quinta-feira, 6 de junho de 2019

CONTO: ALGUMAS PALAVRAS - ANA MIRANDA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: Algumas palavras
                 
                  Ana Miranda

        Quando o sol se põe, as luzes se apagam e nossos olhos se fecham, somos lançados num outro mundo, o mundo dos sonhos, um reino de absurdos povoados por seres que não conhecemos, onde se passam acontecimentos incontroláveis, alguns líricos, outros bárbaros, hediondos ou depravados, um pouco parecido com o mundo da arte, em que amamos sem amar, matamos sem matar, morremos sem morrer. A nossa percepção nos comprova, nesse momento, que há outros mundos diferentes de nossa “realidade”, poderosos, capazes de mudar nosso comportamento e nos levar a gestos que não compreendemos. A mente humana, mesmo a daquelas pessoas que não se dão conta disso, é uma trama de mundos que se influenciam, numa obsessiva continuidade. Ao raiar da manhã saímos desse lugar obscuro, inconsciente, deixamos que fique adormecido, passamos a ter controle sobre ele, e habitamos um mundo exterior legível, porém inexorável. Assim vivemos um pouco cegos, distantes da inquietação da loucura. Mas quando a noite retorna, somos novamente tragados pelos mundos irreais, parecidos com a morte e com a infância.
        Aprendemos muito cedo a conviver com a angustia noturna. A noite é traiçoeira. Os livros infantis e as babás contam histórias atemorizantes, vivemos entre perpétuas e invisíveis ameaças. Quando pequena, eu tinha receio de ficar acordada, porém sentia ainda mais medo dos sonhos. Guardava na minha lembrança o horror de meu primeiro pesadelo, aos seis, ou sete anos de idade, em que uma sósia caminhava por uma estrada deserta, na minha direção. Tive tanto medo da aproximação da múmia que acordei suada e com o coração palpitante. Eu usava erradamente a palavra sósia, sem saber o significado, pensava que era múmia. Já tinha pavores secretos de encontrar a mim mesma.
        No entanto, logo ao entrar na adolescência, passei a observar os sonhos com interesse literário, e a anotá-los. Não lembro como isso começou, nem os motivos que me levaram a escrevê-los. Talvez precisasse de ajuda, talvez quisesse me livrar de minha assustadora personalidade noturna. Havia alguém no meu interior diferente de quem eu acreditava ser, do que eu conhecia de mim. Sei que foi uma decisão intuitiva, porém mais tarde descobri que essa era uma antiga prática literária, há escritores de sonhos, como o norte-americano Van Dusen; ou o próprio Freud, que anotou e interpretou clássicos da literatura onírica, sonhos seus, como o da garganta de Irma, e sonhos de seus pacientes, como o dos lobos na árvore; ou, ainda, Jung, que tinha um sonho recorrente de portas que davam num laboratório zoológico onde ficava, atrás de uma cortina, a cama de sua mãe, vazia. A literatura é repleta de menções a sonhos, quando não por eles constituída. Há obras literárias escritas por visionários sonhadores, como William Blake, ou Goethe, que, com o Romantismo, rejeitaram o pensamento racionalista em favor do poder criativo da imaginação. Assim, à medida que eu me interessava pela literatura, me interessava pelos sonhos, e quanto mais me envolvia com os sonhos, mais era absorvida pela literatura.
        O sonho é uma espécie de experiência literária. Quando ele acontece, sabemos que nosso corpo está dormindo mas a mente fica acordada. Sentimo-nos imóveis, tomados de uma sensação de impotência, massacrados por questões pequenas que parecem imensas. Os sentidos também estão adormecidos, não temos tato, não ouvimos o que se passa em torno, não percebemos cheiros, nem sabores, e não vemos com os olhos que estão fechados. Mas, incrivelmente, mesmo com os olhos fechados, vemos. Vemos a imaginação, uma ficção alucinada cheia de significados ocultos, que nos desperta sentimentos e lembranças dos sentidos.
        Como não podemos reagir aos sinais do cérebro, usamos a imaginação. Parece simples, mas é um dos mais antigos, subjetivos e profundos mistérios da mente. E como na literatura, a linguagem dos sonhos é o que mais importa.
        O ser humano sempre teve a ânsia de compreender os sonhos, uma proeza que nem a ciência nem a arte conseguem realizar. Soam um pouco pueris as tentativas dos cientistas, com fios e eletrodos medindo as intensidades das ondas do cérebro ou dos rápidos movimentos dos olhos, tentando relacioná-las com os sonhos de uma maneira racional. Parecem um tanto fantásticas as associações feitas por Freud entre os sonhos e os danos emocionais causados, na infância, pelas repressões e distorções do instinto da vida, especialmente o instinto sexual. A interpretação de Artemidoro, em sua fabulosa compilação, Oneirocrítica, que tanta influência teve nas interpretações posteriores, serve mais como um retrato da mentalidade de sua época. E embora Borges costume nos surpreender com a revelação dos significados, suas observações acerca dos sonhos os tornam ainda mais enigmáticos. O sonho é um mundo imperioso. As palavras parecem inadequadas para explica-lo. Talvez fosse preciso se inventar um outro sistema, tão fabuloso quanto o alfabeto o é para a transmissão de pensamento; um sistema mais próximo do ideograma. Tentamos entrar no mundo dos sonhos, relatando-os, e assim percebemos que as palavras não são uma linguagem adequada nem mesmo à anotação onírica, assim como não são adequadas à poesia. Além disso, não é possível escrevermos enquanto dormimos, embora possamos sonhar que estamos escrevendo. Porém o exercício de escrever os sonhos na flagrância, um ato quase irracional, permite se revelar um pouco desse mundo secreto, mesmo sabendo-se que a memória do sonho é apenas uma recriação desse lugar intransponível, o qual não se pode penetrar a não ser pelos valores das metáforas, pela aceitação do absurdo, ou seja, uma libertação da mente.
        Escrevi diversos Cadernos de Sonhos. Eram cadernos, mesmo, de folhas pautadas, presas por um espiral metálico, nas quais eu fazia anotações noturnas, ou matinais, em algumas vezes longos relatos, noutras apenas frases rascunhadas ou simplesmente palavras soltas, telegráficas, que serviam de senha para que, ao despertar, eu pudesse me lembrar do episódio sonhado. Em alguns casos eu desenhava os seres oníricos: pequenos e estranhos animais peludos, felinos com asas, pássaros de fogo, homens com rabo e chifres, mulheres de dentes vermelhos. Com as anotações nos cadernos passei aos poucos a lembrar de sonhos mais distantes, e mais imaginativos. Às vezes de manhã me recordava não de um, mas de uma série deles. Conseguia capturar alguns, por palavras, outros escapuliam. E quanto mais profundos os sonhos, mais misteriosos eram os seres e os acontecimentos.
        Os Cadernos de Sonhos se perderam. Este foi o único que restou. Escrevi-o quando estava grávida de meu filho, durante seu nascimento, e seus primeiros tempos de vida. Eu tinha vinte e um anos.
                                        Caderno de Sonhos. Rio de Janeiro: Dantes, 2000.
Entendendo o conto:

01 – Ao caracterizar os acontecimentos que podem fazer parte de nossos sonhos, a autora lança mão de algumas palavras que nos fazem imaginar muitas coisas.

a)   No caderno, relacione essas palavras aos seus significados:
1 – Líricos.
2 – Bárbaros.
3 – Hediondos.
4 – Depravados.

(1) Sentimentais, sonhadores, apaixonados.
(3) Devassos, corrompidos, pervertidos.
(4) Selvagens, rudes, incultos.
(2) Horrendos, imundos, repulsivos.

b)   Como você imagina que poderiam ser, nos sonhos, acontecimentos “líricos”; “bárbaros”; “hediondos” e “depravados”? Se quiser, parta de seus próprios sonhos para imaginar esses acontecimentos.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O que se quer aqui é que os alunos percebam o alcance das imagens sugeridas pelas palavras trabalhadas.

02 – Leia as frases que aparecem no prefácio do Caderno de Sonhos:
I – “... ou o próprio Freud, que anotou e interpretou clássicos da literatura onírica, sonhos seus, como o da garganta de Irma, e sonhos de seus pacientes, como o dos lobos na árvore [...]”;
II – “Tentamos entrar no mundo dos sonhos, relatando-os, e assim percebemos que as palavras não são uma linguagem adequada nem mesmo à anotação onírica, assim como não são adequadas à poesia.”
III – “Em alguns casos eu desenhava os seres oníricos: pequenos e estranhos animais peludos, felinos com asas, pássaros de fogo, homens com rabo e chifres, mulheres de dentes vermelhos.”

a)   Anote no caderno o que você entende por:
I – Literatura onírica.
Literatura que descreve os sonhos.

II – Anotação onírica.
Anotações dos sonhos.

III – Seres oníricos.
Seres que aparecem nos sonhos.

b)   Escreva um possível significado para “Oneirocrítica”, título do livro escrito pelo autor grego Artemidoro.
Crítica, julgamento ou interpretação dos sonhos.

03 – Para a autora, o mundo dos sonhos tem algo de irrealidade, assim como a arte, a morte e a infância. Você concorda com essa opinião? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Tomando como base a visão que tinha do mundo dos sonhos, a autor conta episódios da infância e da adolescência.
a)   Que relação a autora tinha com seus sonhos durante a infância?
Tinha muito medo de seus próprios sonhos.

b)   E na adolescência?
Superou o medo e passou a anotar o que sonhava.

c)   Pode-se dizer que, quanto aos sonhos, a visão da criança e da adolescente é a mesma? Justifique sua resposta com base no texto.
Não. A autora deixa claro que, quando criança, tinha medo dos próprios sonhos. Ao se tornar adolescente, porém, esse medo se transformou em interesse, tanto que ela começou a anotar seus sonhos, talvez até buscando compreender sua personalidade noturna.

05 – No 3° parágrafo, a autora afirma:
        “Assim, à medida que eu me interessava pela literatura, me interessava pelos sonhos, e quanto mais me envolvia com os sonhos, mais era absorvida pela literatura.”

a)   Transcreva para o caderno, do 3° e do 4° parágrafos, três frases que relacionem diretamente os sonhos com a literatura.
“Sei que foi uma intuitiva, porém mais tarde descobri que essa era uma antiga prática literária, há escritores de sonhos, como o norte-americano Van Dusen...” / “A literatura é repleta de menções a sonhos, quando não por eles constituída.” / “O sonho é uma espécie de experiência literária. São as frases que relacionam diretamente o mundo onírico ao universo literário.”

b)   A partir do que você compreendeu dessas colocações da autora, explique qual seria, para ela, o principal ponto em comum quando se fala de sonhos e de literatura.
Resposta pessoal do aluno.

06 – No 6° parágrafo, a autora afirma: “O sonho é um mundo imperioso”.
a)   Explique o que você entende por essa frase.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O sonho tem um grande poder e domina a mente durante o sono, coo se fosse um imperador, de tal modo que não temos controle sobre ele.

b)   Dos trechos a seguir, copie aqueles em que se mostra a ciência tentando desvendar o mundo dos sonhos.
I – “Soam um pouco pueris as tentativas dos cientistas, com fios e eletrodos medindo as intensidades das ondas do cérebro ou dos rápidos movimentos dos olhos, tentando relacioná-las com os sonhos de uma maneira racional.”
II – “Parecem um tanto fantásticas as associações feitas por Freud entre os sonhos e os danos emocionais causados, na infância, pelas repressões e distorções do instinto da vida, especialmente o instinto sexual.”
III – “Há obras literárias escritas por visionários sonhadores, como William Blake, ou Goethe, que, com o Romantismo, rejeitaram o pensamento racionalista em favor do poder criativo da imaginação.”

07 – A autora declara que costumava anotar seus sonhos utilizando a linguagem verbal.

a)   Para ela, essa linguagem consegue recuperar o universo completo que é um sonho? Explique, justificando a resposta com uma passagem do texto.
Não. Tanto que ela sugere que seria preciso criar um outro sistema para anotar os sonhos, algo que misturasse palavra e imagem, como um ideograma.

b)   Apesar dessa opinião, a autora continuou anotando aquilo que sonhava. De que outra linguagem, além da verbal, ela lançou mão para representar as imagens de seus sonhos?
Do deserto.

08 – No caderno, indique a alternativa que deixa claro por que o texto de Ana Miranda pode ser chamado de “prefácio”:
a)   É uma narrativa na qual a autora recorda seus sonhos de infância, de adolescência e os analisa.
b)   É um texto expositivo no qual a autora explica seus sonhos e pesadelos, fazendo análise sobre eles.
c)   É um texto poético no qual aparecem belas imagens oníricas e descrições criativas de sonhos.
d)   É um texto em que a autora justifica, com o auxilia dos seus conhecimentos oníricos e da narração de alguns de seus sonhos, a publicação do livro.

POEMA: O HÚMUS DO HOMEM NOVO - JUVENAL BUCUANE - COM QUESTÕES GABARITADAS


Poema: O húmus do homem novo
      
        Juvenal Bucuane

Não quero que vejas
nem sintas
a dor que me amargura;
Não quero que vejas
nem vertas
as lágrimas do meu pranto.
Deixa que eu chore
as mágoas e as desilusões;
deixa que eu deambule;
deixa que eu pise
a calidez do chão desta terra
e o regue até com o meu suor;
deixa que me toste
sob este sol inóspito
que me dardeja o lombo sempre arqueado...

Este penar
é o resgate da esperança
que em ti alço!
Este penar
é a certeza do amanhã que vislumbro
na tua ainda incipiente idade!
Não quero que vejas
nem sintas
o meu tormento
ele é o húmus do Homem Novo.

Entendendo o poema:

01 – Observe a frase: “Não quero que vejas nem sintas a dor que me amargura” e responda:

a)   Quem é a pessoa a quem o eu lírico se dirige?
O eu lírico se dirige ao seu filho Cláudio, a quem dedica o poema.

b)   Por que os verbos ver e sentir foram empregados na 2ª pessoa do singular?
Estão na 2ª pessoa do singular porque se referem ao sujeito tu – desinencial –, que é o sujeito das formas verbais vejas e sintas.

02 – Nos versos: “Sob este sol inóspito que me dardeja o lombo sempre arqueado”, os adjetivos inóspito e arqueado referem-se, respectivamente, a sol e lombo.

a)   A que classe de palavras pertencem os vocábulos sol e lombo?
Pertencem à classe dos substantivos.

b)   Explique por que os adjetivos inóspito e arqueado estão no masculino singular.
Eles estão no masculino singular porque concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem: sol e lombo, respectivamente.

03 – O eu lírico descreve o seu sofrimento como uma espécie de desabafo para seu filho. Na sua opinião, o poema traz uma visão negativa ou positiva sobre o futuro? Justifique a sua resposta, destacando um ou mais versos do poema.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O poema traz uma visão positiva sobre o futuro: “O meu tormento / ele é húmus do Homem Novo”.


MENSAGEM ESPÍRITA - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - SOBRE A ALMA - PARA REFLEXÃO


Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos
ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo II
        ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS

SOBRE A ALMA
134 – O que é alma?
      -- Um Espírito encarnado.

134 a) O que era a alma antes de se unir ao corpo?
      -- Espírito.

134 b) As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos? Uma mesma coisa?
      -- Sim, as almas nada mais são que Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que temporariamente revestem um envoltório carnal para purificar-se e instruir-se.

135 – Há, no homem, outra coisa além da alma e do corpo?
      -- Há o laço que une a alma ao corpo.

135 a) Qual é a natureza desse laço?
      -- Semimaterial, ou seja, intermediário entre o Espírito e o corpo. Ele é necessário para que possa haver comunicação entre um e outro. É através desse laço que o Espírito age sobre a matéria, e vice-versa.

      O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:
      1° – O corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
      2° – A alma, Espírito encarnado, da qual o corpo é a morada;
      3° – O princípio intermediário ou períspirito, substância semimaterial, que serve de primeiro envoltório ao Espírito e une a alma e o corpo.
      Tais como, num fruto, a semente, a polpa e a casca.

136 – A alma é independente do princípio vital?
      -- O corpo é apenas o envoltório, como repetimos sem cessar.

136 a) O corpo pode existir sem a alma?
      -- Sim, e, no entanto, assim que o corpo para de viver, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo, ao passo que, depois de ser estabelecida essa união, a morte do corpo rompe os laços que o unem à alma, e a alma o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo sem vida orgânica.

136 b) O que seria o nosso corpo se não tivesse alma?
      -- Uma massa de carne sem inteligência; tudo o que quiserdes, menos um homem.

137 – O mesmo Espírito pode encarnar-se, ao mesmo tempo, em dois corpos diferentes?
      -- Não, o Espírito é indivisível e não pode animar simultaneamente dois seres diferentes. (Ver O Livro dos Médiuns, capitulo VII, Bi-corporeidade e transfiguração).

138 – O que pensar da opinião dos que veem a alma como o princípio da vida material?
      -- É uma questão de uso de palavras; não nos deteremos nisso; começai vós mesmos a vos entender.

139 – Certos Espíritos e, antes deles, alguns filósofos, assim definiram a alma: uma faísca anímica emanada do Grande Todo. Por que essa contradição?
      -- Não há contradição; isso depende da acepção das palavras. Por que não tendes uma palavra para cada coisa?
      A palavra alma é empregada para exprimir coisas muito diferentes. Alguns chamam assim o princípio da vida, nesse sentido, é correto dizer de maneira figurada que: a alma é uma faísca anímica emanada do Grande Todo. Essas últimas palavras referem-se à fonte universal do princípio vital, do qual cada ser absorve uma porção, que retorna ao todo após a morte. Essa ideia não inclui absolutamente a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva a sua individualidade. É a esse ser que se chama igualmente de alma, e é nesse sentido que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado. Ao fornecer diferentes definições de alma, os Espíritos falaram de acordo com a aplicação que davam à palavra e segundo as ideias terrenas de que ainda estavam mais ou menos imbuídos. Isso decorre da insuficiência da linguagem humana, que não dispõe de uma palavra para cada ideia, daí a origem de tantos equívocos e discussões: eis porque os Espíritos superiores dizem que devemos primeiramente nos entender quanto ao uso das palavras.

140 – O que pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quanto são os músculos, comandando, dessa forma, cada uma das funções do corpo?
      -- Isso também depende do sentido que se atribui à palavra alma: se o que se entende por isso é o fluido vital, essa teoria está com a razão; se o que se entende por alma é o Espírito encarnado, está equivocada. Já dissemos que o Espírito é indivisível; ele transmite o movimento aos órgãos através do fluido intermediário, sem, para isso, dividir-se.

140- a) Entretanto, foram os Espíritos que deram essa definição.
      -- Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa.
      A alma age por intermediário dos órgãos, e os órgãos são animados pelo fluido vital que se reparte entre eles, e mais abundantemente nos que são os centros ou os focos de movimento. Mas essa explicação não pode ser aplicada à alma enquanto Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa após a morte.

141 – Há algo de verdadeiro na opinião daqueles que pensam que a alma é externa e que envolve o corpo?
      -- A alma não está trancada no corpo como o pássaro numa gaiola; ela brilha e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro ou o som em torno de um centro sonoro. Assim, pode-se dizer que ela é exterior, mas nem por isso é o envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios: um sutil e leve, o primeiro, que chamamos períspirito; o outro grosseiro, material e pesado, que é o corpo. A alma é o centro de todos esses envoltórios, como o germe dentro do caroço; já o dissemos.

142 – O que dizer dessa outra teoria segundo a qual a alma, numa criança, se completa a cada período da vida?
      -- O Espírito é apenas um, e está por inteiro tanto na criança como no adulto; são os órgãos ou instrumentos de manifestações da alma que se desenvolvem e se completam. Pensar assim ainda é tomar o efeito pela causa.

143 – Por que todos os Espíritos não definem a alma de uma mesma maneira?
      -- Todos os Espíritos não são igualmente esclarecidos sobre esses assuntos; há Espíritos ainda limitados, que não compreendem as coisas abstratas, como as crianças entre vós. Há também Espíritos pseudo-sábios, que fazem malabarismos com as palavras para impor-se, como também ocorre entre vós. Além disso, mesmo os espíritos esclarecidos podem expressar-se em termos diferentes, que, no fundo, têm um mesmo valor, sobretudo quando se trata de coisas que vossa linguagem é incapaz de expressar claramente. São necessárias figuras e comparações que vós tomais pela realidade.

144 – O que se deve entender por alma no mundo?
      -- É o princípio universal da vida e da inteligência, do qual nascem as individualidades. Mas aqueles que utilizam essas palavras muitas vezes não se entendem entre si. A palavra alma é tão flexível que cada um a interpreta segundo suas fantasias. Algumas vezes, atribui-se inclusive uma alma à Terra. É preciso entender essa palavra como o conjunto de Espíritos devotados que dirigem vossas ações para o bom caminho quando vós os escutais, e que, de alguma forma, são os tenentes e Deus junto a vosso globo.

145 – Como tantos filósofos antigos e modernos podem ter discutido longamente sobre a ciência psicológica, sem chegar à verdade?
      -- Esses homens foram os precursores da doutrina espírita eterna; prepararam o caminho. Eram homens, e podem ter-se enganado, pois tomaram suas próprias ideias por verdades. Porém, os próprios erros que cometeram servem para ressaltar a verdade, mostrando os prós e os contras de suas ideias. Além disso, entre esses erros encontram-se grades verdades, que um estudo comparativo tornará compreensível.

146 – A alma tem uma sede determinada e circunscrita no corpo?
      -- Não, mas se encontra mais particularmente na cabeça dos grandes gênios e de todos os que pensam muito, e no coração daqueles que têm grande sensibilidade e que dedicam suas ações à humanidade.

146 – a) Que pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
      -- É dizer que o Espírito habita mais especificamente essa parte de seu organismo, pois para ali convergem todas as sensações. Aqueles que a situam no que consideram o centro da vitalidade, confundem-na com o fluido ou o princípio vital. Todavia, pode-se dizer que a sede da alma se encontra, mais particularmente, nos órgãos que servem às manifestações intelectuais e morais.

TEXTO: VIAGEM A LILIPUTE -(FRAGMENTO) - JONATHAN SWIFT - COM GABARITO


Texto: Viagem a Lilipute – Fragmento.
               
                      Jonathan Swift

        Gulliver era um médico inglês que adora viagens e aventuras. Como sua clientela era pequena e ele vivia em dificuldade financeira, aceitou o convite para ser o médico da tripulação do navio Antílope. Assim, embarcou para as Índias, em 1699. A viagem, no início, transcorreu bem. Porém, perto das Índias Orientais, uma violenta tempestade atingiu o navio, e a tripulação lançou-se ao mar em pequenos barcos. Gulliver estava num deles com alguns companheiros, mas, depois de algumas horas remando, foi lançado ao mar por uma enorme onda que virou a embarcação. Só restava nadar...
        [...]
        Depois do susto inicial, Gulliver aos poucos ganha a confiança dos habitantes e do rei de Lilipute. Assim, recebe roupas novas, um lugar para dormir e começa a participar de festividades, tornando-se um amigo fiel do rei. Mas Lilipute tem um inimigo, Blefusco, um país vizinho cujo monarca vivia querendo invadir Mildendo, capital de Lilipute, por este ser um país mais rico e desenvolvido.
        [...]
        O serviço de espionagem de Sua Majestade trouxe a notícia de que poderosa frota estava ancorada no porto de Blefusco e dentro de poucos dias invadiria Lilipute. Fui chamado ao palácio e o imperador me deu ordem de impedir a qualquer preço o desembarque das tropas inimigas em Mildendo.
        “Descansei algumas horas à beira da estrada e entrei no canal. Nos trechos mais profundos tive que nadar, mas fiz a pé a maior parte do trajeto e quando cheguei a Blefusco, na enseada onde foi construída a capital, assisti a um belíssimo espetáculo: cinqüenta navios de guerra se exercitavam em manobras de combate. Para que não me vissem, fiquei sentado dentro da água e procurei não fazer movimentos que denunciassem minha presença. Mas foi inútil. Um dos navios da frota abandonou a formação e saiu em minha perseguição. Do convés centenas de marinheiros começaram a disparar suas setas e a acionar pequenos canhões, carregados de minúsculas lanças. Daí a pouco, quase todos os navios me atacavam e fui atingido no peito e nos braços. Rapidamente me levantei, mas, mesmo assim, algumas setas me feriram o rosto. Com receio de que me vazassem o olho, voltei correndo para Lilipute, nadando com a maior velocidade possível nos trechos onde o canal era mais profundo.
        Em Mildendo contei ao imperador o que se passava e pedi-lhe que mandasse fabricar cabos metálicos, semelhantes aos usados na minha captura, e pequenos ganchos de ferro.
        Uma semana depois recebi os cabos e ganchos e parti para Blefusco, disposto a evitar surpresas desagradáveis.
        Segui lentamente pelo canal até chegar bem perto da capital inimiga. A frota estava ancorada ao longo da enseada. Aproximei-me, tirei do bolso o canivete e cortei as amarras que prendiam os navios a terra. Amarrei-os depois uns aos outros e os reboquei, utilizando os ganchos que trouxera.
        Em desespero, oficiais e marinheiros se jogavam às ondas. Os mais afoitos, porém, não abandonaram os navios e atiravam em minha direção com todas as armas disponíveis. Mas dessa vez eu levava meus óculos e não havia perigo de ser ferido nos olhos. Agi tranquilamente e saí devagar pelo canal, rumo a Lilipute.
        Quando cheguei a Mildendo, o imperador e os ministros me esperavam na praia. Ficaram satisfeitos com minha proeza e me deram o título de nardaque – a mais alta distinção concedida a um estrangeiro, em tempos de paz ou de guerra.
        Ouvi discurso de vários ministros e o próprio imperador, em rápidas palavras, agradeceu em nome do povo o que eu fizera por Lilipute. Terminando, pediu-me que voltasse a Blefusco, aprisionasse toda a população, trouxesse para Mildendo os navios de guerra e de transporte, porventura ainda ancorados no porto, e matasse todos os políticos liliputianos asilados em Blefusco.
        [...].
        Recebi os abraços, homenagens e discursos em silêncio. Quando a festa acabou, disse ao imperador que não podia, infelizmente, cumprir suas ordens, pois, embora estivesse sempre à disposição da Coroa para ajudar Lilipute, jamais poderia servir de instrumento para oprimir um povo corajoso como o de Blefusco. E deixei claro que não pretendia envolver-me em questões políticas, nem assassinar exilados.”

      Jonathan Swift. Viagem de Gulliver. Texto em Português de Esdras Nascimento.
16ª ed. Rio de Janeiro. Ediouro.2001. p.9-12.
Entendendo o texto:

01 – Viagens de Gulliver é uma narrativa de aventura. O que diferencia uma narrativa de aventura de outras narrativas em geral? Justifique sua resposta, com elementos do texto.
      As narrativas de aventuras contém necessariamente situações de aventura (por mar, terra ou ar) e descrições dos lugares e paisagens. No texto lido há a viagem no mar, a chegada a lilipute e a descrição de como era o lugar e como vivia seu povo.

02 – Entre Lilipute e Blefusco havia uma disputa. Tomando como base o texto, explique: Qual era o motivo dessa disputa? Justifique sua resposta.
       O motivo era econômico e político. Blefusco queria tomar a capital de lilipute por este ser um país rico e desenvolvido. Além disso, dominar lilipute daria maior poder político ao rei de blefusco.

03 – Gulliver, aos poucos ganha confiança do povo e do rei de Lilipute. Por conquistar a confiança desses habitantes, praticamente tornou-se um membro da comunidade. Ao iniciar o conflito entre Blefusco e Lilipute, ele atendeu ao pedido do rei de impedir o desembarque do povo inimigo, mas não atendeu ao segundo pedido: prender a população, trazer navios de guerra e de transporte e assassinar exilados.
a)   Gulliver atendeu ao primeiro pedido e não ao segundo. Houve coerência em sua decisão? Justifique sua resposta.
      Sim. Ele atendeu ao primeiro pedido do rei para impedir o ataque dos soldados de blefusco e não atendeu ao segundo pedido para evitar a violência e a guerra.

b)   A decisão de Gulliver revela um pouco da sua personalidade. Que característica de seu caráter demonstra diante tal atitude?
       A decisão de Gulliver demonstra que ele é um homem bom e pacífico.

04 – Jonathan Swift escreveu uma história de aventuras que, além de divertir, indiretamente fazia crítica a seu próprio país, a Inglaterra, e a outros países europeus do século XVIII. Supondo que Lilipute represente a Inglaterra e outros países da época, qual seria a crítica que o autor buscou fazer com a obra?
       O que Jonathan Swift criticava era a ganância, o egoísmo, a crueldade; enfim, os interesses que levam os países à guerra.

05 – Observe os verbos e os pronomes relacionados ao narrador empregados na parte do texto narrada por Gulliver e responda:
a)   Em que pessoa eles estão?
         Tantos os verbos como os pronomes estão na 1ª pessoa.

b)   Como é classificado esse tipo de narrador? Justifique sua resposta.
É narrador-personagem, porque ele narra e ao mesmo tempo participa da história.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

MÚSICA: CORSÁRIO - JOÃO BOSCO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Música: Corsário
                               João Bosco

Meu coração tropical está coberto de neve, mas
Ferve em seu cofre gelado
E à voz vibra e a mão escreve mar
Bendita lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves
Que mancham o silêncio e o cais
Roserais, Nova Granada de Espanha
Por você, eu, teu corsário preso
Vou partir a geleira azul da solidão
E buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar, procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas
Mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Com as garrafas de náufragos
E as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha
E as rosas partindo o ar
Iela, iela, iela, iela la la la.

                                         Composição: Aldir Blanc / João Bosco.

 Entendendo a canção:

01 – Qual é o tema da canção?
      O eu lírico canta aquilo que está encoberto por certa frieza.

02 – Quem é / são a / as personagens da canção?
      O eu lírico e os acontecimentos dos anos 70 no Brasil.

03 – No verso: “meu coração tropical está coberto de neve, mas...”. O que o eu lírico quis dizer?
      Um país tropical dominado pelos militares, na década de 70.

04 – Em que versos pode estar ligada à época e que vários cantores, atores, jornalistas e pessoas de diversas áreas foram considerados pelo governo ameaça a segurança nacional?
      Nos versos: “Ferve em seu cofre gelado / E à voz vibra e a mão escreve mar”.

05 – De que lugar o eu lírico diz nestes versos: “Roserais, Nova Granada de Espanha / Por você, eu, teu corsário preso / Vou partir a geleira azul da solidão.”
      Foi o local onde Simão Bolivar, no início do século XX se refugiou e convocou um pequeno exército a lutar pela liberdade dos países da América do Sul.

06 – Por que esta canção tem muito haver como imaginário?
      Porque é um conjunto de metáforas repleta de símbolos e representações.

07 – Quem é o corsário?
      É o sujeito armado de solidão e calor. Ele parte com seu canto (suas palavras-mar e sua melodia), o gelo (a automatização). Cotidiano: confortável e cômoda e, por isso, sedutor e prisioneira.