terça-feira, 24 de outubro de 2017

CONTO: SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

CONTO: SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA
                 João Guimarães Rosa


  Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m.
        As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia trazer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum.
        A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que pontas se empinava. O borco bojudo do telhadilho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse imaginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém. Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.
        O agente da estação apareceu, fardado de amarelo, com o livro de capa preta e as bandeirinhas verde e vermelha debaixo do braço. – “Vai ver se botaram água fresca no carro...” – ele mandou. Depois, o guarda-freios andou mexendo nas mangueiras de engate. Alguém deu aviso: --- “Eles vêm! ...” Apontavam, da Rua de Baixo, onde morava Sorôco. Ele era um homenzão, brutalhudo de corpo, com a cara grande, uma barba, fiosa, encardida em amarelo, e uns pés, com alpercatas: as crianças tomavam medo dele; mais, da voz, que era quase pouca, grossa, que em seguida se afinava. Vinham vindo, com o trazer da comitiva.
        Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.
        Sorôco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta do Sorôco – para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele respondia: --- “Deus vos pague essa despesa ...”.
        O que os outros se diziam: que Sorôco tinha tido muita paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alívio. Isso não tinha cura, elas não iam voltar, nunca mais. De antes, Sorôco aguentara de repassar tantas desgraças, de morar com as duas, pelejava. Saí, com os anos, elas pioraram, ele não dava mais conta, teve de chamar ajuda, que foi preciso. Tiveram que olhar em socorro dele, determinar de dar as providências, de mercê. Quem pagava tudo era o Governo, que tinha mandado o carro. Por forma que, por força disso, agora iam remir com as duas, em hospícios. O se seguir.
        De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi se sentar no degrau da escadinha do carro. – “Ela não faz nada, seo Agente...” – a voz de Sorôco estava muito branda: --- “Ela não acode, quando a gente chama...” A moça, aí, tornou a cantar, virada para o povo, o ao ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outrora grandezas, impossíveis. Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo – um amor extremoso. E, principiando baixinho, mas depois puxando pela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da outra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam junto, não paravam de cantar.
        Aí que já estava chegando a horinha do trem, tinham de dar fim aos aprestes, fazer as duas entrar para o carro de janelas enxequetadas de grades. Assim, num consumiço, sem despedida nenhuma, que elas nem haviam de poder entender. Nessa diligência, os que iam com elas, por bem-fazer, na viagem comprida, eram o Nenêgo, despachado e animoso, e o José Abençoado, pessoa de muita cautel, estes serviam para ter mão nelas, em toda juntura. E subiam também no carro uns rapazinhos, carregando as trouxas e malas, e as coisas de comer, muitas, que não iam fazer minguá, os embrulhos de pão. Por derradeiro, o Nenêgo ainda se apareceu na plataforma, para os gestos de que tudo ia em ordem. Elas não haviam de dar trabalhos.
        Agora, mesmo, a gente acorçoo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois.
        Sorôco.
        Tomara aquilo se acabasse. O trem chegando, a máquina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de sempre.
        Sorôco não esperou tudo se sumir. Nem olhou. Só ficou de chapéu na mão, mais de barba quadrada, surdo – o que nele mais espantava. O triste do homem, lá, decretado, embargando-se de poder falar algumas suas palavras. Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemploso. E lhe falavam: --- “O mundo está dessa forma...” Todos, no arregalado respeito, tinham as vistas neblinadas. De repente, todos gostavm demais de Sorôco.
        Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, para ir-s’embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.
        Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido – ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si – e era a cantiga, mesma, de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.
        A gente se esfriou, se afundou – um instantâneo. A gente... E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó de Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos caminhando com ele, Sorôco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam, ninguém deixasse de cantar. Foi um caso sem comparação.
        A gente estava agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga.

                                         João Guimarães Rosa. Primeiras estórias.
                                    Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005, p. 61-4.
Atrelado: preso.
Esplanada: terreno plano e descoberto.
Porfiar: discutir, debater.
Borco: parte externa do que está de barriga para baixo.
Chusma: multidão.
Enfunado: inchado, cheio de.
Fichu: lenço de cabeça e ombros.
Reluzência: brilho.
Vigorar: ter sentido.
Acorçoo: alento.
Alteado: levantado, soerguido.
Animoso: corajoso.
Aprestes: aprontamentos; provisões.
Atalhado: reportado.
Avocar: chamar a si a responsabilidade, o direito.
Chirimia: palavras desconexas.
Diligência: providência; medida.
Enxequetado: enxadrezado.
Juntura: circunstância.
Jurisprudência: conjunto de leis.
Mercê: favor; beneficio; benevolência.
Remir: resgatar.
Reportado: moderado, prudente, cauteloso.
Decretado: parado.
Embargado: reprimido, contido.


Interpretação do texto:
1 – Por que as duas mulheres estavam sendo levadas para Barbacena?
      Para serem internadas em um hospital psiquiátrico (hospício).

2 – Na opinião do povo, a partida dessas mulheres representava um alívio para Sorôco. Por quê?
      Sorôco não tinha mais condição de cuidar das duas sozinho, precisa sempre recorrer ao auxílio de outras pessoas.

3 – Quando ambas as mulheres começam a cantar, fica evidente o desequilíbrio entre os dois grupos de personagens: essas mulheres e as demais pessoas. Mesmo a partida do trem não resolve o mal-estar. Como o equilíbrio é reestabelecido no conto, em sua opinião?
      Após a partida do trem, Sorôco, na volta para casa, começa a cantar a cantiga das duas mulheres e a comunidade também. Ou seja, as personagens recuperam o equilíbrio à medida que aderem à manifestação de loucura das mulheres.

4 – Através da cantiga, as duas mulheres exteriorizavam seus sentimentos. Caracterize, com suas palavras, o teor dessa cantiga.
      A grosso modo, a cantiga expressava as adversidades da vida das mulheres.

5 – Que efeito o trecho “[...] não se conhecia dele o parente nenhum [...]” provoca na construção da figura de Sorôco?
      Em nossa leitura, a informação acentua a dramaticidade da partida das duas mulheres, a solidão de Sorôco.

6 – A cantiga, de início, é a expressão da loucura das mulheres. No final, assume outra função no conto. Qual?
      A cantiga permite a manifestação da solidariedade do povo a Sorôco.

7 – Copie em seu caderno palavras ou expressões do texto equivalentes a:
      a – Aglomeração de pessoas;
      “De ajuntamento”.

      b – O povo procurava jeito;
      “O povo caçava jeito”.

      c – Olhar fixamente;
      “Afirmar as vistas”.

      d – Meneava a cabeça.
      “Batia com a cabeça”.


TEMAS POSSÍVEIS DE REDAÇÃO PARA O ENEM

TEMAS POSSÍVEIS  DE REDAÇÃO PARA O ENEM 


1. Destino do lixo no Brasil
Não é de agora que existe uma preocupação dos gestores públicos, dos empresários, dos ambientalistas e da sociedade geral no que diz respeito ao destino do lixo no nosso país, já que sofremos muito com questões relacionadas ao lixo: sujeira nas ruas, poluição de rios e mares, descarte inapropriado de lixo hospital, falta de coleta seletiva, reciclagem pouco eficiente etc. Esta problemática pode causar danos à saúde e ao meio ambiente (por meio da contaminação do solo e dos lençóis freáticos).


2. Os casos da mobilidade urbana
O Brasil enfrenta muitos problemas em relação a mobilidade urbana de seus cidadãos. Por sermos um país de dimensões continentais, escoar a produção agrícola, agropecuária e de todos os ramos industriais nunca foi uma tarefa de fácil logística para nós que, particularmente, priorizamos o transporte rodoviário em detrimento do ferroviário e do fluviário e ainda fez isso mal, já que há rodovias praticamente intransitáveis, principalmente no Norte e no Nordeste do Brasil, enquanto há uma extensa malha ferroviária desperdiçada. Além disso, dentro das próprias cidades as pessoas enfrentam problemas graves, como transportes públicos caros, sem conforto ou segurança, que atrasam, que quebram e que, assim, não oferecem um bom serviço. Atualmente, com a popularização dos aplicativos de transporte como o Uber, vemos uma verdadeira guerra entre taxistas e motoristas deUber pelos clientes.


3. Desafios da saúde pública brasileira
Diferentes dos Estados Unidos, no qual não há um sistema público de saúde, o Brasil possui o SUS (Sistema Único de Saúde) que tem como objetivo oferecer tratamentos médicos a todos os cidadãos brasileiros, porém ele apresenta, há anos, inúmeras deficiências: longas filas de espera por consultas, exames e cirurgias; hospitais com déficit de enfermeiros, médicos e outros profissionais da saúde; carências de aparelhos de exames laboratoriais e de imagem, além da falta de itens básicos; infraestrutura física precária etc. Ou seja, na realidade, o SUS enfrenta muitos desafios a fim de atender a todos com respeito e dignidade. O programa Mais Médicos do Governo Federal criou certa polêmica ao trazer de países estrangeiros médicos para trabalharem em cidades que enfrentam justamente a falta destes profissionais.


4. Variedade linguística no Brasil
Sabe-se que hoje o Português do Brasil é uma língua diferente do Português de Portugal e pesquisas na área da Linguística apontam que a variedade, ou seja, a diversidade linguística no nosso país é enorme. Por exemplo, um gaúcho fala diferente de um carioca; uma pessoa que mora em uma grande cidade fala diferente de uma pessoa que mora numa zona rural; mulheres falam diferente dos homens; pessoas mais velhas falam diferente dos meus jovens e assim por diante. Não estamos falando só de gírias ou de sotaques, mas também de colocação pronominal, concordância verbal e de número, regência verbal etc. O que é variedade para a Linguística é vista pelos gramáticos normativos como erro ou desvio, o que pode causar na sociedade o chamado preconceito linguístico. Pessoas que não tiveram acesso à educação formal, escolar, pela qual temos contato com a gramática podem ser discriminadas, o que é inadmissível.


5. Ideologia de Gênero no Brasil
O modo como este tema foi escrito é equivocado, pois não existe ideologia de gênero. Tal nome é dado pelas pessoas contrárias ao debate sobre gênero e sexualidade que abarca questões como homossexualidade, bissexualidade, transexualidade dentre outras designações e seus aspectos inerentes. Há quem afirme, como o Escola Sem Partido, que há uma ideologia de gênero nas escolas brasileiras, o que não é verdade; o que é verdade é que deve haver debates e discussões esclarecidas, sem nenhum preconceito, sobre tais questões e que os jovens alunos devem aprender a respeitar as diferenças. O Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade LGBT no mundo e isso não é normal.


6. Ansiedade, depressão e suicídio
A depressão já é considerada por muitos médicos como o mal do século XXI; há ocorrências de transtornos de ansiedade em todas as faixas etárias; está aumentando o número de suicídios entre jovens, inclusive no Brasil e a depressão normalmente é um sinal de alerta. Ansiedade, depressão e suicídio são problemas individuais que têm consequências coletivas, já que vidas estão se perdendo.


7. Corrupção na sociedade e suas diversas formas de manifestação
Corrupção não é apenas cobrar e pagar propina, superfaturar uma obra ou manter um caixa dois de campanha. Corrupção também é falsificar carteirinha de estudante, furar filas, estacionar o carro em vaga especial, colar na prova, usar atestado médico falso, usar TV paga não oficial etc. Estes são alguns exemplos de algumas formas de como a corrupção manifesta-se na sociedade.


8. A tecnologia e a infância
A cada dia que passa, crianças cada vez mais novas têm seu primeiro contato com as tecnologias analógicas e digitais. Os tablets e os smartphones são as novas babás, substituindo a televisão, babá dos anos 80 e 90. Com isso, crianças podem ser influenciadas pelas mídias digitais, seus profissionais e conteúdos sem que os pais percebam.

ENTRE OUTROS:

9 – Consumismo e ostentação;
10 – Analfabetismo funcional no Brasil;
11 – Bullying nas escolas;
12 – Desigualdade entre homens e mulheres no Brasil;
13 – Os limites do humor e a liberdade de Expressão;
14 – A nova constituição familiar no Brasil;
15 -  Consciência ambiental;





MÚSICA: BEIJAR NA BOCA - CLAUDIA LEITE - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Música: Beijar Na Boca
                       Claudia Leite
                                     Composição: Blanch Van Gogh / Roger Tom

Eu estava numa vida de horror
Com a cabeça baixa sem ninguém me dar valor
Eu tava atrás (tchururu) da minha paz (tchururu)

Agora que mudou a situação
Choveu na minha horta vai sobrar na plantação
Deixei pra trás (tchururu), pois tanto faz (tchururu)

(Refrão)
Eu quero mais é beijar na boca
Eu quero mais é beijar na boca (eu quero mais).
Eu quero mais é beijar na boca
E ser feliz daqui pra frente... pra sempre (2x)

Já me livrei daquela vida tão vulgar
Me vacinei de tudo que podia me pegar
Corri atrás (tchururu) Quem tenta faz (tchururu)

Eu ando muito a fim de experimentar
Meter o pé na jaca sem ter que me preocupar
Eu quero mais, mais, mais, mais...

(Refrão)
Eu quero mais é beijar na boca
Eu quero mais é beijar na boca (eu quero mais).
Eu quero mais é beijar na boca
E ser feliz daqui pra frente... pra sempre (2x)

Eu estava numa vida de horror
Com a cabeça doida sem ninguém me dar valor
Andava atrás (tchururu) da minha paz (tchururu)

Agora que mudou a situação
Choveu na minha horta vai sobrar na plantação
Deixei pra trás (tchururu), pois tanto faz (tchururu)

(Refrão)
Eu quero mais é beijar na boca
Eu quero mais é beijar na boca (eu quero mais).
Eu quero mais é beijar na boca
E ser feliz daqui pra frente... pra sempre (2x)


ENTENDENDO A MÚSICA

1 - A letra da música conta uma história. Diante dessa afirmativa, podemos dizer que temos um narrador de 1° ou 3° pessoa? Identifique no texto um trecho que comprove sua resposta.
      Narrador em 1ª pessoa do singular “EU”.
      “Eu estava numa vida de horror”.

2) Quantos personagens há na história narrada?
      Há apenas a narradora.

3) A partir da segunda estrofe há uma mudança no estado inicial da personagem? Que mudança ocorre?
      Sim. “Choveu na minha horta vai sobrar na plantação.”
      Não está mais sozinha.

4) Qual é o tempo verbal predominante na segunda estrofe? Explique a utilização desse tempo verbal?
      O tempo verbal é Pretérito Perfeito do Indicativo.
      É usado para indicar uma ação que ocorreu num determinado momento do passado.

5) O que significa: “Meter o pé na jaca”? 
      É uma expressão popular que significa cometer excessos, exceder os limites, exagerar na dose.

6) Explique as expressões: “Choveu na minha horta vai sobrar na plantação”.
      Significa que muitos homens foram atrás dela e que como são tantos que até vão sobrar!

7) Qual a linguagem utilizada nessa canção?
      A linguagem é a metáfora.

8) Por que a personagem estava numa vida de horror?
      Porque estava deprimida, sem ninguém e ou namorado.

9) O que a personagem deseja?
      Ela quer é beijar na boca.

10) Como era a situação da personagem no início da narrativa?
      A música retrata uma pessoa que estava triste, deprimida, mas resolveu mudar de vida e partiu beijando muito.



segunda-feira, 23 de outubro de 2017

POEMA: O OVO DE GALINHA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

POEMA: O OVO DE GALINHA
                 João Cabral de Melo Neto
                    I
Ao olho mostra a integridade
De uma coisa num bloco, um ovo.
Numa sé matéria, unitária,
Maciçamente ovo, num todo.

Sem possuir um dentro e um fora,
Tal como as pedras, sem miolo:
E só miolo: o dentro e o fora
Integralmente no contorno.



No entanto, se ao olho se mostra
Unânime em si mesmo, um ovo,
A mão que o sopesa descobre
Que nele há algo suspeitoso:


Que seu peso não é o das pedras,
Inanimado, frio, goro;
Que o seu é um peso morno, túmido,
Um peso que é vivo e não morto.


                         II
O ovo revela o acabamento
A toda mão que o acaricia,
Daquelas coisas torneadas
Num trabalho de toda a vida.

E que se encontra também noutras
Que entretanto mão não fabrica:
Nos corais, nos seixos rolados
E em tantas coisas esculpidas.

Cujas formas simples são obra
De mil inacabáveis lixas
Usadas por mãos escultoras
Escondidas na água, na brisa.

No entretanto, o ovo, e apesar
Da pura forma concluída,
Não se situa no final:
Está no ponto de partida.
[...]
               João Cabral de Melo Neto. Obra completa. Rio de Janeiro.
            Aguilar, 1994. p. 302-3. By Herdeiros de João de Melo Neto.

Goro: choco, podre.
Seixo: cascalho.
Sopesar: calcular com a mão o peso de alguma coisa.
Túmido: dilatado, intumescido.

Interpretação do texto:

1 – O poeta escolheu como motivo de seu poema um elemento do mundo físico: o ovo de galinha. Que aspectos desse elemento mais impressionam o eu poético?
      O acabamento perfeito e o peso.

2 – Sopesar o ovo leva a sentir nele um “peso vivo”. Como você entendeu essa característica do objeto descrito?
      No poema, o peso é classificado como “morno”, “túmido”. Comente com os alunos que o eu poético exemplifica cada característica que percebe no objeto descrito.

3 – A palavra acabamento remete à ideia de objeto concluído. Que metáforas do poema designam:
a – O agente desse acabamento;
      “... mãos escultoras/escondidas na água, na brisa”.

b – A ferramenta utilizada por esse agente;
      “... mil inacabáveis lixas”.

c – A contradição que o eu poético identifica nesse acabamento.
      “No entretanto, o ovo, e apesar/da pura forma concluída,/não se situa no final:/está no ponto de partida”.
Professor(a): as ideias de partida e acabamento são antitéticas.

4 – Como você entendeu a contradição exposta pelo eu poético na estrutura do ovo?
      Ovos encerram matrizes de novas vidas; são, por isso, ponto de partida, não de chegada, embora sua forma pareça já concluída, esculpida.

5 – Pense nos cinco sentidos humanos. Na descrição do ovo, quais desses sentidos são privilegiados?
      O tato e a visão.

6 – Esse poema é constituído de cinco partes, das quais transcrevemos duas. A estrutura de cada uma delas é idêntica: São dezesseis versos distribuídos em quatro estrofes. Logo, cada estrofe tem quatro versos. Esse tipo de preocupação formal é bem diferente da que predominou entre os modernistas da primeira fase. Explique essa afirmativa em seu caderno.
      A liberdade formal foi a reivindicação fundamental dos modernistas da primeira fase.


POEMA ENJOADINHO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA ENJOADINHO
Vinícius de Moraes

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabe-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como o queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho,
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos.
Melhor não tê-los
Noite de insônia
Cãs prematuros
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabe-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
                                   Vinícius de Moraes. Poesia completa & prosa.
                                              Rio de Janeiro: Aguilar, 1987. p. 261-2.
Que de consulta: quanta consulta.

1 – A reflexão do poeta é conduzida por um dilema. Qual? Explique-o.
      Ter ou não ter filhos. Não ter é não enfrentar aborrecimentos, mas também é renunciar a saber como é ser pai.

2 – O eu lírico alterna sua opinião entre as oposições que constituem o dilema. A que conclusão ele chega, finalmente? Como a Justifica?
      Que é melhor ter os filhos, porque não há como saber o que é não ser pai sem ser. Sem ter filhos, como conhece-los para saber que seria melhor não os ter tido?

3 – A conjunção porém no 47° verso introduz a conclusão do poeta. Essa conclusão é predominantemente lógica ou emocional? Justifique.
      A repetição da interjeição que expressa o tom subjetivo, emocional da conclusão.

4 – Interprete os efeitos de sentido que se obtêm pela pontuação, nestes versos:
      Filhos... Filhos? (Verso 1):
      Expressasse a dúvida, marcada pela hesitação (reticências e ponto de interrogação).

      Filhos? filhos. (Verso 26):
      Retoma-se a dúvida (ponto de interrogação) e imediatamente vem a resposta afirmativa. (Ponto final).

5 – Analise as duas grandes enumerações do poema: Uma expõe motivos para não ter filhos; a outra, motivos para os ter. A que universo de preocupações parecem pertencer esse motivos?
      Os motivos expostos referem-se ao dia-a-dia, aos problemas e às alegrias do quotidiano.

6 – Observe a métrica dos quatro primeiros versos do poema:
- Fi-lhos... Fi-lhos? (3 sílabas poéticas)
- Me-lhor-não-tê-los! (4 sílabas poéticas)
- Mas-se-não-os-te-mos (4 sílabas poéticas)
- Co-mo-sa-bê-lo? (4 sílabas poéticas)

Esses versos curtos, com alguma variação, repetem-se no poema todo. Que efeito sonoro resulta do fato de os versos serem curtos?
      Resposta pessoal do aluno. O ritmo do poema, graças aos versos curtos, reforça o caráter descontraído com que o tema é tratado. Essa estrutura reforça o significado do adjetivo do título (enjoadinho).

7 – Se você não for pai/mãe: o ponto de vista expresso no poema o impressionou? Se você tivesse que enfrentar o dilema de tornar-se ou não pai/mãe algum dia levaria em conta os argumentos expostos pelo eu lírico? Ou essa questão nunca foi um dilema e já está resolvida em sua cabeça?
      Resposta pessoal do aluno.