CRÔNICA - LEITE
Millôr Fernandes Vocês que têm mais de 15 anos, se
lembram quando a gente comprava leite em garrafa, na leiteria da esquina? (...)
Mas vocês não se lembram de nada, pô!
Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é leite. Estou falando isso porque
agora mesmo peguei um pacote de leite − leite em pacote, imagina, Tereza! − na
porta dos fundos e estava escrito que é pasterizado ou pasteurizado, sei lá,
tem vitamina, é garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o escambau.
Será que isso é mesmo leite? No
dicionário diz que leite é outra coisa: “líquido branco, contendo água,
proteína, açúcar e sais minerais”. Um alimento pra ninguém botar defeito. O ser
humano o usa há mais de 5.000 mil anos. É o único alimento só alimento. A carne
serve pro animal andar, a fruta serve para fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer
outra galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou bota fora.
Esse aqui examinando bem, é só pra
botar fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais água do que leite, tem serragem,
sou capaz de jurar que nem vaca tem por trás desse negócio.
Depois o pessoal ainda acha estranho que os
meninos não gostem de leite. Mas, como não gostam? Não gostam como? Nunca
tomaram! Múúúúúúú!
Millôr Fernandes. O
Estado de São Paulo. 22/08/1999.
Descritor
18 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada
palavra ou expressão
01. Ao criar a palavra
“embromatologia” (ℓ. 6), o autor pretendeu ser
(A) conciso.
(B) sério.
(C) formal.
(D) cordial.
(E) irônico.
Excelente texto
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