quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CRÔNICA: PROMESSAS ANGELICAIS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Promessas Angelicais

               Walcyr Carrasco 

 CONTO OU NÃO CONTO? Pois bem, digo. Neste ano prometo perder a barriga. Posso até visualizar o sorriso descrente de quem estiver lendo estas bem traçadas linhas. Falo da minha barriga há tempos. Prometer, nunca prometi. 

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O caso é o seguinte: todo final de ano enfio o pé na jaca. Vou a festas. Devoro pernis, bacalhoadas, tênderes, arroz com passas, lentilha com linguiça (a lentilha é para dar sorte, a linguiça porque é bom mesmo). Esbaldo-me como se estivesse próximo do Juízo Final. Desta vez, foi pior ainda. Afinal, havia boa possibilidade de que o Juízo Final acontecesse. Desde criancinha ouço falar nisso. Para que fazer regime, se o mundo podia acabar no réveillon?. O resultado é visível: minha barriga ultrapassou todos os limites. Seja dita a verdade. A gula é o único pecado que vem com o castigo junto. Fiz outras promessas. Uma delas é fugir de tudo que é "alternativo". Passei as últimas décadas reverenciando essa palavra. Cada vez que comia um prato de broto de feijão em um restaurante "alternativo", eu me sentia mais saudável. Quantas vezes tomei suco de couve pela manhã? Confesso: até macrobiótica tentei. Tudo começou quando estive em um restaurante do tipo. O dono me garantiu que se tornara um homem equilibrado e sem ansiedades. Passei dez dias comendo arroz integral. Depois dessa fase radical, incluí bardana e peixe no cardápio. No final do primeiro mês tive uma inequívoca experiência extra-sensorial. Estava deitado, de olhos abertos, quando um hambúrguer-salada flutuou na minha frente. Estiquei os maxilares, pronto para abocanhar a delícia. Ao morder, quase perdi a língua. A visão etérea do hambúrguer se desfez. Saí pela madrugada atrás de uma lanchonete. Comi três hambúrgueres e quase fui parar no hospital. Recentemente li uma reportagem sobre as propriedades do dry martíni. Sim, ele é antioxidante. Combate os radicais livres. Pesquisa científica. E o vinho tinto? É bom para o coração, dizem. Enquanto eu comia bardana e tomava chá de jasmim, os desregrados é que se davam bem! Sinto arrepios ao ouvir falar em "alternativo". Prometo tirar a diferença neste milênio.

Vou ler todos os romances policiais e ouvir as músicas bregas a que tenho direito. O caso é que adoro um bom policial, mas meus amigos vivem dizendo que um intelectual deveria estar se abastecendo de livros mais sérios. E sou louco por boleros. Quem vai a minha casa mexe em meus CDs e suspira. Dizem que não há nada que preste. Não há. Mas eu gosto. E se eu gosto, presta. Pelo menos para mim. Fica mal para um intelectual, eu sei. Talvez eu desista de ser intelectual, mas não dos boleros.

Quero me transformar em um homem bom. Um anjo. Prometo, com todas as minhas forças, nunca mais falar mal de mulheres ao volante. A estatística demonstra que elas sofrem menos acidentes. Pensarei nisso cada vez que pedir passagem e uma delas me cortar pela direita. Elevarei meus olhos, pensando: "Perdoai-as, elas não sabem o que fazem". Terei a mesma atitude perante os motoqueiros. Quando cinco ou seis deles cruzarem em diagonal na minha frente, batendo no meu espelho e me xingando, manterei um sorriso harmônico no rosto. Nem pensarei que a CET deveria dar duro em cima deles. Mas que estão trabalhando e por isso têm o direito de transformar as pistas em uma loucura. Não sou bom? Durante os engarrafamentos, procurarei manter a calma. Farei meditação transcendental cada vez que a 23 de Maio ficar paralisada.- Talvez um dia o carro saia levitando.

Finalmente, eis minha última promessa. É séria. Quero perder o ranço de esquerda. Passei toda a minha vida analisando cada fato dentro do seu contexto. Arre! Cada vez que via um mendigo, decidia não ajudar porque o problema, afinal, é da sociedade como um todo. Da distribuição de renda. Do... Se explicasse tanta responsabilidade social ao pedinte, acho que levaria uns tapas. Outro dia, no semáforo, apareceu uma senhora com um bebê. Dei a esmola e me senti bem. Pronto. Que teoria resolveria a vida dela?

Com tudo isso, eu me sentirei um anjo. O anjo carrasco. Soa bem. Eu gosto. Quem sabe?

Entendendo o texto

Temática Principal:

01. Qual é a promessa mais enfatizada pelo autor no início da crônica?

     A) Perder a barriga.

     B) Evitar alimentos alternativos.

     C) Ler romances policiais.

     D) Tornar-se um homem bom.

Linguagem Utilizada:

02. Como o autor se refere ao seu hábito de comer em festas de fim de ano?

      A) Descontrolado.

     B) Equilibrado.

     C) Radial.

     D) Alternativo.

Foco Narrativo:

03. Por que o autor decide não fazer regime no final do ano mencionado?

    A) Porque estava de dieta.

    B) Porque havia a possibilidade do Juízo Final.

    C) Porque queria ganhar peso.

    D) Porque não gostava de festas.

Enredo e Desenvolvimento:

04. O que aconteceu com o autor após tentar uma dieta alternativa com arroz integral e bardana?

    A) Experimentou uma experiência extra-sensorial.

    B) Desistiu de fazer dieta.

    C) Ficou mais saudável.

    D) Virou vegetariano.

Reflexão sobre Escolhas Pessoais:

05. Qual é a atitude do autor em relação ao rótulo "alternativo" no final da crônica?

    A) Aceitação.

    B) Ressentimento.

    C) Desprezo.

    D) Indiferença.

Preferências Culturais:

06. O que o autor afirma gostar, mesmo sendo criticado pelos amigos?

     A) Livros sérios.

     B) Boleros.

    C) Músicas bregas.

    D) Romances policiais.

Promessas e Transformações Pessoais:

07. O que o autor promete nunca mais fazer em relação às mulheres ao volante?

     A) Ignorá-las.

     B) Criticá-las.

     C) Ajudá-las.

     D) Desrespeitá-las.

Comportamento durante Engarrafamentos:

08. Como o autor planeja reagir nos momentos de trânsito congestionado?

    A) Ficar irritado.

    B) Praticar meditação transcendental.

   C) Xingar os outros motoristas.

   D) Acelerar agressivamente.

Reação do Autor diante de Situações Cotidianas:

09. Como o autor se sentiu ao dar esmola para uma senhora com um bebê no semáforo?

    A) Arrependido.

    B) Desconfortável.

    C) Bem.

    D) Indiferente.

Transformação Pessoal e Conclusão:

10. Qual é a última promessa feita pelo autor na crônica?

     A) Tornar-se vegetariano.

     B) Perder o ranço de esquerda.

     C) Manter a calma no trânsito.

     D) Ler mais romances policiais.

 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CRÔNICA: ABSURDOS NATALINOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Absurdos Natalinos

                Walcyr Carrasco 

MINHA MÃE SEMPRE DIZIA, antes do Natal, aniversário ou Dia das Mães:

— Este ano quero presente para mim, não para a casa! O Natal era a época escolhida para a troca de geladeira. Comprar um aspirador de pó. Talheres, pratos. Quando a tralha chegava, papai sorria:

— É para você!    

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Muitas vezes surpreendi em minha mãe um olhar assassino. Para ela como, se todo mundo ia desfrutar a água gelada? O sorvete? Servia, sim, para atrapalhar a vida da velha.

— Mãe, faz musse de maracujá?

— Como? Você esqueceu de pôr o guaraná na geladeira?

-— Cadê o gelo? Ninguém pôs água nas forminhas? É o fim! Ela sonhava com uma viagem. Roupa nova. Algo que fosse só dela. Ano após ano, alguém aparecia com um pacotinho.

— Não sabia o que dar. E vinha um jogo de copos. Xícaras. Bules. Luvas térmicas. Malintencionado, certa vez ofereci um livro de receitas.

— É para você cozinhar melhor. Ela sorria. Aposto que teve vontade de atirar o Dona Benta na minha cabeça. Mas o que pode fazer alguém senão sorrir diante de um presente errado? Natal é uma época excelente para exercitar a hipocrisia. Certa vez, em um Amigo secreto, recebi duas toalhinhas rendadas. 

— Não tive tempo de comprar coisa melhor. Sorri, como se estivesse diante do enxoval de Cleópatra. Também é um susto ganhar enfeites.

— Adooorei estes cavalinhos de barro. Trouxe dois para você. Sorri. Onde botar as duas maravilhas? No nariz de quem trouxe? E quando o amigo é artista?!

— Olha! Pintei em sua homenagem! Desembrulha a tela. No centro, um sujeito gordinho, terno verde, com a cara semelhante a uma beterraba de óculos. Sorri cautelosamente.

— Quem é? O artista assumiu um ar de desapontamento.   

— Você!

— Eu? Sorri, mas agora de susto! Era um bom momento para cortar relações. Mas Natal não é época de fraternidade? Disfarcei a gafe. — Sim... agora estou vendo... é a minha cara! Só não reconheci no primeiro olhar porque nunca boto roupa verde.

— Não? Ah... mas eu já vi você de verde, sim!     

Será que ele me confundiu com o Louro José? Suspiro.

— Sim... pode ser... uma vez. Eu... eu vou dependurar.

— Deixa que eu ajudo. Nada mais trágico do que acordar meses e meses encarando minha versão artística! Quase perdi a compostura quando, em uma ceia, uma conhecida chegou com um pacote gigantesco. Até estranhei, porque a dita-cuja era conhecida como unha-de-fome. Abri e me deparei com um ursinho de pelúcia cor-de-rosa! Ela se assustou quando encontrei um envelopinho com um cartão e abri. Li uma mensagem delicada: "A você, querida, para fazer companhia nas suas noites sem sono". Assinado por... um homem! : Ela ficou completamente sem jeito. Era óbvio. Havia recebido o presente de alguém e, sem abrir, me entregou. Só não imaginou que poderia haver um cartão dentro, e não fora, como é hábito. Diante do meu espanto, riu:

— Ih, acho que dei um fora! Deixa eu ver o cartãozinho!

— Ah, mas você até acertou! Que incrível ganhar um ursinho de pelúcia cor-de-rosa! Incrível!  Dessa vez não ri. Gargalhei. Quase cantamos Jingle Bells em dueto. Era isso ou atirar a árvore de Natal em cima da malandra. Ela confessou:

— Nunca compro nada. Passo para a frente os presentes que me dão! Presente virou obrigação. Por isso, sempre acontece algum absurdo. Afinal, nem todo mundo compartilha do tal espírito natalino! Posso odiar o que ganhei. Mesmo assim, acho melhor sorrir. Ao menos, fico com a alma mais leve!

Entendendo o texto

01. Por que a mãe do narrador costumava pedir presentes para ela mesma antes do Natal, aniversário ou Dia das Mães?

      A) Porque ela gostava de ser egoísta.

      B) Para garantir que os presentes não fossem para a casa.

      C) Porque ela não gostava de presentes.

      D) Para surpreender o marido.

02. Qual era a reação da mãe do narrador quando recebia presentes para a casa, como geladeiras, aspiradores de pó, talheres, entre outros?

      A) Ficava muito feliz e agradecida.

     B) Ficava indiferente.

     C) Mostrava um olhar assassino.

     D) Sorria e agradecia.

03. O que o narrador presenteou sua mãe de forma malintencionada?

     A) Um livro de receitas.

     B) Uma viagem.

    C) Uma roupa nova.

    D) Um jogo de copos.

04. O que aconteceu durante um Amigo Secreto em que o narrador recebeu duas toalhinhas rendadas?

    A) Reclamou e pediu outro presente.

     B) Sorriu e agradeceu sinceramente.

    C) Disse que não tinha tempo de comprar coisa melhor.

    D) Ficou triste e não disfarçou a insatisfação.

05. Qual foi o presente inusitado que o narrador ganhou em uma ceia e como reagiu a isso?

   A) Um ursinho de pelúcia cor-de-rosa; gargalhou.

   B) Um livro de receitas; agradeceu sinceramente.

   C) Um sujeito gordinho pintado em uma tela; ficou ofendido.

   D) Duas toalhinhas rendadas; disse que era o enxoval de Cleópatra.

06. O que a conhecida do narrador confessou sobre os presentes que recebe e como lida com eles?

    A) Ela sempre compra algo para si mesma.

    B) Ela passa os presentes para frente.

    C) Ela odeia todos os presentes que recebe.

    D) Ela guarda todos os presentes com carinho.

  07. Por que o narrador afirma que o Natal é uma época excelente para exercitar a hipocrisia?

    A) Porque as pessoas realmente gostam dos presentes que recebem.

    B) Porque as pessoas são sempre sinceras durante o Natal.

    C) Porque as pessoas precisam disfarçar suas reações aos presentes.

   D) Porque o Natal não tem nada a ver com hipocrisia.

  08. O que a mãe do narrador sonhava ganhar como presente de Natal?

     A) Livros.

    B) Viagem.

   C) Roupas novas.

   D) Utensílios de cozinha.

09. O narrador descreve uma vez em que se surpreendeu ao abrir um presente. O que ele encontrou dentro do pacote?

    A) Um livro de receitas.

    B) Uma viagem.

   C) Um ursinho de pelúcia cor-de-rosa.

   D) Uma tela pintada.

10. Qual é a conclusão do narrador sobre presentes de Natal, mesmo que não goste do que recebe?

     A) Sempre expressa sua insatisfação.

     B) Sorri para manter a paz.

    C) Recusa todos os presentes.

    D) Ignora os presentes.

 

 

 

 

 

 

CONTO: A DONA DA PENSÃO - ROALD DAHI - COM GABARITO

 CONTO: A DONA DA PENSÃO

                Roald Dahi

A dona da pensão Billy Weaver viera de Londres no vagaroso trem vespertino, com conexão em Swindon, e quando finalmente chegou a Bath já eram cerca de nove da noite, e a lua se erguia no céu límpido e estrelado sobre as casas em frente à entrada da estação. Fazia um frio de matar, e o vento cortava seu rosto como uma lâmina de gelo.  “Perdão”, disse, “mas há algum hotel bem barato não muito longe daqui?”  “Tente o Bell and Dragon”, respondeu o porteiro, indicando a rua em frente. “Pode ser que o aceitem lá. Fica a cerca de quatrocentos metros, seguindo por aquele lado.”  Billy agradeceu, apanhou a valise e pôs-se a caminhar os quatrocentos metros até o Bell and Dragon. Nunca estivera em Bath. Não conhecia ninguém que morasse ali. Mas o sr. Greenslade do Escritório Central em Londres dissera-lhe que era uma cidade esplêndida. “Procure um lugar para ficar”, dissera, “e depois apresente-se ao gerente local assim que estiver instalado.” 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrNMPRncPQQHQEKcg_YrC1qL2wzPQGtZId6aEw_ppxpIMNO88fuqn4LOpBxBXGsblH1HEPfgaVysLm75lHCvD3W8No97fpWWEWiB2ueINQw4smLLKlqktVhXXaS15YijhLelCUgg4Ga7qVkRYZzXn9uy1BALpjPhrdADSMqgW8Jo9yU2ZVtLTwF73p4Pw/s1600/HOTEL.jpg 


[...] Não havia lojas na larga rua por onde caminhava, ladeada apenas por duas fileiras de casas altas, todas idênticas. Elas tinham alpendres, colunas e escadas de quatro ou cinco degraus que levavam até a porta de entrada, e era óbvio que, em algum tempo distante, haviam sido residências muito elegantes. Mas agora, mesmo no escuro, ele podia ver que a pintura dos batentes das portas e das janelas estava descascando e que o desleixo trouxera rachaduras e manchas às vistosas fachadas brancas.  De repente, na janela de um andar térreo iluminada intensamente pela luz de um poste a cerca de cinco metros, Billy avistou um cartaz apoiado contra o vidro de um dos painéis superiores da janela. HOSPEDARIA, dizia. Havia um vaso de flores de salgueiro, alto e elegante, bem abaixo do cartaz.  Billy parou de caminhar. Aproximou-se um pouco mais. Cortinas verdes (algum tipo de tecido aveludado) emolduravam os dois lados da janela. Os salgueiros ficavam lindos ao lado delas. Ele avançou, espiou a sala através da janela e a primeira coisa que viu foi um fogo intenso ardendo na lareira. No tapete em frente ao fogo, dormia um pequeno dachshund enrolado em si mesmo, o focinho enfiado sob a barriga. A sala em si, pelo menos até onde a penumbra lhe permitia ver, era agradavelmente mobiliada. Havia um baby grand-piano, um sofá grande e várias poltronas estofadas; e, a um canto, Billy vislumbrou um grande papagaio em uma gaiola. Animais eram geralmente um bom sinal em lugares assim, disse consigo mesmo; no fim das contas, pareceu-lhe que poderia ser uma casa bem decente onde se instalar. Certamente seria mais confortável que o Bell and Dragon.  Por outro lado, um pub seria mais conveniente que uma pensão. Haveria [...] dardos à noite e muitas pessoas com quem conversar, e provavelmente seria também um bocado mais barato. Ele passara algumas noites em um pub certa vez e gostara da experiência. Jamais ficara em uma pensão, e, para ser perfeitamente honesto, elas lhe davam um pouquinho de medo. O próprio nome já conjurava imagens de repolho aguado, senhorias avarentas e um cheiro forte de arenque defumado na sala de estar.  Depois de refletir assim por dois ou três minutos, no frio, Billy decidiu que iria retomar a caminhada e dar uma olhada no Bell and Dragon antes de tomar uma decisão. Virou-se para ir embora. 

E, então, algo esquisito aconteceu. Quando estava no ato de recuar e voltar as costas à janela, subitamente seu olhar foi atraído e capturado, de um modo muito estranho, pelo pequeno cartaz que havia ali. HOSPEDARIA, dizia. HOSPEDARIA, HOSPEDARIA, HOSPEDARIA. Cada letra era como um enorme olho negro fitando-o através do vidro, que o cativava, compelia, forçava a ficar onde estava e não abandonar aquela casa, e, antes que desse por si, ele se afastou da janela e foi em direção à porta de entrada, subiu os degraus que levavam até ela e procurou a campainha.  Tocou. Bem ao longe, em um aposento dos fundos, ele a ouviu soar e então no mesmo instante – deve ter sido no mesmo instante porque ele nem tivera tempo de tirar o dedo do botão –  a porta se escancarou e uma mulher surgiu. Normalmente, quando se toca uma campainha, há uma espera de pelo menos meio minuto antes que a porta se abra. Mas essa senhora fora como um boneco pulando de uma caixa-surpresa. Ele tocou a campainha – e ela pulou para fora! Billy deu um salto.  Ela tinha entre quarenta e cinco e cinquenta anos e, assim que o viu, abriu um cativante sorriso de boas-vindas.   “Por favor, entre”, convidou, afavelmente. Ela se afastou, mantendo a porta escancarada, e Billy viu-se automaticamente saltando para dentro da casa. A compulsão ou, para ser mais exato, o desejo de segui-la para dentro daquela casa era extraordinariamente forte.  “Eu vi o cartaz na janela”, disse, contendo-se.  “Sim, eu sei.”  “Gostaria de saber sobre o quarto.”  “Está tudo pronto para você, meu bem”, respondeu ela. Tinha um rosto oval e rosado e olhos azuis muito doces.  “Eu estava a caminho do Bell and Dragon”, disse-lhe Billy. “Mas o cartaz na sua janela acabou chamando minha atenção.”  “Meu bem”, disse ela, “por que você não entra e sai do frio?”  “Quanto a senhora cobra?”  “Cinco shillings e seis pence por noite, café da manhã incluído.”  Era incrivelmente barato. Era menos da metade do que ele aceitaria pagar.  “Se for muito caro”, acrescentou, “eu talvez possa abaixar um pouquinho o preço. Você quer ovos no café da manhã? Os ovos estão muito caros ultimamente. Seriam seis pence a menos sem os ovos.”  “Cinco shillings e seis pence está ótimo”, respondeu ele. “Gostaria muito de ficar aqui.” 

“Eu tinha certeza disso. Entre, vamos.”  Ela parecia extremamente bondosa. Parecia a mãe daquele melhor amigo de escola, recebendo-o em casa para passar as festas de Natal. Billy tirou o chapéu e cruzou a soleira da porta.  “Pendure-o ali”, disse ela, “e deixe-me ajudá-lo com o casaco.”  Não havia nenhum outro chapéu ou casaco no hall. Não havia nenhum guarda-chuva, nenhuma bengala – nada.  “Temos a casa inteira para nós”, disse, sorrindo para ele por sobre o ombro enquanto o conduzia ao andar de cima. “Sabe, não é sempre que tenho o prazer de receber um visitante em meu humilde ninho.”  A velhinha é meio maluca, disse Billy consigo mesmo. Mas por cinco shillings e seis pence por noite, quem é que dá a mínima? “Eu estava imaginando que a senhora deveria ter uma multidão de interessados”, disse educadamente. “Ah, mas eu tenho, meu bem, tenho sim, claro. Mas o problema é que tenho a tendência de ser só um bocadinho de nada exigente e difícil de agradar – se é que você me entende.”  “Ah, sim.”  “Mas estou sempre pronta. Tudo nesta casa está sempre preparado, dia e noite, para a remota possibilidade de que apareça um jovem agradável como você. E é um prazer tão grande, meu bem, um prazer tão enorme quando, de vez em quando, abro a porta e vejo que está ali alguém que serve exatamente.” Ela estava no meio da escada e deteve-se com uma das mãos sobre o corrimão, virando a cabeça e sorrindo para ele com seus lábios pálidos. “Como você”, acrescentou, e seus olhos azuis passearam lentamente por todo o corpo de Billy, até os pés, depois novamente até a cabeça.  Ao chegarem ao primeiro andar, ela disse: “Esse andar é meu.”  Subiram mais um lance de escadas. “E este é todo seu”, disse. “Este é o seu quarto. Espero que goste.” Ela o conduziu até um dormitório na parte da frente da casa, pequeno mas charmoso, e acendeu a luz.  “O sol da manhã entra direto pela janela, sr. Perkins. É sr. Perkins, não é?”  “Não”, respondeu. “É Weaver.”  “Sr. Weaver. Que bonito. Coloquei uma garrafa com água entre os lençóis para arejá-los, sr. Weaver. É um conforto tão grande ter uma garrafa de água quente em uma cama estranha com lençóis limpos, não acha? E você pode acender o aquecedor a gás a qualquer momento, se sentir frio.”  “Obrigado”, disse Billy. “Muitíssimo obrigado.” Ele reparou que a coberta da cama fora retirada e que os lençóis haviam sido cuidadosamente dobrados, prontos para alguém se deitar.  “Estou tão feliz que tenha aparecido”, disse ela, olhando-o fixamente. “Eu estava começando a ficar preocupada.”  “Está tudo bem”, respondeu Billy, alegremente. “A senhora não precisa se preocupar comigo.” Ele pôs a valise no chão e começou a abri-la.

  “[...] Vou deixá-lo agora para que possa desfazer a mala. Mas antes de deitar, você não faria a gentileza de dar um pulinho até a sala de estar no térreo e assinar o livro? Todos têm que fazê-lo porque é a lei, e não queremos desrespeitar nenhuma lei a essa altura do processo, não é mesmo?” Ela fez um breve aceno, saiu rapidamente do quarto e fechou a porta.  Bem, o fato de que a dona da pensão parecia ter alguns parafusos a menos não incomodava Billy nem um pouco. Afinal de contas, ela não só era inofensiva – não havia dúvida nenhuma quanto a isso – mas era óbvio também que possuía uma alma boa e generosa. Ele imaginou que ela provavelmente perdera um filho na guerra, ou coisa parecida, e que nunca se recuperara. Alguns minutos mais tarde, depois de desfazer a mala e lavar as mãos, ele desceu rapidamente até o térreo e entrou na sala de estar. A dona da pensão não estava lá, mas o fogo ardia na lareira, e em frente a ela o dachshund ainda dormia. A sala era maravilhosamente confortável e aconchegante. “Sou um sujeito de sorte”, pensou, esfregando as mãos. “Isto aqui não é nada mau.”  Viu o livro de hóspedes aberto sobre o piano e, pegando a caneta, escreveu seu nome e endereço. Havia apenas outros dois registros acima do seu na página e, como sempre se faz com livros de hóspedes, Billy começou a lê-los. Um era de Christopher Mulholland, de Cardiff. O outro era de Gregory W. Temple, de Bristol.  “Engraçado”, pensou, de repente. “Christopher Mulholland. Já ouvi em algum lugar.”  Mas onde diabos ele ouvira esse nome tão incomum?  Seria um colega de escola? Não. Um dos muitos namorados de sua irmã, talvez, ou um amigo de seu pai? Não, não, não era nada disso. Ele pousou novamente os olhos sobre o livro.  [...]  “Gregory Temple?”, disse em voz alta, vasculhando a memória. “Christopher Mulholland?...”  “Rapazes tão charmosos”, respondeu uma voz atrás dele. Ele se voltou e viu a dona da pensão, que entrava deslizando pela sala com uma grande bandeja de chá de prata nas mãos. Ela a segurava bem distante do corpo, e bem alto, como se a bandeja fosse o par de rédeas de um cavalo arisco.  “Esses nomes me parecem familiares, de algum modo”, disse ele.  “É mesmo? Que interessante.”  “Tenho quase certeza de que já os ouvi antes, em algum lugar. Não é estranho? Talvez tenha sido no jornal. Eles não eram famosos por algum motivo, eram? Jogadores famosos de críquete ou de futebol, ou algo assim?”  “Famosos?”, disse ela, pousando a bandeja de chá na mesa baixa em frente ao sofá. “Ah, não, não creio que fossem famosos. Mas eram de uma beleza extraordinária, ambos, disso eu posso lhe assegurar. Eram ambos altos e jovens e belos, meu bem, exatamente como você.”  Uma vez mais, Billy lançou o olhar sobre o livro. “Veja aqui”, disse, observando as datas. “O último registro já tem mais de dois anos.”  “Verdade?”  “Sim, é isso mesmo. E o de Christopher Mulholland é de quase um ano antes – há mais de três anos.”  “Meu Deus!”, disse ela, balançando a cabeça e suspirando suavemente. “Eu nunca iria imaginar. Como o tempo voa para todos nós, não é verdade, sr. Wilkins?”  “É Weaver”, corrigiu Billy. “W-e-a-v-e-r.” “Ora, claro que sim.” Exclamou, sentando-se no sofá. “Que tolice a minha. Por favor, perdoe-me. Entra por um ouvido e sai pelo outro: essa sou eu, sr. Weaver.”  “Sabe de uma coisa?”, disse Billy. “Uma coisa que é de fato absolutamente extraordinária nessa história toda?”  “Não, meu bem, não sei não.”  “Bem, veja – esses dois nomes, Mulholland e Temple, não apenas parece que me lembro de cada um deles separadamente, por assim dizer, mas de alguma forma ambos parecem estar ligados entre si. Como se os dois fossem famosos pelo mesmo motivo. Não sei se a senhora está entendendo o que quero dizer – como... como Dempsey e Tunney, por exemplo, ou Churchill e Roosevelt.”  “Que divertido”, disse ela. “Mas agora venha para cá, meu bem, sente-se ao meu lado aqui no sofá, e vou servirlhe uma boa xícara de chá e um biscoito de gengibre antes de você ir para a cama.”  “A senhora não deveria ter se incomodado”, disse Billy. “Eu não queria que a senhora tivesse trabalho nenhum.” De pé ao lado do piano, ele a observava enquanto ela se atarantava com as xícaras e os pratos. Notou que tinha mãos pálidas e pequeninas, muito ágeis, e que tinha as unhas pintadas de vermelho.  “Tenho quase certeza de que foi no jornal que vi esses nomes”, disse Billy. “Vou me lembrar em um segundo. Tenho certeza.”  Nada é tão angustiante quanto essas coisas que, flutuando nos limites de nossa memória, escapam à nossa lembrança. Ele se recusava a desistir.  “Espere um pouco”, disse. “Espere um pouco só. Mulholland... Christopher Mulholland... não era esse o nome daquele estudante de Eton que estava fazendo uma excursão a pé pelo West Country quando subitamente...”  “Leite?”, perguntou ela. “E açúcar?”  “Sim, por favor. Quando subitamente...”  “Estudante de Eton?”, disse ela. “Ah não, meu bem, não pode ser isso porque o meu sr. Mulholland certamente não era nenhum estudante de Eton quando veio até mim. Ele estudava em Cambridge. Agora venha cá, sente-se a meu lado e aqueça-se em frente a esse lindo fogo. Venha. Seu chá já está prontinho.” Ela indicou o lugar a seu lado, tocando o assento delicadamente, e sorriu para Billy, esperando que ele se aproximasse. Ele atravessou vagarosamente a sala e sentou-se na beira do sofá. Ela pousou a xícara de chá à sua frente. “Pronto”, disse ela. “Que gostoso e aconchegante, não é?”  Billy começou a bebericar o chá. Ela fez o mesmo. Durante cerca de meio minuto, nenhum deles disse nada. Mas Billy sabia que ela o observava. Ela tinha o corpo meio virado em sua direção, e ele sentia os olhos dela perscrutando seu rosto, observando-o por sobre a xícara de chá. De vez em quando ele sentia, muito de leve, um aroma peculiar que parecia emanar diretamente dela. Não era nem um pouco desagradável e lembrava-lhe – bem, ele não tinha muita certeza do que é que lhe lembrava. Nozes em conserva? Couro novo? Ou seria o odor de corredores de hospital? 

“O sr. Mulholland adorava chá”, disse ela, depois de um longo tempo. “Nunca, em minha vida, vi ninguém tomar tanto chá quanto meu querido, doce sr. Mulholland.”  “Suponho que ele tenha partido recentemente”, disse Billy. Ele ainda se remoía, tentando se lembrar dos dois nomes. Ele agora tinha certeza que os havia visto nos jornais – nas manchetes.  “Partido?”, disse ela, arqueando as sobrancelhas. “Mas, meu querido, ele jamais partiu. Ele ainda está aqui. E o sr. Temple está aqui também. Estão no terceiro andar, os dois juntos.”  

Billy pousou vagarosamente a xícara sobre a mesa e fixou o olhar sobre a dona da pensão. Ela sorriu para ele, estendendo uma de suas mãos pálidas e tocando-lhe carinhosamente o joelho. “Qual sua idade, meu bem?”, perguntou.  “Dezessete anos.”  “Dezessete!”, exclamou ela. “Ah, é a idade perfeita! O sr. Mulholland também estava com dezessete anos. Mas creio que fosse um pouquinho mais baixo que você, na verdade tenho certeza de que era sim, e os dentes dele não eram nem de perto tão brancos quanto os seus. Você tem dentes lindíssimos, sr. Weaver, sabia disso?”  “Eles parecem melhores do que são”, respondeu Billy. “Há uma porção de obturações nos dentes do fundo.” “O sr. Temple, claro, era um pouco mais velho”, continuou ela, ignorando o comentário. “Ele tinha na verdade vinte e oito anos. E, no entanto, eu jamais teria adivinhado se ele não me tivesse dito, nunca em minha vida inteira. Não havia uma única marca em seu corpo.”  “Uma o quê?”, perguntou Billy.  “A pele dele era igualzinha a de um bebê.”  

Houve uma pausa. Billy apanhou sua xícara e tomou outro gole de chá, pousando-a depois delicadamente no pires. Ele estava esperando que ela dissesse algo mais, mas parecia ter se perdido em outro de seus silêncios. Sentado ali, Billy fixou o olhar no outro lado da sala, à sua frente, mordendo os lábios.  “Aquele papagaio”, disse por fim. “Sabe de uma coisa? Enganou-me completamente quando o vi pela primeira vez através da janela. Eu jurava que ele estava vivo.”  “Infelizmente, não mais.”  “É extremamente inteligente o modo como foi feito”, disse ele. “Nem parece que está morto. Quem fez?”  “Eu mesma.”  “A senhora?”  “Claro”, respondeu. “E você já conheceu também o meu Basil?” Ela apontou com a cabeça o dachshund, enrolado tão confortavelmente em frente à lareira. Billy examinou-o com os olhos. E, subitamente, se deu conta de que o animal estivera, o tempo todo, tão silencioso e imóvel quanto o papagaio. Estendeu a mão e tocou-lhe delicadamente o dorso. As costas estavam duras e frias, e, quando seus dedos afastaram os pelos para um lado, ele pôde ver a pele embaixo, enegrecida, seca e perfeitamente preservada.  “Deus do céu!”, exclamou. “Isso é absolutamente fascinante.” Desviou o olhar do cachorro e encarou com profunda admiração a pequena senhora a seu lado no sofá. “Deve ser incrivelmente difícil fazer uma coisa assim.”  “Nem um pouquinho”, respondeu ela. “Eu empalho eu mesma todos os meus animaizinhos de estimação quando eles morrem. Você aceitaria mais uma xícara de chá?”  “Não, obrigado”, disse Billy. O chá tinha um ligeiro sabor de amêndoas amargas de que não gostara muito.  

“Você assinou o livro, não assinou?” “Ah, sim.” “Isso é ótimo. Porque daqui a algum tempo, se eu por acaso me esquecer de como você se chamava, poderei sempre vir até aqui e procurar no livro. Eu ainda o faço quase todos os dias com o sr. Mulholland e o sr. …, o sr. …”  “Temple”, completou Billy. “George Temple. Desculpe-me perguntar, mas não houve nenhum outro hóspede aqui além deles nesses últimos dois ou três anos?”  Segurando a xícara de chá bem no alto e inclinando a cabeça ligeiramente para a esquerda, olhou para ele de soslaio e sorriu-lhe delicadamente mais uma vez.  “Não, meu bem”, disse. “Só você.”

DAHL, Roald. A dona da pensão. In: Beijo,. São Paulo: Barracuda, 2007. p. 9-20.

Entendendo o texto

01. Quem é o protagonista da história e por que ele está em Bath?

     a) Sr. Temple, em busca de aventuras.
     b) Sr. Mulholland, fugindo da guerra.
     c) Sr. Weaver, a trabalho, seguindo orientações do Escritório Central em Londres.
    d) Sr. Wilkins, em uma viagem de lazer.

02. O que atrai a atenção de Billy Weaver quando ele está procurando um lugar para se hospedar em Bath?

      a) Um sinal luminoso indicando um pub movimentado.
      b) Um anúncio de um hotel de luxo.
      c) Um cartaz na janela de uma pensão com a palavra "HOSPEDARIA".
     d) Uma placa indicando descontos em hotéis.

03. O que Billy Weaver observa na sala da pensão que o faz considerar ficar lá?

     a) Um papagaio falante.
     b) Um cachorro de pelúcia na lareira.
     c) Uma lareira acesa e um cachorro real dormindo no tapete.
     d) Uma coleção de instrumentos musicais.

04. Por que Billy hesita entre ficar na pensão ou no Bell and Dragon?

     a) Ele prefere a atmosfera de um pub.
     b) Ele tem medo de pensões e associações negativas.
     c) A pensão é muito cara para ele.
     d) Ele não gosta do atendimento no Bell and Dragon.

05. O que chama a atenção de Billy Weaver no livro de hóspedes da pensão?

     a) Os preços dos quartos.
     b) Os registros dos dois últimos hóspedes: Christopher Mulholland e Gregory W. Temple.
     c) As reclamações dos hóspedes anteriores.
     d) Os elogios à hospitalidade da dona da pensão.

06. Qual é a reação de Billy Weaver quando descobre que os últimos dois hóspedes da pensão estão no terceiro andar?

     a) Ele fica animado e curioso.
     b) Ele fica assustado e decide sair imediatamente.
     c) Ele pede explicações à dona da pensão.
     d) Ele não se importa e continua a desfazer a mala.


07. Como a dona da pensão descreve os últimos dois hóspedes, Mulholland e Temple?

    a) Velhos e aborrecidos.
    b) Altos, jovens e bonitos.
    c) Famosos jogadores de críquete.
    d) Gentis e educados

08. O que Billy percebe sobre o papagaio e o dachshund na sala da pensão?

     a) Eles são animais de estimação vivos.
     b) Eles são criações artificiais da dona da pensão.
     c) Eles são animais de estimação de hóspedes anteriores.
     d) Eles são objetos de decoração.

09. Como a dona da pensão reage quando Billy menciona que viu o papagaio pela janela e pensou que ele estava vivo?

    a) Ela fica chateada e pede desculpas.
    b) Ela ri e admite que é uma ilusão bem-feita.
    c) Ela nega e insiste que o papagaio ainda está vivo.
    d) Ela ignora o comentário de Billy.

10. Qual é o desfecho da história para Billy Weaver na pensão?

    a) Ele decide ficar e desfrutar da hospitalidade da dona da pensão.
    b) Ele fica assustado com a revelação da dona da pensão e decide sair imediatamente.
    c) Ele se torna amigo dos hóspedes anteriores, Mulholland e Temple.
    d) Ele decide explorar Bath antes de tomar uma decisão sobre onde se hospedar.

11. O narrador diz que algo esquisito aconteceu. O que foi? Você acha que o rapaz ficará mesmo assim?

Sim, desde o início, o conto apresenta elementos estranhos e misteriosos. O personagem, Billy Weaver, chega a Bath e decide procurar um lugar para ficar. Ele inicialmente considera o Bell and Dragon, mas acaba sendo atraído por uma hospedaria peculiar. O lugar é descrito como elegante, mas há algo sinistro que intriga o leitor, especialmente pela forma como a dona da pensão o recebe.

 

     12. Aconteceu algo de estranho a que o personagem devesse ter prestado atenção? Você também acha que o jovem tinha razão em concluir que a senhora que o recebia era totalmente inofensiva?

          O narrador menciona que algo esquisito aconteceu quando Billy Weaver estava prestes a se afastar da janela da hospedaria. Ele é atraído pelo cartaz que repete a palavra "HOSPEDARIA" de maneira cativante. O leitor pode esperar que essa estranheza tenha consequências para o personagem, indicando que algo incomum está prestes a ocorrer.

.   13.  O que chama a atenção nessas reflexões sobre os nomes escritos no livro? Como é o comportamento da dona da pensão? Que importância esse trecho pode vir a ter no desenrolar da história?

       Sim, o modo como a dona da pensão recebe Billy imediatamente após ele tocar a campainha é incomum. A rapidez com que ela aparece, seu sorriso caloroso e a insistência para que ele entre são sinais de que algo está fora do comum. Apesar disso, o narrador, que é o próprio Billy, parece acreditar que a senhora é inofensiva, o que cria um elemento de tensão para o leitor.

14. O que poderia ser o cheiro que o personagem sentia?

O cheiro que o personagem sentia é descrito como algo peculiar, lembrando-lhe nozes em conserva, couro novo ou o odor de corredores de hospital. A natureza ambígua do cheiro contribui para o clima misterioso do conto, deixando o leitor curioso sobre a origem desse aroma.

    15. O modo como o narrador conduz a narrativa permite imaginar que fatos se desenrolarão a seguir?

        O narrador conduz a narrativa de uma forma que sugere que eventos mais estranhos e misteriosos ocorrerão. O leitor é mantido no escuro sobre os verdadeiros motivos da dona da pensão e sobre o que aconteceu com os hóspedes anteriores. O suspense é habilmente construído, deixando espaço para revelações futuras.

    16.  E aí? O que aconteceu? Como você entendeu esse desfecho?

        O conto termina com a revelação de que Christopher Mulholland e Gregory W. Temple, os hóspedes anteriores, ainda estão presentes no terceiro andar da pensão, apesar de terem supostamente partido há anos. Isso sugere uma reviravolta sobrenatural ou sinistra na história, deixando o leitor intrigado e ansioso para saber mais sobre o que está acontecendo na hospedaria. O desfecho é surpreendente e deixa abertas várias possibilidades para o desenvolvimento da trama.

 

CRÔNICA: VALE POR DOIS - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 CRÔNICA: VALE POR DOIS

                   Fernando Sabino

         Pela manhã, ao sair de casa, olha antes à janela:

        - Estará fazendo frio ou calor?

        Veste um terno de casimira, torna a tirar, põe um de tropical. Já pronto para sair, conclui que está frio, devia ter ficado com o de casimira. Enfim... Consulta aflitivamente o céu nublado: será que vai chover?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh5W4203htdmgZaGIS4oSWjWIFIZIUZaX62LgkWaBDlfdr1rbMEvPtelo0ujG3pj4CPMgCnQuZmbNhbJ4a3PvkgkSRGmuPcbf4oyf-oqsM-TT4K-a4MHN7XleTiKkdCkE1SxAI_83t7theo4gMaIFhONnuNZcKkX9PcR89bSD62kg3rVemZSFxnESL5R4/s1600/CAFE.jpg


        Volta para pegar o guarda-chuva — um homem prevenido vale por dois: pode ser que chova. Já no elevador, resolve mudar de ideia: mas também pode ser que não chova. Carregar esse trambolho! Torna a subir, larga em casa o guarda-chuva.

        Já na esquina, coça a cabeça, irresoluto: de ônibus ou de táxi? Se passar um lotação jeitoso eu tomo. Eis que aparece um: não é jeitoso. Vem em disparada, quase o atropela para deter-se ao sinal que lhe fez. Não, não entro: esse é dos doidos, que saem alucinados por aí.

        Deixa que os outros passageiros entrem — quando afinal se decide — também a entrar, é barrado pelo motorista: não tem mais lugar. De táxi, pois. Logo virá outro — pensa, irritado, e se vê de súbito entrando num lotação. Ainda bem não se sentara, já se arrependia: é um absurdo, são desvairados esses motoristas, como é que deixam gente assim tirar carteira? Assassinos — assassinos do volante. Melhor saltar aqui, logo de uma vez. Poderia esperar ainda dois ou três quarteirões, ficaria mais perto...

Deu o sinal: salto aqui, decidiu-se. O lotação parou.
— Pode tocar, foi engano — balbuciou para o motorista.

        Já de pé na calçada, vacila entre as duas ruas que se oferecem: uma, mais longa, sombreada; outra, direta, castigada pelo sol. Não iria chover, pois: sua primeira vitória neste dia.

         — Se for por esta rua, chego atrasado, mas por esta outra, com tanto calor...

         Só então se lembra que ainda não tomou café: entra no bar da esquina e senta-se a uma das mesas.
              - Um
             O garçom lhe informa que não servem cafezinho nas mesas, só no balcão. Pensa em sair, chega mesmo a empurrar a cadeira para trás, mas reage: pois então tomaria outra coisa ora essa. Como também pode simplesmente sair do bar sem tomar nada, não é isso mesmo?

         — Me traga uma média — ordena, com voz segura que a si mesmo espantou. Interiormente sorri de felicidade — mais um problema resolvido.

         —     Simples ou com leite? Pergunta o garçom, antes de servir. Ele ergue os olhos aflitos para o seu algoz, e sente vontade de chorar.

Entendendo o texto

01. O tema da crônica de Fernando Sabino é:
a) o protesto contra a violência.
b) a prevenção de acidentes.
c) a indecisão humana.
d) a modernização das grandes cidades.

02. Apenas uma, entre as frases abaixo, confirma sua resposta à questão 1:
a) "Só então se lembra que não tomou café."
b) "Vem em disparada, quase o atropela, para deter-se ao sinal que lhe fez."
c)" - Me traga uma média - ordena, com voz segura que a si mesmo espantou."
d) "Já na esquina, coça a cabeça, irresoluto: de ônibus ou de táxi?"

03.Pode-se considerar como símbolo de homem prevenido:
a) o táxi         

b) o terno de casimira           

c) o cafezinho         

d) o guarda-chuva

04. "Coçar a cabeça" é um gesto característico de quem:
a) já tomou uma decisão.
b) não está pensando no assunto.
c) está em algum dilema.
d) se sente aborrecido.

05. "Não iria chover, pois: sua primeira vitória neste dia." Por que o autor afirma que a personagem conseguiu uma vitória?

O autor afirma que a personagem conseguiu uma vitória porque decidiu não levar o guarda-chuva, acreditando que não iria chover, o que se mostrou verdadeiro.

06. A personagem teve um rápido momento de decisão quando:
a) pensa sobre qual das duas ruas iria escolher.
b) deixa passar um táxi vazio.
c) ordena ao garçom que lhe traga uma média.
d) olha à janela, antes de sair de casa, pela manhã.

07. O autor faz uma crítica a alguém. Transcreva a passagem que reproduz a crítica.

"Assassinos — assassinos do volante."

08. A personagem passa por todos os estados de espírito citados abaixo, exceto:
a) aflição           b) irritação          c) desespero         

d) satisfação     e) revolta

09. O que o protagonista faz ao sair de casa pela manhã para decidir sobre a roupa que usará?

O protagonista olha pela janela para avaliar o clima, veste um terno de casimira, troca por um de tropical, e, ao concluir que está frio, volta para pegar o guarda-chuva.

10. Por que o protagonista decide levar o guarda-chuva, mesmo indeciso sobre o tempo?

O protagonista decide levar o guarda-chuva porque acredita que "um homem prevenido vale por dois" e teme que possa chover. No entanto, muda de ideia e deixa o guarda-chuva em casa.

11. Como o protagonista decide sobre o meio de transporte para chegar ao seu destino?

O protagonista fica indeciso entre pegar um ônibus ou um táxi. Ele cogita entrar em um ônibus lotação, mas desiste ao considerá-lo perigoso. Finalmente, decide pegar um táxi.

12. O que acontece quando o protagonista entra no bar da esquina para tomar café?

O garçom informa ao protagonista que não servem café nas mesas, apenas no balcão. Inicialmente, o protagonista pensa em sair, mas decide ficar e pedir uma média, resolvendo mais um problema.

13. Qual é a reação do protagonista quando o garçom pergunta se a média deve ser simples ou com leite?

O protagonista, interiormente surpreso com sua própria voz segura, pede uma média. No entanto, ao ser questionado sobre se deseja a média simples ou com leite, ele sente vontade de chorar e olha aflito para o garçom.