CONTO: A DONA DA
PENSÃO
Roald Dahi
A
dona da pensão Billy Weaver viera de Londres no vagaroso trem vespertino, com
conexão em Swindon, e quando finalmente chegou a Bath já eram cerca de nove da
noite, e a lua se erguia no céu límpido e estrelado sobre as casas em frente à
entrada da estação. Fazia um frio de matar, e o vento cortava seu rosto como
uma lâmina de gelo. “Perdão”, disse,
“mas há algum hotel bem barato não muito longe daqui?” “Tente o Bell and Dragon”, respondeu o
porteiro, indicando a rua em frente. “Pode ser que o aceitem lá. Fica a cerca
de quatrocentos metros, seguindo por aquele lado.” Billy agradeceu, apanhou a valise e pôs-se a
caminhar os quatrocentos metros até o Bell and Dragon. Nunca estivera em Bath.
Não conhecia ninguém que morasse ali. Mas o sr. Greenslade do Escritório
Central em Londres dissera-lhe que era uma cidade esplêndida. “Procure um lugar
para ficar”, dissera, “e depois apresente-se ao gerente local assim que estiver
instalado.”
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrNMPRncPQQHQEKcg_YrC1qL2wzPQGtZId6aEw_ppxpIMNO88fuqn4LOpBxBXGsblH1HEPfgaVysLm75lHCvD3W8No97fpWWEWiB2ueINQw4smLLKlqktVhXXaS15YijhLelCUgg4Ga7qVkRYZzXn9uy1BALpjPhrdADSMqgW8Jo9yU2ZVtLTwF73p4Pw/s1600/HOTEL.jpg
[...]
Não havia lojas na larga rua por onde caminhava, ladeada apenas por duas
fileiras de casas altas, todas idênticas. Elas tinham alpendres, colunas e
escadas de quatro ou cinco degraus que levavam até a porta de entrada, e era
óbvio que, em algum tempo distante, haviam sido residências muito elegantes.
Mas agora, mesmo no escuro, ele podia ver que a pintura dos batentes das portas
e das janelas estava descascando e que o desleixo trouxera rachaduras e manchas
às vistosas fachadas brancas. De
repente, na janela de um andar térreo iluminada intensamente pela luz de um
poste a cerca de cinco metros, Billy avistou um cartaz apoiado contra o vidro
de um dos painéis superiores da janela. HOSPEDARIA, dizia. Havia um vaso de
flores de salgueiro, alto e elegante, bem abaixo do cartaz. Billy parou de caminhar. Aproximou-se um
pouco mais. Cortinas verdes (algum tipo de tecido aveludado) emolduravam os
dois lados da janela. Os salgueiros ficavam lindos ao lado delas. Ele avançou,
espiou a sala através da janela e a primeira coisa que viu foi um fogo intenso
ardendo na lareira. No tapete em frente ao fogo, dormia um pequeno dachshund
enrolado em si mesmo, o focinho enfiado sob a barriga. A sala em si, pelo menos
até onde a penumbra lhe permitia ver, era agradavelmente mobiliada. Havia um
baby grand-piano, um sofá grande e várias poltronas estofadas; e, a um canto,
Billy vislumbrou um grande papagaio em uma gaiola. Animais eram geralmente um
bom sinal em lugares assim, disse consigo mesmo; no fim das contas, pareceu-lhe
que poderia ser uma casa bem decente onde se instalar. Certamente seria mais
confortável que o Bell and Dragon. Por
outro lado, um pub seria mais conveniente que uma pensão. Haveria [...] dardos
à noite e muitas pessoas com quem conversar, e provavelmente seria também um
bocado mais barato. Ele passara algumas noites em um pub certa vez e gostara da
experiência. Jamais ficara em uma pensão, e, para ser perfeitamente honesto,
elas lhe davam um pouquinho de medo. O próprio nome já conjurava imagens de
repolho aguado, senhorias avarentas e um cheiro forte de arenque defumado na sala
de estar. Depois de refletir assim por
dois ou três minutos, no frio, Billy decidiu que iria retomar a caminhada e dar
uma olhada no Bell and Dragon antes de tomar uma decisão. Virou-se para ir
embora.
E,
então, algo esquisito aconteceu. Quando estava no ato de recuar e voltar as
costas à janela, subitamente seu olhar foi atraído e capturado, de um modo
muito estranho, pelo pequeno cartaz que havia ali. HOSPEDARIA, dizia.
HOSPEDARIA, HOSPEDARIA, HOSPEDARIA. Cada letra era como um enorme olho negro fitando-o
através do vidro, que o cativava, compelia, forçava a ficar onde estava e não
abandonar aquela casa, e, antes que desse por si, ele se afastou da janela e
foi em direção à porta de entrada, subiu os degraus que levavam até ela e
procurou a campainha. Tocou. Bem ao
longe, em um aposento dos fundos, ele a ouviu soar e então no mesmo instante –
deve ter sido no mesmo instante porque ele nem tivera tempo de tirar o dedo do
botão – a porta se escancarou e uma
mulher surgiu. Normalmente, quando se toca uma campainha, há uma espera de pelo
menos meio minuto antes que a porta se abra. Mas essa senhora fora como um
boneco pulando de uma caixa-surpresa. Ele tocou a campainha – e ela pulou para
fora! Billy deu um salto. Ela tinha
entre quarenta e cinco e cinquenta anos e, assim que o viu, abriu um cativante
sorriso de boas-vindas. “Por favor,
entre”, convidou, afavelmente. Ela se afastou, mantendo a porta escancarada, e
Billy viu-se automaticamente saltando para dentro da casa. A compulsão ou, para
ser mais exato, o desejo de segui-la para dentro daquela casa era
extraordinariamente forte. “Eu vi o
cartaz na janela”, disse, contendo-se.
“Sim, eu sei.” “Gostaria de saber
sobre o quarto.” “Está tudo pronto para
você, meu bem”, respondeu ela. Tinha um rosto oval e rosado e olhos azuis muito
doces. “Eu estava a caminho do Bell and
Dragon”, disse-lhe Billy. “Mas o cartaz na sua janela acabou chamando minha
atenção.” “Meu bem”, disse ela, “por que
você não entra e sai do frio?” “Quanto a
senhora cobra?” “Cinco shillings e seis
pence por noite, café da manhã incluído.”
Era incrivelmente barato. Era menos da metade do que ele aceitaria
pagar. “Se for muito caro”, acrescentou,
“eu talvez possa abaixar um pouquinho o preço. Você quer ovos no café da manhã?
Os ovos estão muito caros ultimamente. Seriam seis pence a menos sem os
ovos.” “Cinco shillings e seis pence
está ótimo”, respondeu ele. “Gostaria muito de ficar aqui.”
“Eu
tinha certeza disso. Entre, vamos.” Ela
parecia extremamente bondosa. Parecia a mãe daquele melhor amigo de escola,
recebendo-o em casa para passar as festas de Natal. Billy tirou o chapéu e
cruzou a soleira da porta. “Pendure-o
ali”, disse ela, “e deixe-me ajudá-lo com o casaco.” Não havia nenhum outro chapéu ou casaco no
hall. Não havia nenhum guarda-chuva, nenhuma bengala – nada. “Temos a casa inteira para nós”, disse,
sorrindo para ele por sobre o ombro enquanto o conduzia ao andar de cima.
“Sabe, não é sempre que tenho o prazer de receber um visitante em meu humilde
ninho.” A velhinha é meio maluca, disse
Billy consigo mesmo. Mas por cinco shillings e seis pence por noite, quem é que
dá a mínima? “Eu estava imaginando que a senhora deveria ter uma multidão de
interessados”, disse educadamente. “Ah, mas eu tenho, meu bem, tenho sim,
claro. Mas o problema é que tenho a tendência de ser só um bocadinho de nada
exigente e difícil de agradar – se é que você me entende.” “Ah, sim.”
“Mas estou sempre pronta. Tudo nesta casa está sempre preparado, dia e
noite, para a remota possibilidade de que apareça um jovem agradável como você.
E é um prazer tão grande, meu bem, um prazer tão enorme quando, de vez em
quando, abro a porta e vejo que está ali alguém que serve exatamente.” Ela
estava no meio da escada e deteve-se com uma das mãos sobre o corrimão, virando
a cabeça e sorrindo para ele com seus lábios pálidos. “Como você”, acrescentou,
e seus olhos azuis passearam lentamente por todo o corpo de Billy, até os pés,
depois novamente até a cabeça. Ao
chegarem ao primeiro andar, ela disse: “Esse andar é meu.” Subiram mais um lance de escadas. “E este é
todo seu”, disse. “Este é o seu quarto. Espero que goste.” Ela o conduziu até
um dormitório na parte da frente da casa, pequeno mas charmoso, e acendeu a
luz. “O sol da manhã entra direto pela
janela, sr. Perkins. É sr. Perkins, não é?”
“Não”, respondeu. “É Weaver.”
“Sr. Weaver. Que bonito. Coloquei uma garrafa com água entre os lençóis
para arejá-los, sr. Weaver. É um conforto tão grande ter uma garrafa de água
quente em uma cama estranha com lençóis limpos, não acha? E você pode acender o
aquecedor a gás a qualquer momento, se sentir frio.” “Obrigado”, disse Billy. “Muitíssimo obrigado.”
Ele reparou que a coberta da cama fora retirada e que os lençóis haviam sido
cuidadosamente dobrados, prontos para alguém se deitar. “Estou tão feliz que tenha aparecido”, disse
ela, olhando-o fixamente. “Eu estava começando a ficar preocupada.” “Está tudo bem”, respondeu Billy, alegremente.
“A senhora não precisa se preocupar comigo.” Ele pôs a valise no chão e começou
a abri-la.
“[...] Vou deixá-lo agora para que possa
desfazer a mala. Mas antes de deitar, você não faria a gentileza de dar um
pulinho até a sala de estar no térreo e assinar o livro? Todos têm que fazê-lo
porque é a lei, e não queremos desrespeitar nenhuma lei a essa altura do
processo, não é mesmo?” Ela fez um breve aceno, saiu rapidamente do quarto e
fechou a porta. Bem, o fato de que a
dona da pensão parecia ter alguns parafusos a menos não incomodava Billy nem um
pouco. Afinal de contas, ela não só era inofensiva – não havia dúvida nenhuma
quanto a isso – mas era óbvio também que possuía uma alma boa e generosa. Ele
imaginou que ela provavelmente perdera um filho na guerra, ou coisa parecida, e
que nunca se recuperara. Alguns minutos mais tarde, depois de desfazer a mala e
lavar as mãos, ele desceu rapidamente até o térreo e entrou na sala de estar. A
dona da pensão não estava lá, mas o fogo ardia na lareira, e em frente a ela o
dachshund ainda dormia. A sala era maravilhosamente confortável e aconchegante.
“Sou um sujeito de sorte”, pensou, esfregando as mãos. “Isto aqui não é nada
mau.” Viu o livro de hóspedes aberto
sobre o piano e, pegando a caneta, escreveu seu nome e endereço. Havia apenas
outros dois registros acima do seu na página e, como sempre se faz com livros
de hóspedes, Billy começou a lê-los. Um era de Christopher Mulholland, de
Cardiff. O outro era de Gregory W. Temple, de Bristol. “Engraçado”, pensou, de repente. “Christopher
Mulholland. Já ouvi em algum lugar.” Mas
onde diabos ele ouvira esse nome tão incomum?
Seria um colega de escola? Não. Um dos muitos namorados de sua irmã,
talvez, ou um amigo de seu pai? Não, não, não era nada disso. Ele pousou
novamente os olhos sobre o livro.
[...] “Gregory Temple?”, disse em
voz alta, vasculhando a memória. “Christopher Mulholland?...” “Rapazes tão charmosos”, respondeu uma voz
atrás dele. Ele se voltou e viu a dona da pensão, que entrava deslizando pela
sala com uma grande bandeja de chá de prata nas mãos. Ela a segurava bem
distante do corpo, e bem alto, como se a bandeja fosse o par de rédeas de um
cavalo arisco. “Esses nomes me parecem
familiares, de algum modo”, disse ele.
“É mesmo? Que interessante.”
“Tenho quase certeza de que já os ouvi antes, em algum lugar. Não é
estranho? Talvez tenha sido no jornal. Eles não eram famosos por algum motivo,
eram? Jogadores famosos de críquete ou de futebol, ou algo assim?” “Famosos?”, disse ela, pousando a bandeja de
chá na mesa baixa em frente ao sofá. “Ah, não, não creio que fossem famosos.
Mas eram de uma beleza extraordinária, ambos, disso eu posso lhe assegurar.
Eram ambos altos e jovens e belos, meu bem, exatamente como você.” Uma vez mais, Billy lançou o olhar sobre o
livro. “Veja aqui”, disse, observando as datas. “O último registro já tem mais de
dois anos.” “Verdade?” “Sim, é isso mesmo. E o de Christopher
Mulholland é de quase um ano antes – há mais de três anos.” “Meu Deus!”, disse ela, balançando a cabeça e
suspirando suavemente. “Eu nunca iria imaginar. Como o tempo voa para todos
nós, não é verdade, sr. Wilkins?” “É
Weaver”, corrigiu Billy. “W-e-a-v-e-r.” “Ora, claro que sim.” Exclamou,
sentando-se no sofá. “Que tolice a minha. Por favor, perdoe-me. Entra por um
ouvido e sai pelo outro: essa sou eu, sr. Weaver.” “Sabe de uma coisa?”, disse Billy. “Uma coisa
que é de fato absolutamente extraordinária nessa história toda?” “Não, meu bem, não sei não.” “Bem, veja – esses dois nomes, Mulholland e
Temple, não apenas parece que me lembro de cada um deles separadamente, por
assim dizer, mas de alguma forma ambos parecem estar ligados entre si. Como se
os dois fossem famosos pelo mesmo motivo. Não sei se a senhora está entendendo
o que quero dizer – como... como Dempsey e Tunney, por exemplo, ou Churchill e
Roosevelt.” “Que divertido”, disse ela.
“Mas agora venha para cá, meu bem, sente-se ao meu lado aqui no sofá, e vou
servirlhe uma boa xícara de chá e um biscoito de gengibre antes de você ir para
a cama.” “A senhora não deveria ter se
incomodado”, disse Billy. “Eu não queria que a senhora tivesse trabalho
nenhum.” De pé ao lado do piano, ele a observava enquanto ela se atarantava com
as xícaras e os pratos. Notou que tinha mãos pálidas e pequeninas, muito ágeis,
e que tinha as unhas pintadas de vermelho.
“Tenho quase certeza de que foi no jornal que vi esses nomes”, disse
Billy. “Vou me lembrar em um segundo. Tenho certeza.” Nada é tão angustiante quanto essas coisas
que, flutuando nos limites de nossa memória, escapam à nossa lembrança. Ele se
recusava a desistir. “Espere um pouco”,
disse. “Espere um pouco só. Mulholland... Christopher Mulholland... não era
esse o nome daquele estudante de Eton que estava fazendo uma excursão a pé pelo
West Country quando subitamente...”
“Leite?”, perguntou ela. “E açúcar?”
“Sim, por favor. Quando subitamente...”
“Estudante de Eton?”, disse ela. “Ah não, meu bem, não pode ser isso
porque o meu sr. Mulholland certamente não era nenhum estudante de Eton quando
veio até mim. Ele estudava em Cambridge. Agora venha cá, sente-se a meu lado e
aqueça-se em frente a esse lindo fogo. Venha. Seu chá já está prontinho.” Ela
indicou o lugar a seu lado, tocando o assento delicadamente, e sorriu para
Billy, esperando que ele se aproximasse. Ele atravessou vagarosamente a sala e
sentou-se na beira do sofá. Ela pousou a xícara de chá à sua frente. “Pronto”,
disse ela. “Que gostoso e aconchegante, não é?”
Billy começou a bebericar o chá. Ela fez o mesmo. Durante cerca de meio
minuto, nenhum deles disse nada. Mas Billy sabia que ela o observava. Ela tinha
o corpo meio virado em sua direção, e ele sentia os olhos dela perscrutando seu
rosto, observando-o por sobre a xícara de chá. De vez em quando ele sentia,
muito de leve, um aroma peculiar que parecia emanar diretamente dela. Não era
nem um pouco desagradável e lembrava-lhe – bem, ele não tinha muita certeza do
que é que lhe lembrava. Nozes em conserva? Couro novo? Ou seria o odor de
corredores de hospital?
“O
sr. Mulholland adorava chá”, disse ela, depois de um longo tempo. “Nunca, em
minha vida, vi ninguém tomar tanto chá quanto meu querido, doce sr. Mulholland.” “Suponho que ele tenha partido recentemente”,
disse Billy. Ele ainda se remoía, tentando se lembrar dos dois nomes. Ele agora
tinha certeza que os havia visto nos jornais – nas manchetes. “Partido?”, disse ela, arqueando as
sobrancelhas. “Mas, meu querido, ele jamais partiu. Ele ainda está aqui. E o
sr. Temple está aqui também. Estão no terceiro andar, os dois juntos.”
Billy
pousou vagarosamente a xícara sobre a mesa e fixou o olhar sobre a dona da
pensão. Ela sorriu para ele, estendendo uma de suas mãos pálidas e tocando-lhe
carinhosamente o joelho. “Qual sua idade, meu bem?”, perguntou. “Dezessete anos.” “Dezessete!”, exclamou ela. “Ah, é a idade
perfeita! O sr. Mulholland também estava com dezessete anos. Mas creio que
fosse um pouquinho mais baixo que você, na verdade tenho certeza de que era
sim, e os dentes dele não eram nem de perto tão brancos quanto os seus. Você
tem dentes lindíssimos, sr. Weaver, sabia disso?” “Eles parecem melhores do que são”, respondeu
Billy. “Há uma porção de obturações nos dentes do fundo.” “O sr. Temple, claro,
era um pouco mais velho”, continuou ela, ignorando o comentário. “Ele tinha na
verdade vinte e oito anos. E, no entanto, eu jamais teria adivinhado se ele não
me tivesse dito, nunca em minha vida inteira. Não havia uma única marca em seu
corpo.” “Uma o quê?”, perguntou
Billy. “A pele dele era igualzinha a de
um bebê.”
Houve
uma pausa. Billy apanhou sua xícara e tomou outro gole de chá, pousando-a
depois delicadamente no pires. Ele estava esperando que ela dissesse algo mais,
mas parecia ter se perdido em outro de seus silêncios. Sentado ali, Billy fixou
o olhar no outro lado da sala, à sua frente, mordendo os lábios. “Aquele papagaio”, disse por fim. “Sabe de
uma coisa? Enganou-me completamente quando o vi pela primeira vez através da
janela. Eu jurava que ele estava vivo.”
“Infelizmente, não mais.” “É
extremamente inteligente o modo como foi feito”, disse ele. “Nem parece que
está morto. Quem fez?” “Eu mesma.” “A senhora?”
“Claro”, respondeu. “E você já conheceu também o meu Basil?” Ela apontou
com a cabeça o dachshund, enrolado tão confortavelmente em frente à lareira.
Billy examinou-o com os olhos. E, subitamente, se deu conta de que o animal
estivera, o tempo todo, tão silencioso e imóvel quanto o papagaio. Estendeu a
mão e tocou-lhe delicadamente o dorso. As costas estavam duras e frias, e,
quando seus dedos afastaram os pelos para um lado, ele pôde ver a pele embaixo,
enegrecida, seca e perfeitamente preservada.
“Deus do céu!”, exclamou. “Isso é absolutamente fascinante.” Desviou o
olhar do cachorro e encarou com profunda admiração a pequena senhora a seu lado
no sofá. “Deve ser incrivelmente difícil fazer uma coisa assim.” “Nem um pouquinho”, respondeu ela. “Eu
empalho eu mesma todos os meus animaizinhos de estimação quando eles morrem.
Você aceitaria mais uma xícara de chá?”
“Não, obrigado”, disse Billy. O chá tinha um ligeiro sabor de amêndoas
amargas de que não gostara muito.
“Você
assinou o livro, não assinou?” “Ah, sim.” “Isso é ótimo. Porque daqui a algum
tempo, se eu por acaso me esquecer de como você se chamava, poderei sempre vir
até aqui e procurar no livro. Eu ainda o faço quase todos os dias com o sr.
Mulholland e o sr. …, o sr. …” “Temple”,
completou Billy. “George Temple. Desculpe-me perguntar, mas não houve nenhum
outro hóspede aqui além deles nesses últimos dois ou três anos?” Segurando a xícara de chá bem no alto e
inclinando a cabeça ligeiramente para a esquerda, olhou para ele de soslaio e
sorriu-lhe delicadamente mais uma vez.
“Não, meu bem”, disse. “Só você.”
DAHL, Roald. A dona da pensão. In: Beijo,. São Paulo: Barracuda, 2007.
p. 9-20.
Entendendo
o texto
01. Quem é o protagonista da
história e por que ele está em Bath?
a) Sr. Temple, em busca de aventuras.
b) Sr. Mulholland, fugindo da
guerra.
c) Sr.
Weaver, a trabalho, seguindo orientações do Escritório Central em Londres.
d) Sr. Wilkins, em uma viagem
de lazer.
02. O que atrai a atenção de
Billy Weaver quando ele está procurando um lugar para se hospedar em Bath?
a) Um sinal luminoso indicando um pub
movimentado.
b) Um anúncio de um hotel de luxo.
c) Um
cartaz na janela de uma pensão com a palavra "HOSPEDARIA".
d) Uma placa indicando
descontos em hotéis.
03. O que Billy Weaver observa
na sala da pensão que o faz considerar ficar lá?
a) Um papagaio falante.
b) Um cachorro de pelúcia na
lareira.
c) Uma
lareira acesa e um cachorro real dormindo no tapete.
d) Uma coleção de
instrumentos musicais.
04. Por que Billy hesita entre
ficar na pensão ou no Bell and Dragon?
a) Ele prefere a atmosfera de um pub.
b) Ele tem
medo de pensões e associações negativas.
c) A pensão é muito cara para
ele.
d) Ele não gosta do atendimento no
Bell and Dragon.
05.
O que chama a atenção de Billy Weaver no livro de hóspedes da pensão?
a) Os preços dos quartos.
b) Os
registros dos dois últimos hóspedes: Christopher Mulholland e Gregory W.
Temple.
c) As reclamações dos
hóspedes anteriores.
d) Os elogios à hospitalidade da
dona da pensão.
06.
Qual é a reação de Billy Weaver quando descobre que os últimos dois hóspedes da
pensão estão no terceiro andar?
a) Ele fica animado e curioso.
b) Ele fica
assustado e decide sair imediatamente.
c) Ele pede explicações à
dona da pensão.
d) Ele não se importa e continua a
desfazer a mala.
07. Como a dona da pensão
descreve os últimos dois hóspedes, Mulholland e Temple?
a) Velhos e aborrecidos.
b) Altos, jovens e bonitos.
c) Famosos jogadores de
críquete.
d) Gentis e educados
08. O que Billy percebe sobre o
papagaio e o dachshund na sala da pensão?
a) Eles são animais de estimação vivos.
b) Eles são
criações artificiais da dona da pensão.
c) Eles são animais de estimação de
hóspedes anteriores.
d) Eles são objetos de decoração.
09. Como a dona da pensão reage
quando Billy menciona que viu o papagaio pela janela e pensou que ele estava
vivo?
a) Ela fica chateada e pede desculpas.
b) Ela ri e
admite que é uma ilusão bem-feita.
c) Ela nega e insiste que o
papagaio ainda está vivo.
d) Ela ignora o comentário de Billy.
10. Qual é o desfecho da
história para Billy Weaver na pensão?
a) Ele decide ficar e desfrutar da
hospitalidade da dona da pensão.
b) Ele fica
assustado com a revelação da dona da pensão e decide sair imediatamente.
c) Ele se torna amigo dos hóspedes
anteriores, Mulholland e Temple.
d) Ele decide explorar Bath antes de
tomar uma decisão sobre onde se hospedar.
11. O narrador diz que algo esquisito aconteceu. O que
foi? Você acha que o rapaz ficará mesmo assim?
Sim, desde
o início, o conto apresenta elementos estranhos e misteriosos. O personagem,
Billy Weaver, chega a Bath e decide procurar um lugar para ficar. Ele
inicialmente considera o Bell and Dragon, mas acaba sendo atraído por uma
hospedaria peculiar. O lugar é descrito como elegante, mas há algo sinistro que
intriga o leitor, especialmente pela forma como a dona da pensão o recebe.
12. Aconteceu algo de estranho a que o
personagem devesse ter prestado atenção? Você também acha que o jovem tinha
razão em concluir que a senhora que o recebia era totalmente inofensiva?
O narrador menciona que algo esquisito aconteceu
quando Billy Weaver estava prestes a se afastar da janela da hospedaria. Ele é
atraído pelo cartaz que repete a palavra "HOSPEDARIA" de maneira
cativante. O leitor pode esperar que essa estranheza tenha consequências para o
personagem, indicando que algo incomum está prestes a ocorrer.
. 13. O
que chama a atenção nessas reflexões sobre os nomes escritos no livro? Como é o
comportamento da dona da pensão? Que importância esse trecho pode vir a ter no
desenrolar da história?
Sim, o modo como a dona da
pensão recebe Billy imediatamente após ele tocar a campainha é incomum. A
rapidez com que ela aparece, seu sorriso caloroso e a insistência para que ele
entre são sinais de que algo está fora do comum. Apesar disso, o narrador, que
é o próprio Billy, parece acreditar que a senhora é inofensiva, o que cria um
elemento de tensão para o leitor.
14. O que poderia ser o cheiro que o personagem sentia?
O cheiro
que o personagem sentia é descrito como algo peculiar, lembrando-lhe nozes em
conserva, couro novo ou o odor de corredores de hospital. A natureza ambígua do
cheiro contribui para o clima misterioso do conto, deixando o leitor curioso
sobre a origem desse aroma.
15. O
modo como o narrador conduz a narrativa permite imaginar que fatos se
desenrolarão a seguir?
O narrador conduz a
narrativa de uma forma que sugere que eventos mais estranhos e misteriosos
ocorrerão. O leitor é mantido no escuro sobre os verdadeiros motivos da dona da
pensão e sobre o que aconteceu com os hóspedes anteriores. O suspense é habilmente
construído, deixando espaço para revelações futuras.
16. E aí? O que aconteceu? Como você entendeu esse
desfecho?
O conto termina com a
revelação de que Christopher Mulholland e Gregory W. Temple, os hóspedes
anteriores, ainda estão presentes no terceiro andar da pensão, apesar de terem
supostamente partido há anos. Isso sugere uma reviravolta sobrenatural ou
sinistra na história, deixando o leitor intrigado e ansioso para saber mais
sobre o que está acontecendo na hospedaria. O desfecho é surpreendente e deixa
abertas várias possibilidades para o desenvolvimento da trama.