Quiroga escreve para crianças
de forma inusitada
A ficção infanto-juvenil costuma
ser avaliada com certa condescendência,
mais comprometida com a formação com a formação do cidadão que com a do leitor.
Não é difícil perceber os
resultados desse paternalismo:
histórias politicamente corretas, com temas que tentam aproximar a literatura
da “realidade cotidiana” ou despertar a consciência para a diversidade social,
étnica e religiosa do mundo, frequentemente ganham elogios e adoções em escolas
na mesma medida em que sua estética
insossa é ignorada.
Diante de um cenário assim, é
promissor o lançamento de uma coletânea como Contos da selva (1918), do
uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937). Anunciado como infanto-juvenil, mas
talvez mais próximo das narrativas para crianças, o livro chama atenção por abdicar de um caráter utilitário, que
emprestaria às suas histórias uma pregação ecológica ou um sentido moral.
Quiroga obtém esse resultado, quase
sempre, experimentando com as convenções
da fábula e do causo. No
primeiro caso, em textos como “O papagaio pelado”, cujo protagonista se vinga
de uma onça que o atacou indicando seu paradeiro a um caçador, tem-se os bichos
que falam e agem como humanos, mas não há lição edificante no desfecho. No segundo, a verossimilhança e coerência
narrativa do causo são abandonadas em textos como “As meias dos flamingos”, talvez
a mais inusitada de todas, em que pássaros entram fantasiados num baile de
cobras e passam o resto da vida pagando pelo erro.
Resta saber se ambas as soluções,
cuja originalidade é louvável, mas externa à fruição estética das
histórias, são suficientes para garantir o valor literário de Contos da selva.
A resposta é difícil, até porque há contos que fogem à regra aqui descrita,
como “A abelhinha malandra”, fábula tradicional e previsível, ou “A tartaruga
gigante”, sem a densidade que transforma o relato em literatura.
Por outro lado, há qualidades inegáveis
na prosa de Quiroga: o classicismo elegante, que ficaria bem num texto
contemporâneo, e a generosidade descritiva, que torna acessível o mundo então
pouco explorado de bichos e plantas das províncias argentinas – lugares onde o
autor viveu muitos anos.
Somada a isso, a capacidade de
comover em construções simples como “A Gama Cega”, sobre um veado salvo por um
caçador, ou “História de Dois Filhotes de Quati e de dois filhotes de homem”,
que mostra uma convivência terna entre as espécies, dão ao livro um balanço
positivo. Não para transformá-lo num clássico, mas o bastante para ser lido com
interesse quase um século depois de sua publicação.
Michel
Laub é autor dos romances Longe da água e O segundo tempo.
1 - A respeito da resenha, responda.
a)
Qual é a obra resenhada?
O livro Contos da selva.
b)
Quem é o autor dessa obra?
O uruguaio Horacio Quiroga.
c)
A que público ela se destina?
A obra é dirigida ao público infanto-juvenil, mas o autor da resenha
a considera mais voltada para o infantil.
d)
Quem é o autor da resenha?
Michel Laub.
2 - Segundo o autor da resenha, a ficção
infanto-juvenil tem sido avaliada por um único ângulo.
a)
Qual
é o principal critério de avaliação da ficção infanto-juvenil?
O
critério didático, moralizador.
b)
Segundo esse critério, como seria um bom
livro infanto-juvenil?
São aquele composto de “histórias politicamente corretas, com temas
que tentam aproximar a literatura da realidade cotidiana ou despertar a
consciência para a diversidade social, ética e religiosa do mundo”.
c)
O
autor da resenha considera esse um bom critério? Por quê?
Não. Ele considera esse critério limitador.
3 - A obra resenhada pode ser considerada um
exemplo do que comumente se avalia como boa ficção infanto-juvenil? Explique
sua resposta.
Não. Pelo contrário, a obra resenhada
abre mão de parecer uma pregação ecológica ou
apresentar um sentido moral.
4 - Além de comentar o conteúdo normalmente
presente na ficção infanto-juvenil, o autor da resenha também avalia a estética
que predomina nesses livros. Qual é a opinião dele sobre isso?
Segundo o autor, a ficção
infanto-juvenil em geral apresenta uma “estética insossa”.
5 - A resenha afirma que o livro Contos da
selva não tem qualidades para ser considerado um clássico. Você sabe dizer o
que é um livro clássico? Que livros clássicos para o público infanto-juvenil
você conhece?
Resposta pessoal.
gostei
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