domingo, 26 de junho de 2022

TELA: OS AMANTES - RENÉ MAGRITTE - COM GABARITO

Tela: Os amantes

          René Magritte

 

 Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg10SORQNfye7AlTmgMz69byVJX8p0cw0sdO-gUJTz9wKPlU6XIRAgBpfpGwC614IqRc_3mk72KATPQWRRrKLUBb52PSSGkHmW6gsUwV7V7aKi05fQVyGaVDyBQgILzpEveH2kv5XAUBZQbJucr9L8ThELTYdqWPu6eoQR_ZKT2swIv4TZeKKQorAdn/s1600/TELA.jpg

             MAGRITTE, René. Os amantes. 1928. 1 óleo sobre tela. Richard Zeisler Collection, Nova Iorque.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 263.

Entendendo a tela:

01 – Uma das marcas dos pintores surrealistas era a representação realista de imagens que não correspondem à lógica cotidiana. Que elemento permite comprovar essa afirmação na pintura de Magritte?

      A pintura se assemelha em termos técnicos a uma foto, no entanto, o que se vê não é uma imagem que corresponda à lógica cotidiana: os rostos dos amantes estão cobertos por um pano e eles se beijam mesmo assim.

02 – O título da tela é “Os amantes”. Interprete a imagem da obra relacionando-a à dupla acepção que a palavra “amantes” pode receber.

      A palavra “amantes” pode ser entendida como uma referência a um relacionamento ilícito, adultério, por isso os rostos estariam cobertos, para que eles se protejam da desaprovação social. Numa outra acepção da palavra, os “amantes” podem ser entendidos como aqueles que se amam e podem estar apenas querendo preservar sua privacidade, querem viver seu amor de modo reservado.

03 – Muitas vezes, os surrealistas aproveitavam sensações de sonhos como símbolos em suas telas. Que sensações a imagem da pintura pode estar representando? Justifique sua resposta.

      Numa sociedade movida pelas aparências, os amantes verdadeiros são aqueles que não se preocupam com o exterior, mas os sentimentos; o amor pode ser um sentimento angustiante, que leva as pessoas a se sentirem presas, sufocadas; o amor faz nascer nas pessoas o sentimento de proteção, de não querer que o outro sofra, seja reconhecido e julgado socialmente por seus atos, etc.


POEMA - REGINA WERNECK - COM GABARITO

Poema: Poema

              Regina Werneck

Minha memória é um rio caudaloso
Onde, às vezes, eu me vejo submersa,
Afogada, asfixiada.
É um rio de torrentes que me arrasta
E me joga de um lado para outro,
Contra rostos, mãos, casas, esperanças,
Ideias, planos, ruas, despedidas,
Montes, mares, angústias e caminhos,
Pernas, pés, praias, solidão...
Estendo as mãos, as margens longe...
E vou me debatendo
Até que a voz do tempo
E o correr dos dias
Me salvem de mim mesma
E me coloquem outra vez
Nas margens tranquilas do esquecer.

Regina Werneck. Poema. Disponível em: http://www.releituras.com/ne_rwerneck_poema.asp. Acesso em: 22 jul. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 262-3.

Entendendo o poema:

01 – Segundo Freud, os pacientes psicanalíticos sofriam de “reminiscências”, ou seja, ficavam recordando de forma incessante fatos traumáticos do passado. A memória, no poema de Regina Werneck, demonstra ser geradora de lembranças positivas ou de sofrimentos? Justifique sua resposta.

      Sofrimentos. A memória é comparada a um rio caudaloso, onde o eu lírico sente-se submerso e asfixiado, ou seja, sofre com as memórias que não o abandonam.

02 – Interprete o sentido do último verso do poema.

      O esquecimento é visto, no poema, como uma possibilidade de livrar o eu lírico de seu sofrimento, de ele poder viver tranquilamente a partir do momento em que se esquecer das memórias que trazem dor.

03 – É possível afirmar que o poema apresenta um aproveitamento das ideias freudianas? Explique seu ponto de vista.

      Sim, pois o tema do sofrimento gerado pela memória aparece no poema e está implícita também a ideia de que o ser humano não controla totalmente suas lembranças: o inconsciente também age sobre ele, por isso não basta querer esquecer, não depende apenas da vontade consciente de alguém o ato de esquecer.


POEMA: CANTEM OUTROS A CLARA COR VIRENTE- ALPHONSUS DE GUIMARAENS - COM GABARITO

 Poema: Cantem outros a clara cor virente

              Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente

Do bosque em flor e a luz do dia eterno...

Envoltos nos clarões fulvos do oriente,

Cantem a primavera: eu canto o inverno.

 

Para muitos o imoto céu clemente

É um manto de carinho suave e terno:

Cantam a vida, e nenhum deles sente

Que decantando vai o próprio inferno.

 

Cantem esta mansão, onde entre prantos

Cada um espera o sepulcral punhado

De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...

 

Cada um de nós é a bússola sem norte.

Sempre o presente pior do que o passado.

Cantem outros a vida: eu canto a morte...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Cantem outros a clara cor virente. Disponível em: http://www.camarabrasileira.com/alphonsus.htm. Acesso em: 4 nov. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 260.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Virente: florescente, próspera.

·        Fulvos: louros, ocres.

·        Imoto: sem movimento, imóvel.

·        Decantando: separando, isolando.

02 – Identifique no poema um recurso expressivo usado pelo poeta para a sonoridade em seu poema.

      O poeta usa a aliteração em /c/ e /p/ e a assonância em /e/ e /o/ para criar a sonoridade em seu poema, como se vê em: Cantem Clara Cor; Cada um esPera o sePulCral Punhado; cantEm Esta mansãO, OndE EntrE prantOs; quE dEcantandO vai O prÓpriO infernO; entre outros.

03 – Qual o tema/assunto do poema? Que símbolo sintetiza o tema?

      O poema tem como tema a morte, a opção do eu lírico em não tematizar a vida, como fazem outros poetas, mas sim a morte. O símbolo que sintetiza o tema é “inverno”.

04 – O que representa no poema o ato de “cantar”?

      O ato de cantar representa discutir, trabalhar, ter como preocupação central, tematizar.

05 – É possível estabelecer uma relação entre os recursos expressivos usados pelo poeta e o tema geral do poema? Justifique sua resposta.

      Sim. O tema do poema é a morte e a escolha da alternância entre sons abertos e fechados, /e/ e /o/, além do ritmo marcado fortemente pela aliteração em /c/ e /p/, propõe uma relação de alternância: o poeta poderia escolher entre vida e morte, mas sua opção, como comprova a estrofe final do soneto, é pela morte, uma escolha pessimista que os sons do poema reforçam.

 

POEMA: EM SONHOS - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

Poema: EM SONHOS

             Cruz e Sousa

Nos Santos óleos do luar, floria
Teu corpo ideal, com o resplendor da Helade…
E em toda a etérea, branda claridade
Como que erravam fluidos de harmonia…

As Águias imortais da Fantasia
Deram-te as asas e a serenidade
Para galgar, subir a Imensidade
Onde o clarão d e tantos sóis radia.

Do espaço pelos límpidos velinos
Os Astros vieram claros, cristalinos,
Com chamas, vibrações, do alto, cantando…

Nos santos óleos do luar envolto
Teu corpo era o Astro nas esferas solto
Mais Sóis e mais Estrelas fecundando!

          CRUZ E SOUSA, João da. Em sonhos. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 66.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 258-9.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Helade: referência à Grécia, ao mundo helênico.

·        Etérea: elevada, sublime, que pertence à esfera celestial.

·        Velinos: pergaminhos finos, papéis.

02 – Muitos dos termos usados no poema são imagens que remetem direta ou indiretamente à claridade. Localize, no poema, palavras que comprovem essa afirmação e indique a qual tema simbolista essa escolha vocabular faz referência.

      Muitos vocábulos remetem à cor branca no poema: luar, resplendor, claridade, clarão, sóis, límpidos, astros, claros, cristalinos, chamas, Astro, sóis, Estrelas.

03 – Nos poemas de Cruz e Sousa, é comum o uso de letras maiúsculas para reforçar o sentido de alguns termos. Releia os substantivos que aparecem com letra maiúscula e aponte sua relação com o tema do poema.

      No poema, aparecem em letra maiúscula os termos que fazem referência ao plano superior, da transcendência, do alto: santos, águias, fantasia, imensidade, astros, sóis e estrelas.

04 – O verso final do poema traz a palavra “fecundando”, responsável por trazer ao poema uma simbologia complementar à tentação principal do soneto: a referência à sensualidade. Releia o poema a partir do último verso e identifique outras imagens que também remetem à sensualidade.

      Há várias imagens no soneto que podem ser associadas à sensualidade, como as que se referem à fertilidade, como floria e fecundando; as que se referem ao fogo, ao erotismo, como clarão, sóis, chamas; as que remetem ao movimento de subida, de excitação, como asas, galgar, subir, alto.

05 – Um dos traços marcantes da poesia simbolista é o trabalho com a sugestão, com a ambiguidade do símbolo. É possível afirmar que esse traço se encontra presente no poema de Cruz e Sousa? Por quê?

      Sim. Muitas imagens usadas pelo poeta são ambíguas, remetendo ao mesmo tempo à transcendência e à sensualidade, à ascendência do espírito e ao movimento para o alto, erótico.

  

POEMA: VIDA OBSCURA - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

 Poema: Vida obscura

               Cruz e Sousa

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!

 SOUSA, João da Cruz e. Vida Obscura. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 181.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 257-8.

Entendendo o poema:

01 – O trocadilho entre obscuro/escuro indicia para o leitor a temática do poema. Qual é ela?

      A obscuridade, ou seja, o anonimato em que os seres humildes têm que viver. O jogo entre obscuro/escuro leva à interpretação de que, entre esses seres condenados ao esquecimento, estariam os homens negros como o próprio poeta.

02 – O eu lírico se dirige, ao longo do poema, a um interlocutor genérico. Na última estrofe, porém, ele compara esse interlocutor a uma figura religiosa. Que figura é essa e que semelhanças permitem ao poeta realizar essa aproximação?

      Essa figura seria Cristo, que carreou uma “cruz infernal”, assim como os pobres e marginalizados socialmente, que vivem esquecidos. Esse sofrimento e o fato de suportarem calados o seu fardo aproximaria os marginais da figura de Cristo.

03 – Uma das figuras de linguagem preferidas pelos simbolistas era a sinestesia, pelo efeito de sugestão que ela era capaz de impor ao poema. Localize, no poema, a sinestesia presente.

      A sinestesia encontra-se no primeiro verso da segunda estrofe: silêncio escuro. Há aí uma mistura entre um sentido que se apreende pela audição – o silêncio – unido a um sentido que se apreende pela visão – escuro – o que caracteriza o efeito sinestésico, de mistura de sentidos.

04 – A poesia simbolista, para alguns críticos literários, é vista como descompromissada com a denúncia de problemas sociais. Observando o texto, você concorda com essa afirmação ou discorda dela? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Discordo, porque o texto mostra um poema em que Cruz e Sousa tematiza e discute o lugar dos pobres na sociedade.

 

 

POEMA: EPÍGRAFE - EUGÉNIO DE CASTRO - COM GABARITO

Poema: Epígrafe

             Eugénio de Castro

 

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,

Lentas gotas de som no relógio da torre,

Fio de areia na ampulheta vigilante,

Leve sombra azulando a pedra do quadrante,

Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…

 

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?

Procuremos somente a Beleza, que a vida

É um punhado infantil de areia ressequida,

Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…

Eugénio de Castro. Antologia pessoal da poesia portuguesa.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 254.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.

·        Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.

02 – A imagem contida em “lentas gotas de som” é retomada na segunda estrofe por meio da expressão:

a)   Tanta ameaça.

b)   Som de bronze.

c)   Punhado de areia.

d)   Sombra que passa.

e)   Somente a Beleza.

03 – Neste poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a:

a)   Infantilidade do ser humano.

b)   Destruição da natureza.

c)   Exaltação da violência.

d)   Inutilidade do trabalho.

e)   Brevidade da vida.

 

SONETO: CLEPSIDRA - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Soneto: Clepsidra    

              Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina, ­

Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos? ­

-- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

 

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos, ­

-- Estranha sombra em movimentos vãos.

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 59, s/d.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_DQsQwzQAOjYs_HuU03EruU9jK3Z5NdRAWTIM0zhx2PFx5UFI-rYbe6tJiM7ZRNp1kDMsKKtIfWBRFaiKych34cA_NHf8en0c5hwIF51RdSSsx85oPHcKunZLap_eRjbJXDUhank_msy-7yV5w75N7hKme-qImfKSgaQU_iGMrJJnll2CKA_34Hzs/s1600/LIRIOS.jpg

MONET, Claude. Water Lilies (lírios de água). 1906. 1 óleo sobre tela. The Art Institute of Chicago, Chicago.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 253-4.

Entendendo o soneto e a tela:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Silente: calado, silencioso.

·        Juncais: aglomerados de juncos, plantas.

02 – O tema do olhar é bastante explorado no poema. Selecione elementos do poema que comprovem essa afirmação.

      Há um uso de vocábulos que fazem referência direta ou indireta ao tema do olhar, como imagens retina e a reiteração do termo “olhos”.

03 – Na primeira estrofe do poema de Camilo Pessanha, há uma antítese que faz referência ao tema do poema. Identifique a antítese e o tema do poema.

      Passais/fixais. O tema do poema é a transitoriedade da vida, a passagem do tempo. Esse tema vem representado na antítese que mostra que tudo passa, nada se fixa por muito tempo, assim como ocorre com as imagens que o eu lírico vê.

04 – Ao longo do poema, o eu lírico dialoga com as imagens que vê. Que imagens são essas?

      São imagens que fazem referência à água – água cristalina, fonte, lago, curso (de rio, de água).

05 – Que relação é possível estabelecer entre o poema e a tela de Monet?

      Ambos usam a imagem da água em suas obras. Além disso, ambos trabalham a temática do olhar. No soneto, o eu lírico reflete sobre as imagens que vê, enquanto a tela de Monet expõe um olhar sobre a natureza.

06 – O fato de o poema trabalhar com a descrição de imagens contradiz a ideia simbolista de privilegiar a subjetividade e deixar a objetividade em segundo plano? Justifique sua resposta.

      Embora o poema trabalhe com a descrição de imagens, não há contradição, pois essas imagens são descritas de modo subjetivo. O uso das imagens e as perguntas que o eu lírico dirige à natureza visam ao questionamento da passagem do tempo, da vida, e não a uma representação fiel daquilo que é observado.

07 – Interprete, no contexto do poema, o sentido do verso que encerra a segunda estrofe: “—Porque ides sem mim, não me levais?” Em que tema comum ao Simbolismo esse verso se encaixa?

      O sentido do verso é a resignação do eu lírico em relação à passagem do tempo. Já que ela é inevitável, ele deseja a morte, ser levado com o curso das águas. Esse verso se encaixa na temática simbolista da “dor de existir” e do pessimismo. A morte é condição para a transcendência, para a libertação do espírito.

08 – A musicalidade é apontada como uma das características marcantes da poesia de Camilo Pessanha. No poema, os recursos usados pelo poeta para construir essa musicalidade vêm diretamente relacionados aos temas e símbolos trabalhados por ele. Identifique, no poema, exemplos de cada um dos recursos listados a seguir:

·        Rimas que confirmam o tom lamentoso do poema: fixais/mais/juncais/levais. Todas elas têm dentro de si a palavra “ais”, ou seja, fazem referência à dor.

·        Uso da aliteração do fonema /s/ para representar o fluir contínuo das águas: imagenS, paSSaiS, doS, meuS, olhoS, voS, fixaiS, criStalina, maiS, eScuro, voSSo, curSo, Silente, juncaiS, anguStioso, ideS, Sem, levaiS, vóS, São, pagãoS, arideZ, etc.

·        Palavras que contêm som abertos para representar o fluir da vida: Imagens, passais, fixais, água, mais, cristalina, levais.

·        Palavras que contêm sons fechados para representar o temor da morte: Escuro, curso, medo, angustioso, pagãos, sucessivos, sombra, vãos.

09 – O impressionismo foi um movimento artístico contemporâneo do Simbolismo. Na pintura impressionista, a pincelada solta busca representar o momento, a impressão da luz sobre a realidade apreendida pelo pintor num momento específico. Pintores como Claude Monet representaram muitas vezes suas impressões sobre a natureza a partir de símbolos. Os “lírios de água” citados no título são símbolos usuais da pureza, da inocência. A partir dessas informações responda: que atmosfera sobressai da tela de Monet?

      Uma atmosfera de tranquilidade, de encontro com a natureza, admiração por ela.

10 – A partir de sua análise do poema e da tela de Monet você diria que ocorre complementação ou contradição de ideias entre eles? Justifique sua resposta.

      Tanto se pode afirmar que há convergência, pois ambos veem na natureza o símbolo da passagem do tempo, quanto é possível afirmar que há contradição, pois o poema apresentaria uma visão pessimista sobre a passagem do tempo que a pintura não parece representar. Vale lembrar que os lírios costumam simbolizar a pureza, a inocência, a paz.

 

POEMA: PAISAGENS DE INVERNO II - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poema: PAISAGENS DE INVERNO II

              Camilo Pessanha       

Passou o Outono já, já torna o frio...
— Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
— O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio, 
Fugindo sob o meu olhar cansado, 
Para onde me levais meu vão cuidado? 
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando, 
E, debaixo das águas fugidias, 
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
— E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha. Paisagem de inverno II. In: Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 45, s/d.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 252-3.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema do texto?

      A passagem do tempo e, de modo mais amplo, o envelhecimento e a morte.

02 – Quais os símbolos centrais usados no texto para trabalhar o tema? Que interpretação é possível dar a eles?

      O inverno e o rio, ou a água de forma ampla, são os símbolos centrais trabalhados no texto. Por meio deles, o eu lírico discute a passagem do tempo que conduz ao envelhecimento e à morte.

03 – Nos dois tercetos do texto, surge uma imagem feminina. O que o poema sugere que ocorreu com ela? Comprove sua resposta com elementos do próprio texto.

      O poema sugere que ela morreu, pois seus cabelos flutuam, seus olhos estão abertos e suas mãos, translúcidas e frias. Parece ser a descrição de um cadáver. Por outro lado, pode-se tomar a descrição como uma metáfora: o rio leva a lembrança da amada, que estaria “morta” para o eu lírico em sua memória e em seu coração.

04 – Após a leitura do texto, é possível apontar um diálogo intertextual? Por quê? Explique seu ponto de vista.

      Sim. Porque o texto trabalha a passagem do tempo representada a partir da imagem do escoar de águas. No poema, o rio leva a amada, morta metafórica ou literalmente.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): CASA DE CABLOCO - CHIQUINHA GONZAGA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Casa de Caboclo

               Chiquinha Gonzaga/Inezita Barroso

Vancê tá vendo
Essa casinha simplesinha
Toda branca de sapê?
Diz que ela véve no abandono
Não tem dono!
E se tem, ninguém não vê

Uma roseira
Cobre a banda da varanda
E num pé de cambucá
Quando o dia se alevanta
Virgem Santa!
Fica assim de sabiá!

Deixa falá
Toda essa gente maldizente
Bem que tem um moradô!
Sabe quem mora dentro dela? Zé Gazela!
O maió dos cantadô

Quando Gazela
Viu Siá Rita, tão bonita
Pôs a mão no coração
Ela pegou, não disse nada, deu risada!
Pondo os oinho no chão

E se casaro, mas um dia, que agonia!
Quando em casa ele voltou
Zé Gazela, viu Siá Rita, muito aflita
Tava lá Mané Sinhô!

Tem duas cruz
Entrelaçada bem na estrada
Escrevero por detrás:
“Numa casa de caboclo
Um é poco
Dois é bom,
Três é demais!”

Chiquinha Gonzaga / Hekel Tavares / Luiz Peixoto. Casa de sapé. Disponível em: http://www.chiquinhagonzaga.com/. Acesso em: 14 abr. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 245.

Entendendo a música:

01 – Reconte, de maneira bem sucinta, a história narrada em “Casa de caboclo”.

      “Casa de caboclo” narra a história de Zé Gazela, um cantador famoso que se casa com Siá Rita. Um dia, ao voltar para casa, ele encontra a mulher com outro homem: Mané Sinhô. Resolve, então, matar os dois. Daí os dizeres nas duas cruzes entrelaçadas na estrada: “Numa casa de caboclo / um é poco / dois é bom, três é demais!”.

02 – Qual é a variante linguística usada pelo autor da letra? Retire do texto três exemplos de desvios em relação às normas urbanas de prestígio.

      É uma variante regional. Há inúmeros exemplos de desvios em relação à variante urbana de prestígio, entre eles: vancê, véve, alevanta, ainsim, morado, maiô, etc.

03 – De acordo com o texto, que diferença se nota em relação à abordagem do tema? E em relação à linguagem?

      Em “Casa de Caboclo” é predominantemente narrativo. Enquanto a linguagem é simples e popular.

 

SONETO: OFICINA IRRITADA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Soneto: Oficina irritada

           Carlos Drummond de Andrade

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética (organizada pelo autor). Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1983. p. 178.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 242.

Entendendo o soneto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Pungir: ferir, afligir, torturar, atormentar.

·        Vênus: deusa latina da beleza e do amor.

·        Pedicuro: profissional que se dedica a cuidar dos pés.

·        Arcturo: uma das estelas mais brilhantes da constelação da Ursa Maior.

02 – Releia a primeira estrofe do texto. Quais as características do soneto que o sujeito poético afirma que quer escrever?

     Ele quer escrever um soneto “duro”, “escuro”, “seco”, “abafado” e “difícil de ler”.

03 – Tendo em vista as ideias presentes no texto, responda: a que o “ar imaturo” do soneto pretendido pelo sujeito poético do texto pode ser contraposto?

      Pode ser contraposto às ideias de equilíbrio e perfeição formal defendidas pelos parnasianos. Nesse sentido, a imaturidade do soneto descrito no texto de Drummond se afastaria do ideal parnasiano de “obra acabada”.

04 – Na última estrofe do texto, duas imagens inusitadas são usadas para metaforizar o soneto pretendido pelo sujeito poético: “Tiro no muro” e “cão mijando no caos”. Que sentidos podem ser atribuídos a elas?

      São imagens que condenam o desencanto e a irritação demonstrados pelo sujeito poético ao longo do texto. Essas imagens insólitas sugerem a transitoriedade e a precariedade da poesia.

05 – Como pode ser entendida a referência a “Arcturo”, um “claro enigma” que se deixaria surpreender na leitura do soneto?

      Como uma surpresa luminosa, uma revelação positiva, ainda que enigmática, capaz de conferir algum sentido à experiência poética. Assim, embora a literatura seja “antipática” e “impura”, possui algo de surpreendente para oferecer ao leitor.

06 – Considerando que o texto foi escrito por Drummond, poeta adepto das inovações modernistas, interprete o seu título. Por que os termos “oficina” e “irritada” foram escolhidos para nomear o soneto?

      O termo “oficina” foi escolhido provavelmente numa referência ao trabalho artesanal do poeta parnasiano, que trabalhava a palavra como se fosse um joalheiro. E o termo “irritada” diz respeito ao estado de espírito do poeta modernista, que rejeita os princípios parnasianos.

07 – É possível afirmar que o soneto apresenta proposta diversa sobre o fazer poético. Que proposta seria essa?

      O texto apresenta uma proposta moderna – e irônica – de composição poética que desvincula poesia e fruição, defende o desarranjo e o desalinho da forma e aposta na exposição das contradições que caracterizam a vida do homem moderno.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): AS POMBAS - JOSÉ AFONSO - COM GABARITO

 Música(Atividades): As pombas

                José Afonso

Pombas brancas

Que voam altas

Riscando as sombras

Das nuvens largas

Lá vão

Pombas que não voltam

 

Trazem dentro

Das asas prendas,

Nos bicos rosas

Nuvens desfeitas

No mar

Pombas do meu cantar

 

Canto apenas

Lembranças várias

Vindas das sendas.

Que ninguém sabe

Onde vão

Pombas que não voltam.

AFONSO, Zeca. As pombas. Disponível em: http://letras.terra.com.br/jose-afonso/494824. Acesso em: 15 abr. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 238-9.

Entendendo a música:

01 – O texto fala do revoar de “pombas que não voltam”. Como são caracterizadas essas pombas?

      São caracterizadas como pombas brancas, que voam alto e trazem presentes dentro das asas e rosas nos bicos. São ainda caracterizadas como pombas do cantar do poeta.

02 – Releia a última estrofe do texto. A partir dela, é possível associar as pombas a sonhos? Justifique sua resposta.

      Sim. O sujeito poético diz que canta lembranças que ninguém sabe onde vão e, na sequência, afirma: “pombas que não voltam”. Considerando a caracterização positiva das pombas, é possível associar as pombas a sonhos.

03 – Sabendo que Zeca Afonso compôs canções de protesto, de denúncia das injustiças sociais e de aposta na transformação da sociedade portuguesa, formule uma interpretação para o texto.

      O texto ao falar sobre pombas que não voltam, pode estar se referindo a sonhos de mudança, de transformação, que estariam distantes de se realizar.

04 – É possível afirmar que o texto é melancólicos? Por quê?

      Sim. Porque há a ideia de sonhos que se perdem, não são realizados.

05 – De acordo com o texto, qual é o ponto de vista do uso da língua?

      A linguagem é espontânea, o vocabulário é corriqueiro e não há rimas regulares.

 

SONETO: O PIOR DOS MALES - ALBERTO DE OLIVEIRA - COM GABARITO

Soneto: O Pior dos Males

           Alberto de Oliveira

Baixando à Terra, o cofre em que guardados
Vinham os Males, indiscreta abria
Pandora. E eis deles desencadeados
À luz, o negro bando aparecia.

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia,
Todos os Vícios, todos os Pecados
Dali voaram. E desde aquele dia
Os homens se fizeram desgraçados.

Mas a Esperança, do maldito cofre
Deixara-se ficar presa no fundo,
Que é última a ficar na angústia humana…

Por que não voou também? Para quem sofre
Ela é o pior dos males que há no mundo,
Pois dentre os males é o que mais engana.

Alberto de Oliveira. In: Roteiro da poesia brasileira: “Parnasianismo” (seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo). São Paulo: Global, 2006. p. 23.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 238.

Entendendo o soneto:

01 – É possível afirmar que o soneto apresenta grande rigor formal? Justifique sua resposta.

      Sim. Todos os versos são decassílabos (possuem dez sílabas poéticas) e o esquema de rimas é ABAB; BABA; CDE; CDE.

02 – Explique o uso de letras maiúsculas para grafar alguns dos substantivos comuns presentes no soneto.

      As letras maiúsculas são usadas para grafar os seguintes substantivos comuns: Males, Ódio, Inveja, Vingança, Hipocrisia, Vícios, Pecados e Esperança. Elas são usadas para universalizar os sentidos dos termos, sugerindo que eles são comuns a toda a humanidade.

03 – Segundo o poema, qual seria o “pior dos males"? Essa perspectiva expressa pelo poema parnasiano converge com a expressa pelo mito grego?

      Segundo o texto, o “pior dos males" seria a Esperança, porque é o que mais engana os homens. Essa perspectiva diverge do mito tradicional, que aponta a esperança como um consolo para a humanidade, sujeita a tantos males.