sábado, 29 de maio de 2021

TEXTO JORNALÍSTICO: COM MUITAS ÁREAS NAVEGÁVEIS, BRASIL É IDEAL PARA PASSEIOS DE BARCO - G1 - COM GABARITO

 Texto jornalístico: Com muitas áreas navegáveis, Brasil é ideal para passeios de barco

         País tem oito mil quilômetros de costa e possui o maior número de rios no mundo

16/01/2018 14h09

        Realizar um passeio de barco pode ser um jeito diferente de conhecer boa parte do nosso país. No Brasil são rios e mares a serem navegados. São oito mil quilômetros de costa. É também o país que mais tem rios no mundo.

        Um cenário perfeito para navegar: de barco, chalana, lancha, jangada, veleiro, canoa, caiaque…

        Nosso litoral têm praias paradisíacas, ilhas, e um clima especialmente favorável. Na costa litorânea do Brasil não faltam opções para navegar, boa parte deles estão localizados principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste.

        Separamos 10 passeios de barco pelo Brasil com roteiros onde se pode percorrer navegando ou simplesmente os tradicionais passeios rápidos:

        1 – Arraial do Cabo/RJ

        No estado do Rio de Janeiro, há muitas opções de trajetos. Pode-se subir até Arraial do Cabo, onde o mar calmo do local possibilita a prática de pesca e os famosos mergulhos da região.

        2 – Angra dos Reis/RJ

        Em Ilha Grande, arquipélago de Angra dos Reis, oferece paisagens lindas com opção de tour de um dia, com paradas para mergulho em meio aos peixes coloridos que tomam conta das águas verdes e cristalinas.

        3 – Rio de Janeiro/RJ

        Já no Rio de Janeiro, capital, há o passeio pela belíssima Baía de Guanabara. Nele irá contemplar a melhor vista da cidade maravilhosa.

        4 – Salvador/BA

        A costa baiana é uma das mais exuberantes da costa brasileira. Um dos passeios mais procurados pelos que vão a Salvador é o passeio de escuna que vai até Itaparica, um pequeno vilarejo, no qual moram pouco mais de 40 pessoas, com ruínas da igreja de N. Sra. de Guadalupe, construída no século 17, local de onde se têm uma linda vista da praia. As águas de Itaparica são calmas e cristalinas, além de serem ótimas para o mergulho.

        5 – Morro de São Paulo/BA

        Morro de São Paulo é um dos locais que não pode ficar de fora da rota. O um vilarejo fica em uma ilha paradisíaca onde é proibido a circulação de automóveis. Uma boa opção é a do Encantado, com 2 km de extensão e suas belas piscinas naturais.

        6 – Camamu/BA

        A Ilha da Pedra Furada, na cidade de Camamu também na Bahia, possui este nome devido a uma pedra furada por uma erosão. Para ter acesso a ela é necessário ir de barco ou lancha de Camamu ou de Barra Grande. Independente da escolha no trajeto passa-se por praia lindas.

        7 – Olinda/PE

        Em Olinda, Pernambuco, vai ter a oportunidade de conhecer suas construções históricas e a rica cultura pernambucana como o frevo e o tradicional carnaval de Olinda que tem início no mês de janeiro.

        8 – Maceió/AL

        Ao sul de Pernambuco está o estado de Alagoas. Sua capital, Maceió, é pode-se desfrutar das praias da cidade ou conhecer as praias do Gunga e do Francês, que ficam próximas dali.

        9 – João Pessoa/PA

        João Pessoa, na Paraíba, tem uma boa infraestrutura e praias urbanas. Não deixe de ver o pôr do sol na praia do Jacaré, é imperdível.

        10 – Natal/RN

        E a última dica é de Natal, capital do Rio Grande do Norte, não deixe de conhecer Genipabu, onde as atrações são os passeios de buggy nas dunas. Também não deixe de realizar o tradicional mergulho em Maracajaú, localizada no município de Maxaranguape, a 55 quilômetros de Natal.

Fonte: G1. Com muitas áreas navegáveis, Brasil é ideal para passeios de barco. 16 jan. 2018. Disponível em: https://glo.bo/2DMUmOG. Acesso em: 29 set. 2018.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 142-3.

Entendendo o texto:

01 – De que maneira o texto jornalístico lido “conversa” com os textos da obra As aventuras de Robinson Crusoé vistos no início do capítulo?

      Ambos fazem referência a viagens marítimas.

02 – Observe a linha fina do texto:

        País tem oito mil quilômetros de costa e possui o maior número de rios no mundo”

a)   O período que constitui a linha fina acima é formado por quantas orações?

Por duas orações.

b)   Separe as orações desse período e classifique o sujeito de cada uma delas.

1ª oração: “País tem oito mil quilômetros de costa” – sujeito simples: País.

2ª oração: “e possui o maior número de rios no mundo” – sujeito desinencial: Ele (País).

c)   De que modo a concordância verbal se realiza nas orações dessa linha fina do texto jornalística?

Os verbos que compõem as orações concordam com os sujeitos em número e pessoa.

03 – Indique, entre os trechos reproduzidos a seguir, aqueles que trazem um aposto.

I – Já no Rio de Janeiro, capital, há o passeio pela belíssima Baía de Guanabara.

II – Um cenário perfeito para navegar: de barco, chalana, lancha, jangada, veleiro, canoa, caiaque...

III – Morro de São Paulo é um dos locais que não pode ficar de fora da rota.

IV – No Brasil são rios e mares a serem navegados. São oito mil quilômetros de costa. É também o país que mais tem rios no mundo.

V – Um dos passeios mais procurados pelos que vão a Salvador é o passeio de escuna que vai até Itaparica, um pequeno vilarejo, no qual moram pouco mais de 40 pessoas...

      São as alternativas I, II e V.

04 – Copie os apostos das orações indicadas na questão anterior.

      I – Capital; II – de barco, chalana, lancha, jangada, veleiro, canoa, caiaque...; V – um pequeno vilarejo.

CONTO: O PRÍNCIPE INFELIZ E AS ABÓBORAS DESPREZADAS - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 CONTO: O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas

             Reginaldo Prandi 

        Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás, mas os odus viviam perto do Aiê, o mundo dos humanos.

        Depois da primeira reunião da casa de Ifá, que havia sido tão desastrosa, os príncipes do destino seguiram o caminho para o Aiê.

        Todos menos Obará, que não tinha ido porque seus quinze irmãos se esqueceram de leva-lo.

        Talvez o tivessem esquecido de propósito, uma vez que Obará só falava de coisas ruins, além de ser pobre e não alegrias na vida, o que lhe valera o epíteto de Príncipe Infeliz.

        Cada um levava nas costas a abóbora ganha de Ifá. E como nenhum deles gostava de abóbora, o peso do fruto só lhes dava cansaço e mau humor.  

        Estavam chegando ao seu país e a fome apertava, mas abóbora eles não iam comer, ah! Isso não. Alguém então se deu conta de que estava já bem perto da casa de Obará.

        “Vamos comer na casa de Obará?”, alguém propôs.

        “Alguma coisa melhor que abóbora nosso amado irmão há de ter em sua mesa, assim espero”, completou outro odu.

        Saíram todos correndo para a casa do Príncipe Infeliz, levando cada um sua abóbora nas costas, pois não iam largar na estrada um presente de Ifá, mesmo que não apreciassem nada seu sabor.

        Foram acolhidos com grande alegria por Obará. Obará nunca recebia ninguém, ninguém o visitava.

        Ao contrário, todos o evitavam.

        E de repente, sem nenhum aviso, os seus quinze irmãos entraram em sua casa. Que alegria. Que contentamento!

        “Vejo que vindes de longe, estais cansados”, disse Obará depois de abraçar cada um dos seus irmãos.

        “Imagino que estais famintos.” Ordenou às mulheres da casa que trouxessem água fresca e panos limpos em grande quantidade.

        “Lavai-vos dessa poeira da estrada e depois vamos comer, vamos festejar.”

        Obará era pobre e o que tinha de comida em casa nem daria para alimentar ratos que fuçavam a despensa. Mas a alegria de ter os irmãos em casa era incontida.

        Ordenou à esposa que fosse correndo ao mercado, que tomasse dinheiro emprestado, que pedisse fiado, e que comprasse tudo o que pudesse agradar ao paladar de um príncipe faminto porém exigente.

        Coitado de Obará, ia ficar ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino de Obará, era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.

        E então lá foi a mulher de Obará ao mercado, de onde voltou acompanhada de muitos ajudantes carregados de cabritos, leitões e frangos.

        Traziam também balaios de inhame, feijão e farinha, potes de azeite de dendê, porções de sal, vasilhas de pimenta, postas de peixe e peneiras de camarão, garrafas de vinho, litros de cerveja.

        E o banquete que foi preparado e comida nunca mais seria esquecido por ninguém do lugar. Os príncipes comeram até se fartar, comeram bem como nunca tinham comido antes.

        Terminada a comilança, os odus despediram-se do irmão e prometeram voltar outras vezes, pois comida deliciosa e farta como aquela não havia.

        De barriga cheia como estavam então, não deram conta de levar suas desprezíveis abóboras e as largaram todas abandonadas abarrotando o quintal de Obará.

        Os príncipes partiram e Obará ficou sozinho. Sua mulher limpando os restos da principesca comilança, as abóboras abandonadas abarrotando o quintal, os credores já ameaçando bater à sua porta.

        Quando no dia seguinte todos os mercadores do lugar se recusaram a vender fiado a Obará o que quer que fosse antes que ele pagasse o que devia, faltou de novo comida na mesa de Obará.

        Conformado, ele disse à mulher: “Vamos comer abóbora”.

        Foi até o quintal onde os príncipes abandonaram as abóboras e com a faca partiu uma que lhe parecia bem madura.

        A abóbora estava recheada de pepitas de ouro!

        Obará, boquiaberto, abriu a segunda abóbora: no lugar das sementes, diamantes, enormes. A outra trazia pérolas e a seguinte, esmeraldas. Obará estava enlouquecido.

        Ele gritava, dançava, gargalhava, abraçava a mulher e ia abrindo as abóboras.

        Foi assim que Obará se transformou no mais rico dos príncipes do destino, e ele gosta muito de contar essa sua história.

        Foi assim que Obará se transformou no mais respeitado, invejado e querido de todos os viventes de sua terra, o mais desejado de todos os padrinhos.

        Todos os pais e mães querem que seus filhos tenham Obará para seu odu. Nunca mais ele foi chamado de Príncipe Infeliz.

        Pois o odu Obará é o odu da riqueza inesperada.

        Suas histórias agora falam também de prosperidade, de muito dinheiro e bem-estar material, contam de ganhos, conquistas, vitórias e finais felizes.

        Mas para alcançar tamanho sucesso, além de proteção do padrinho Obará, é preciso ter o coração bom (ou, como dizem alguns, ter o juízo um pouco mole), como tem Obará.

        Foi o próprio Obará que, com muita alegria, contou essa história na segunda reunião com Ifá, tendo sido ajudado pelo príncipe Ejiocô, que enfatizava as passagens mais interessantes. Seus irmãos permaneciam quietos e cabisbaixos enquanto Obará se divertia com a narrativa.

        Mas ao final, quando o banquete foi servido, um grande contentamento voltou a tomar conta de todos na casa celeste de Ifá.

 PRANDI, Reginaldo. Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 103-6.

Entendendo o texto:

01 – Quem são as personagens do texto?

      Obará, sua mulher, os quinze irmãos de Obará, Ifá e Ejiocô.

02 – Identifique a morada de Ifá e dos Odus.

      Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás. Os Odus viviam perto de Aiê, o mundo dos humanos.

03 – Leia outros trechos do livro Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira e responda às questões.

        “Na língua iorubá de nossos dezesseis príncipes havia uma palavra para se referir a eles. Eles eram chamados de odus, que poderíamos traduzir como portadores do destino. Os príncipes odus colecionavam as histórias dos que viveram em tempos passados, sendo cada um deles responsável por um determinado assunto. Assim, o odu chamado Oxé sabia todas as histórias de amor. Odi sabia as histórias que falavam de viagens, negócios e guerras. Ossá sabia tudo a respeito da vida em família e da maternidade. E assim por diante. As histórias falavam de tudo o que acontece na vida das pessoas, de aspectos positivos e negativos, pois tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim.”

a)   As personagens da história “O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas” têm alguma relação com o sagrado ou fazem parte do universo das pessoas comuns, mortais? Justifique sua reposta.

Elas têm relação com o sagrado. Os príncipes do destino pertencem ao universo divino; são portadores do destino das pessoas.

“Há muito tempo, num antigo país da África, dezesseis príncipes negros trabalhavam juntos numa missão da mais alta importância para seu povo, povo que chamamos de ioruba. Seu ofício era colecionar e contar histórias.”

b)   Nesse trecho, que palavras ou expressões localizam o leitor quanto ao tempo e ao espaço da narrativa?

Tempo: “Há muito tempo”. Espaço: “num antigo país da África”.

c)   Essas expressões delimitam um espaço e um tempo precisos, determinados?

Essas expressões apenas localizam a narrativa em um tempo muito antigos, sem determina-los ou especificá-los. Esse recurso dá um caráter de atemporalidade à narrativa.

04 – Qual conflito desencadeou todos os fatos ocorridos com Obará?

      Os irmãos de Obará viajaram carregando abóboras nas costas e, mesmo estando com fome, não queriam comê-las, por não apreciarem seu sabor. Então, resolveram parar na casa de Obará para comer. Esse fato desencadeia o restante da narrativa.

05 – Explique como você caracteriza a atitude dos irmãos de Obará nos parágrafos indicados a seguir.

a)   Parágrafos 3 e 4.

Como uma atitude egoísta, de excluir o irmão.

b)   Parágrafos 6 a 10.

Foram “interesseiros”, pois só resolveram visitar Obará por estarem com fome.

06 – É possível afirmar que a atitude de Obará se opõe à de seus irmãos? Por quê? Localize no texto um trecho que comprove sua resposta e transcreva-o.

      Sim, pois mesmo não tendo sido convidado pelos irmãos para a festa de Ifá, Obará se alegra com a presença deles e se endivida para recebe-los com um banquete. “Obará era pobre [...] príncipe faminto, porém exigente.”

07 – Transcreva, agora, um trecho do texto em que o narrador interrompe o discurso, expõe suas ideias sobre a desgraça de Obará e depois retoma a narrativa.

        O mito é uma narrativa popular da tradição oral que faz parte da história cultural dos povos. Existem mitos que tentam explicar de forma simples e para o povo a criação do mundo; outros, tem como temas as divindades religiosas, o aparecimento do homem etc. Diversos povos acolheram os mitos na tentativa de dar respostas às constantes perguntas que as pessoas levantavam sobre a vida e a existência.

      Coitado de Obará, ia ficar ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino de Obará, era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.

        E então lá foi a mulher de Obará ao mercado, [...].”

 

CONTO: A TERRA DOS MENINOS PELADOS - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Conto: A terra dos meninos pelados – Fragmento.

        Graciliano Ramos

  Havia um menino diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam dele e gritavam:

        — Ó pelado!

        Tanto gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a carvão, nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava; mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos dele. Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o aperreavam demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura.

        Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando.

        Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.

        Um dia em que ele preparava, com areia molhada, a serra de Taquaritu e o rio das Sete Cabeças, ouviu os gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores e sentiu um baque no coração.

        — Quem raspou a cabeça dele? perguntou o moleque do tabuleiro.

        — Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? berrou o italianinho da esquina.

        — Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho. Encolheu-se e fechou o olho direito. Em seguida, foi fechando o olho esquerdo, não enxergou mais a rua. As vozes dos moleques desapareceram, só se ouvia a cantiga das cigarras. Afinal as cigarras se calaram.

        Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto. Sentiu uma grande surpresa ao notar que Tatipirun ficava ali perto de casa. Foi andando na ladeira, mas não precisava subir: enquanto caminhava, o monte ia baixando, baixando, aplanava-se como uma folha de papel. E o caminho, cheio de curvas, estirava-se como uma linha. Depois que ele passava, a ladeira tornava a empinar-se e a estrada se enchia de voltas novamente.

        — Querem ver que isto por aqui já é a serra de Taquaritu? pensou Raimundo.

        — Como é que você sabe? roncou um automóvel perto dele.

        O pequeno voltou-se assustado e quis desviar-se, mas não teve tempo. O automóvel estava ali em cima, pega não pega. Era um carro esquisito: em vez de faróis, tinha dois olhos grandes, um azul, outro preto.

        — Estou frito, suspirou o viajante esmorecendo.

        Mas o automóvel piscou o olho preto e animou-o com um riso grosso de buzina:

        — Deixe de besteira, seu Raimundo. Em Tatipirun nós não atropelamos ninguém.

        Levantou as rodas da frente, armou um salto, passou por cima da cabeça do menino, foi cair cinquenta metros adiante e continuou a rodar fonfonando. Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

        — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?

        — É que sou de fora, gemeu Raimundo envergonhado. Nunca andei por estas bandas. A senhora me desculpe. Na minha terra os indivíduos de sua família têm espinhos.

        — Aqui era assim antigamente, explicou a árvore. Agora os costumes são outros. Hoje em dia, o único sujeito que ainda conserva esses instrumentos perfurantes é o espinheiro-bravo, um tipo selvagem, de maus bofes. Conhece-o?

        — Eu não senhora. Não conheço ninguém por esta zona.

        — É bom não conhecer. Aceita uma laranja?

        — Se a senhora quiser dar, eu aceito.

        A árvore baixou um ramo e entregou ao pirralho uma laranja madura e grande.

        — Muito agradecido, dona Laranjeira. A senhora é uma pessoa direita. Adeus! Tem a bondade de me ensinar o caminho?

        — É esse mesmo. Vá seguindo sempre. Todos os caminhos são certos.

        — Eu queria ver se encontrava os meninos pelados.

        — Encontra. Vá seguindo. Andam por aí.

        — Uns que têm um olho azul e outro preto?

        — Sem dúvida. Toda gente tem um olho azul e outro preto.

        — Pois até logo, dona Laranjeira. Passe bem.

        — Divirta-se. [...]

        Raimundo deixou a serra de Taquaritu e chegou à beira do rio das Sete Cabeças, onde se reuniam os meninos pelados, bem uns quinhentos, alvos e escuros, grandes e pequenos, muito diferentes uns dos outros. Mas todos eram absolutamente calvos, tinham um olho preto e outro azul.

        O viajante rondou por ali uns minutos, receoso de puxar conversa, pensando nos garotos que zombavam dele na rua. Foi-se chegando e sentou-se numa pedra, que se endireitou para recebe-lo. Um rapazinho aproximou-se, examinando-lhe, admirado, a roupa e os sapatos. Todos ali estavam descalços e cobertos de panos brancos, azuis, amarelos, verdes, roxos, cor das nuvens do céu e cor do fundo do mar, inteiramente iguais às teias que as aranhas vermelhas fabricavam.

        — Eu queria saber se isto aqui é o país de Tatipirun, começou Raimundo.

        — Naturalmente, respondeu o outro. Donde vem você?

        Raimundo inventou um nome para a cidade dele que ficou importante:

        — Venho de Cambacará. Muito longe.

        — Já ouvimos falar, declarou o rapaz. Fica além da serra, não é isto?

        — É isso mesmo. Uma terra de gente feia, cabeluda, com olhos de uma cor só. Fiz boa viagem e tive algumas aventuras.

        [...]

        Raimundo deixa o rapazinho para trás, prossegue seu caminho e, em seguida, encontra com um tronco, que lhe diz:

        — Espera aí. Um instante. Quero apresentá-lo à aranha vermelha, amiga velha que me visita sempre. Está aqui, vizinha. Este rapaz é nosso hóspede.

        A aranha vermelha balançou-se no fio, espiando o menino por todos os lados. O fio se estirou até que o bichinho alcançou o chão. Raimundo fez um cumprimento:

        — Boa tarde, dona Aranha. Como vai a senhora?

        — Assim, assim, respondeu a visitante. Perdoe a curiosidade. Por que é que você põe esses troços em cima do corpo?

        — Que troços? A roupa? Pois eu havia de andar nu, dona Aranha? A senhora não está vendo que é impossível?

        — Não é isso, filho de Deus. Esses arreios que você usa são medonhos. Tenho ali umas túnicas no galho onde moro. Muito bonitas. Escolha uma.

        Raimundo chegou-se à árvore próxima e examinou desconfiado uns vestidos feitos daquele tecido que as aranhas vermelhas preparam. Apalpou a fazenda, tentou rasgá-la, chegou-a ao rosto para ver se era transparente. Não era.

        — Eu nem sei se poderei vestir isto, começou hesitando. Não acredito.

        — Que é que você não acredita? perguntou a proprietária da alfaiataria.

        — A senhora me desculpa, cochichou Raimundo. Não acredito que a gente possa vestir roupa de teia de aranha.

        — Que teia de aranha! rosnou o tronco. Isso é seda e da boa. Aceite o presente da moça.

        — Então muito obrigado, gaguejou o pirralho. Vou experimentar.

        Escolheu uma túnica azul, escondeu-se no mato e, passados minutos, tornou a mostrar-se vestido como os habitantes de Tatipirun. Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.

        — Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo. Mas acho que preciso voltar. Preciso estudar a minha lição de geografia.

        Nisto ouviu uma algazarra e viu através dos ramos a população de Tatipirun correndo para ele:

        — Cadê o menino que veio de Cambacará? Eram milhares de criaturas miúdas, de cinco a dez anos, todas cobertas de teias de aranha, descalças, um olho preto e outro azul, as cabeças peladas nuas.

        Não havia pessoas grandes, naturalmente.

        [...]

RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. São Paulo: Record, 1991.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 133-7.

Entendendo o conto:

01 – Como eram fisicamente as pessoas e seres de Tatipirun?

      A maioria dos habitantes se assemelhava ao menino, pois tinha a cabeça pelada e um olho preto e outro azul. Até mesmo o automóvel tinha, no lugar dos faróis, dois olhos parecidos com os do menino e a laranjeira não tinha espinhos.

02 – Identifique e copie o trecho em que Raimundo passa de seu lugar de origem para a terra de Tatipirun.

     Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto.”

03 – Ao chegar àquele novo mundo, Raimundo conhece várias personagens. Como elas agem com o menino? Transcreva um trecho do texto que possa ter como tema uma atitude de gentileza.

      Elas eram dóceis, compreensivas e gentis, ofereciam a ele todo tipo de assistência que contribuísse para o seu bem-estar. Um exemplo disso está no seguinte trecho:

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.”

04 – Releia o que diz a aranha a respeito das roupas de Raimundo:

        “[...] Esses arreios que você usa são medonhos. [...]”.

a)   O que a aranha quis dizer com essa frase?

Que as roupas eram desagradáveis, não eram nada confortáveis; impediam os movimentos do menino e não o deixavam à vontade.

b)   O que a frase revela sobre a maneira como viviam os habitantes da terra visitada pelo menino?

Revela que os habitantes de Tatipirun viviam mais confortavelmente e com maior liberdade e harmonia do que os do lugar de origem de Raimundo.

c)   Raimundo gostou do estilo de vida daquele lugar? Como você chegou a essa resposta?

Sim, ele manifestou várias vezes seu encantamento enquanto ia conversando com os habitantes que encontrava. Exemplo possível: “Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo.”

05 – Releia o diálogo a seguir, retirado do texto:

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

        — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?”

·        Releia a última frase do diálogo e identifique o trecho em que há emprego de linguagem metafórica. Em seguida, explique a metáfora.

A linguagem metafórica é usada no trecho “ninguém usa espinhos”. A metáfora se dá pela comparação entre o espinho, que é algo que machuca, fere, e as atitudes agressivas dos meninos de onde Raimundo morava. Em Tatipirun as pessoas não eram indelicadas umas com as outras, não havia troca de ofensas.

06 – Quais eram as reações dos meninos da rua onde Raimundo morava diante da aparência do garoto? Em sua opinião, por que isso ocorria? 

      A aparência de Raimundo gerava discriminação, gozarão e maus-tratos por parte dos outros meninos. Provavelmente, isso acontecia porque eles não aceitavam o fato de Raimundo ser diferente deles.

07 – E em Tatipirun? De que modo a aparência de Raimundo era encarada pelos habitantes desse lugar?

      Em Tatipirun, a aparência de Raimundo era o motivo de sua identificação com os habitantes do lugar, já que os meninos de lá tinham as mesmas características e ele se sentia acolhido por todos.

08 – Identifique no texto quais personagens estão relacionadas aos universos indicados a seguir:

a)   Ao mundos dos humanos.

Os outros meninos.

b)   Ao universo dos objetos materiais (inanimados que se tornaram animados na história).

O automóvel.

c)   Ao mundo animal.

A aranha.

d)   Ao mundo vegetal.

A laranjeira e o tronco.

09 – De que forma os elementos mágicos estão presentes na terra dos meninos pelados?

      Seres do mundo animal e vegetal e objetos inanimados que adquirem características humanas (agem e conversam com o menino); automóvel, aranha, laranjeira, ladeira; havia discos e vitrolas que giravam no ar, músicas estranhas, túnicas feitas de teia de aranha, cigarras chiando músicas que nunca ninguém ouviu, sombras redondas espalhadas no chão.

10 – Localize no texto e copie um trecho que você considere belo e poético, que lhe chame a atenção pela maneira como o autor seleciona e combina as palavras. Explique por que escolheu esse trecho.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.”.  

 

 

LENDA: PAPA-CAPIM EM LUA DO MEU AMOR - MAURÍCIO DE SOUSA - COM GABARITO

 Lenda: Papa-Capim em Lua do meu amor

              Maurício de Sousa

    

   SOUSA, Maurício de. Papa-Capim em: Lua do meu amor. Chico Bento: grande circo Abobrinha, ed. 92, ago. 2014. P. 47-49.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 108-111.

Entendendo a lenda:

01 – Pela imagem é possível inferir a que flor o texto se refere?

      Sim, trata-se da vitória-régia, planta aquática que é símbolo da Amazônia, com folhas planas que formam um grande disco circular.

02 – Que características da história em quadrinhos nos permite considera-la uma lenda?

      A HQ fornece a explicação para a origem da vitória-régia de modo fantasioso, ou seja, narra o acontecimento misturando elementos reais (a flor, por exemplo) com a imaginação, a fantasia (a transformação da índia em flor).

03 – Releia o quinto quadrinho. “Mas não adiantava! Toda noite, lá estava ela contemplando o objeto do seu amor.” Transcreva do texto do quadrinho:

a)   Um advérbio de lugar.

Lá.

b)   Um adjunto adverbial de tempo.

Toda noite.  

04 – Identifique no sexto quadrinho, “Na sua cabeça, a lua era um lindo guerreiro encantado...” um adjunto adverbial, transcreva-o e indique a circunstância que ele expressa. 

      Na sua cabeça. Indica circunstância de lugar.

05 – Releia os dois últimos quadrinhos: “Tocado por tanto sentimento, Tupã a transformou numa flor linda...” e “... que existe até hoje, enchendo de beleza aquele lugar”!.

a)   A expressão até hoje, no segundo quadrinho, expressa uma circunstância de tempo, modo ou lugar?

Expressa uma circunstância de tempo.

b)   Na oração “... que existe até hoje”, o adjunto adverbial modifica o sentido de um verbo, de um adjetivo ou de um advérbio?

Modifica o sentido do verbo existir.