tenho troco – disse.
– E como é que vamos fazer? – perguntou
o passageiro. – Se houvesse alguém aí em casa… Mas está todo mundo viajando e o
dinheiro mais miúdo que eu tenho é essa nota de dez.
– Bem – falou o chofer – o jeito é a
gente procurar onde trocar essa nota.
–
Sim, acho que é a única coisa que se pode fazer – concordou o passageiro.
O táxi arrancou quase num salto.
– Por aqui não vai ser nada fácil
encontrar quem troque – disse o passageiro, reajustando os rins abalados pela
arrancada. – Ainda mais hoje, domingo, com quase tudo fechado.
Rodaram algum tempo em silêncio. Depois
o chofer falou:
– Vamos ver se conseguimos trocar
naquela quitanda lá adiante.
Não conseguiram.
– Acho que esse cara está é com má vontade
– disse o chofer quando retornaram ao carro.
– Talvez ele não tenha mesmo troco –
disse o passageiro.
– Então experimento trocar comprando
uma carteira de cigarro.
– Eu não fumo – respondeu o passageiro.
– Então… compre qualquer coisa.
– Que coisa?
– Bom… Que tal uma garrafa de cachaça?
Não havia troco. A garrafa continuou na
prateleira, para decepção do chofer.
Voltaram ao táxi. Daí por diante,
infelizmente, estava tudo fechado. O passageiro se sonhava em casa, depois de
uma longa chuveirada, lendo o jornal comodamente instalado na sua poltrona
predileta, quando o chofer voltou a falar.
– Bom, acho que estamos novamente no
ponto de partida – disse ele.
– É – concordou melancolicamente o
passageiro. – Foi logo ali adiante que eu tomei o seu táxi.
– Isso quer dizer que não há mais
problema – falou o chofer.
– Não? – perguntou o passageiro.
– Claro que não. Daqui pra sua casa a
corrida deu cinco reais, não foi?
– Foi.
– Então, embora o taxímetro esteja
desligado, sabemos que uma corrida de sua casa para cá também dá cinco
cruzeiros. Sendo assim, não precisamos mais trocar o dinheiro: são exatamente
dez reais. Eu dispenso o quebrado a mais do tempo em que ficamos parados
naquela quitanda.
O passageiro sentiu-se subitamente
aliviado. Entregou a nota de dez ao chofer, agradeceu, saltou do táxi – e foi a
pé para casa.
RUY
ESPINHEIRA FILHO. Sob o último sol de fevereiro.
Civilização
Brasileira, 1975, Rio de Janeiro.
Entendendo o texto:
01 – Relacione a frase ao
significado apresentado da palavra nota:
1. O passageiro estendeu-lhe uma
nota de dez.
2. O freguês apresentou a nota
das compras.
3. O violinista acertou as notas
executadas no concerto.
4. O professor informou a nota do
aluno.
a. (4) resultado numérico do aproveitamento de um aluno na escola
b. (3) sinal que representa um som, na música.
c. (2) relação de mercadoria com quantidade e preço.
d. (1) papel que representa moeda, dinheiro.
02 – Para que serve o taxímetro?
Serve para indicar o valor a ser pago
baseado na distância percorrida e no tempo utilizado no transporte de pessoas.
03 – O passageiro
não tinha dinheiro trocado e o motorista não tinha troco. Na sua opinião, qual
deles é o principal causador do impasse?
Por lei é o vendedor que tem de fornecer o troco. No caso do
texto, a responsabilidade é do motorista e não do passageiro.
04 – Todas
as sugestões para resolver a questão partiram do motorista. Isso demonstra que:
a. ( ) o motorista se
sentia culpado
b. (X) o passageiro era passivo e
acomodado
c. ( ) o motorista queria
lucrar com a situação
d. ( ) o passageiro
pretendia não pagar a corrida.
05 – Se você
fosse o passageiro, que solução apresentaria logo no início para resolver o
problema?
Resposta
pessoal do aluno.
06 – Observamos pelo
desenvolvimento do texto que o passageiro:
a. (X) não fumava nem bebia bebida
alcoólica
b. ( ) não fumava, mas
bebia
c. ( ) fumava e bebia
d. ( ) fumava mas não
bebia
07 – De acordo com o texto, conclui-se
que o motorista:
a. ( ) não fumava nem
bebia bebida alcoólica
b. (X) não fumava, mas bebia
c. ( ) fumava e bebia
d. ( ) fumava mas não
bebia.
08 – Justifique sua resposta à
questão anterior.
O texto informa que o motorista ficou decepcionado
por não ter sido possível comprar a garrafa de cachaça. Provavelmente ele
queria bebê-la.
09 – Quando o chofer apresentou a
última solução, o passageiro sentiu-se aliviado. Por que se sentiu aliviado se
estava outra vez no mesmo lugar do início da corrida?
Porque se viu
livre do problema do troco.
10 – Na sua opinião, a última
solução apresentada pelo motorista foi correta? Justifique.
Resposta pessoal do aluno.