quarta-feira, 17 de junho de 2020

CONTO: O POMBO ENIGMÁTICO - PAULO MENDES CAMPOS -COM GABARITO

Conto: O POMBO ENIGMÁTICO

                                            Paulo Mendes Campos

        Na inelutável necessidade do amor (era quase primavera) pombo e pomba marcaram um encontro galante quando voavam e revoavam no azul do Rio de Janeiro. Era bem de manhãzinha.

        -- Às quatro em ponto me casarei contigo no mais alto beiral – disse o pombo.

        -- Candelária? – perguntou a noiva.

        -- Do lado norte – respondeu ele.

        Pois, às quatro azul em ponto, a pomba pontualíssima pousava pensativamente no beiral. O pombo? O pombo não.

        A pombinha, que era branca sem exagero, arrulhava, humilhada e ofendida com o atraso, contemplando acima do campanário todas as possibilidades da rosa-dos-ventos. Mas na paisagem do céu voavam só velozes andorinhas garotas porque as andorinhas mais velhas enfileiravam-se nas cornijas, pensando na morte, como gente fina, lá dentro nos dias solenes de missa de réquiem.

        Quatro e dez. Quatro e um quarto. Uma pomba sozinha, à mercê quem sabe de um gavião, lendário mas possível. Sol e sombra. Como custa a passar um quarto de hora para uma noiva que espera o noivo no mais alto beiral. Como a brisa é triste. Como se humilha em revolta a noiva branca.

        Ah, arrulhou de repente a pomba, quando distinguiu, indignada, o pombo que chegava, o pombo que chegava caminhando pelo beiral mais alto, do outro lado, lá onde, um pouco além, gritavam esganadas as gaivotas do mar pardo do mercado. Irônica, perguntou a pomba:

        -- Perdeste a noção do tempo?

        -- Perdão, por Deus, perdão – respondeu o pombo: – Tardo mas ardo. Olha que tarde...

        -- Que tarde? – perguntou a pomba.

        -- Que tarde! Que azul! Que tarde azul!

        -- Mas e eu?! – disse a pomba. – Sozinha aqui em cima!

        -- A tarde era tão bonita – disse o pombo gravemente – a tarde era tão bonita, que era um crime voar, vir voando...

        -- Mas e eu?! Eu?! – queixava-se a pomba.

        -- A tarde era tão bonita – explicou o pombo com doce paciência – que eu vim andando, que eu tinha de vir andando, meu amor.

                                       Paulo Mendes Campos.

Entendendo o conto:

01 – A pomba transfere para o ambiente toda a sua angustia. Copie a frase que revela isso.

      “[...] Como a brisa é triste. Como se humilha em revolta a noiva branca”.

02 – Assinale a palavra que encerra a ideia que melhor se relaciona com a “primavera” em relação ao texto:

a)   Inelutável.

b)   Azul.

c)   Amor.

d)   Necessidade.

03 – O que pode significar a expressão “as quatro azul em ponto”?

      As quatro horas da tarde pontualmente.

04 – Além do efeito da rima, pode se encontrar explicação para a presença de “ardo” no trecho: “Tardo mas ardo. Olha que tarde! ...” seria:

a)   Exprime a força do amor.

b)   Traduz o calor da tarde.

c)   É sinônimo de casar.

d)   É apenas um jogo de palavras com tarde.

05 – “Quatro e dez. Quatro e um quarto” (Frequentemente você é chamado a responder ao célebre “Que horas são”? Assinale, dentre as opções abaixo, a que contém erro:

a)   São quatro e um quarto.

b)   Já deve ser uma e quarenta.

c)   Já é meio-dia e meio.

d)   Faltam quinze para o meio-dia.

06 – “Como custa a passar um quarto de hora para uma noiva que espera o noivo no mais alto beiral. Qual o significado da expressão destacada?

      Significa quinze minutos.

07 – O prefixo “re”, em revoavam traduz uma ideia de repetição. Assinale a única palavra abaixo em que o “re” NÃO denota a mesma ideia:

a)   Regredir.

b)   Rever.

c)   Reler.

d)   Reencontrar.

08 – Em “Perdeste a noção do tempo?” Ocorre um (a):

a)   Trocadilho, juntando as noções de tempo e lugar.

b)   Erro tipográfico, deveria ser “Perdeste a noção do tempo?”

c)   Expressão antiga para dar sabor de ironia à pergunta.

d)   Um engano da pombinha, que trocou a palavra “tempo” por “templo”.

09 – Qual poderia ser a intenção do autor ao dizer que a pombinha contemplava “todas as possibilidades da rosas-dos-ventos”?

      A intenção era dizer que ela olhava para todos os sentidos a procura do pombo.

10 – Na sua opinião, o fato da pombinha não se empolgar com a tarde azul, assim como se empolgou o namorado, significa que ela é menos romântica que ele? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Qual é o tema principal do texto?

      Fala da convivência de um casal e que um atraso causou desentendimento entre eles.

 

 


CONTO: O CAVALO IMAGINÁRIO - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Conto: O CAVALO IMAGINÁRIO

              Moacyr Scliar

        Nós todos frequentávamos o mesmo colégio, naquela pequena cidade do interior. Um colégio privado, e muito caro, o que, para nossos pais, não chegava a ser problema: éramos, meus amigos e eu, filhos de fazendeiros. Nossos pais tinham grandes propriedades. E tinham muito dinheiro. Nada nos faltava. Andávamos sempre muito bem-vestidos, comprávamos o que fosse necessário para o colégio e gastávamos bastante no bar da escola.

        Aos domingos nos reuníamos para andar a cavalo. Cavalos não faltavam nas fazendas de nossos pais, animais de puro-sangue e bela estampa. Cada um de nós tinha a sua própria montaria, e não estou falando de pôneis, aqueles cavalinhos mansos; não, estou falando de cavalos de verdade, cavalos que corriam muito e saltavam obstáculos. Estou falando de equitação, aquele nobre esporte. Nossos pais faziam questão de que fôssemos excelentes ginetes. Tínhamos até um professor, que nos treinava na arte de cavalgar.

        Eu disse que cada um de nós tinha um cavalo, mas isso não é verdade. Havia um que não tinha cavalo. O Francisco.

        O Francisco não era filho de fazendeiro. O pai dele tinha uma profissão humilde, era sapateiro. Na verdade, o Francisco só estava em nossa escola porque havia recebido uma bolsa de estudos – era um garoto muito inteligente e muito dedicado. Mas o que fazia em nosso grupo?

        Boa pergunta. Acho que nenhum de nós saberia como responder. Diferente dos outros garotos da escola – a maioria dos quais nos detestava –, ele tinha por nós uma admiração que beirava a reverência. Sempre que podia estava por perto. Mais do que isso, oferecia-se para prestar pequenos serviços. Se um de nós queria um refrigerante, o Francisco ia buscar. Se um de nós deixava de apresentar o trabalho solicitado pelo professor, Francisco se encarregava de fazê-lo. Por isso, e só por isso, nós o tolerávamos. Por isso, e só por isso, permitíamos que andasse conosco. Durante a semana, bem entendido; porque no domingo as coisas mudavam. No domingo ele voltava para o seu lugar. Domingo era o dia de cavalgar, e, do alto de nossas selas, nós contemplávamos, altaneiros, o mundo a nosso redor. Como eu disse, Francisco não tinha cavalo. Isso não impedia que cedo já estivesse no clube hípico, esperando por nós. Ficava a olhar-nos, enquanto galopávamos de um lado para o outro. E nós gostávamos de tê-lo como plateia, porque nos aplaudia entusiasticamente. Mais do que isso, procurava imitar-nos: galopava de um lado para o outro, como se estivesse montando um cavalo imaginário. Nós na pista, cavalgando – ele, ao lado da pista, trotando de um lado para outro e gritando como nós gritávamos, aqueles brados que os cavaleiros soltam quando se entregam ao esporte das rédeas.

        De um modo geral, achávamos engraçado aquilo. Não Rodrigo.

        Era um cara desagradável, aquele Rodrigo. Mesmo nós, que éramos amigos dele, tínhamos de reconhecer: um garoto intratável, agressivo com os colegas e até com os professores. A má fama que o nosso grupo tinha devia-se sobretudo a ele. Mas a verdade é que tínhamos de aceitá-lo: seu pai não apenas era o maior fazendeiro da região, como também ocupava o cargo de prefeito da cidade. Rodrigo era seu filho caçula – e o mais mimado. Um garoto estragado, como dizia meu pai.

        Rodrigo não gostou nada daquela história. E nos disse:

        – Não quero mais saber desse tal de Francisco nos imitando.

        Procuramos convencê-lo de que se tratava apenas de uma brincadeira. Inútil: Rodrigo estava furioso mesmo.

        – Vou resolver essa coisa à minha maneira – garantiu.

        Foi o que fez. Num domingo, enquanto Francisco cavalgava seu cavalo imaginário, Rodrigo se aproximou dele. Apeou e comandou:

        – Desça de seu cavalo.

        Francisco obedeceu: desceu do fictício cavalo.

        – Nós vamos fazer uma aposta – disse Rodrigo. – Se eu perder, entrego-lhe o meu cavalo. Se você perder, entrega-me o seu.

        – Que aposta é? – indagou Francisco, numa voz trêmula.

        – Uma corrida – disse Rodrigo. Apontou umas árvores, a uns duzentos metros de distância: – Até ali, e voltamos. Quem chegar aqui primeiro, ganha.

        Lembro-me de que o sangue me subiu à cabeça.

        – Olhe aqui, Rodrigo – comecei a dizer –, você não pode –

        Francisco me interrompeu:

        – Eu aceito a aposta – disse, com voz firme, ainda que meio embargada. – Quero correr.

        Foi uma coisa patética de se ver. Os dois se colocaram lado a lado e, a um sinal, começou aquela coisa maluca. Rodrigo simplesmente trotava em seu magnífico cavalo, Francisco corria atrás – sem conseguir alcançá-lo. Rodrigo foi até as árvores, voltou. Minutos depois chegou Francisco, ofegante. Rodrigo mirou-o com arrogância:

        – Parece que eu ganhei, não é mesmo?

        Francisco, ainda ofegante, permanecia calado.

        – Seu cavalo agora é meu – continuou Rodrigo. – E sabe o que vou fazer com ele? Vou soltá-lo no campo. Ele agora está livre, você não pode mais montar, entendeu?

        Francisco, quieto. Rodrigo apanhou as rédeas imaginárias e foi até o portão do clube. Ali, espantou o suposto cavalo aos gritos. Feito isso, montou em seu próprio cavalo e foi embora.

        Francisco nunca mais foi ao clube. Aliás, ele nem ficou na cidade. Segundo o pai, tinha ido morar com os avós num lugar bem distante.

        Nunca mais o vi. Não sei o que foi feito dele. Dizem que vende automóveis, não sei. Mas tenho certeza de que sei com o que sonha: com um belo cavalo, no qual, montado, galopa à vontade por um imenso campo que não tem limites.

                              Boa Companhia – Contos – p.15-18.

Entendendo o conto:

01 – Em relação à estrutura narrativa do conto, qual:

a)   O tempo?

É cronológico, pois é possível determinar quando acontece (infância do narrador). Narrado no passado.

b)   O enredo?

A história se passa em uma cidade do interior, onde um menino humilde e inteligente sonhava em ter um cavalo. Ele também desejava ter amigos e ser aceito por eles, mas o que mais queria era ter seu próprio cavalo. Já que não tinha capacidade financeira para ter um, usava sua criatividade e imaginação para fazer seu próprio cavalo. Andava em seu cavalo imaginário perto de seus “amigos”, como se ele fosse de verdade.

02 – Qual é a tipologia predominante no conto?

a)   Narrativa.

b)   Argumentativa.

c)   Descritiva.

03 – Quais os personagens que fazem parte dessa narrativa?

      Francisco, o grupo de amigos e Rodrigo.

04 – Em que espaços se desenrola a história?

      Os espaços são determinados, mas não são caracterizados muito detalhadamente. São: escola, clube hípico, fazenda, bar da escola e cidadezinha do interior.

05 – Que temas são abordados no conto?

      Os temas são: o preconceito e a discriminação social.


CRÔNICA: A BOLA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: A bola

               Luís Fernando Veríssimo

        O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.

        O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.

        — Como e que liga? — perguntou.

        — Como, como é que liga? Não se liga.

        O garoto procurou dentro do papel de embrulho.

        — Não tem manual de instrução?

        O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros.

        Que os tempos são decididamente outros.

        — Não precisa manual de instrução.

        — O que é que ela faz?

        — Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.

        — O quê?

        — Controla, chuta…

        — Ah, então é uma bola.

        — Claro que é uma bola.

        — Uma bola, bola. Uma bola mesmo.

        — Você pensou que fosse o quê?

        — Nada, não.

        O garoto agradeceu, disse “Legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de bip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente.

        O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.

        O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.

        — Filho, olha.

        O garoto disse “Legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.

Comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Entendendo a crônica:

01 – Que tema é abordado na crônica?

      É a mudança das brincadeiras de antigamente para as atuais.

02 – Quem são os personagens?

      São o pai e o filho.

03 – Qual é a reação do garoto quando ganha o presente?

      O garoto se mostra indiferente com o presente, falando apenas “legal” ao receber a bola do pai.

04 – Como você imagina que o pai se sentiu ao ver a reação do filho?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Neste texto o narrador participa ou só conta a história?

      Ele só cota a história (narrador-observador).

06 – Este texto contém diálogos. Quem é que fala neste texto?

a)   O pai, o filho e a bola.

b)   O pai e o filho.

c)   O pai, o filho, a bola e o narrador.

d)   O narrador e o filho.

07 – O que faz deste texto crônica?

a)   Ele escreve sobre um fato cotidiano (de um pai que dá um presente ao filho), e fala como é legal ganhar uma bola de presente.

b)   Ele escreve sobre um fato cotidiano (de um pai que dá um presente ao filho), e quer que o leitor acredite nele.

c)   Ele escreve sobre um fato cotidiano (de um pai que dá um presente ao filho), e diz como os filhos devem tratar os pais.

d)   Ele escreve sobre um fato cotidiano (de um pai que dá um presente ao filho), mas faz uma reflexão sobre esta situação, expondo o seu ponto de vista e fazendo com que o leitor também reflita sobre o texto.

08 – O que o autor pretende com esse texto?

a)   Que o leitor acredite nele e concorde com tudo que ele disse.

b)   Que o leitor fique sabendo que o pai deu uma bola de presente ao filho.

c)   Que o leitor leia e reflita sobre como as crianças de hoje não brincam mais como antigamente.

d)   Que o leitor fique feliz porque o menino ganhou um presente de seu pai.

09 – Quando o menino desembrulhou a bola ele disse “legal”, mas será mesmo que ele gostou da bola?

a)   Sim, porque se ele não tivesse gostado ele ia falar.

b)   Não, ele só disse “legal” para não magoar o seu pai.

c)   Sim, se ele falou “legal” deve ter sido porque ele gostou muito do presente.

d)   Não, ele não gostou. Ele até pediu para o pai trocar o presente por um videogame.

10 – O termo “legal” indica um tipo de linguagem mais usada por:

a)   Idosos.

b)   Professores.

c)   Crianças.

d)   Cientistas.

 


TEXTO: A ÁRVORE DE BETO - RUTH ROCHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: A árvore de Beto

                                            Ruth Rocha

        Lá na minha rua tem um menino chamado Beto. O Beto é amigo de todo mundo.

        Não é amigo só dos meninos não. Ele é amigo do dono da padaria, seu Júlio... Toda manhã o Beto entrega o pão na nossa rua.

        É amigo do sapateiro, seu Bertoldo... Ele até está aprendendo a consertar sapatos.

        É amigo do seu Nicolau, um velho engraçado, que faz pipocas para a gente. É o Beto quem faz as compras para ele.

        O Beto tinha muita vontade de ter uma árvore de Natal. Era o sonho dele. Uma árvore grande, como a da casa do Caloca. Mas o pai de Beto não podia comprar. Todo ano ele prometia, mas todo ano acontecia alguma coisa e ele nunca podia dar a árvore para Beto.

        Um dia, o Beto teve uma ideia.

        Lá na nossa rua tem um terreno vazio, um terreno baldio. O Beto resolveu plantar uma árvore lá e esperar até que ela crescesse.

        Limpou um pedaço do terreno... Arranjou um pouco de adubo com seu Alexandre, o jardineiro... Comprou uma muda pequenininha de pinheiro... E plantou no terreno.

        Todos os dias, o Beto regava a mudinha dele.

        Revolvia a terra em volta, tirava os galhos secos. Vigiava para não subir formiga. Cuidava da plantinha como se fosse uma gentinha. E a plantinha foi crescendo, forte e bonita.

        Eu não sei quanto tempo o Beto cuidou daquela planta. Foi muito tempo... Até que a árvore de Beto ficou grande, cheia de galhos, uma beleza! Prontinha para virar árvore de Natal.

        Na véspera do Natal, o Beto pediu para seu Nicolau ajudar. Ele ia levar a árvore para casa. Seu Nicolau veio, com um serrote e uma lata.

        -- Pra que este serrote, seu Nicolau? – Beto perguntou.

        -- Ué, é pra serrar a árvore, você não quer pôr a árvore na lata, pra levar pra casa?

        -- Ah, mas assim vai matar a árvore!

        --Bem, é assim que todo mundo faz. Serra o tronco da árvore e enterra numa lata.

        -- Ah, mas isso eu não quero.

        -- Minha árvore deu tanto trabalho... Eu gosto muito dela. Não quero matar; Deus me livre...

        -- Bom, a gente pode desenterrar com cuidado, serrar as raízes...

                     Adaptação: ROCHA, Ruth. A árvore de Beto. São Paulo: Editora FTD, 2004.

Entendendo o texto:

01 – A finalidade do texto que você leu é:

a)   Contar uma história.

b)   Informar sobre um assunto.

c)   Convencer sobre algo.

d)   Emocionar o leitor.


02 – O tipo do texto lido é classificado como:

a)   Argumentativo.

b)   Descritivo.

c)   Narrativo.

d)   Informativo.


03 – Por que Beto queria ter uma árvore forte e bonita?

a)   Para ocupar o terreno baldio que havia na rua.

b)   Para que seu Alexandre pudesse cuidar dela, pois ele era jardineiro.

c)   Para transformá-la em uma árvore de Natal.

d)   Para que seu Nicolau a pusesse em uma lata.


04 – Por que Beto não quis que seu Nicolau serrasse a árvore?

      Porque se serrasse a árvore, ela ia morrer.

05 – O texto possui 19 parágrafos.

06 – No primeiro parágrafo, há uma indicação do lugar onde a história se passa. Retire do texto o trecho em que isso ocorre.

      “Lá na minha rua tem um menino chamado Beto”.

07 – Explique, com suas palavras, o que significa a expressão “terreno baldio”.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – O narrador inicia a 1ª parte do texto dizendo “Lá na minha rua tem um menino chamado Beto. O Beto é amigo de todo mundo.” O trecho destacado revela a opinião do narrador. Em que momento da história fica evidente que Beto tem muitos amigos?

      No momento que o narrador diz que o Beto não é amigo só dos meninos, e sim do dono da padaria, do sapateiro, do seu Nicolau, seu Alexandre.

09 – O que Beto fez para realizar seu sonho?

a)   Comprou uma mudinha de pinheiro e plantou num terreno baldio.

b)   Pediu ao seu pai uma árvore de Natal.

c)   Pediu ao Carlinhos a árvore de Natal da casa dele.

10 – Quais os cuidados que Beto tinha com a mudinha todos os dias?

      Todos os dias, ele regava a mudinha, revolvia a terra em volta, tirava os galhinhos secos. Vigiava para não subir formiga.

 

 


terça-feira, 9 de junho de 2020

CRÔNICA: O LABIRINTO DOS MANUAIS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: O labirinto dos manuais

            Walcyr Carrasco 

      Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto de instruções! Trabalho sempre com um antigo exemplar da Bíblia na mesa. Examinei. O Gênesis, que descreve toda a criação do mundo, ocupa cinquenta páginas. O manual do celular, 49!

        Nas semanas seguintes, tentei abaixar o som da campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em torno saía correndo, pensando que era o alarme de incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi.

        – Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso.

        Teclei. Dali a pouco apaguei vários endereços. Insisti. O aparelho entrou em alguma outra função para a qual não estava habilitado. Finalmente, descobri. Está no vibracall há meses! O único problema é que não consigo botar a campainha de volta!

        Muita gente pensará: “Que asno!”. Tenho argumentos para me defender. Entre meus amigos, fui o primeiro a comprar computador. Era uma tralha, que exigia códigos para tudo. Para achar o cê-cedilha, os dedos da mão tinham de dançar rock pauleira, tantas eram as teclas para apertar de uma só vez. Tinha de formatar os disquetes de memória! Aprendi tudo por mim mesmo.

        Foi a mesma coisa quando adquiri meu videocassete. Instalei e aprendi a gravar. Só sofri na hora de programar pela primeira vez. Agora não consigo mais executar uma simples programação, tantas são as complicações. Pior ainda é o DVD que grava. Com a TV por assinatura, mais os canais abertos, nunca dá certo! Soube de gente que está cobrando para botar músicas em iPod, tal o número de pessoas que naufragam nas instruções. Tenho dois amigos que sonharam com aparelhos de MP3. Cada um conseguiu o seu. Outro dia perguntei a um deles se estava aproveitando.

        – Eu ainda não tive tempo de mexer… – confessou Bob, sem jeito.

        Estou de computador novo. Já veio com o Vista, a última coqueluche da Microsoft. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz?

        Tudo foi criado para simplificar. Mas até o micro-ondas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que possui sua própria tecla. Mas não posso me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse… E o fax com secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens. O atual exige que eu toque em um, depois em outro para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia a luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A secretária disparou todas, desde o início do ano!

        Eu sei que para a garotada que está aí tudo isso parece muito simples. Mas o mundo é para todos, não? Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo!

Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado.

Entendendo a crônica:

01 – Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se concluir corretamente que:

a)   A leitura de obras-primas da literatura é atividade mais produtiva do que utilizar celulares e computadores.

b)   Os manuais cujas diversas instruções os usuários não conseguem compreender e pôr em prática são improdutivos.

c)   A vendedora foi convincente, pois o narrador comprou o celular, embora duvidasse das qualidades prometidas pelo aparelho.

d)   O manual sobre computadores, ao contrário de outros do gênero, cumpria a promessa assumida nos dizeres impressos na capa.


02 – Analise as afirmações sobre trechos do texto e assinale a correta.

a)   Em –  alguns meses, troquei meu celular. –, o verbo haver indica tempo decorrido e pode ser substituído, corretamente, por Fazem.

b)   Em – Virou um labirinto de instruções! –, o termo em destaque foi empregado em sentido figurado, indicando confusão, incompreensibilidade.

c)   Em – Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. –, o termo em destaque expressa a ideia de exclusão.

d)   Em – Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. –, o termo em destaque pode ser substituído, corretamente e sem alteração do sentido do texto, por limitada.


03 – No trecho: “Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo”. Observe que o cronista empregou um pronome para evitar a repetição de palavras. Tendo por referência a gramática normativa, assinale a alternativa em que os pronomes substituem, corretamente, as expressões em destaque no trecho: Tentei ouvir as mensagens. A secretária eletrônica disparou todas as mensagens, desde o início do ano!

a)   Ouvi-las ... disparou-as.

b)   Ouvi-las ... disparou-lhes.

c)   Ouvir-las ... disparou-as.

d)   Ouvir-lhes ... disparou-as.


04 – Entre as características que definem uma crônica, estão presentes no texto de Walcyr Carrasco:

a)   A narração em 3ª pessoa e o uso expressivo da pontuação.

b)   A criação de imagens hiperbólicas e o predomínio do discurso direto.

c)   O emprego de linguagem acessível ao leitor e a abordagem de fatos do cotidiano.

d)   A existência de trechos cômicos e a narrativa restrita ao passado do autor.


05 – A coesão sequencial é responsável por criar as condições para a progressão textual e ocorre por meio de conjunções e articuladores textuais. Indique a relação semântica estabelecida pelo conectivo em destaque, no trecho: “Tudo foi criado para simplificar. Mas até o micro-ondas ficou difícil”.

a)   A expressão “mas” marca uma sequenciação de ideias.

b)   O conectivo “mas” inicia oração que exprime ideia de contraste.

c)   O termo “mas” introduz uma generalização.

d)   O termo “mas” exprime uma justificativa.


06 – Considere as alternativas abaixo sobre o gênero crônica:

I – A linguagem da crônica costuma ser sempre muito rebuscada, marcada pela formalidade.

II – As crônicas são escritas para durar pouco, tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano e, geralmente, estão relacionadas ao contexto em que são produzidas.

III – Entre as características da crônica estão: narrativa curta, linguagem simples e coloquial, poucos personagens, espaço reduzido e acontecimentos urbanos e cotidianos.

IV – Geralmente, as crônicas são produzidas somente para meios de comunicação televisivos.

        Qual (is) está(ão) correta(s)?

a)   Apenas II e III.

b)   Apenas II.

c)   Apenas I e II.

d)   Apenas III e IV.


07 – Sobre as crônicas jornalísticas, está correto afirmar que:

a)   É aquela que contém apenas elementos da narração em sua estrutura, ou seja, que apresenta personagens, tempo, espaço e enredo.

b)   Em geral, tem um enfoque humorístico acerca das cenas e acontecimentos cotidianos.

c)   Mistura fragmentos narrativos, contém fatos do cotidiano e promove-se uma reflexão sobre eles, bem como trechos de reflexão e argumentação sobre o fato narrado.

d)   Uma das marcas das crônicas narrativas e jornalísticas é, em geral, ter um enfoque humorístico acerca das cenas e acontecimentos cotidianos.


08 – Relate o fato cotidiano que serviu de ponto de partida para a crônica “O labirinto dos manuais”.

      O fato foi quando o autor resolveu trocar o seu celular.

09 – Ao ler a crônica e considerar seus conhecimentos sobre as características desse gênero textual, entre todas as peculiaridades da crônica, assinale a alternativa que confere uma característica à crônica lida. Escolha uma:

a)   A utilização de uma linguagem de fácil acesso, além da inserção de fatos do dia-a-dia.

b)   O uso de figuras de linguagem e o predomínio do diálogo indireto.

c)   O uso de uma linguagem recheada de trechos humorísticos e a consideração de fatos do passado dos leitores idosos.

d)   A presença da prosa – poética, que conduz o leitor a reflexões sobre o uso de novos aparelhos celulares.

e)   A narração em 2ª pessoa e o uso irregular da pontuação.


10 – Assinale a opção que apresenta coerência na transposição da voz ativa para a voz passiva analítica.

a)   “Há alguns meses troquei meu celular”. “Trocou-se o celular”.

b)   “Abri o manual, entusiasmado”. “Entusiasmado, o manual seria aberto”.

c)   “Comprei um livro”. “Um livro foi comprado por mim”.

d)   “Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho”. “Duas horas depois, o aparelho ia sendo ruído por mim”.

e)   “A secretária disparou todas as mensagens, desde o início do ano!”. “Todas as mensagens, desde o início do ano, seriam disparadas pela secretária.”