quinta-feira, 9 de abril de 2020

CRÔNICA: TERNO X TÊNIS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO


Crônica: Terno X Tênis
          
                 Walcyr Carrasco

        É incrível. Os maitres e garçons de restaurantes finos andam mais chiques que a decoração. Se chego descontraído, de tênis e jeans, me tratam como se fosse um meliante. Aparece alguém de terno seja tão elegante quanto uma barraca de acampamento. Dia desses, um amigo, diretor de empresa, foi me encontrar em um estrelado do Itaim. Desembarcou do táxi de calça de preguinhas e camiseta. O maitre aproximou-se, com um sorriso de boca torta:
        -- Onde o senhor vai?
        -- Almoçar.
        -- Tem reserva?
        Por sorte, eu já estava lá dentro. O restaurante, um deserto. Fomos tratados como candidatos a faxineiros. Quando pedi sobremesa, o garçom me olhou com jeito desconfiado. Como se fosse um atrevimento da minha parte. Nem tive coragem de dar cheque. Ofereci o cartão de crédito, que ele ficou revirando alguns momentos nos dedos.
        Porteiros de prédio são piores. Fui visitar uma amiga em seu novo apartamento no Morumbi. Vesti tênis, jeans, camisa branca. Falei com a guarita pelo interfone. O porteiro:
        -- Não sei se ela vai poder atender.
        Fico furioso: ele tem de saber de alguma coisa? Por acaso foi contratado como secretário, para tratar da agenda dela? Pois que ligue o interfone e verifique. Ele me olha com rancor. Chega um rapazinho de terno e gravata, todo amarfanhado. Parece que dormiu dentro de uma batedeira de bolo. Mal espeta o dedo na campainha, o porteiro abre solícito:
        -- Posso ajudá-lo em alguma coisa?
        Pior me aconteceu numa corretora de investimentos. Sou atendido no portão por uma recepcionista de calça de linho. Peço para falar com um amigo que trabalha lá.
        -- Está numa reunião e não pode atendê-lo – rugiu o cavalheiro, sem saber do que se tratava.
        -- Só vim buscar um livro. Talvez a secretária possa passar um bilhete e resolver o assunto.
        -- O quê? Ela não pode, não. Pensa que todo mundo é obrigado a fazer suas vontades?
        Fico em dúvida: chamo a ambulância? Loucura tem limite. Mais louco deve ser o dono da empresa, que deixa alguém atender à porta dessa maneira. Em casa, me examino no espelho. Pareço um espantalho? Coisa nenhuma: gosto de misturar paletó com jeans, blazer com camiseta. Igualzinho nas revistas de moda. Talvez o negócio seja botar uma delas embaixo do braço e negociar:
        -- Olha aqui, seu maitre. Estou vestido que nem o moço da foto. Não me trata mal.
        Com as mulheres é até pior. Uma amiga que faz o gênero descontraído vive sendo barrada. Nem ousa chegar perto de restaurante francês. Costuma ficar ancorada no bar horas e horas, porque nunca tem mesa. Se insiste, é atarraxada no fundo da sala e passa a noite toda tentando atrair a atenção dos garçons. Que fogem, de nariz empinado. Acham brega atender quem parece suburbano. Sem falar das casas noturnas que proíbem tênis. Hoje, por um desses mistérios de indústria, um par tornou-se mais caro do que mocassim. O recepcionista parece sentir um prazer sádico em declarar:
        -- De tênis não entra.
        Fico fascinado ao verificar como certas pessoas adoram bancar o oficial nazista. Um terno pode ter sido comprado a prestação. O jeans pode ser de grife. Analisar uma pessoa pelo que ela veste só dá confusão, pois atualmente, à primeira vista, um encanador e um milionário correm o risco de andar com roupas parecidas. O que me dá mais raiva é que maitres, garçons e porteiros talvez pensem que são tão finos como as cadeiras e os objetos de arte dos lugares onde trabalham. Mas e na hora de ir para casa? Algum deles possui, por acaso, a última coleção de Paris no guarda-roupa? Ou um terninho soterrado na naftalina, para usar em casamento de amigos? Fico imaginando que chegam em casa e caçam caramujos no quintal só para ter o prazer de comentar:
        -- Em casa tem escargot.
        O pior de tudo: e se alguém quiser torrar as economias num restaurante de luxo, merece ser mal recebi só porque ganha pouco?
        Cheguei a tentar usar terno até para ir à quitanda. Me dei mal. Noite dessas, me emperiquitei todo e fui a um restaurante. Até coloquei minha gravata inglesa com desenho de porquinhos. Adiantou? Percebi o olhar de censura do maitre cabeludo no instante em que pus os pés no local, próximo da Avenida Paulista. Todos os garçons de jeans e tênis. O único de gravata era eu. Ouvi um comentário:
        -- Olha o cafona.
        Quase choro. Regra vem, regra vai, eu sempre acabo como espantalho. Ai, que vida!
                                   Walcyr Carrasco, O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1996. Para gostar de ler, v. 20.
                                   Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 149-152.
Entendendo a crônica:

01 – A seu ver, por que as pessoas de terno são mais bem tratadas do que as de tênis? Ou você discorda do autor? Esclareça a sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A aparência das pessoas influencia muito o comportamento de quem julga o ser humano pelo que veste e possui; na nossa sociedade, usar terno é sinal de status; tênis é popular.

02 – Além dos maitres, garçons e porteiros, que outras pessoas assumem o mesmo comportamento discriminatório? Que incoerência há na atitude desses profissionais?
      Balconistas que acham tudo barato porque estão vendendo e não comprando. Certas cabeleireiras, recepcionistas, secretárias, sem muita experiência, que ficam afetadas ao se relacionar com o público. São normalmente pessoas humildes, que lutam com dificuldades e por isso não têm boa aparência. Mesmo assim, criticam os outros.

03 – Explique o sentido das seguintes frases do texto:
a)   “Mesmo que o terno seja tão elegante quanto uma barraca de acampamento”.
Há ternos mal confeccionados, com péssimo caimento no corpo; por isso o autor os compara a barracas que, geralmente, não são bem ajustadas, causando má impressão.

b)   “Parece que dormiu dentro de uma batedeira de bolo”.
O autor refere-se ao terno todo amarrotado, completamente em desalinho.

c)   “Costuma ficar ancorada no bar horas e horas, porque nunca tem mesa”.
Há pessoas que são mal recebidas devido à má aparência e ficam à espera de uma atenção, que nunca acontece.

d)   “... certas pessoas adoram bancar oficial nazista”.
Trata-se de gente grosseira, sem trato, que tem o costume de ser estúpida com os outros.

04 – Releia esta frase: “Analisar uma pessoa pelo que ela veste só dá confusão...”. Você concorda com essa afirmação? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

05- Por que o narrador foi considerado “cafona”? O que essa nova situação nos mostra?
      No momento em que ele decidiu melhorar seu visual, vestindo terno, de acordo com as convenções sociais, ele destoou dos outros que estavam de jeans e tênis. Isso nos prova que são as pessoas que inventam as regras, tudo não passa de modismo.

06 – Você considera que as pessoas devem sempre seguir as regras sociais? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Narre um outro caso de discriminação de que você tenha conhecimento.
      Resposta pessoal do aluno.



TEXTO: CUIDADO COM O ASSÉDIO SEXUAL - JÔ SOARES - COM GABARITO

Texto: Cuidado com o assédio sexual
       
             Jô Soares

        Deu no jornal: 500 mulheres vão à justiça nos Estados Unidos contra a empresa Mitsubishi por assédio sexual. É o maior processo do gênero. (...).
        Viro para a página de esportes e lá está o campeão Mike Tyson, também acusado de assédio. Não de 500 mulheres, o que seria difícil mesmo para o campeão, mas de uma moça só, que se diz muito abalada pelos ferimentos que sofreu. (...) Há quem diga que foi uma mordida, outros garantem que foi beliscão. Diga-se de passagem que um beliscão dele equivale a atropelamento.
        A mim parece muito difícil que Tyson, depois de tudo por que passou, tenha se envolvido em mais essa. (...).
        De qualquer forma, não quero duvidar da queixosa. Por ter sido assédio e pode ser que não. O que é assédio para uns é galanteio para outros. Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual? Para aqueles que não estão muito bem informados sobre o assunto, aqui vão algumas dicas preciosas:
        O que é o assédio sexual?
        Aperto de mão por mais de dez segundos – Pode ser considerado assédio, sobretudo se o apertador de mão ficar olhando fixamente a vítima. (...).
        Mexer as sobrancelhas várias para cima e indicar o seu carro estacionado bem em frente – Assédio certo. Principalmente quando o sobrancelheiro em questão tem o hábito de ficar rodando as chaves do automóvel nos seus dedos. (...).
        Pedir para dar uma voltinha com o cachorro da vizinha – Já foi considerado uma abordagem original em 1648. Hoje em dia é assédio. Se a dona do animal for casada e o marido ouvir, ele pode obrigar o assediador a passear sozinho com o cão durante várias horas, até de madrugada, sob a mira de uma espingarda calibre 12.
        Assédio sexual específico do Mike Tyson – Qualquer coisa que ele faça é considerada assédio. Se ele respirar perto de alguém, homem ou mulher, não importa a idade, esse simples ato natural será imediatamente qualificado de fungada no pescoço.
                Jô Soares, in revista Veja, 24 abr. 1996.
                                    Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 115-7.
Entendendo o texto:

01 – Por que o autor, já no título, nos alerta quanto ao assédio sexual?
      Por ser muito difícil caracterizar, claramente, o que é assédio sexual.

02 – Segundo o texto, as mulheres são as maiores vítimas de assédio sexual. Como se explica esse fato?
      As mulheres são consideradas o sexo frágil e por isso são o alvo de tantas brincadeiras e atitudes, contra os quais, às vezes, elas não conseguem reagir.

03 – Mike Tyson é um dos mais famosos pugilistas mundiais, detentor do título de campeão, até bem pouco tempo, na categoria dos peso-pesados. Tyson esteve envolvido em vários escândalos, dentre eles o de assédio sexual de que nos fala Jô Soares. Por que, nesse caso, o autor não se mostra muito convencido da culpa de Tyson?
      Tyson foi muito perseguido pela imprensa devido a seu passado de violência. Há pessoas que se aproveitam dessa situação; o autor, sabendo disso, procura se manter cauteloso.

04 – Releia este trecho: “Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual?” Você saberia dizer o que é o assédio sexual? Defina-o com clareza.
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Dentre as “dicas preciosas” sugeridas pelo autor, qual lhe pareceu um verdadeiro assédio? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Afinal, qual é a opinião de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual?
      O autor deixa perceber que há situações bastante complicadas que envolvem o assédio sexual. Nesses casos, torna-se quase impossível determinar se houve ou não assédio.

07 – Por que qualquer atitude de Mike Tyson é considerada suspeita, de acordo com o autor?
      Como o lutador é muito grande e forte, qualquer gesto de Tyson pode ofender ou revelar algum atrevimento.

08 – Você concorda com o ponto de vista de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual? Esclareça a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.



quarta-feira, 8 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): CARTAS PRA VOCÊ - NX ZERO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Cartas pra Você

                            NX Zero

Eu tento te esquecer
Mas tudo que eu escrevo
É sobre você

Eu não posso me enganar
Fingir que estou bem
Porque não estou

Preciso de você
Essa noite

E hoje estou aqui
Só pra te cobrar
O que você disse
Que iria ser pra sempre
Mas não foi assim
Agora o que me resta
Escrever nessa carta
Pra lembrar

Eu passo tanto tempo
Só te procurando
Em um outro alguém
Mas não posso me enganar
Sinto sua falta
E ninguém pode ver

Entendendo a canção:

01 – Quais os dois gêneros textuais que se misturam nesse texto do NX Zero?
      São os gêneros poema e carta.

02 – A que tipo de carta esse texto melhor se encaixa? Carta pessoal, carta oficial, carta ao leitor, carta ou carta comercial? Explique.
      Carta pessoal, pois é informal, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial.

03 – Pela estrutura, linguagem e temática desse texto, podemos classificá-lo como formal ou informal?
      Informal.

04 – O texto apresenta um eu-lírico (uma voz interior) que expressa suas emoções. Como podemos descrever a personalidade dessa pessoa?
      Sentimental, perseverante e leal.

05 – Qual o objetivo do eu-lírico ao escrever esse texto?
        O objetivo é cobrar a promessa de seu (ua) amado(a) de que seu amor seria para sempre.

06 – Você concorda com a postura do eu-lírico do texto? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – O eu lírico conta algo que:
a)   Está acontecendo no presente.
b)   Aconteceu em um passado bem próximo.
c)   Aconteceu num passado distante.
d)   Acontecerá num futuro próximo.


POEMA: CONVÍVIO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Convívio

          Carlos Drummond de Andrade

Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado; tão débil.
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama tempo.

E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, dentro de nós, é vida não obstante.
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco.
Mas, como estão longe, ao mesmo tempo que nosso atuais habitantes
e nossos hóspedes e nossos tecidos e a circulação nossa!
A mais tênue forma exterior nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe,
E eles também existem, mas que oblíquos! e mesmo sorrindo, que disfarçados…
Há que renunciar a toda procura.
Não os encontraríamos, ao encontrá-los.
Ter e não ter em nós um vaso sagrado,
um depósito, uma presença contínua,
esta é nossa condição, enquanto,
sem condição, transitamos
e julgamos amar
e calamo-nos.
Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.

Carlos Drummond de Andrade, em “A família que me dei”, no livro
“Carlos Drummond de Andrade – Antologia poética” [organizada pelo autor].
54ª ed., Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 98.
Entendendo o poema:
01 – De que se trata o poema?
        Fala da percepção da relação do Ser com os seres na existência.

02 – Que verso do poema nota-se a marca da 1ª pessoa? Copie e sublinhe-o.
       “Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não vivem senão em nós.”

03 – Paradoxo é uma figura que se forma a partir da associação de ideias ou conceitos que resulta em contradições. Que verso do poema contêm um paradoxo e reforçam o caráter melancólico do poema?
        “Há que renuncia a toda procura.
         Não os encontraríamos, ao encontra-los.
         Ter e não ter em nós um vaso sagrado...”

04 – Como o olhar do autor aparece no poema? Cite um verso.
        Revela a percepção do relacionamento do Ser com os seres na existência.
         “O próximo existe. O pássaro existe.”


ARTIGO DE OPINIÃO: OS CLÁSSICOS REBELDES - FERNANDO DE BARROS - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Os clássicos rebeldes
                                               Fernando de Barros

     Algumas peças de roupa foram decisivas para a transformação de uma geração no século XX. Uma delas foi a calça jeans, que Jacob Davis criou em 1853 com um pano geralmente usado para cobrir carroças. Outra foi a minissaia, nascida da imaginação e audácia da estilista inglesa Mary Quant.
        O pano que deu origem ao jeans, começou a ser fabricado em Nimes, na França, no final do século XVII. No século XVIII, já era produzido em Halifax, na Inglaterra, onde ficou conhecido como De Nimes, que deu origem ao seu nome: Denim. Da Europa ele seguiu para os Estados Unidos, junto com imigrantes, como o alemão Lévi-Strauss, que foi para a Califórnia em 1847 e abriu uma distribuidora de tecidos importados em San Francisco, com seu cunhado.
        Na mesma época, o alfaiate Jacob Davis fazia calças para os mineiros que trabalhavam nas minas da Califórnia. A clientela não estava muito satisfeita, pois a roupa se estragava com facilidade, no seu tipo de trabalho. Para resolver esse problema, Davis foi a San Francisco procurar um pano mais resistente. Lévi-Strauss então lhe vendeu um lote de tecido de sarja marrom, usado geralmente para cobrir tendas e carroças. Foi com ele que Davis fez as novas calças, reforçadas nos bolsos com rebites e fechadas na braguilha por botões de metal. O negócio foi melhorando devagar. Faltava a Davis o capital necessário para desenvolvê-lo, com um bom sistema de fabricação e distribuição. Ele então escreveu a Lévi-Strauss, que continuava a ser seu fornecedor de tecidos, e propôs lhe dar 50 por cento dos lucros se a firma fizesse registrar comercialmente o modelo de calça e fornecesse mais tecido. Strauss aceitou sua proposta. Em 1873 a marca e o feitio das calças estavam registrados. Assim foi criada a primeira grife de roupas jeans.
        A partir daí começou a existir dois panos. Como o escritor John Hayes já observava numa obra em 1942, um deles era o próprio jeans, um pano sarjeado de algodão com fios da mesma cor utilizado em calças rancheiras, camisas para trabalhar e macacões. O outro era o denim, uma versão na qual o sarjeado compreendia fios de algodão azuis e fios de algodão cru, tecido mais caro utilizado nas roupas de trabalho. No século XIX as calças de Lévi-Strauss já eram de tecido azul com fios de algodão cru e o tecido na cor marrom tinha sumido de circulação.
        No campo, nas indústrias e nas ferrovias que rasgavam o território americano, o jeans começava a fazer parte da paisagem. Quem usava uma camisa, um blusão ou uma rancheira jeans era identificado como trabalhador – não só os mineiros, como os trabalhadores do campo, os caubóis e os ferroviários. O jeans começou a se popularizar ainda mais no começo do século XX, com o lançamento dos filmes com o caubói Tom Mix, que se tornaram sucesso no mundo inteiro. Em No tempo das diligências, do diretor John Ford, filmado em 1939, John Wayne usava jeans. O filme que mais lançou o jeans no cinema, contudo, foi As vinhas da ira, 1940. Baseado no romance de John Steinbeck, tinha como personagem principal Henry Fonda no papel de um agricultor. A figura dos heróis do cinema com jeans se tornou quase uma marca nos filmes que Hollywood passou a produzir. Elvis Presley usou jeans em seu primeiro filme, Ama-me com ternura, 1956. Marlon Brando, em Uma rua chamada pecado, também. Marilyn Monroe em O rio das almas perdidas, de Otto Preminger, estava de jeans. James Dean, o astro rebelde do cinema americano, era tão associado ao jeans que os fabricantes passaram a utilizar sua imagem em material publicitário.
        Na Segunda Guerra, aquelas calças de sarja grossa deixaram de ser usadas apenas no trabalho das fábricas para ganhar destaque no dia-a-dia. As mulheres que trabalhavam como operárias não só usavam roupas jeans como as mesmas roupas jeans dos homens. Descobriram rápido a praticidade daquela roupa sem grandes pretensões e de preço acessível.
        O jeans se tornou o espírito da América que estava saindo da guerra. Começavam naqueles anos as mudanças que iriam influenciar as gerações seguintes. Depois disso, as pessoas e o modo como elas se vestiam nunca mais seriam os mesmos.
        Era o princípio também de um período delirante em que se buscava um novo estilo, e o jeans era o material favorito para essa transformação.
        Não bastava usar calça jeans; era preciso ser rebelde como ela. Aqueles tempos da moda nos pós-guerra procuravam novas afirmações. E o jeans, que nada mais era do que uma roupa popular, boa para o trabalho e o lazer, começou a se transformar em elemento de estilo.

Barros, Fernando de. O Homem casual. São Paulo: Mandarim, 1998. p. 54-9.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 38-42.
Entendendo o texto:

01 – Na sua origem, as calças jeans surgiram para resolver uma insatisfação dos clientes do alfaiate Jacob Davis. Explique.
      As calças jeans surgiram como roupa de trabalho. Por serem confeccionadas num tecido resistente e muito durável, resolveram o problema do desgaste fácil das roupas, de que se queixavam os mineiros da Califórnia.

02 – O tecido jeans, originalmente marrom, deixou de circular em que época?
      No século XIX.

03 – Assim como o tecido, os detalhes metálicos das calças jeans tinham, originalmente, uma finalidade prática. Qual?
      Os detalhes em metal – rebites dos bolsos e botões – eram um reforço na estrutura da roupa.

04 – O quinto parágrafo do texto é quase inteiramente dedicado ao papel exercido pelo cinema na divulgação do jeans.
a)   Que papel foi esse, segundo o texto?
O cinema foi um dos responsáveis pela transformação do jeans em moda, pois a roupa foi utilizada por personagens de  muitos filmes marcantes, representadas por atores famosos.

b)   A que veículo de comunicação você atribuiria, hoje, esse papel na divulgação de determinadas modas? Exemplifique.
A televisão sem dúvida.

05 – “O jeans se tornou o espírito da América que estava saindo da guerra.” Que roupa, na sua opinião, revela o espírito de nossa época?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – “Não bastava usar a calça jeans; era preciso ser rebelde como ela.” Compare essa afirmação com a resposta que você deu à questão 1. A função e o significado do jeans mudaram ao longo do tempo? Explique.
      Sim, pois a questão da resistência e durabilidade do tecido ficou em segundo plano quando a roupa adquiriu um significado simbólico: expressar rebeldia.

07 – O uso desse tipo de roupa tem ainda hoje esse significado social?
      Não, pois o uso muito amplo de determinada moda esvaziam seu significado original, fato que ocorreu com o jeans.

08 – Há algum tipo de roupa que você usa não porque “está na moda” simplesmente, mas porque revela seu estado de espírito diante das pessoas? Descreva essa roupa para os colegas e explique por que ela expressa sua maneira de ser.
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Na sua opinião, nó somos livres para usar a roupa que quisermos? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A adequação/ inadequação da vestimenta a determinadas situações, além das imposições da moda




terça-feira, 7 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): AVARANDADO - CAETANO VELOSO - COM GABARITO

Música(Atividades): Avarandado
                                                    João Gilberto/Caetano Veloso

Cada palmeira da estrada
Tem uma moça recostada
Uma é minha namorada
E essa estrada vai dar no mar.


Cada palma enluarada
Tem que estar quieta, parada
Qualquer canção, quase nada
Vai fazer o sol levantar
Vai fazer o dia nascer.

Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer.
                    Caetano Veloso. Avarandado. In: TABORDA, F. & MARINHO, A. L. (coord.), op. cit., p. 89.
                     Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 19.
Entendendo a canção:

01 – Que título você daria para esta ilustração?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Em nossa língua, existem expressões populares relativas à palavra pombo, como “viver como dois pombinhos”.
a)   O que significa essa expressão?
Viver muito amorosamente.

b)   A que está associada a imagem dos pombos na ilustração de Glauco Rodrigues?
A um casal amoroso.

03 – Essa ilustração foi feita para a letra da canção e faz referência ao amanhecer nos versos:
         “Eu e minha namorada
          Vamos andando na estrada
          Que vai dar no avarandado do amanhecer.”
        Você acha que essas nuvens lembram esse período do dia?  Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – A ilustração sugere a você um clima romântico? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Qual é o tema da canção?
      O tema abordado é o amor.

06 – Quem são as personagens da canção?
      O eu lírico e sua namorada.

07 – O eu lírico é feminino ou masculino? Explique extraindo um verso ou uma palavra da canção que compare sua resposta.
      É masculino. “Namorando a madrugada / Eu e minha namorada.”

08 – Você acha que quando amamos alguém, alguma coisa muda na nossa vida? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Marque com (X) os recursos empregados na canção que a caracterizam como poética:
a)   Versos, descrição, argumentos.
b)   Descrição, rimas, diálogos e ação de personagem.
c)   Rimas, estrofes, linguagem figurada.
d)   O fato de ser assinada por um poeta.




POEMA: O AUTO DO FRADE (FRAGMENTO) - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Auto do Frade (Fragmento)  

              João Cabral de Melo Neto

(Doze trechos deste longo e sensacional poema).

Acordar não é de dentro,
acordar é ter saída.
Acordar é reacordar-se
ao que em nosso redor gira. (p. 17)

Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome. (p. 23)

Por que será que ele não fala,
nem diz nada sua boca muda?
Senhor que ele foi das palavras,
não há uma só que hoje acuda. (p.26)

– Parecia que estava bêbado.
Era álcool ou sua desrazão?
– Bêbado da luz do Recife:
fez esquecer sua aflição.
– Mas pareceu falar em versos.
É isso estar bêbado ou não?
– Mesmo sem querer fala em verso
quem fala a partir do coração. (p. 31)

Eu era um ponto qualquer
na planície sem medida,
em que as coisas recortadas
pareciam mais precisas,
mais lavadas, mais dispostas
segundo clara justiça. (p. 36)

Sei que traçar no papel
é mais fácil que na vida.
Sei que o mundo jamais é
a página pura e passiva.
O mundo não é uma folha
de papel, receptiva:
o mundo tem alma autônoma,
é de alma inquieta e explosiva. (p. 36)

Risco nesse papel praia,
em sua brancura crítica,
que exige sempre a justeza
em qualquer caligrafia;
que exige que as coisas nele
sejam de linhas precisas;
e que não faz diferença
entre a justeza e a justiça. (p. 37)

Parece que o sagrado é poeira:
Muito facilmente é raspado. (p. 45)

– Veio andando calmo e sem medo,
ar aberto de amigo, e brando.
– Não veio desafiando a morte
nem indiferença ostentando.
– Veio como se num passeio,
mas onde o esperasse um estranho. (p. 57)

– É um homem como qualquer um,
e profeta não se pretende.
– É um homem e isso não chegou:
um homem plantado e terrestre.
(…)
Viveu bem plantado na vida,
coisa que a gente nunca esquece. (p. 61)

O peso do morto é o motor,
porém o carrasco é o operário. (p. 69)

– Esperar é viver num tempo
em que o tempo foi suspendido.
– Mesmo sabendo o que se espera,
na espera tensa ele é abolido.
– Se se quer que chegue ou que não,
numa espera o tempo é abolido.
– E o tempo longo mais encurta
o da vida, é como um suicídio. (p. 74)
                                                          Edição: Editora Objetiva, 2010.
(Fonte: Livro - Língua, Literatura, Redação - José de Nicola. Vol.3 . 9ª ed. Ed. Scipione - p.248/9)

SÍNTESE

        O Auto do Frade de 1984, é um poema de fundo histórico falando sobre a vida e destino de Frei Caneca, condenado à morte em 1825 por estar envolvido na Confederação do Equador. Um poema para vozes, exemplo do teatro poético do autor, João Cabral de Melo Neto.
        Em Auto do Frade, a estrutura textual é diversa: os monólogos são construídos em redondilhas maiores, enquanto os demais versos são octossílabos.
        Os versos exprimem a força política e revolucionária das palavras de Frei Caneca.
        A morte é o tema central.
        Os personagens são: Frei Caneca (Joaquim do Amor Divino Rabelo), as pessoas de Recife e os oficiais da justiça.
        João Cabral divide seu poema em sete partes, que são elas: na cela, na porta da cadeia, da cadeia à Igreja do Terço, no Adro do Terço, da Igreja do Terço ao Forte, na Praça do Forte e no Pátio do Carmo; e domina seu texto de poema para vozes, diga-se de passagem, um poema para muitas vozes, onde aparecem vozes da sociedade em geral que vai, desde as autoridades jurídicas, eclesiásticas, políticas, militares e o povo representado pelas ruas do Recife.

Entendendo o poema:

01 – De que se trata este poema?
      É de fundo histórico falando sobre a vida e o destino de Frei Caneca.

02 – Por que ele é condenado à morte em 1825?
      Por estar envolvido na Confederação do Equador.

03 – O Auto do Frade tem uma estrutura textual diversa. Explique.
      Os monólogos são construídos em redondilhas maiores, enquanto os demais versos são octossílabos.

04 – Como se divide o poema? Explique.
      Divide-se em sete partes, que são elas: na cela, na porta da cadeia, da cadeia à Igreja do Terço, no Adro do Terço, da Igreja do Terço ao Forte, na Praça do Forte e no Pátio do Carmo.

05 – Nos versos: “Padre existe é para rezar / pela alma, mas não contra a fome”. (p. 23). De que o Frade falava nestes versos?
      Ele tinha o dom da palavra, seus sermões eram capazes de mobilizar bastante pessoas; por isso, proibido de falar, pois sua fala causava grande perigo ao Império.