quinta-feira, 5 de abril de 2018

CRÔNICA: O CALO - DOC COMPARATO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


CRÔNICA: O CALO


   – O senhor vai precisar extrair esse calo, seu Antônio.
      – Mas, doutor!?
    – Coisa simples! Amanhã, lá pelas oito, o senhor passa pelo hospital e num instante nós retiramos esse incômodo. Anestesia local. Não vai doer nada.
      O pacato Antônio, funcionário público há trinta anos, saiu do consultório cabisbaixo e meio nervoso. “Que ideia! – Depois de vinte e dois anos, vivendo com esse calo. Meu calo de estimação! A Eusébia resolveu implicar com ele! Coisa de mulher… Logo agora que eu faria bodas de prata com o calo!?”, praguejou Antônio entre dentes.
      Eusébia, em casa, recebeu a notícia com satisfação. Aliás já esperava por isso. Afinal, há vinte e dois anos Antônio reclamava, dizia que o calo era o centro de seus problemas. Mas tirar o calo, tomar alguma providência, que é bom, nada. Nada mesmo.
      – Graças a Deus, Antônio. Deus ouviu minhas preces.
      – Tô arrependido, Eusébia!
      – Arrependido!? Por quê?
      – (…) O calo sempre me avisou sobre o tempo. É melhor que o Serviço de Meteorologia! Se vier chuva ele dói, uma dorzinha fina; se for calor, ele lateja e se for nublado, ele estufa. Até pensei levar o calo no programa do Sílvio Santos, você se lembra?
      – Quer saber de uma coisa? Sempre detestei esse calo. Eu gostaria de ter um marido com pé perfeito. Perfeito, entendeu?
      Assim foi. Antônio se arrumou, tomou café, não deu uma palavra com Eusébia e foi para o hospital. Algo chateado, ansioso, pois afinal de contas, havia vinte e dois anos de convivência diária com aquele calo feio, macerado, duro, mas no fundo adorável.
      Antônio subia as escadas principais do hospital quando, maldito calo, a-dor-fininha-sinal-de-chuva começou. Foi a conta, Antônio tropeçou e caiu. Quebrou o calcanhar.
      Uivando de dor foi levado por dois atentos enfermeiros até a sala de raio-X. Colocado numa maca, lá ficou esperando meia hora, quarenta minutos e, insuportável calcanhar, como não aparecia ninguém, ele resolveu, de mansinho, se levantar e ir chamar alguém. E então aconteceu o pior – Antônio caiu da maca e se arrebentou todo. Diagnóstico: fratura da bacia com estiramento parcial da coluna. Sua família foi comunicada; seu médico, simples dermatologista, chamou uma equipe de ortopedistas, para tratar do caso, e nosso herói todo esticado (e tracionado) foi internado no quarto 315.
      – Doutor, a culpa foi minha! Fui eu que obriguei o Antônio a vir aqui.
      – Calma, Dona Eusébia. Não chore, por favor. Seu marido vai para casa dentro de 15 dias.
      – Quinze dias, doutor?!
      – Dona Eusébia, foi o destino! Os ossos demoram um pouco para se consolidar. Tenha paciência. Ele está sendo muito bem tratado. Os ortopedistas só usaram dezoito quilos de gesso.
      – Só!? (E chorou.)
      – O importante é que ele fique imóvel. Completamente imóvel.
      – Dona Eusébia, venho lhe comunicar que seu marido pegou uma pneumonia.
      – Doutor!? Como isso aconteceu?
      – É porque ele está imóvel há muito tempo.
      – Mas não foi o senhor mesmo que disse que ele não devia se mexer, doutor?
      – Mas essas coisas acontecem, Dona Eusébia. Fique calma, por favor. Nós vamos chamar um pneumologista.
      – Um, o quê? (E chorou.)
      – Um médico de pulmão!
      E foi o médico de pulmão entrar para começar a desgraça. Primeiro ele meteu um tubo goela abaixo de Antônio, depois colocou-o no soro, deu uma série de injeções e comunicou à chorosa Eusébia:
      – Dona Eusébia, infelizmente apareceu um novo problema.
      – Outro!? Qual, doutor?
      – Examinando o pulmão, notei que o coração de seu marido não anda nada bem. Tá trotando mais que cavalo no grande prêmio.
      – E agora?
      – Vamos chamar um cardiologista!
      – Eu não quero ficar viúva não! (E Eusébia chorou.)
      – Calma, Dona Eusébia. Tudo vai dar certo!
      O cardiologista entrou como um tufão. Era eficientíssimo. Colocou o estetoscópio no peito, pescoço e barriga do Antônio. Ouviu tudo a que tinha direito. Depois tirou a pressão, um eletrocardiograma e disse:
      – Dona Eusébia, o seu marido não tem nada de coração.
      Eusébia já vestida de preto, pois esperava pelo pior, sorriu toda alegra.
      – É mesmo, doutor? Que bom! Então não vai acontecer o pior?
      – Pelo coração não! Mas pelo cérebro eu não dou certeza alguma. Chame um neurologista imediatamente! A propósito, os rins não estão funcionando bem. Aproveite e chame um nefrologista também.
      Antônio estava agonizante. A equipe médica confabulava em torno do leito. Enfermeiras engomadíssimas andavam e zuniam por toda parte. Máquinas, termômetros e aparelhos dançavam em torno de Antônio que dava os últimos suspiros. Eusébia, acabada, isolada, assistia a tudo com desespero e dor. Se sentia culpada e pressentia sua existência sem Antônio, sem amor ou carinho.
      Nesse instante, um dos médicos se aproximou e Eusébia, num estalo, falou:
      – Doutor, eu queria dar um último beijo nele. Um afago, um último adeus!
      Todos os médicos concordaram de imediato e Eusébia se postou junto ao leito. Mas onde beijar? Se Antônio era uma massa de gazes, tubos, gessos e fios. Eusébia olhou bem e achou um pé descoberto, a única parte possível de ser acariciada. Eusébia se curvou e viu, imaginem, o calo. Altivo, intacto e vivo. E, sem raiva ou vergonha, Eusébia beijou o calo do amado. E para surpresa de todos o moribundo se mexeu.
      Acreditem, no quarto beijo Antônio espirrou. E, de afago em afago no calo, Eusébia conseguiu o impossível – curar Antônio.
      Enfim, Antônio voltou ao lar com o calo e eles viveram felizes para sempre.
        Moral da história – O amor tem razões que até os médicos desconhecem.

DOC COMPARATO. O melhor da crônica brasileira.
Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1981.

Entendendo o texto:
01 – Complete a frase com a palavra que indica a especialidade médica.
a)   O especialista em doenças do coração chama-se:
Cardiologista.

b)   O especialista em doenças renais ou dos rins chama-se:
Nefrologista.

c)   O especialista que corrige as deformidades dos ossos chama-se:
Ortopedista.

d)   O especialista em doenças do pulmão chama-se:
Pneumologista.

e)   O especialista em doenças da pele chama-se:
Dermatologista.

f)    O especialista em doenças do cérebro chama-se:
Neurologista.

02 – Localize e transcreva as palavras do texto que possuem os significados abaixo:
a)   Arrancar, tirar de dentro: Extrair.
b)   Desagradável, enfadonho: Incômodo.
c)   Que é amigo da paz, pacífico, sossegado: Pacato.
d)   Abatido, humilhado: Cabisbaixo.
e)   Moído, torturado: Macerado.
f)    Determinação de uma doença pelos sintomas: Diagnostico.
g)   Tornar sólido, resistente: Consolidar.
h)   Trocar ideias, conversar: Confabular.
i)     Sentir com antecipação, pressagiar, suspeitar: Pressentia.
j)     Pôr-se, permanecer em um lugar: Postou.
k)   Não tocado, inteiro: Intacto.

03 – Na frase: “Dona Eusébia, venho lhe comunicar que seu marido pegou uma pneumonia.” O verbo em destaque tem o sentido de adquirir uma enfermidade. O verbo pegar pode ter vários significados. Crie frases usando o verbo pegar com os seguintes sentidos:
Pegar = agarrar, prender, segurar
Pegar = subir ou instalar-se em um veículo para nele viajar
Pegar = chegar a tempo, alcançar
Pegar = aceitar fazer, comprometer-se a realizar um trabalho
Pegar = seguir por determinada direção
Pegar = ser condenado
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Quais os principais personagens do texto?
      Antônio e Eusébia.

05 – Que tipo de homem era Antônio e qual a sua profissão?
      Era um homem pacato e funcionário público há trinta anos.

06 – Por que Antônio procurou um médico?
      Por insistência de sua esposa, que julgava o calo do marido como um gerador de problemas.

07 – Por que, apesar de reclamar do calo há vinte e dois anos, Antônio não tomava nenhuma providência?
      Porque o considerava como “calo de estimação”.

08 – Para Antônio, o calo desempenhava importante função. Qual era essa função?
      O calo funcionava como indicador meteorológico.

09 – Que fato originou a primeira desgraça de Antônio já no hospital?
      Seu calo começou a doer e ele caiu, quebrando o calcanhar.

10 – Qual foi a causa do segundo infortúnio de Antônio?
      Seu calo começou a doer e ele caiu, quebrando o calcanhar.

11 – Como se sentiu Eusébia após o duplo acidente?
      Sentiu-se culpada.

12 – Que frase do texto nos revela claramente que Eusébia era pessimista?
      “Eusébia já vestida de preto, pois esperava o pior…”

13 – Quando o paciente parecia não ter mais salvação, Eusébia resolveu despedir-se, dando-lhe um beijo. Como se deu esse fato?
      Por não achar outro lugar, Eusébia beijou o calo do marido e a partir daí começou a cura.

14 – Qual foi, na sua opinião, a razão principal para que Antônio se curasse?
      Resposta pessoal do aluno.




CARTA: ESCREVO-LHE ESTA CARTA... - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Carta: ESCREVO-LHE ESTA CARTA...


  Um ano depois, programa de alfabetização no Acre apresenta resultados acima da média e, como prova final, bilhetes comoventes.
 Repleto de adultos recém-alfabetizados, o Teatro Plácido de Castro, na capital do Acre, Rio Branco, quase veio abaixo com a leitura do bilhete escrito pela dona de casa Sebastiana Costa para o marido: “Manoel, eu fui para aula. Se quiser comida esquente. Foi eu que escrevi”. Atordoada com os aplausos, a franzina Sebastiana desceu do palco com a cabeça baixa e os ombros encurvados.
          Casada há trinta anos e mãe de oito filhos, ela só descontraiu um pouco quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que o bilhete não precisava ser interpretado como um desaforo, embora passasse um sentimento de libertação. Alfabetizada apenas aos dezessete anos, a ministra Marina conhece como poucos o drama daqueles que não são capazes de decifrar o letreiro de ônibus ou de rabiscar uma simples mensagem.
         O bilhete escrito por Sebastiana Costa tem linguagem simples, mas nem por isso o que dizem suas palavras deixa de conotar um significado mais profundo;

     a) Apontado pelo redator do texto, num comentário pessoal, em tom opinativo.
     b) Indicado no comentário feito pela ministra do Meio Ambiente.
     c) Esclarecido tão logo irrompem os intensos aplausos do público.
     d) Evidenciado pela expressão corporal de Sebastiana, ao descer do palco.
  e) Relacionado ao fato de o público ser composto por adultos recém-alfabetizados.
          O comentário da ministra do Meio Ambiente, que aparece no texto sob forma de discurso indireto, evidencia o significado mais profundo do bilhete, que corresponde a uma atitude de desafio e recusa de uma condição submissa (“Se quiser comida esquente”). Resposta: B



TEXTO: MACHISMO - LAÉRCIO ZANINI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: Machismo


    O texto abaixo foi publicado na seção “Cartas do leitor” da Folha de São Paulo de 30/8/00. Referida a um crime que teve repercussão na imprensa escrita e falada, esta carta dá uma notável demonstração de machismo e desprezo pelas mulheres.
     A recente morte violenta de uma jornalista choca a todos porque, nesse fato, o assassino foge ao perfil comum de tais tipos, mas certas situações que levam a isso aí, nos círculos milionários, meios artísticos, esportivos e de poder. Tudo porque o homem não aprende. Há milênios, gosta de passar aos demais uma imagem de eterna juventude e virilidade, posando com fêmeas muito jovens. Fingem acreditar que elas estão aí por amá-los. São poucas vezes atraídas pelo seu intelecto, e muitas pela fama, poder e dinheiro. A durabilidade de tais ligações, no geral, termina quando tal fêmea atinge seu objetivo. Pior ainda, quando essa fêmea mostra também intelecto e capacidade de sobrevivência sem seu protetor. Duro, triste, real.
                                               
                            (Laércio Zanini, Garça, SP).

Entendendo o texto:
a)     O texto usa, em relação às mulheres, um termo fortemente conotado, e lhes atribui um comportamento que as desqualifica. Transcreve uma frase em que o termo ocorre, associado à descrição de comportamentos que desqualificam as mulheres. Sublime o termo em questão na sua frase.
      “A durabilidade de tais ligações, no geral, termina quando tal fêmea atinge seu objetivo.” – O termo fêmea realça apenas o aspecto sexual, sugerindo que a mulher faz uso de sua sexualidade de forma interesseira.

b)     Quais os traços de caráter das mulheres em relação aos quais os homens deveriam se precaver, segundo o autor dessa carta?
      Segundo o autor da carta, os homens deveriam precaver-se contra o comportamento oportunista e interesseiro das mulheres, que seriam atraídas “pela fama, poder e dinheiro” muito mais do que pelo “intelecto” masculino.

 c)     A quem se refere o autor da cara, na frase “o homem não aprende”?
            O autor emprega um singular generalizante: “o homem não aprende” refere-se a todo homem, qualquer homem, equivalendo a “os homens não aprendem”. Trata-se de sinédoque (singular pelo plural).




quarta-feira, 4 de abril de 2018

FILME: KIRIKOU E A FEITICEIRA - MICHEL OCELOT - COM ATIVIDADES GABARITADAS


Filme: KIRIKOU E A FEITICEIRA

Data de lançamento: 1999 (1h 10min)
Direção: Michel Ocelot
Elenco: atores desconhecidos
Gênero: Animação
Nacionalidade: França

SINOPSE E DETALHES
        Na África Ocidental nasce um menino minúsculo, cujo tamanho não alcança nem o joelho de um adulto, que tem um destino: enfrentar a poderosa e malvada feiticeira Karabá, que secou a fonte d'água da aldeia de Kirikou, engoliu todos os homens que foram enfrentá-la e ainda pegou todo o ouro que tinham. Para isso, Kirikou enfrenta muitos perigos e se aventura por lugares onde somente pessoas pequeninas poderiam entrar.

Entendendo o filme:

01 – Kirikou a todo momento quer saber:
a)   Como destruir Karabá.
b)   Porque Karabá é malvada.
c)   Onde está o ouro que Karabá tomou da aldeia.

02 – Por que Karabá não quer que ninguém vá ao sábio da montanha?
a)   Porque ele é mais poderoso que ela.
b)   Porque ele ilude as pessoas.
c)   Porque ele diz a verdade.

03 – O grande cupinzeiro é a porta de entrada da montanha proibida, para quem ele se abre?
a)   Para quem for digno.
b)   Quem disser as palavras mágicas.
c)   Somente para Karabá.

04 – O sábio diz que Kirikou só pode enfrentar Karabá:
a)   Com um talismã.
b)   Quando crescer.
c)   Com inteligência.

05 – O velho contador de histórias da Aldeia é:
a)   Medroso.
b)   Sábio.
c)   Corajoso.

06 – O sábio diz a Kirikou que Karabá é malvada:
a)   Porque só pensa em ouro.
b)   Porque está sofrendo.
c)   Pelo prazer da maldade.

07 – Quantas vezes Kirikou salvou as crianças?
a)   3.
b)   2.
c)   1.

08 – Kirikou vai até a montanha proibida com a ajuda:
a)   Do tio.
b)   Das crianças.
c)   Da mãe.

09 – Os valores: Amor, Verdade, Generosidade, Tolerância, Paciência e Determinação. Em que situações aparecem no filme?
·        Amor: No final do filme quando o feitiço é desfeito, todos os homens voltam para suas famílias.

·        Verdade: O sábio diz a Kirikou a verdade sobre a feiticeira.

·        Generosidade: Quando Kirikou tira o espinho das costas da feiticeira.

·        Tolerância: Quando Kirikou salvou as crianças duas vezes, mesmo sem elas acreditarem nele.

·        Paciência: Kirikou teve muita paciência para chegar até a montanha.

·        Determinação: No momento em que ele entrou no cano para devolver a água ao seu povoado e quando decidiu ir a montanha falar com o sábio (seu avô).

"Os homens semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza" Allan Kardec

MÚSICA(ATIVIDADES): MEU CARO AMIGO - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

Música(Atividades): Meu Caro Amigo                        

                                 Compositor: Francis Hime / Chico Buarque

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo pessoal
Adeus.

Entendendo a canção:

01 – A letra desta canção trata de quê?
      É um recado enviado para seu amigo Augusto Boal que se encontrava exilado em Lisboa por causa da Ditadura Militar no Brasil no ano de 1976.

02 – Que tipo de correspondência foi enviado?
      Por ser um Período de Ditadura, as correspondências eram violadas, por isto foi enviada uma gravação em fita cassete por um portador de confiança.

03 – Cite os versos onde o autor critica a paixão desmedida do povo brasileiro pelo futebol e pelo carnaval que o cega para os problemas reais.
“Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll.”

04 – No verso: “Uns dias chove, noutros dias bate sol”. O que o autor quer contar para o amigo distante?
      Contar as óbvias variações climáticas de nosso pais.

05 – Quais são os versos da canção que as coisas aqui não estão bem, está muito caro o custo de vida, muita maracutaia que o povo tem que engolir?
“Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação.”

06 – O autor para driblar a censura usa palavras homófonas ou de duplo sentido. Coloque o significado correto nas palavras abaixo:
      Birra: Teimosia – resistência inútil.

      Sambar: “ser preso.”

      Choro: pode representar um gênero musical ou também lágrimas e tristeza por causa da tortura.

07 – Quais foram os símbolos da Identidade Nacional Brasileira, que o Governo militar propagou para unir o País?
      Futebol, samba e carnaval.

08 – No verso: “Ninguém segura esse rojão”. O eu lírico acaba buscando refúgio em meios de prazer momentâneo, como a “cachaça”, o “cigarro” e o “carinho”. Mas este verso é um trocadilho com qual?
      É um trocadilho com “ninguém segura este país”, propaganda utilizada pelo governo militar.

09 – “A gente vai tomando”, esse tomando pode significar o quê?
      As porradas que eram distribuídas gratuitamente pelos militares.

10 – Na última estrofe, Chico Buarque cita nomes de pessoas reais. Quem são?
      Marieta, sua esposa na época. Francis, o coautor da música e Cecília, a mulher de seu amigo.