quarta-feira, 4 de junho de 2025

CONTO: FELIZ DE QUEM TEM CEM PERNINHAS - FRAGMENTO - ÍNDIGO - COM GABARITO

 Conto: Feliz de quem tem cem perninhas – Fragmento

           Índigo

        Não eram nem sete horas da manhã e eu já estava escondida atrás de uma banca de jornal, tremendo de frio. Eu tremia de frio porque Mirela, minha segunda melhor amiga, mandou eu tirar a blusa de lã e escondê-la no fundo da mochila. Aquela blusa de lã ia estragar tudo. Depois ela mandou eu puxar a camiseta do uniforme para fora da calça. Puxei a camiseta para fora.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTad8eWmn_PnK3aodFmR1b5tianFruyD7EZUyDgtsmcbqPi4XjM0m4x_JTJyIy2ZwWtQUg9AW68HWXTxF0tQL2nK4M2C93YvNATwTgkujR7PMi2Dhx6tYcbEnUocGxoWKz-Y8O8GbpY-teytAxMPzjtmWx8nQpWyjlXTXcSLKzSMLggKJ49FQdsC73W9k/s1600/centop%C3%A9ia.jpg


        — Cadê a Cíntia? — perguntou Mirela.

        Cíntia era minha melhor amiga. Éramos em três: Cíntia, Mirela e eu. Enquanto falava comigo, Mirela mexia no meu cabelo. Parte da franja eu punha atrás da orelha direita. Sempre foi assim. Mirela não queria mais que minha orelha servisse de anteparo para a franja e a puxou para frente.

        — Beeeeeem melhor... — disse. — Então, cadê a Cíntia? Quero ver suas meias.

        Eu não sabia de Cíntia. Ergui a calça. Meias brancas, lisas, normais.

        Eu sabia pouca coisa nesse dia. Sabia que toda lagarta, em algum ponto de sua vida, vai passar por uma metamorfose. Ela deixa de ter dezenas de perninhas, ganha duas asas coloridas e se transforma numa linda borboleta. Mas nessa manhã eu não queria ser linda e sair voando por aí. Eu trocaria duas lindas asas coloridas por dezenas de perninhas. É mais seguro. Nessa manhã fria eu deixava de ter controle sobre a minha forma. Como uma lagarta que chega ao ponto de metamorfose, eu sabia que era hora de me enfiar num casulo, me dissolver numa sopa de DNA e me reorganizar. Essa era minha situação. Com a única diferença que, no meu caso, não havia casulo onde eu pudesse me enfiar. Nesse primeiro dia de quinta série eu me sentia como uma sopa e o futuro era incerto.

        — Vamos esperar mais cinco minutos e daí entramos.

        O portão da escola já estava aberto e quando meu pai, minutos antes, me deixou ali, ele perguntou se não íamos entrar. Mirela respondeu por mim dizendo que sim, que já estávamos entrando. E meio que entramos. Mas assim que ele virou a esquina corremos para trás da banca de jornal, por causa da minha blusa de lã que ia estragar tudo.

        Em menos de cinco minutos eu estaria oficialmente no segundo ciclo e isto muda tudo na vida de uma pessoa. Eu teria muitas professoras, uma para cada matéria e nenhuma delas seria responsável pela nossa classe. Em menos de cinco minutos ninguém mais seria responsável por nós, pois em menos de cinco minutos seríamos responsáveis por nós mesmas. E nunca mais eu poderia acordar tarde e ligar a televisão. Agora, até o fim da minha vida, eu teria que acordar cedo, tomar banho, escovar os dentes e partir para minhas obrigações, com o céu ainda escuro. Era preciso tomar muito cuidado porque dentro de quatro minutos todas as pessoas na escola seriam mais velhas do que eu. As crianças estudavam à tarde. De manhã não havia criança na escola. As pessoas que estudavam de manhã eram livres. Elas viviam com seus pais, mas era diferente. Elas haviam adquirido independência de pensamento, tinham opiniões próprias e faziam abaixo-assinados. Mais três minutos e eu estaria no meio delas. E este seria apenas o primeiro de quatro anos de matérias dificílimas, com provas de cinco páginas, em que minha nota seria um número, não mais uma letra. E os números, ao contrário das letras, não têm fim.

        — Mais dois minutos — disse Mirela.

        Mais dois minutos e eu entraria para a escola onde estudei a vida inteira. O mesmo prédio, as mesmas classes, as mesmas carteiras. E isso era o mais apavorante de tudo. Talvez, ao passar por aquele portão, um aluno do colegial atirasse Mirela e eu dentro do tanque de areia. Talvez jogassem futebol com alunas do nosso tamanho. A gente, sendo a bola.

        — Pronto. Vamos — disse Mirela.

        […]

ÍNDIGO. Perdendo perninhas. São Paulo: Hedra, 2006. p. 9-12. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 19-20.

Entendendo o conto:

01 – Onde a narradora e Mirela estão escondidas no início do fragmento e por quê?

      A narradora e Mirela estão escondidas atrás de uma banca de jornal. Elas se esconderam porque Mirela mandou a narradora tirar a blusa de lã e a esconder na mochila, além de puxar a camiseta do uniforme para fora da calça, pois a blusa de lã "ia estragar tudo" e elas não queriam ser vistas entrando na escola daquele jeito pelo pai da narradora.

02 – Qual é a preocupação principal da narradora em relação à sua blusa de lã e o que isso revela sobre a dinâmica entre ela e Mirela?

      A blusa de lã é uma preocupação porque, segundo Mirela, ela "ia estragar tudo", indicando que ela não se encaixava na imagem ou no plano que Mirela tinha para elas. Isso revela que Mirela exerce uma influência forte e controladora sobre a narradora, que obedece às suas instruções, mesmo que isso a deixe tremendo de frio.

03 – Como a narradora descreve sua amizade com Cíntia e Mirela?

      A narradora afirma que eram em três: Cíntia, sua melhor amiga, e Mirela, sua segunda melhor amiga, e ela mesma. A dinâmica parece ser de que Mirela é a mais dominante entre as três, dando ordens e controlando a aparência da narradora.

04 – Que metáfora a narradora usa para descrever sua situação e o que ela significa?

      A narradora se compara a uma lagarta que está prestes a passar por uma metamorfose, transformando-se em uma borboleta. No entanto, ela preferiria ter "dezenas de perninhas" do que "duas lindas asas coloridas", pois julga que é "mais seguro". Essa metáfora expressa a sensação de perda de controle sobre sua própria forma e a incerteza do futuro, sentindo-se "uma sopa de DNA" sem um casulo para se proteger, simbolizando a transição para a quinta série e as mudanças que ela acarreta.

05 – Quais são as grandes mudanças que a narradora espera ao entrar no "segundo ciclo" na escola?

      Ao entrar no "segundo ciclo" (a quinta série), a narradora espera ter muitas professoras (uma para cada matéria), não ter mais uma única professora responsável pela turma, e ter que assumir mais responsabilidade por si mesma ("seríamos responsáveis por nós mesmas"). Ela também menciona a mudança de horários e a sensação de que as pessoas da manhã seriam mais velhas e independentes.

06 – Por que a narradora considera apavorante o fato de a escola ser a mesma em que estudou a vida inteira?

      A narradora considera apavorante o fato de o prédio, as classes e as carteiras serem os mesmos porque, apesar da familiaridade, ela sente que tudo ao seu redor vai mudar. Ela teme que, ao passar pelo portão, as dinâmicas sociais serão diferentes e mais perigosas, como ser jogada em um tanque de areia ou usada como bola de futebol por alunos mais velhos. A aparente estabilidade do ambiente contrasta com a radicalidade das mudanças internas e sociais que ela antecipa.

07 – O que a diferença entre "números" e "letras" em relação às notas escolares simboliza para a narradora?

      Para a narradora, a mudança de notas de "letras" para "números" simboliza uma transição para um sistema mais rígido e implacável. Ela afirma que os "números, ao contrário das letras, não têm fim", sugerindo que as cobranças e as dificuldades serão contínuas e crescentes, sem um ponto final claro. Isso reflete a pressão e a seriedade que ela associa à nova fase escolar.

 

 

ENTREVISTA: QUE MISTÉRIO TEM CLARICE? - RENATO CORDEIRO GOMES - COM GABARITO

 Entrevista: Que mistério tem Clarice? (Texto-montagem)

                   Renato Cordeiro Gomes

        Não gosto de dar entrevistas: as perguntas me constrangem, custo a responder, e, ainda por cima, sei que o entrevistador vai deformar fatalmente minhas palavras.

        Assim, para não correr esse risco e não haver constrangimento, não aconteceu nenhuma entrevista, apesar do bate-papo descontraído e, por fim, amigo, numa sala acolhedora, no Leme, onde moram Clarice e seus mistérios.

        Houve não-perguntas, mas há respostas (?). Revelação! Diante da máquina de escrever, ELA fala:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEcCzORaUpfkWM2OYNL0l7VsMYv9SveI9vTMkHFo4CuXG-ApdkRQQIRIvS4yUDqDCHzrwROba_zbUJpMc-HYyvEZ2GgYXjiCY6r3j3eu4ko_ja914U_SZC8tkp0x7MYjazA6U_5FnTM4J1reeaQjV6InqqkFX-v0_td4AV1rmbXexziIzfbKRUPESGoxc/s320/Ruins_of_Chechelnyk_synagogue.jpg


        Explicação de uma vez por todas

        Recebo de vez em quando carta perguntando-me se sou russa ou brasileira, e me rodeiam de mitos.

        Vou esclarecer de uma vez por todas: não há simplesmente mistério que justifique mitos, lamento muito. E a história é a seguinte: nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchetchelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade.

        Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata.

        Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife, e acho que viver no Nordeste ou Norte do Brasil é viver mais intensamente e de perto a verdadeira vida brasileira que lá, no interior, não recebe influência de costumes de outros países. Minhas crendices foram aprendidas em Pernambuco, as comidas que mais gosto são pernambucanas. E através de empregadas, aprendi o rico folclore de lá.

        Somente na puberdade vim para o Rio com minha família: era a cidade grande e cosmopolita que, no entanto, em breve se tornava para mim brasileira-carioca.

        Quanto a meus rr enrolados, estilo francês, quando falo, e que me dão um ar de estrangeira, trata-se apenas de um defeito de dicção: simplesmente não consigo falar de outro jeito. Defeito esse que meu amigo Dr. Pedro Bloch disse ser facílimo de corrigir e que ele faria isso para mim. Mas sou preguiçosa, sei de antemão que não faria os exercícios em casa. E além do mais meus rr não me fazem mal algum. Outro mistério, portanto, elucidado.

        O que não será jamais elucidado é o meu destino. Se minha família tivesse optado pelos Estados Unidos, eu teria sido escritora? Em inglês, naturalmente, se fosse. Teria casado provavelmente com um americano e teria filhos americanos. E minha vida seria inteiramente outra. Escreveria sobre o quê? O que é que amaria? Seria de que Partido? Que gênero de amigos teria? Mistério.

        A gente nasce para alguma coisa, da qual vamos tomando consciência à medida que cumprimos nossa existência, num ato de doação. Para que você nasceu, Clarice?

        As três experiências

        Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O "amar os outros" é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

        E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.

        Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.

        Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte, mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.

        Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou de encontro ao que me espera.

        Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Lucidamente apenas falo de algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego, pois dinheiro não ganho com isso. Fico apenas sabendo como é o mundo.

        Mas por que você toma conta do mundo, se isto lhe dá trabalho?

        É que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de lesa-corpo e lesa-alma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para melhor.

        O saber e o não-saber

        Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade. 

        O mistério da criação artística

        Quando comecei a escrever, que desejava atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranquila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.

        Dois modos

        Como se eu procurasse não aproveitar a vida imediata mas sim a mais profunda, o que me dá dois modos de ser: em vida, observo muito, sou ativa nas observações, tenho o senso do ridículo, do bom humor, da ironia, e tomo um partido. Escrevendo, tenho observações por assim dizer passivas, tão interiores que se escrevem ao mesmo tempo em que são sentidas, quase sem o que se chama de processo.

        E por isso que no escrever eu não escolho, não posso me multiplicar em mil, me sinto fatal a despeito de mim.

        A criação artística é um mistério que me escapa, felizmente.

        Aceitando o risco

        Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender se não usar o processo de escrever. Escrever é compreender melhor. Se às vezes tomo sem querer um ar hermético, é que não só o principal é não mentir o sentimento como porque tenho incapacidade de transpô-lo de um modo claro sem que mentisse – e mentir o pensamento seria tirar a única alegria de escrever. Assim, tantas vezes tomo um ar involuntariamente hermético, o que acho bem chato nos outros. Depois da coisa escrita, poderia eu friamente torná-la menos hermética, mais explicativa? Mas é que respeito um certo tom peculiar ao mistério natural da criação não substituível (esse mistério) por clareza outra nenhuma. Também porque acredito que a coisa se esclarece sozinha com o tempo: assim como num copo d'água, uma vez depositado no fundo o que quer que seja, a água fica clara. Se jamais a água ficar limpa, pior para mim. Aceito o risco. Aceitei risco bem maior, como todo o mundo que vive. E se aceito o risco não é por liberdade arbitrária ou inconsciência ou arrogância: a cada dia que acordo, por hábito até, aceito o risco. Sempre tive um profundo senso de aventura, e a palavra profundo está aí querendo dizer inerente. Este senso de aventura é o que me dá o que tenho de aproximação mais isenta e real em relação a viver e, de cambulhada, escrever.

        Nem tudo o que escrevo resulta numa realização, resulta mais numa tentativa. O que também é um prazer. Pois nem tudo eu quero pegar. Às vezes quero apenas tocar. Depois o que toco às vezes floresce e os outros podem pegar com as duas mãos.

        Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia.

        Literatura e justiça

        Minha tolerância em relação a mim, como pessoa que escreve, é perdoar eu não saber como me expressar de um modo "literário" (isto é, transformando na veemência da arte) da "coisa social". Desde que me conheço o fato social teve em mim importância maior do que qualquer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir "arte", senti a beleza profunda da luta. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele - e, sem me surpreender, não consigo escrever. E também porque para mim escrever é procurar. O sentimento de justiça nunca foi procura em mim, nunca chegou a ser descoberto, e o que me espanta é que ele não seja igualmente óbvio em todos. Na verdade sinto-me engajada. Tudo o que escrevo está ligado, pelo menos dentro de mim, à realidade em que vivemos.

        Autocrítica

        Esta autocrítica tem que ser complacente, porque se fosse aguda demais isso talvez me fizesse nunca mais escrever. Mas eu queria escrever, algum dia talvez. Embora sentindo que, se voltasse a escrever, seria de um modo diferente do meu antigo: diferente em quê? Não me interessa. Minha autocrítica a certas coisas que escrevo, não importa no caso se boas ou más, – falta a elas chegar àquele ponto em que a dor se mistura à profunda alegria, e a alegria chega a ser dolorosa – pois esse ponto é o aguilhão da vida.

        E quantas vezes conseguimos o encontro máximo de um ser com outro ser, quando com espanto dizemos: "Ah!". Às vezes esse encontro consigo próprio se consegue através do encontro de um ser com outro ser.

        Não, eu não teria vergonha de dizer tão claramente o que eu quereria para o futuro: quereria o máximo, e o máximo deve ser atingido e dito com a matemática perfeição da música ouvida e transposta para o profundo arrebatamento que sentimos. Não transposta, pois é a mesma coisa. Deve, eu sei que deve haver um modo em mim de chegar a isso.

        Às vezes sinto que esse modo eu o conseguiria através simplesmente de meu modo de ver mais evoluído. Uma vez sendo, no entanto, que se fosse conseguido seria através da misericórdia. Não da misericórdia transformada em gentileza da alma. Mas da profunda misericórdia transformada em ação, mesmo que seja a ação das palavras. E assim como "Deus escreve direito por linhas tortas", através de nossos erros correria o grande amor que seria a misericórdia.

        Aproximação gradativa

        Se eu tivesse que dar um título à minha vida seria: à procura da própria coisa.

        Mistério

        Sou tão misteriosa que não me entendo. Não, positivamente não me entendo. Bem, mas o fato é que, mesmo não me entendendo, vou lentamente me encaminhando – e também para o quê, não sei. De um modo geral, para mais amor por tudo... Sinto que me encaminho para o mais humano.

        Os mistérios: estes. De Clarice.

Seleta de Clarice Lispector, 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 291-294.

Entendendo a entrevista:

01 – Por que Clarice não gosta de dar entrevistas?

      Clarice não gosta de dar entrevistas porque as perguntas a constrangem, ela tem dificuldade em responder e acredita que o entrevistador fatalmente deformará suas palavras.

02 – Qual a verdadeira nacionalidade de Clarice e como ela se sente em relação a isso?

      Clarice nasceu na Ucrânia, mas chegou ao Brasil com apenas dois meses de idade. Ela se considera brasileira naturalizada e fez da língua portuguesa sua vida interior, usando-a para seu pensamento mais íntimo e para escrever.

03 – De onde Clarice absorveu grande parte de sua identidade cultural brasileira?

      Clarice se criou em Recife, e acredita que viver no Nordeste ou Norte do Brasil é vivenciar a verdadeira vida brasileira. Ela aprendeu suas crendices e gostos culinários em Pernambuco e, através de empregadas, absorveu o rico folclore local.

04 – Como Clarice explica seus "rr enrolados" que a fazem soar como estrangeira?

      Ela explica que é apenas um defeito de dicção e que não consegue falar de outro jeito. Ela também menciona que um amigo, Dr. Pedro Bloch, disse que seria fácil de corrigir, mas ela é preguiçosa para fazer os exercícios.

05 – Quais são as três experiências para as quais Clarice afirma ter nascido?

      Clarice afirma ter nascido para amar os outros, para escrever e para criar seus filhos.

06 – De que forma Clarice descreve a criação artística e o processo de escrita?

      Clarice vê a criação artística como um mistério que lhe escapa. Ela descreve a escrita como uma necessidade para não mentir o sentimento e para compreender melhor as coisas, além de ser uma fonte de "inesperadas surpresas" onde ela se torna consciente de coisas que antes não sabia que sabia.

07 – Qual é o sentimento de Clarice em relação à justiça social e como isso se relaciona com sua escrita?

      Para Clarice, o problema da justiça é um sentimento "óbvio e básico" que a "engaja". Embora não consiga escrever sobre isso de forma "literária" (transformando-o em veemência artística), ela afirma que tudo o que escreve está ligado à realidade em que vivemos.

 

CONTO: A CARTOMANTE - AFONSO HENRIQUE DE LIMA BARRETO - COM GABARITO

 Conto: A Cartomante

           Afonso Henrique de Lima Barreto

        Não havia dúvida que naqueles atrasos e atrapalhações de sua vida, alguma influência misteriosa preponderava. Era ele tentar qualquer cousa, logo tudo mudava. Esteve quase para arranjar-se na Saúde Pública; mas, assim que obteve um bom "pistolão", toda a política mudou. Se jogava no bicho, era sempre o grupo seguinte ou o anterior que dava. Tudo parecia mostrar-lhe que ele não devia ir para adiante. Se não fossem as costuras da mulher, não sabia bem como poderia ter vivido até ali. Há cinco anos que não recebia vintém de seu trabalho. Uma nota de dois mil-réis, se alcançava ter na algibeira por vezes, era obtida com auxílio de não sabia quantas humilhações, apelando para a generosidade dos amigos.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO4omWW-Q1yoW0H44rpEkkueAzSRKXPHqNd3kPWbVCketBf82gOHudNZdwXI_gm1Gj6KmzF3V634geCZPFqvwKfy47TtP3UHWYKK28UyFK3x9McwcZNocy2OgVCKTqKHeF95pqtHMssa4A_v2bpioRJpsvBfluCtu5sCP346X8dc3WBKga1HCInzKs2Sg/s320/08d037_c7941a7f007b4558b113d52525c124de~mv2.jpeg


        Queria fugir, fugir para bem longe, onde a sua miséria atual não tivesse o realce da prosperidade passada; mas, como fugir? Onde havia de buscar dinheiro que o transportasse, a ele, a mulher e aos filhos? Viver assim era terrível! Preso à sua vergonha como a uma calceta, sem que nenhum código e juiz tivessem condenado, que martírio!

        A certeza, porém, de que todas as suas infelicidades vinham de uma influência misteriosa, deu-lhe mais alento. Se era "coisa feita", havia de haver por força quem a desfizesse. Acordou mais alegre e se não falou à mulher alegremente era porque ela já havia saído. Pobre de sua mulher! Avelhantada precocemente, trabalhando que nem uma moura, doente, entretanto a sua fragilidade transformava-se em energia para manter o casal.

        Ela saía, virava a cidade, trazia costuras, recebia dinheiro, e aquele angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa.

        Bem! As cousas iam mudar! Ele iria a uma cartomante e havia de descobrir o que e quem atrasavam a sua vida.

        Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes, espíritas, teósofos anunciados; mas simpatizou com uma cartomante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda espécie de feitiçaria, principalmente a africana. Rua etc.".

        Não quis procurar outra; era aquela, pois já adquirira a convicção de que aquela sua vida vinha sendo trabalhada pela mandinga de algum preto mina, a soldo do seu cunhado Castrioto, que jamais vira com bons olhos o seu casamento com a irmã.

        Arranjou, com o primeiro conhecido que encontrou, o dinheiro necessário, e correu depressa para a casa de Madame Dadá.

        O mistério ia desfazer-se e o malefício ser cortado. A abastança voltaria à casa; compraria um terno para o Zezé, umas botinas para Alice, a filha mais moça; e aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.

        Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro e doce, um sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o mundo, que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe surgia claro e doce.

        Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito.

        O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa.

        Era sua mulher.

In: Minidicionário Luft (Edição especial). São Paulo: Scipione, 1990. p. 43-45.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 290.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal dificuldade que o protagonista enfrenta no início do conto?

      O protagonista está vivendo em uma situação de miséria e "atrapalhações" em sua vida, não conseguindo se arranjar financeiramente há cinco anos e dependendo das costuras da mulher para sobreviver.

02 – Que explicação o protagonista encontra para suas desgraças?

      Ele acredita que todas as suas infelicidades vêm de uma "influência misteriosa" ou "coisa feita", uma espécie de mandinga.

03 – Qual a atitude da esposa do protagonista diante da situação difícil?

      A esposa, apesar de "avelhantada precocemente" e doente, demonstra grande energia e força, trabalhando incansavelmente ("que nem uma moura") para manter o casal e o lar.

04 – O que o protagonista decide fazer para mudar sua sorte?

      Ele decide procurar uma cartomante para descobrir o que e quem estão atrasando sua vida e desfazer o malefício.

05 – Por que o protagonista escolhe Madame Dadá especificamente?

      Ele simpatiza com o anúncio de Madame Dadá por acreditar que sua vida está sendo afetada pela "mandinga de algum preto mina", e o anúncio da cartomante prometia desfazer "principalmente a africana". Ele também suspeita que seu cunhado, Castrioto, esteja por trás da feitiçaria.

06 – Como o protagonista se sente ao ir em direção à casa da cartomante?

      O protagonista se sente esperançoso e alegre. O mundo, antes turvo, lhe surge "claro e doce", e ele acredita que o mistério será desfeito e a abastança voltará.

07 – Qual a revelação surpreendente ao final do trecho?

      A revelação final é que a pessoa que estava consultando a cartomante antes do protagonista era sua própria mulher.

 



MONÓLOGO: MEU NOME É JABERSON - FRAGMENTO - SANT'ANNA - COM GABARITO

 Monólogo: Meu Nome É Jaberson – Fragmento

                 Sant’Anna 

O personagem

Jaberson: é um adolescente que está apaixonado, tentando telefonar para a garota que ama. Mas não tem coragem.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLGETnKq3soY4c93vJ7pgu4NjU1zuNF1OTbtJxR5rjlJM8tJYbsXIgezGwNswsybQ3iPfugtsJ6-5GuHnORAKFhu85yOipGrMML0qIAcpPBmqKnXlzJsnqwORTFxvDToYn5TjZAh-G59LATytvpAxphUhiwLNb2R7UZNMuMuK6G74B7Wulogt8c5e8bwU/s320/depositphotos_8131011-stock-illustration-cartoon-businessman-on-his-mobile.jpg


Roteiro

        Toda a cena acontece em um quarto. No cenário, há uma cama e um espelho. Jaberson está na frente do espelho ensaiando o que vai dizer na ligação, com o telefone na mão.

        Jaberson:

        Oi, meu nome é Jaberson. Nós fomos colegas… sim, terminei meus estudos contigo. Isso mesmo! Ah, tenho 17, sim… Ainda lembra?

(interrompe)

        Droga! Está horrível! Ela vai pensar que sou um idiota!

(espera, suspira e respira fundo). Pega o telefone outra vez e fala para si mesmo.

        Jaberson:

        De novo.

(finge outra vez que está falando com Laura)

        Oi, Laura! É o Jaberson! Eu fiquei sabendo que tem um filme muito bom passando e quero lhe convidar para ir ao cinema comigo!

(interrompe de novo)

        Ah! Que porcaria! E se ela não se lembrar mais de mim?

Pega o telefone outra vez.

        Jaberson:

        Oi, é o Jaberson. Não sei se você ainda se lembra de mim… a gente estudou juntos no ano passado. Eu queria lhe dizer que sempre gostei de você e que não consigo lhe esquecer e…

(joga o telefone na cama)

        …que eu sou um grande idiota!

(Fala consigo mesmo)

        Tenho de parecer natural. Respira fundo! Calma! Todo mundo faz isso o tempo todo. Tenho de parecer natural. Respira fundo.

(Irônico, fala consigo mesmo no espelho com outra voz)

        Jaberson:

        É só o grande amor da sua vida. Estudou três anos com a Laura e nunca teve coragem de falar com ela… mas é a coisa mais natural do mundo: ligar depois que terminou os estudos e depois de um tempão para convidá-la para ir ao cinema. Já aproveita para pedir ela em casamento, lógico.

(muda de tom)

        Por que não falei com ela ontem, quando a vi no shopping com as amigas?

(fala pro espelho, irritado) 

        Covardão!

(Volta a ficar calmo)

        Jaberson: 

        Tenho de parecer natural. Respirar fundo. Ah, droga, melhor fazer isso logo!

        [...]

(fala na frente do espelho)

        Vamos lá, coragem. Afinal de contas, você é um homem ou um rapaz de dezessete anos?

(Liga para o número. Espera. Desliga, preocupado)

        Jaberson:

        E se o pai dela atender?

(olha pra cima)

        Ai, meu Deus, por quê? Por que é tão difícil amar?

(Faz uma voz bonita no telefone) 

        Oi, sogrão. Aqui é o seu futuro genro, o Jaberson… a minha amada está em casa?

(muda o tom para falar consigo mesmo)

        Tenho de parecer natural. Respira fundo! Calma! Vamos lá, azar… o que tem de acontecer vai acontecer. Pensamento positivo!

(toma coragem e liga. Espera um pouco...)

        Jaberson:

        Tá chamando! Ai, meu Deus… É agora! Alô, eu queria falar com a Laura. É… droga! Secretária eletrônica!

(desliga, rápido. Espera alguns segundos. Imita com voz de secretária eletrônica)

        Você ligou para 34562389. Deixe seu recado após o sinal…

(finge que está deixando o recado)

        Oi, Laura. Aqui é o Jaberson, seu colega do ano passado…

(interrompe e pensa consigo mesmo)

        E se eu deixar um recado tão original que ela não consiga resistir e acabe pensando que sou tão inteligente e tão maravilhoso… que ela queira ficar comigo? Vou fazer uma música pra ela!

(finge que está deixando recado, e canta uma música ao telefone – pode ser uma melodia conhecida)

        Aqui é o Jaberson, teu colega especial. Laura, Laura, Laura! Estou te ligando para…

(interrompe)

        E agora? Como vou terminar isso? Laura rima com o quê? Ah, se eu tivesse uma guitarra!

(Pega um instrumento musical de brinquedo: um xilofone ou flauta).

        Jaberson:

        Jaberson, o maior músico do Brasil, vai tocar seu novo sucesso: Laura!

(faz uns ruídos horríveis. Finge desespero, socando a cama, dramático)

        Por que eu não sei tocar nada? Que droga! Vou me matar!

(faz voz de noticiário de TV)

        Maior músico do Brasil encontrado morto! Morreu tentando telefonar!

        [...]

(Larga o telefone. Fica pensando um pouco)

        Jaberson:

        Por que ela não tem celular? Todo mundo tem telefone celular! Até eu tenho celular…

(fica triste, bastante pensativo. Depois lembra de algo)

        Por falar nisso, esqueci de ligar o meu depois que fui ao cinema ontem.

(olha o celular)

        Nossa, quatro recados! Não conheço esse número.

(Toca o celular que está na mão dele)

        Jaberson:

        Alô? Quem fala? Laura? Que Laura? Ah! Laura? Que foi minha colega? Claro… Ah, você me viu no cinema sozinho… e não teve coragem de falar comigo? Que bobagem, é a coisa mais natural. Queria ligar pra mim? Para ir ao cinema… puxa, que coincidência! Estou livre… qual é o filme?

        (fica vibrando e comemorando na frente do espelho)

         É, tenho 17 anos, sim…

(se atira na cama)

(Iluminação vai diminuindo. O restante do texto pode ser falado em um volume cada vez mais baixo)

        Jaberson:

        Ah, Como conseguiu meu telefone? Ah, tá… é, eu sei como é. Ensaiando na frente do espelho? Deve ter sido divertido… ocupado? Ah, minha irmã… o celular? Esqueci de ligar depois do cinema. Posso, sim. Nossa! Estou tão feliz…

SANT’ANNA, Victor M. Stand-up, monólogos e esquetes para um ator único. Disponível em: http://booksgoogle.com.br. Acesso em: 4 jan. 2012. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 40-43.

Entendendo o monólogo:

01 – Qual é o principal dilema de Jaberson no início do monólogo?

      O principal dilema de Jaberson é a sua falta de coragem para telefonar para Laura, a garota por quem ele está apaixonado. Ele ensaia várias vezes o que vai dizer, mas sempre desiste por medo de parecer um idiota ou de ela não se lembrar dele.

02 – O que o espelho representa para Jaberson durante suas tentativas de ensaio?

      O espelho representa um confidente e um público imaginário para Jaberson. É diante dele que ele ensaia suas falas, expressa suas frustrações, e até mesmo dialoga consigo mesmo, usando diferentes vozes para criticar sua própria covardia.

03 – Quais são as principais preocupações de Jaberson ao tentar ligar para Laura?

      Jaberson se preocupa com vários aspectos: se Laura se lembrará dele, se ele parecerá um idiota ao telefone, se o pai dela atenderá a ligação e como ele se comportará diante de uma possível rejeição ou constrangimento.

04 – Como Jaberson reage às suas próprias falhas e à sua inibição?

      Jaberson reage com frustração e autocrítica, chamando-se de "idiota" e "covardão". Ele demonstra um desespero cômico, chegando a dramatizar cenários de morte por não conseguir falar com Laura ou não ter habilidades musicais para impressioná-la.

05 – Que reviravolta inesperada acontece no final do monólogo?

      A reviravolta inesperada é que, enquanto Jaberson está se lamentando e percebendo que esqueceu de ligar seu próprio celular, Laura liga para ele. Isso inverte completamente a situação, mostrando que ela também estava interessada e hesitante em contatá-lo.

06 – O que a ligação de Laura revela sobre os sentimentos dela por Jaberson?

      A ligação de Laura revela que ela também tinha sentimentos e estava interessada em Jaberson. Ela o viu no cinema e não teve coragem de falar com ele, e também queria ligar para convidá-lo para ir ao cinema, mostrando uma reciprocidade de sentimentos e inseguranças.

07 – Qual é a principal mensagem ou tema que o monólogo transmite através das experiências de Jaberson?

      O monólogo transmite a mensagem de que a insegurança e o medo da rejeição são sentimentos comuns e muitas vezes infundados no contexto da paixão adolescente. A história de Jaberson, com seu humor e reviravolta, mostra que a coragem, mesmo que demore a aparecer, pode ser recompensada, e que as dificuldades muitas vezes são mais imaginárias do que reais.

 

 

CAUSO: ASSOMBRAÇÃO - ROLANDO BOLDRIN - COM GABARITO

 Causo: Assombração

            Rolando Boldrin

        Aquele moço estava esperando a condução no ponto da frente do cemitério da Consolação, na capital.

        Era uma sexta-feira e faltavam cinco minutos para a meia-noite.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiODbmFHoty6teSrG61Q667NbfguN_XuLyH2p6tyv_d6EBiY1dFgFJqKyoGO3HrHl5cdkEyTk08bXEm25HO_MAzbqOwsowiVreqG2oqN7sPa9nazgjhHT1UKwfpQSW8iyJ9l1cNOYD3fzu8CCGc0hXZtxPyI1m9jhqtF7M5QXPnZptTespFHrnLMeNIjcQ/s320/gettyimages-1217556748-612x612.jpg


        De repente, encosta um outro moço.

        O ônibus não chegava, deu meia-noite, e este moço olha pro relógio, pros lados, coisa e tal... E o primeiro moço então resolve puxar conversa:

        -- O amigo por acaso tem medo de alma de outro mundo, assombração, essas coisas?

        O moço, com desdém:

        -- Eu não, rapaz. Ocê acha que vou ter medo dessas bobagens de gente morta?

        E o outro responde:

        -- Gozado, eu também quando era vivo num tinha medo, não!

Rolando Boldrin. História de contar o Brasil. São Paulo: Nova Alexandria, 2012.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 48.

Entendendo o causo:

01 – Onde e em que circunstâncias os dois moços se encontram?

      Os dois moços se encontram em um ponto de ônibus em frente ao cemitério da Consolação, na capital. Era uma sexta-feira, e o encontro ocorreu cinco minutos antes da meia-noite, enquanto aguardavam a condução.

02 – Qual é a pergunta que o primeiro moço faz ao segundo para puxar conversa?

      O primeiro moço pergunta ao segundo: "O amigo por acaso tem medo de alma de outro mundo, assombração, essas coisas?".

03 – Como o segundo moço reage à pergunta sobre ter medo de assombração?

      O segundo moço responde com desdém, afirmando: "Eu não, rapaz. Ocê acha que vou ter medo dessas bobagens de gente morta?". Ele demonstra total descrença e falta de medo em relação a fantasmas ou assombrações.

04 – Qual é a frase final do causo e o que ela revela sobre a identidade do primeiro moço?

      A frase final do causo é: "Gozado, eu também quando era vivo num tinha medo, não!". Essa frase revela a verdadeira identidade do primeiro moço: ele é, na verdade, uma assombração ou um espírito de alguém que já morreu, surpreendendo o outro moço e o leitor com a revelação.

05 – Qual é o elemento principal que torna este causo um "causo" e não apenas uma história comum?

      O elemento principal que o torna um "causo" é o seu final inesperado e cômico, conhecido como "punchline". A reviravolta na identidade do primeiro moço, revelada na última fala, transforma uma conversa trivial em uma anedota com um toque de humor e suspense, característica marcante desse gênero narrativo oral.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): MEDITAÇÃO - TOM JOBIM - COM GABARITO

 Música (Atividades): Meditação

             Tom Jobim

Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoM80DQYCPlJGIJ_cTZl2SYN_ksjpH1_U2_h4aQDC-JWhdxYp84o7ZrAejNZCObGfJcB01kjR-yqsOeDWbe9RmJyHWRjwVlYYs3CL6y4gmvHL_Eje5rTboPG84Uebxlqtol4POToGm-pAEYLOwjaRalGy60ZR79FGM8vqk3gUfkNao9ZRfFv_qqW3LNGU/s320/DI03529.jpg


Quem, no coração
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidão
Procurou um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
E a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou.

Composição: Newton Mendonça / Tom Jobim.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 321.

Entendendo a música:

01 – Qual o tema principal abordado na primeira estrofe da música?

      A primeira estrofe aborda a fragilidade e a impermanência do amor, do sorriso e da flor, sugerindo que a crença e a esperança nessas coisas podem levar à perda e à desilusão ("perdeu a paz").

02 – O que acontece com quem abriga a tristeza e busca um caminho na solidão, conforme a segunda estrofe?

      Quem abriga a tristeza e procura um caminho na solidão se torna descrente de um dia feliz, indicando um estado de desilusão e falta de esperança no futuro.

03 – Qual a transformação que ocorre com a dor e a tristeza na terceira estrofe?

      Na terceira estrofe, a dor e a tristeza são superadas. A própria dor se revela como um caminho para o amor, e a tristeza acaba, indicando uma resolução positiva e um reencontro com a felicidade.

04 – A música apresenta uma visão otimista ou pessimista sobre o amor e a felicidade no final? Justifique.

      A música apresenta uma visão otimista no final. Embora reconheça a dor e a perda, conclui que, ao retornar ao amor, ao sorriso e à flor, tudo é reencontrado, e até mesmo a dor pode revelar um caminho para a felicidade.

05 – Qual a mensagem central que Tom Jobim transmite sobre a experiência humana através da canção "Meditação"?

      A mensagem central é que, apesar das desilusões e tristezas inerentes à vida e ao amor, a superação da dor pode levar ao reencontro com a beleza, o amor e a alegria, transformando a experiência negativa em um aprendizado que guia a um estado de paz.