sexta-feira, 19 de julho de 2019

LENDA: A VITÓRIA-RÉGIA - LENDAS BRASILEIRAS - COM GABARITO


LENDA: A VITÓRIA-RÉGIA


    A vitória-régia é uma planta aquática nativa do Amazonas, com enormes e poderosas raízes que ficam submersas. A flor circular, enorme quando adulta, atinge dois metros de diâmetro. Flutuam sobre as águas, suportando em cima delas grandes pesos. Logo que desabrocham as pétalas, são alvas, depois de um verde claro e as bordas vermelhas. A natureza pródiga dotou nosso país com a maior de todas as flores – a vitória-régia.
       Somente a grandiosidade de um rio como o Amazonas poderia servir de berço e cenário a tão grande e encantadora flor. E como tudo que é imenso, que é grandioso, tem uma lenda para explicar sua existência. A vitória-régia tem a sua lenda.
        Era uma vez uma tribo de índios que viviam às margens do grande rio. Nos igarapés silenciosos as cunhãs cantavam e sonhavam seus lindos sonhos de virgens. As cunhãs ficavam horas e horas mirando a beleza da lua branca, o fascinar das estrelas, o céu recamado de constelações.
        O aroma da noite tropical embalava os sonhos. Um dia, Neca-neca, a cunhã mais sonhadora, subiu numa árvore mais alta para ver se pegava a lua. Não conseguiu. Pressurosa com suas companheiras, noutro dia, foram aos montes distantes para tocarem com as mãos a lua, as estrelas. Nada. Quando lá chegaram a lua estava tão distante que voltaram tristonhas para suas malocas, e na rede onde se embalavam, embalaram a desilusão. Ficaram tristes porque, caso tocassem a lua ou as estrelas, tornar-se-iam uma delas.
         Noutra noite, Neca-neca deixou sua rede, muito tristonha, desiludida porque não conseguira apanhar a lua. Eis que olha e vê na água remansosa do lago a lua branca ali refletida. Era uma noite de lua cheia. Lá estava a lua grande, bela, refletida nas águas. Sua imobilidade no lago tranquilo era um convite. A cunhã alegrou-se. Certamente ela veio banhar-se nas águas do lago para que eu pudesse apanhá-la. Veio satisfazer os meus pedidos feitos em pensamento.
        Ela veio. Lança-se sobre as águas profundas, misteriosas e desaparece. Mas a lua apiedou-se da cunhã e transformou-a numa flor – a vitória-régia. É por isso que a vitória-régia tem o mais oloroso dos perfumes. É inebriante. Suas pétalas são estiradas à flor da água para melhor receberem a luz da lua. É por isso que, em noites de lua cheia, as cunhãs, que são vitórias-régias, aparecem no meio da flor que tem um brilho todo especial. Os raios brancos da lua são como véus de noiva a cobrir todas as flores do lago e ofuscam tanto, que mais parecem “estrelas d’água” a disputar o seu brilho com milhares de vagalumes, que povoam a noite tropical.

                                 ARAÚJO, Alceu Maynard. Lendas Brasileiras, São Paulo: Ed. Três, [s.d].

Entendendo a lenda

1)   A lenda nos conta a história sobre uma tribo de índios. Onde viviam?
Na Amazônia.

2)   Além de sonhar perto das águas, o que faziam as moças da tribo durante horas?
Ficavam por horas admirando a lua, as estrelas e toda a constelação.

3)   Qual o nome da moça mais sonhadora? O que fez de especial, de acordo com as informações do início do texto?
O nome da índia é Neca-neca. Ela subiu em uma árvore para tentar pegar a lua.

4)   O que fizeram essa índia e as moças da tribo, em outra ocasião?
Foram aos montes distantes para tocar a lua com as mãos.

5)   Por que queriam tocar a lua?
Porque acreditavam que se tocassem a lua ou as estrelas, passariam a ser uma delas.

6)   A índia ficou triste por não conseguir tocá-la. O que ela pensou, certa noite, ao ver refletida em um lago?
Pensou que a lua resolvera banhar-se nas águas do lago para poder ser pega por ela.

7)   O que fez Neca-neca para alcançar a lua refletida nas águas?
Pulou no lago e afogou-se em suas águas profundas.

8)   Por sentir pena da jovem, o que fez a lua?
Transformou-a em uma flor: a vitória-régia.

9)   Como é a vitória-régia de acordo com a lenda?
Tem um brilho especial, pois suas pétalas são voltadas para a lua. Isso a faz parecer uma “estrela d’água”.

10)              Você já viu uma vitória-régia? Em uma folha, desenhe essa flor como você imagina que ela seja. Ao fazer o desenho, leve em consideração a descrição feita no texto.
Resposta pessoal.






CONTO: CINDERELA - COM QUESTÕES GABARITADAS

CONTO: CINDERELA

       Era uma vez um homem, cuja primeira esposa tinha morrido e que tinha se casado pela segunda vez com a mulher mais orgulhosa e arrogante do mundo. Ela tinha duas filhas que se pareciam em tudo com ela.
       O homem tinha uma filha jovem do seu primeiro casamento. Era uma moça meiga e bondosa. Era parecida com a mãe, que tinha sido a pessoa mais terna do mundo.
       A nova esposa do homem não tolerava as boas qualidades da jovem, pois elas faziam suas filhas parecerem ainda mais detestáveis. Ela mandava a jovem fazer os serviços mais sujos da casa: lavar os pratos, limpar as escadas e lustrar o chão de todos os quartos.
       A moça dormia no sótão, num colchão muito duro, enquanto as duas “irmãs” tinham quartos com chão encerado, dormiam em camas macias e tinham espelhos nos quais se admiravam da cabeça aos pés.
        A pobre moça sofria em silêncio e não se atrevia a queixar-se ao pai. Quando o serviço de casa estava terminado, ela sentava-se junto a lareira nas cinzas.
        As malvadas irmãs achavam esse hábito muito esquisito e lhe deram o nome de Cinderela. Mas embora a pobre moça tivesse que vestir roupas velhas, esfarrapadas e fora de moda, era ainda cem vezes mais bonita que as irmãs com seus vestidos esplêndidos. [...]

            Um tesouro de contas de fadas. Editora DSMax-1994. Estados Unidos por Transedition Limited, Oxford, England – impresso nos EUA por Quebecor. p. 171-2.

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1)   Os contos de fadas geralmente começam por uma expressão. Qual é ela?
“Era uma vez...”

2)   Para que tipo de leitor está voltado um conto de fadas?
     Para crianças, pois são histórias que refletem o mundo infantil e mostram um confronto de elementos que envolvem as noções de bem e de mal.

3)   No primeiro parágrafo há uma caracterização da madrasta. Qual é ela? O que se afirma também sobre suas duas filhas?
A madrasta é retratada como a mulher mais orgulhosa e arrogante do mundo. Segundo o que se afirma, suas filhas se pareciam em tudo com ela.

4)   O conto de fadas, no segundo parágrafo, traz informações sobre a primeira esposa desse homem que tinha uma filha do primeiro casamento. Como mãe e filha são caracterizadas?
A mãe havia sido a pessoa mais terna do mundo e sua filha era uma moça meiga e bondosa.

5)   Qual a diferença, segundo o texto, entre o local em que dormia a enteada e o local em que dormiam suas duas irmãs?
A enteada dormia em um sótão, em um colchão muito duro, enquanto suas duas irmãs dormiam em quartos com o chão encerado, em camas macias e tinham espelhos amplos.

6)   Na sua opinião, por que a moça não contava sobre os maus-tratos a seu pai?
Resposta Pessoal.

7)   Na sua opinião, por que a moça apesar de sempre estar com roupas velhas e esfarrapadas era muito mais bonita que suas irmãs?
Resposta Pessoal.
Sugestão: Porque era a beleza interior da moça que refletia no seu exterior.


quarta-feira, 17 de julho de 2019

POEMA: O ANJO DAS PERNAS TORTAS - VINICIUS DE MORAES - COM GABARITO

poema: O ANJO DAS PERNAS TORTAS
Rio de Janeiro , 1962


A Flávio Porto

A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento. 


Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés - um pé-de-vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: - Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um 1. É pura dança!

MORAES, Vinicius de. O anjo das pernas tortas. In: FERRAZ, Eucanaã; CÍCERO, Antonio. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p.217.

Compreendendo o poema:

O poema apresenta várias palavras com o som “sê”.
1)   Copie do poema as palavras que possuem duas letras representando o som de “sê”.
Passe, pressentimento, uníssono.

2)   Copie as palavras escritas com ç.
Avança, lança, trança, esperança, dança.

3)   Observe que ce e ci não tem cedilha. Copie uma palavra do texto escrita com ce ou ci.
Lance.

4)   Leia o poema em voz alta. Que sentido adquire a escolha de palavras nos finais de alguns versos com o som “sê”?
Resposta pessoal.
Sugestão: Que o som “sê” nas palavras finais de alguns versos serve para rimar e causar ênfase aos lances no jogo de futebol. Primeiro o jogador avança, depois descansa, lança novamente, trança durante o jogo, como era próprio de Garrincha, esperança de que aconteça o gol e, finalmente, dança de alegria.

FÁBULA: O CARACOL E A PITANGA - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

FÁBULA: O CARACOL E A PITANGA
                      MILLÔR FERNANDES


Há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira, subindo e parando e subindo.
Quarenta e oito horas de esforço  tranquilo, de caminhar quase filosófico. De repente, enquanto ele fazia mais um movimento para avançar, desceu pelo tronco, apressadamente, no seu passo fustigado e ágil, uma formiga-maluca, dessas que vão e vêm mais rápidas que coelho de desenho animado. Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol e disse: “Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.” “Vou indo, vou indo.” – respondeu calmamente o caracol. -“quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.”
         Moral: No Brasil não há pressa!

FERNANDES, Millôr. 100 fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Record, 2003. [s.p.].

Interpretação em movimento

1)   Copie as frases retiradas do texto, substituindo os termos em destaque por outros de sentido semelhante:
a)   “Há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira...” subia

b)   “Quarenta e oito horas de esforço tranquilo, de caminhar quase filosófico”. reflexivo

c)   “...desceu pelo tronco, apressadamente, com seu passo fustigado e ágil...” esforçado

d)   “Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol...” brincalhona, com ar de gozação.

2)   A fábula caracteriza-se por ser uma narrativa que traz uma moral. Encontre os elementos básicos da narrativa, respondendo ao que se pede.
a)   Qual é o foco narrativo?
Narrador-observador.

b)   Quem são as personagens?
Caracol e a formiga.

c)   Qual é o tempo e o lugar da narrativa?
Não determinado.

d)   Qual é o fato principal?
Um caracol sobe uma pitangueira e encontra uma formiga.

e)   Escolha frases que apresentem discurso direto.
“Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.”; “Vou indo, vou indo...” e “...quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.”

3)   De acordo com o texto, há quantos dias o caracol estava subindo na árvore?
Estava subindo há dois dias.

4)   Quem ele encontrou, descendo pelo tronco apressadamente?
Uma formiga-maluca.

5)   A que outro elemento, também de natureza ficcional, a formiga foi comparada nessa fábula? Por quê?
A formiga foi comparada a um coelho de desenho animado por sua rapidez.

6)   Por que, segundo o texto, a formiga, ao ver o caracol subindo a pitangueira, olhou-o com uma certa expressão de zombaria? O que ela pediu a ele?
Ela pensou que o caracol queria pitanga, por isso estranhou o fato de ele estar subindo a árvore naquela época. A formiga pediu a ele que voltasse, por ainda não era tempo de pitanga.

7)   O que o caracol respondeu à formiga, justificando sua subida? A resposta do caracol lhe parece estranha? Por quê?
Respondeu que continuaria subindo a árvore porque, até que ele chegasse ao topo, já seria tempo de pitanga. A resposta realmente parece estranha, pois o caracol poderia estar fazendo outras coisas enquanto não fosse tempo de pitanga, em vez de subir tão lentamente.

8)   Entendendo que uma fábula apresenta personagens inanimados, que representam certos tipos de pessoas que se comportam de modo característico, marque a alternativa que melhor responde à seguinte pergunta:
Se o caracol e a formiga representassem dois tipos de trabalhadores, como eles seriam, segundo as indicações do texto?
a)   O caracol seria um funcionário que não tem pressa ou empenho em fazer sua obrigação e vai levando seu trabalho da forma mais ineficiente possível, porque, ao contrário da formiga, não faz questão de demonstrar dinamismo e eficiência, mas só de mostrar que sabe ser esperto.
b)   O caracol seria um funcionário que não se deixa levar pelo estresse e vai trabalhando continuamente, sempre fazendo um pouco por dia, enquanto a formiga é afobada e acaba querendo fazer mais do que o necessário.
c)   A formiga seria uma péssima funcionária, pois não demonstra respeito por outro trabalhador, olhando para ele com ar de zombaria, o que revela pouca ética no convívio profissional.
d)   A formiga, apesar de muito dinâmica, é uma má funcionária, pois acaba confundindo, sem querer, outro funcionário que, com o seu jeito de ser, tenta fazer um bom trabalho.

9)   Todo final de fábula apresenta uma moral, que pretende trazer um ensinamento ou sugerir uma reflexão. Releia a moral dessa fábula de cunho humorístico e explique o que você entendeu, levando em conta que ela se refere a questões que envolvem nosso país especificamente.
Resposta Pessoal.
Sugestão: O que se entende é que no Brasil, segundo a opinião do autor da fábula, não há pressa em resolver os problemas e que os responsáveis por buscar soluções deixam o tempo passar, a exemplo do caracol, sem fazer nada para evitar problemas que são previsíveis, ou mesmo solucionar os já existentes.


CRÔNICA: SFOT POC - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM QUESTÕES GABARITADAS


CRÔNICA: SFOT POC      
                     Luís Fernando Veríssimo

Chamava-se Odacir e desde pequeno, desde que começara a falar, demonstrara uma estranha peculiaridade. Odacir falava como se escreve. Sua primeira palavra não foi apenas “Gugu”. Foi:
— Gu, hífen, gu.
Os pais se entreolharam, atônitos. O menino era um fenômeno. O pediatra não pôde explicar o que era aquilo. Apenas levantou uma dúvida.
           — Não tenho certeza que “gugu” se escreve com hífen. Acho que é uma palavra só, como todas as expressões desse tipo. “Dadá” etc.
           — Da, hífen, dá – disse o bebê, como que para liquidar com todas as dúvidas.
Um dia, a mão veio correndo. Ouvira, do berço, o Odacir chamando:
— Mama sfot poc.
E, quando ela chegou perto:
— Mama sfotoim poc.
Só depois de muito tempo os pais se deram conta. “Sfot Poc” era ponto de exclamação e “sfotoim poc”, ponto de interrogação.
Na escola, tentaram corrigir o menino.
— Odacir!
— Presente sfot poc.
— Vá para a sala da diretora!
— Mas o que foi que eu fiz sfotoim poc.
Com o tempo e as leituras, Odacir foi enriquecendo seu repertório de sons. Quando citava um trecho literário, começava e terminava a citaçao com “spt, spt”. Eram as aspas. Aliás, não dizia nada sem antes prefaciar um “zit”. Era o travessão. Foi para a sua primeira namorada que ele disse certa vez, maravilhado com a própria descoberta:
— Zit Marilda plic (vírgula) você já se deu conta que a gente sempre fala diálogo sfotoim poc.
— O quê?
— Zit nós sfot poc. Tudo que a gente diz é diálogo sfot poc.
— Olhe, Odacir. Você tem que parar de falar desse jeito. Eu gosto de você, mas o pessoal fala que você é meio biruta.
— Zit spt spt biruta spt spt sfotoim poc.
— Viu só? Você não pára de fazer esses ruídos. E ainda por cima, quando diz “sfotoim”, cospe no meu olho.
O namoro acabou. Odacir aceitou o fato filosoficamente, aproveitando para citar o poeta.
— Zit spt spt. Que seja eterno enquanto dure poc poc poc spt spt. Poc poc poc eram as reticências. Odacir era fascinado por palavras. Tornou-se o orador da turma e até hoje o seu discurso de formatura (em Letras) é lembrado na faculdade. Como os colegas conheciam os hábitos de Odacir, mas os pais e os convidados não, cada novo som do Odacir era interpretado, aos cochichos, na platéia:
— Zit meus senhores e minhas senhoras poc poc.
— Poc, poc?
— Dois-pontos.
— Que rapaz estranho…
— A senhora ainda não viu nada…
Quando lia um texto mais extenso, Odacir acompanhava a leitura com o corpo. As pessoas viam, literalmente, o Odacir mudar de parágrafo.
— Mas ele parece que está diminuindo de tamanho!
— Não, não. É que a cada novo parágrafo ele se abaixa um pouco.
Quando chegava ao fim de uma folha, Odacir estava quase no chão. Levantava-se para começar a ler a folha seguinte.
— Colegas sfot poc Mestres sfot poc Pais sfot poc. No limiar de uma era de grandes transformações sociais plic o que nós plic formandos em Letras plic podemos oferecer ao mundo sfotoim poc.
A grande realização de Odacir foi o trema. Para interpretar o trema, Odacir não queria usar poc, poc, que podia ser confundido com dois pontos. Poc plic era ponto e vírgula. Um spt só era apóstrofe. Como seria trema? Odacir inventou um estalo de língua, algo como tlc, tlc. Difícil de fazer e até perigoso. Ainda bem que tinha poucas oportunidades de usar o trema.
Odacir, apesar de formado em Letras, acabou indo trabalhar no escritório de contabilidade do pai. Levava uma vida normal. Lia muito e sua conversa era entrecortada de spt, spts, citações dos seus autores favoritos. Mesmo assim casou-se – na cerimônia, quando Odacir disse “Aceito sfot poc”, o padre foi visto discretamente enxugando um olho – e teve um filho. E qual não foi o seu horror ao ouvir o primeiro som produzido pelo recém-nascido:
— Zzzwwwwuauwwwuauzzz!
— Zit o que é isso sfotoim e sfot poc?
— Parece – disse a mulher, atônita – o som de uma guitarra elétrica.
O filho de Odacir, desde o berço, fazia a própria trilha sonora. Para a tristeza do pai, produzia até efeitos especiais, como câmara de eco. Cresceu sem dizer uma palavra. Até hoje anda por dentro de casa reverberando como um sintetizador eletrônico. É normal e feliz, mas o único som mais ou menos inteligível – pelo menos para seus pais – que faz é “tump tump”, imitando o contrabaixo elétrico.
— Zit meu filho poc poc poc. Meu próprio filho poc poc poc. – diz Odacir.
Poc, poc, poc.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. O analista de Bagé.100. ed. Porto Alegre: L&PM, 1995.p. 48-50.
ENTENDENDO A CRÔNICA

1)   O que existe de interessante no comportamento da personagem principal?
Desde pequeno Odacir tinha um procedimento incomum: transpunha para a fala os sinais de pontuação da escrita.

2)   Retire do texto o que Odacir falava quando queria representar os sinais de pontuação abaixo.
a)   Hífen – hífen
b)   Ponto de exclamação – sfot poc
c)   Ponto de interrogação – sfotoim poc
d)   Aspas – spt spt
e)   Travessão – zit
f)    Vírgula – plic
g)   Reticências – poc poc poc
h)   Dois –pontos – poc poc
i)     Ponto-e-vírgula – poc plic
j)     Apóstrofe – spt

3)   Desde que idade apresentava esse comportamento de falar dessa maneira? Em que lugares e com que pessoas falava dessa forma?
Desde que nasceu. Falava dessa forma com seus familiares, na escola, em seus relacionamentos pessoais; enfim, com todos.

4)   Segundo o texto, qual era a possível explicação para esse comportamento? No que Odacir se formou?
Ele adorava palavras. Formou-se em Letras.

5)   Odacir casou-se e teve um filho. O que o filho fazia de diferente do habitual? Que sentimento isso provocava na personagem principal?
Seu filho só se expressava com sons que lembravam uma guitarra elétrica. Isso causou grande desgosto, pois o filho não usava das quais Odacir gostava tanto.

6)   Em que aspecto reside o tom humorístico dessa crônica?
Na maneira incomum que a personagem principal encontrou para se comunicar.

7)   Na sua opinião é possível, nos dias de hoje, uma pessoa se comunicar como Odacir? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.

TEXTO: SEGREDOS DE CONTO DE FADA - REVISTA JÁ - COM GABARITO

TEXTO: SEGREDOS DE CONTO DE FADA

      Todos nós, em algum momento da infância, vivemos sob os encantos dos contos de fada. O susto, o prazer, o medo, a tristeza, a alegria, enfim, as dezenas de sentimentos expressas no rosto das crianças ao ouvir essas histórias sempre me instigaram. O que eles despertam no imaginário das crianças que tanto as fascina, e por que eles são importantes para elas?

Revista Já. Diário de S.Paulo, n.386, 28 mar.2004. p.23.
Entendendo o artigo:

1)   O texto apresenta os sentimentos da criança quando ouve as histórias dos contos de fada. Quais são esses sentimentos?
Esses sentimentos são: o susto, o prazer, o medo, a tristeza, a alegria.

2)   As palavras que nomeiam esses sentimentos são substantivos concretos ou abstratos?
Esses sentimentos são substantivos abstratos.

3)   Todos esses sentimentos referem-se às crianças. Está expresso se as crianças são meninos ou meninas? Justifique a sua resposta.
Não está expresso se as crianças são meninos ou meninas porque crianças refere-se aos dois gêneros: masculino e feminino. Provavelmente, refere-se, no caso, à ambos.

4)   Como se classifica o substantivo crianças quanto ao gênero: é uniforme ou biforme?
Crianças é um substantivo uniforme que se refere a pessoas; é sobrecomum, pois a sua forma não se altera.

5)   Você percebeu que o texto termina com uma questão: “O que os contos de fada despertam no imaginário das crianças que tanto as fascina, e por que eles são importantes para elas? Que resposta você daria a esta questão?
Resposta Pessoal.
Sugestão: Despertam a imaginação das crianças, fazendo-as sonhar, e auxiliam no desenvolvimento psíquico.