Reportagem: Qual o debate em torno da publicidade feita por youtubers mirins
Para especialistas, falta de delimitação entre propaganda e entretenimento confunde crianças e viola direitos
Camilo Rocha 28 mar. 2018
(atualizado 12 abr. 15h19)
A boneca [...] é um brinquedo que vem
dentro de uma esfera de plástico. Para ter acesso à boneca e aos acessórios que
vêm com ela, é preciso se livrar de várias etapas da embalagem. Fabricada pela
empresa Candide, a boneca [...] representou um marco na indústria de brinquedos
brasileira: é o primeiro produto de sucesso cuja estratégia publicitária não
contemplou a televisão. Sua mídia foram os vídeos gravados por youtubers
crianças e adolescentes. A essa categoria é dado o nome genérico de “youtubers
mirins”.
Pesquisadores também usam as categorias
“mirim” para conteúdo direcionado a crianças entre 2 e 8 anos e “teen” para
material que tem como alvo a faixa etária entre 9 e 12. Incluem canais muito
populares, como o da menina Júlia Silva, de 11 anos, com 3,4 milhões de
inscritos, ou de Felipe Calixto, de 17 anos, e 1,4 milhão de inscritos. Muitos
deles gravam vídeos em que exibem produtos como roupas e brinquedos, falam
sobre marcas e dão dicas de uso. Uma prática comum em vídeos de youtubers é o
chamado “unboxing”, em que se filma a abertura da embalagem de um produto novo,
mostrando em detalhes seus itens e características.
“O modelo de publicidade mudou, a
sociedade se reinventou, os usos e apropriações que se fazem nas plataformas
são diversos.” (Luciana Correa, ESPM Media Lab).
Calixto gravou inúmeros vídeos com a
boneca [...] em que aparece desempacotando vários de seus modelos. Com suas
“camadas” de embalagem, o brinquedo é feito sob medida para esse tipo de vídeo,
como já explicou seu criador, o iraniano-americano Isaac Larian.
“Havia uma época em que você colocava o
brinquedo num comercial de TV e isso vendia o brinquedo”, afirmou Larian à
Forbes em 2017.
“Esses dias se foram.” Especialistas
têm debatido as implicações no público infantil de um conteúdo que promove
marcas e produtos sem regulação, em um ambiente que mistura entretenimento,
informação e publicidade sem limites claros.
“O youtuber mirim é um fenômeno muito
interessante, porque abre espaço para a criança se comunicar, mas por outro
lado, as empresas têm se utilizado dele para fazer merchandising, o que mostra
a falta de ética de muitos anunciantes que se aproveitam da vulnerabilidade
infantil para veicular publicidade”, explicou Pedro Hartung, advogado do
instituto Alana, em entrevista de 2016.
As
crianças no YouTube
Em três anos, a presença de conteúdo
infantil no YouTube cresceu e se multiplicou. Se em 2015, um terço dos 100
canais mais populares era de conteúdo infantil, em 2017 essa proporção passou
para mais da metade. O Media Lab da ESPM (Escola Superior de Propaganda e
Marketing) analisa conteúdo infantil no YouTube desde 2015. Sua pesquisa divide
o material em sete categorias:
·
Minecraft e games: incluindo vídeos de
usuários jogando e vlogs de games.
·
TV: com programação que também pode ser
encontrada na televisão convencional.
·
Não TV: conteúdo com linguagem de desenhos da
TV, mas que não passa na TV convencional.
·
Youtubers teens.
·
Youtubers mirins.
·
Unboxing: vídeo-brincadeiras e programa
(velada ou não) de produtos.
·
Educativo.
[...]
Os youtubers mirins, cujo público-alvo
são crianças de 2 a 8 anos, têm aproximadamente 5,8 bilhões; os youtubers
teens, para público entre 9 e 12, somam 3,5 bilhões. A categoria das
propagandas de brinquedos ultrapassou 6 bilhões de visualizações em 2016.
[...]
Em resposta a e-mail do Nexo, o Google,
responsável pelo YouTube, disse ser uma “plataforma aberta e destinada a
adultos, como está observando em nossos termos de serviço. Seu uso por crianças
deve sempre ser feito num contexto familiar e em companhia de um adulto
responsável”. O texto diz que usuários são responsáveis pelo material que
compartilham e que “marcas e anunciantes devem seguir nossas diretrizes e estar
em conformidade com a legislação brasileira”. Casos de violação que forem
denunciados podem resultar em remoção.
O
que dizem os especialistas
[...]
“Em primeiro lugar vem a publicidade
direcionada ao público infantil que é, na maior parte das vezes, camuflada. A
criança não tem ainda capacidade de discernir o que é propaganda ou não é.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, é um tipo de conteúdo que pode ser
considerado abusivo”, Claudia Almeida, ESPM Media Lab. [...]
ROCHA, Camilo. Qual o
debate em torno da publicidade feita por youtubers mirins. Nexo, São Paulo, 12
abr. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2E77VDS.
Acesso em: 29 set. 2018.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 217-219.
Fonte de imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fgruposwhats.app%2Fgroup%2F43999&psig=AOvVaw3ndO2Qa7QxMu5tJrOmkDC0&ust=1623618730258000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKi9mcCBk_ECFQAAAAAdAAAAABAJ
Entendendo a reportagem:
01 – Que fato originou a reportagem?
Muitos canais de plataforma apresentam produtos e
marcas em vídeos de entretenimento voltados a crianças de forma camuflada.
02 – Releia o título e o subtítulo da reportagem.
a) Explique o questionamento feito no título.
O título evidencia que há uma polêmica envolvendo
youtubers mirins.
b) O subtítulo pode ser uma resposta ao questionamento feito no título? Explique.
Sim. Porque não se questiona o fato de existirem
youtubers mirins, mas de essas crianças estarem no centro da discussão sobre
publicidade infantil camuflada que não delimita o anúncio publicitário do
entretenimento.
03 – Releia o primeiro parágrafo:
a) Você já tinha ouvido falar dessa nova forma de publicidade? Comente.
Resposta pessoal do aluno.
b) Essa estratégia de publicidade pode ser considerada ilegal de acordo com a resolução 163 do Conanda? Por quê?
Fazer publicidade voltada para crianças é ilegal,
mas dessa forma camuflada é mais abusiva ainda, porque a pressiona,
involuntariamente, ao consumo.
04 – Segundo os pesquisadores brasileiros que têm investigado a estratégia
publicitária na plataforma de compartilhamento de vídeos:
a) Como é categorizada a publicidade infantil nessa mídia?
Minecraft e games incluindo vídeos de usuários
jogando e vlogs de games; TV: com programação que também pode ser encontrada na
televisão convencional; Não TV: conteúdo com linguagem de desenhos da TV, mas
que não passa na TV convencional; Youtubers teens; Youtubers mirins; Unboxing:
vídeo-brincadeiras e propaganda (velada ou não) de produtos; Educativo.
b) Qual é o alcance desses anúncios por essa mídia?
Muito grande, pois esses canais têm milhares de
seguidores e tiveram, somente em 2016, mais de 6 bilhões de visualizações.
c) Como são feitos os anúncios das marcas e produtos?
Muitos deles gravam vídeos em que exibem produtos
como roupas e brinquedos, falam sobre marcas e dão dicas de uso.
d) Uma das categorias pesquisadas é o unboxing. Você sabe o que é? Você conhecia esse tipo de anúncio?
A prática de unboxing consiste em filmar a abertura
da embalagem de um produto novo, mostrando em detalhes seus itens e
características. A segunda resposta é pessoal.
05 – Releia as opiniões dos especialistas na reportagem:
a) Qual é a opinião unânime de todos os especialistas sobre essa nova forma de fazer publicidade?
Todos são totalmente contrários a essa prática e a
consideram abusiva, porque engana a criança.
b) Você concorda com alguma dessas opiniões? Qual ou quais? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
06 – Entre as categorias de conteúdo para crianças de até 12 anos na
internet. Responda:
a) Qual delas você ou alguém de sua família já assistiu ou costuma assistir? Comente.
Resposta pessoal do aluno.
b) Você considera que a forma como os produtos são anunciados por esses vídeos estimula o desejo de compra? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
07 – Volte ao texto e releia a resposta dada pela empresa responsável
pela plataforma à reportagem.
a) Na prática, você acha que o uso da plataforma por crianças e adolescentes é feito sob a supervisão de adultos? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
b) Você concorda ou discorda da resposta dada pela empresa? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
c) Em sua opinião, qual é a responsabilidade da plataforma em relação a esse tipo de publicidade?
Resposta pessoal do aluno.
08 – Você discorda ou concorda do argumento de Claudia Almeida: “A
criança não tem capacidade de discernir o que é propaganda ou não é”? Explique.
Resposta pessoal do aluno.