Texto: Joana d’Arc e suas batalhas
Bebê Joana
Ninguém sabe exatamente a data, mas Joana provavelmente nasceu em uma noite fria de janeiro de 1412, em uma pequena aldeia chamada Domrémy, no leste da França. Domrémy fica no centro da bela região conhecida como Lorena, de onde vem a famosa quiche.
Os
orgulhosos pais de Joana eram um casal trabalhador e se chamavam Jacques e
Isabel Darc.
O nome de Joana
Jacques Darc possuía uma fazenda de médio porte
em Domrémy, e Isabel o ajudava cuidando da casa e das crianças, assim como fiando
e costurando para ganhar um dinheirinho extra. Jacques Darc era um homem muito
importante em Domrémy: depois do prefeito e do xerife, era quem estava no
comando. (Lembre-se, estamos falando de uma aldeia muito pequena.)
Por causa da importante posição do seu pai,
Joana cresceu em uma das cabanas mais aconchegantes de Domrémy, com paredes feitas
de tijolo (e não de lama, como era mais comum). Joana tinha até seu próprio
quarto. Porém, de toda maneira, se pensarmos nos padrões de hoje, a cabana era
bastante simples.1
A vida no lar dos Darc devia ser muito agitada.
Joana tinha três irmãos e uma irmã e, claro, montes de animais para cuidar.
1. Essa cabana está de pé até hoje e é parte de um grande museu dedicado a Joana, visitado por pessoas do mundo todo.
Domrémy
era uma bonita aldeiazinha, e poderia ter sido um bom lugar para se crescer
caso os tempos tivessem sido melhores.
Mas, para famílias como os Darc, havia sempre
uma grande nuvem negra no horizonte. Por muitos anos, a França esteve envolvida
em uma guerra terrível, e grandes partes do país, incluindo a Lorena, foram
ocupadas por soldados inimigos.
Felizmente, Lorena não era uma região
particularmente importante, e não havia tantas lutas se comparada com outras
áreas. No geral, aldeões de lugares como Domrémy eram deixados em paz.
Mesmo assim, soldados vira e mexe passavam por
lá a caminho de batalhas em outro lugar e, embora em geral não causassem
problemas, nem sempre eram bem-comportados – em alguns episódios, ficaram longe
disso. Diversas aldeias francesas como Domrémy foram atacadas por soldados de
passagem; às vezes, até queimadas por completo.
Assim como ter que se preocupar com a guerra, sobreviver da terra significava trabalho pesado para os aldeões de Domrémy. A vida não era fácil naquela época e, como o resto da família, a pequena Joana tinha que suar na fazenda.
Por ser uma garota, Joana também tinha que ajudar a mãe a fiar e
costurar, e, durante suas aventuras posteriores, ela lembraria carinhosamente
das muitas horas que as duas passaram sentadas conversando enquanto
trabalhavam. (Mesmo depois de ter se tornado famosa e de estar associada à
realeza, Joana gostava de contar às pessoas como era uma especialista com agulhas
e linhas.) Foi durante essa época que a mãe a ensinou a rezar e a advertiu
seguidamente para manter-se afastada dos soldados.
Sem escola, Joana aprenderia tudo o que
precisava saber com sua família e amigos da aldeia.
ROBINS, Phil. Joana d’Arc e suas batalhas.
Ilustrações de Philip Reeve. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 9-13.
(Mortos de fama.)
com isso. Era pequena, provavelmente de
aparência comum, com um rosto avermelhado e as mãos ásperas por trabalhar ao ar
livre em todas as estações. O que se mostrou bastante útil – ela não estaria à
altura de liderar exércitos se fosse do tipo que se preocupa com unhas
quebradas e cabelos com pontas duplas.
ROBINS, Phil. Joana d’Arc e suas batalhas.
Ilustrações de Philip Reeve. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 32.
(Mortos de fama.)
Até que, um belo dia, aconteceu algo que iria
mudar a vida de Joana para sempre.
Domrémy,
agosto de 1425
Hoje algo incrível aconteceu. Eu acho que Deus
realmente falou comigo.
Eu estava correndo no campo com as outras
crianças. Não comera o dia inteiro, e estava quente pra caramba, e depois da
corrida eu pensei que ia desmaiar, então me sentei na grama para respirar um
pouco e fechei meus olhos.
Então ouvi uma voz – pensei que era um dos
garotos – dizendo que minha mãe precisava de mim. Corri para casa. Mas, quando
eu cheguei lá, Mamãe disse que não tinha me chamado.
Daí eu corri pelo jardim do Papai até o pasto.
Era por volta de meio-dia, e no meu caminho em direção à igreja havia uma
mancha de luz brilhosa. Eu parei, esfreguei meus olhos e comecei a ficar muito
assustada. E então ouvi uma voz, a voz de um homem, vinda da mancha de luz.
Foi a voz mais bonita que eu já escutei, e eu
nunca vou esquecê-la enquanto viver. Ela disse: “Joana, seja boazinha: vá
sempre à igreja”.
Eu estava surpresa demais para dizer qualquer
coisa, e em pouco tempo a luz sumiu me deixando sozinha de novo. Mais tarde eu
pensei sobre a coisa toda e decidi que aquela deve ter sido a voz de Deus.
Será que Deus realmente falou com Joana através
de um anjo? Ou ela apenas imaginou aquilo tudo? Será que aconteceu porque ela
não havia comido durante o dia e estava muito quente e ela ficou tonta depois
de correr? Teria sido o que hoje chamamos de “alucinação”, algo que ela pensou
ter visto e ouvido, mas que realmente não existe a não ser na sua própria
cabeça?
ROBINS,
Phil. Joana d’Arc e suas batalhas. Ilustrações de Philip Reeve. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. p. 42-43. (Mortos de fama.)
Joana teria mais muitos, muitos dias como esse.
A voz continuava voltando para lhe dizer a mesma coisa. E, toda vez, Joana
argumentava que esta era uma tarefa impossível para uma garota de treze anos
realizar. Mas ela ouvia a voz com mais e mais frequência, ao menos três vezes
por semana e, às vezes, diversas vezes em um dia. Ela a escutava no jardim do
seu pai ao meio-dia, na floresta pela tarde e muitas vezes nos campos ao
anoitecer, quando os sinos da igreja badalavam a distância.
ROBINS,
Phil. Joana d’Arc e suas batalhas. Ilustrações de Philip Reeve. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. p. 44. (Mortos de fama.)
Você gostaria de saber o que aconteceu com
Joana depois disso? Então, vamos lá.
Porém, em 1430, foi ferida e capturada pelos
borgonheses (franceses que viviam na região de Borgonha), que a venderam para a
Inglaterra, onde foi acusada de bruxaria, principalmente por causa de suas
visões. Depois de muitos julgamentos forjados, foi condenada a morrer na
fogueira em 1431.
• 1337 a 1453: Guerra dos Cem Anos, um
conjunto de conflitos entre França e Inglaterra para conseguir domínio do
território francês.
• A coroa da França era disputada entre o
delfim Carlos (filho do rei francês Carlos VI) e o rei Henrique VI, da
Inglaterra.
• Nasce Joana d’Arc em 1412.
• O delfim Carlos tornou-se rei em 17 de julho
de 1429.
• Antes que o delfim assumisse o poder, os
ingleses já ocupavam muitas regiões da França, e a nobreza se dividia entre os
que apoiavam a França e os que apoiavam a Inglaterra.
• Em 1453, termina a Guerra dos Cem Anos
com a assinatura de um tratado de paz entre os dois países.
01. Pelo
título, por que é possível saber que é parte de uma biografia e não de um texto
de memórias ou autobiografia? Justifique sua resposta.
Espera-se que os alunos respondam que
o título indica uma biografia, pois tanto a autobiografia como as memórias
literárias são escritas na 1ª pessoa, e o título com o verbo na 3ª pessoa se refere
à pessoa cuja vida será contada.
02. Releia
estes fragmentos.
·
[...] Joana provavelmente nasceu em uma noite
fria de janeiro de 1492, em uma pequena aldeia chamada Domrémy, no leste da
França.
·
[...] naqueles dias, apenas os nobres ricos
tinham a chance de ser educados.
·
Assim como ter que se preocupar com a guerra,
sobreviver da terra significava trabalho pesado para os aldeões de Domrémy. A
vida não era fácil naquela época [...].
·
Joana d'Arc costuma ser descrita como dona de
uma beleza pálida, elegante [...].
Por que informações como essas
são importantes em uma biografia? Anote no caderno as afirmações mais adequadas
para responder.
a) Porque permitem
conhecer mais sobre o biografado, satisfazendo a curiosidade do leitor.
b) Porque permitem
conhecer e compreender a época em que nasceu o biografado e o modo de vida que
se levava nesses tempos.
c) Porque ajudam o autor da
biografia a selecionar os pontos a serem trabalhados no texto.
03. Em um texto biográfico,
além de informações básicas – como nome, local de nascimento e morte – o autor
conta fatos que marcaram a vida do biografado.
a) Quais são os principais
fatos da vida da biografada apresentados no trecho?
Ela ajudava os pais
na fazenda, nunca aprendeu a ler nem escrever e ouvia vozes.
b) O biógrafo poderia ter
selecionado outras informações em vez de algumas que você mencionou na
atividade anterior. Em sua opinião, qual é a intenção dele ao selecionar esse
tipo de informação para compor o texto?
Resposta pessoal.
Espera-se que os alunos percebam que ele selecionou acontecimentos fundamentais
na vida da biografada para que o leitor tivesse uma visão ampla da vida dela.
04. Além
de recontar os eventos que compõem a vida do biografado, a biografia procura
levar o leitor a recriar uma imagem da pessoa ou personagem.
a) O narrador nos conta que
Joana não podia frequentar a escola, mas realizava muitas tarefas. Cite duas
delas que realizava na companhia da mãe.
Fiava e costurava.
b) Depois de ler a biografia de Joana d’Arc, com que imagem você ficou dela?
Resposta pessoal.
Sugestão: Uma pessoa trabalhadora, corajosa, que fez tudo para atingir as metas
a que se propôs.
5. Vamos observar mais de
perto como o autor dessa biografia apresenta os fatos que selecionou.
a) Você acha que as páginas de
diário reproduzidas no livro foram realmente escritas por Joana d’Arc? O que o
levou a essa conclusão?
Resposta pessoal.
Espera-se que os alunos percebam que se trata apenas de um recurso utilizado
pelo autor para narrar de uma maneira mais próxima do leitor adolescente dos
dias de hoje.
b) O autor procurou recorrer a efeitos de humor ao produzir a biografia. Que elementos do texto justificam essa afirmação?
O autor da biografia
produz um texto bem-humorado, o que se evidencia em muitos momentos: quando
cria páginas de um diário de uma garota analfabeta, quando descreve sua
aparência física, nos títulos e subtítulos.
c) Como você entende o título “Fatos de capa e espada”, que aparece em uma das informações paralelas da história?
Resposta pessoal.
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