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domingo, 10 de agosto de 2025

CONTO: O SONHO DE HABIB, FILHO DE HABIB - CONTO SUFI - COM GABARITO

 Conto: O sonho de Habib, filho de Habib

            Conto sufi

        Durante todo o dia, Habib, o tapeceiro, sentava-se diante de seu tear com os aprendizes à sua volta e tecia um lindo tapete. Mas seu filho, Habib, filho de Habib, quase nunca estava presente. Ele não se interessava por tapetes. Ele gostava de ir ao caravançará, onde se reuniam todas as caravanas de camelos no seu caminho para Samarkanda, para Bokara ou para as praias da Enseada Dourada.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwdKGzRGGzGu2e6yTXZw9vVC9ERHY3J9DcMO92QJiwTEH2C6Y4GMQFuuZkzFe03JaGoXVVeTtidsMdOSUqrCXWh-zxumBAsxnlNy8eS0OYTmopHccHSN7TsAkM-wT3HN5PPCmJRIhz_ApQevRVqcDjchSjFe_nrkqibLQ6mskIbJaSTYy3aRPnXp-YIU0/s1600/images%20(1).jpg

 


        Um dia, enquanto olhava um cavalariço penteando a cauda prateada de um dos cavalos pertencentes a um mercador de Tabriz, Habib, filho de Habib, pensou consigo mesmo:

        “Ah, se eu pudesse seguir as caravanas.”

        – Por que você está tão interessado no lindo corcel do meu senhor? – perguntou o cavalariço. – Você, um menino empoeirado, deve estar muito mais acostumado com burros!

        – Um dia, quando for mercador – disse Habib, filho de Habib –, terei um cavalo como esse, também terei bolsas cheias de ouro e vou me casar com uma princesa.

        – Fora daqui, pequeno galo de briga! – gritou o cavalariço. – É melhor você sair de perto deste cavalo ou então vai levar um coice quando menos esperar.

        Então o menino foi embora, e chegou em casa bem na hora em que seu pai ia sair à sua procura com uma grande vara na mão.

        – Preguiçosa criatura! – gritou Habib. – Quando preciso de você para separar os fios de lã colorida você não está. Aonde você foi? Aposto que estava outra vez no caravançará. Volte ao trabalho ou vai levar uma surra.

        – Pai, se eu pudesse ir com as caravanas para algum lugar diferente poderia fazer fortuna, tenho certeza disto.

        – Sonhando acordado outra vez! – e Habib deu-lhe um tapa no pé do ouvido, levandoo, pela orelha, para dentro da loja.

        Nessa noite, Habib, filho de Habib, esgueirou-se para fora de casa sob a brilhante luz da lua, determinado a juntar-se à caravana que partiria ao amanhecer. Debaixo do braço levava um pequeno tapete, o mais velho da loja, do qual ninguém sentiria falta, ele tinha certeza, pois há muito tempo estava jogado num canto. Esperava que quando seu pai notasse a sua ausência ele já estivesse longe.

        No mercado, camelos com sinos em seus arreios estavam sendo carregados. Todos os mercadores arrumavam suas bolsas nas selas e suas cestas nas costas dos camelos.

        Habib, filho de Habib, aproximou-se de um velho homem de barba e disse:

        – Bondoso senhor, deixe-me acompanhá-lo, pois quero viajar e meu pai só quer que eu faça tapetes.

        – Vá embora – disse o mercador. – Não posso levá-lo comigo sem o consentimento de seu pai. Volte para falar com ele, e se ele permitir então pode ser que eu leve você comigo.

        Habib, filho de Habib, dirigiu-se a outro mercador:

        – Tomarei conta de seus camelos, deixe-me ir com você para lugares distantes.

        Mas o homem respondeu:

        – Você é muito pequeno e, de qualquer forma, já tenho dois meninos que cuidam dos meus camelos durante a viagem. Vá embora, volte para sua casa antes que notem a sua falta.

        Nesse momento os galos já começavam a cantar, e o dia estava nascendo. Os camelos se levantaram e logo iriam partir pelo portão da cidade em direção as terras estrangeiras.

        Quando o último camelo estava partindo o homem que o guiava disse a Habib, filho de Habib:

        – Quer seguir com a caravana, meu menino? Você parece estar sozinho e não ter ninguém para cuidar de você. Quer acompanhar-me no caminho de Samarkanda?

        Então o menino pulou de alegria e saiu correndo ao lado do último dos camelos. O homem, que era um mercador de lã, seguiu ao lado de seu camelo, que estava carregado demais, e ficou contente de ter o menino como companhia. Seu nome era Qadir e disse a Habib, filho de Habib, que lhe daria um dinar de prata por mês se ele o ajudasse a cuidar de seu camelo nos poços e fontes de água.

        Foram dias e noites de grande alegria para o menino enquanto ele viajava no final da enorme caravana de camelos, através de lugares montanhosos e desertos de areia, sob sol e chuva até que chegaram a Samarkanda.

        Habib, filho de Habib, ganhou seu primeiro dinar de prata e foi andar pelas ruas da cidade, procurando coisas para comprar. Comprou uma boina branca bordada com fios de seda e um colete verde de feltro revestido de algodão verde. Nessa noite não conseguiu dormir de tão feliz que estava. Sentou-se no tapete que havia trazido de casa e olhou para os brincos que havia comprado para sua mãe.

        – Gostaria de poder voar nesse tapete – disse baixinho, enquanto olhava à sua volta.

        Nem bem as palavras saíram de sua boca, ele já estava voando pelo ar sentado de pernas cruzadas sobre o tapete.

        – Um tapete mágico! – ele gritou. – Eu nunca soube disso durante todos estes anos.

        Então se dirigiu ao tapete e disse:

        – Leve-me ao palácio do rei deste país.

        Era uma noite de lua brilhante, tão clara como o dia, e ele viu que, lentamente, o tapete o levava para o terraço de um palácio de mármore, onde, à luz da lua, a princesa Flor Dourada brincava com bolinhas de gude. A princesa era da mesma idade que Habib e ficou tão contente de ter um companheiro para brincar que o chamou para perto dela. Ela o confundiu com o filho do aguadeiro do palácio. Deu-lhe uma bola de rubi e pegou uma de cristal, ordenando-lhe que tentasse vencê-la no jogo. Em alguns minutos várias bolinhas preciosas, um diamante, uma esmeralda e uma turquesa, estavam sendo espalhadas para todos os lados pelo rubi de Habib.

        A princesa Flor Dourada estava começando a arrumar uma outra linha de bolinhas quando se ouviu um grito. A ama da princesa vinha correndo na direção deles.

        – Princesa, princesa, volte para casa imediatamente! – ela gritou. – Que ousadia deste camponês empoeirado, vestido com um colete de feltro verde, vir brincar com a filha do rei!

        Nesse momento, Habib, filho de Habib, pulou no seu tapete mágico e ordenou que ele começasse a voar.

        – Leve-me de volta para minha própria casa! – disse. Imediatamente o tapete levantou voo, para surpresa da princesa e da velha ama.

        Houve um som de ventania, e tudo ficou escuro para Habib, filho de Habib. Ele começou a sentir-se tonto e seus olhos se fecharam. O tapete continuou a voar, e logo ele estava dormindo. Ele só acordou quando estava outra vez na casa de seu pai.

        Abriu os olhos e viu que estava na sua própria cama. Os galos cantavam e o dia amanhecia.

        – Acorde meu filho – disse o tapeceiro, sacudindo os ombros do filho. – Você gostaria de seguir a caravana e ver o mundo? Eu consegui que um mercador de Bagdá consentisse em levá-lo com ele na viagem.

        Habib, filho de Habib, olhou embevecido para seu pai. Então tudo tinha sido um sonho? Mas ele segurava na mão uma bolinha vermelha, de rubi. Entregou-a ao pai.

        – Veja, ganhei isto quando jogava com a princesa. Intrigado, o tapeceiro girava o rubi entre seus dedos.

        – Onde achou isto? Se vendermos este rubi ao joalheiro ficaremos ricos. Tem certeza de que não o roubou?

        – Eu o ganhei – insistiu o menino, e contou ao pai toda a história, do começo ao fim.

        – É magia – gritou Habib, e correu para contar tudo à mulher.

        Quando os dois foram falar com o menino, ele contou novamente a história, e eles acreditaram nele.

        – Onde está o tapete voador? – perguntou sua mãe. Mas o tapete não se encontrava em parte alguma. Então Habib, filho de Habib, pôs um pouco de comida num alforje e correu para o caravançará. Habib deu-lhe sua bênção e o mercador de Bagdá prometeu trazê-lo de volta depois de seis meses.

        Alguns anos mais tarde, quando cresceu o bastante, tornou-se mercador de tapetes e transportava a mercadoria de seu pai de país em país, e com isso conseguiu reunir grande riqueza. Então começou a se perguntar se existiria de fato uma princesa com o nome de Flor Dourada que ele conhecera no seu sonho e cujo rubi o colocou no caminho da fortuna. Durante as viagens perguntava a todos se a conheciam, até que chegou à terra de Sogdiana.

        – Qual é o nome da filha do rei? – perguntou a alguém na casa de chá em que se encontrava.

        – Princesa Flor Dourada – disseram.

        Então ele soube que sua busca terminara. Enviou valiosos presentes para o rei e pediu permissão para casar-se com sua filha.

        – Só se minha filha quiser – disse o rei.

        E arranjou para que Flor Dourada visse o jovem através de uma treliça secreta que havia na parede da câmara de audiências.

        Assim que a princesa pôs os olhos no jovem e belo mercador de tapetes se apaixonou por ele, e enviou uma mensagem a seu pai dizendo que se casaria com ele e com nenhum outro.

        – Que assim seja – disse o rei. – A felicidade de minha filha é mais importante do que qualquer título de nobreza. Que os ritos de casamento sejam realizados.

        Na festa de casamento, Habib, filho de Habib, colocou um rubi de raro valor incrustado em uma corrente de ouro em volta do pescoço de sua esposa.

        Eles viveram felizes para sempre, até que Allah mandou buscá-los finalmente.

Histórias da tradição sufi. Grupo Granada de Contadores de Histórias (seleção e tradução) e Nícia Grillo (coordenação). Dervish, Instituto Tarika, 1993.

Entendendo o conto:

01 – Qual era a ocupação do pai de Habib, e por que Habib, filho de Habib, não se interessava por ela?

      O pai de Habib era um tapeceiro, que tecia belos tapetes. Habib, filho de Habib, não se interessava por essa ocupação porque preferia ir ao caravançará, onde se reuniam as caravanas de camelos, sonhando em seguir viagem para lugares distantes como Samarkanda e Bokara.

02 – Que sonho Habib, filho de Habib, compartilha com o cavalariço, e como o cavalariço reage?

      Habib, filho de Habib, sonha em ser um mercador um dia, ter um cavalo tão bonito quanto o do senhor do cavalariço, bolsas cheias de ouro e casar-se com uma princesa. O cavalariço reage com desprezo, chamando-o de "pequeno galo de briga" e mandando-o embora, dizendo que ele estava mais acostumado com burros.

03 – O que Habib, filho de Habib, faz ao tentar fugir de casa, e o que ele leva consigo?

      Habib, filho de Habib, esgueira-se para fora de casa à noite, determinado a se juntar a uma caravana. Ele leva consigo um pequeno tapete, o mais velho da loja do pai, que ele achava que ninguém sentiria falta.

04 – Por que os primeiros mercadores recusam levar Habib com suas caravanas?

      Os primeiros mercadores recusam levá-lo porque não poderiam fazê-lo sem o consentimento de seu pai e, no caso de outro mercador, por ele ser muito pequeno e eles já terem cuidadores para os camelos.

05 – Quem é o mercador que finalmente aceita levar Habib, e qual é o combinado entre eles?

      O mercador que finalmente aceita levar Habib é Qadir, um mercador de lã, que o guiava o último camelo de uma caravana. Qadir aceita levá-lo como companhia e lhe promete um dinar de prata por mês em troca de ajuda para cuidar do camelo nos poços e fontes de água.

06 – Como Habib descobre que o tapete que trouxe de casa é mágico?

      Habib descobre que o tapete é mágico quando, em Samarkanda, após ganhar seu primeiro dinar e comprar roupas e presentes, ele se senta no tapete e diz baixinho: "Gostaria de poder voar nesse tapete". Imediatamente, ele começa a voar pelo ar sobre o tapete, percebendo sua natureza mágica.

07 – Onde o tapete mágico leva Habib, e quem ele encontra nesse local?

      O tapete mágico leva Habib ao terraço de um palácio de mármore, onde ele encontra a princesa Flor Dourada, que tinha a mesma idade que ele.

08 – Qual a interação de Habib com a princesa Flor Dourada e como a ama da princesa reage a isso?

      Habib brinca com a princesa Flor Dourada, jogando bolinhas de gude. Ele ganha várias bolinhas preciosas dela, incluindo um rubi. A ama da princesa reage com indignação, gritando com a princesa e criticando a ousadia do "camponês empoeirado" de brincar com a filha do rei.

09 – O que acontece com Habib após a intervenção da ama, e o que ele encontra ao acordar?

      Após a intervenção da ama, Habib, filho de Habib, pula no tapete mágico e ordena que o leve de volta para casa. Ele sente-se tonto, desmaia e acorda em sua própria cama, ao amanhecer. Embora tudo pareça um sonho, ele encontra uma bolinha vermelha, de rubi, na mão, que provava a experiência.

10 – Qual é o desfecho da história para Habib, filho de Habib, e a princesa Flor Dourada?

      Habib, filho de Habib, usa o rubi como prova de sua história, o que leva seu pai a permitir que ele viaje. Ele se torna um mercador de tapetes bem-sucedido, acumulando riqueza. Anos mais tarde, ele encontra a princesa Flor Dourada na terra de Sogdiana, casa-se com ela (presenteando-a com o rubi incrustado em ouro) e eles vivem felizes para sempre, concretizando o sonho de sua infância.

 

sábado, 9 de agosto de 2025

REPORTAGEM: O ENSINO MÉDIO E SEUS CAMINHOS - FRAGMENTO - FILIPE JAHN - COM GABARITO

 Reportagem: O ensino médio e seus caminhos – Fragmento

        Programas governamentais miram a integração entre a educação profissional e o ensino médio tradicional e a flexibilização do currículo, com a introdução de disciplinas optativas para que alunos possam construir seu percurso de aprendizado

        Por Filipe Jahn – Publicado em 10/09/2011

        Um dos principais dilemas da educação contemporânea é aquele que gira em torno da permanência dos alunos do ciclo médio nos bancos escolares. Atraídos pelo número de estímulos e pela velocidade da sociedade, a escola lhes parece enfadonha. No entanto, muito do que lhes parece fora de propósito nessa fase – experiências, relações, conhecimentos – só irá adquirir sentido ao longo do tempo. Muitas vezes acaba por não fazer, por diversos motivos, entre eles o abandono da escola.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCH0faaHBjlKpabmTlLjRNrhLyedoq6ZtZ3iQ_u3EHhd0bvIr0wuSh1jAf-kPhvyFZcsoUzNiOpZlYr11UdVMYNXrT75SP2Dn7eHoNaSYoIsioU7fHS57Y_redQr6uiobgTiW18qqq_kthYtR71hBVV4YUZtnLEWzYKEfvsd5_huoblgPWCthFN9_Mpdo/s320/918.jpg


        Todo esse clima de desinteresse dos adolescentes pela vida escolar tem gerado muitas reflexões mundo afora sobre os possíveis caminhos de fazer com que o ensino médio seja vivido e percebido como significativo. Nessa perspectiva, o desafio dos sistemas de ensino nos últimos anos envolve a capacidade de organizar um programa curricular que consiga, ao mesmo tempo, formar os jovens para continuar os estudos no ensino superior e prepará-los para o mercado de trabalho. [...].

        No Brasil, o cenário segue roteiro parecido. As novas proposições do governo federal para o ensino médio têm o objetivo de elevar o índice de conclusão do ensino médio regular para o patamar de países mais desenvolvidos. [...]

        [...]

        Para aumentar esses índices de conclusão, o MEC aposta na ampliação da educação profissional, ainda pouco expressiva no Brasil. No âmbito do ensino secundário, ela responde por apenas 14% das matrículas, contra 77% da Áustria, 58% da Alemanha, 44% da França, 42% da China e 37% do Chile.

        Realidade brasileira

        Para melhorar o cenário, o governo federal aposta, desde 2004, em propostas que apontem para um programa curricular mais flexível. Uma das principais medidas foi a possibilidade de integrar ensino regular e a educação profissional, sacramentada pelo decreto 5.154/04. Dessa maneira, instituições privadas e públicas oferecem as aulas regulares em um turno e cursos que preparem para o mercado de trabalho em outro, sob uma mesma matrícula.

        Esse é o caso de Matheus Escobar, aluno do 2º ano da Escola Técnica Estadual (Etec) Jorge Street, em São Paulo. Durante a tarde, ele cursa as disciplinas do ensino formal tradicional; de manhã, tem aulas de desenho técnico mecânico, automação industrial e eletrônica digital, entre outras.

        Aos 16 anos, Matheus resolveu fazer o ensino médio integrado porque, na sua opinião, esse caminho lhe dará mais chances de seguir os estudos no ensino superior. “Quero ir o mais rápido possível para a universidade. Se tiver de ser uma particular, com a mecatrônica tenho chances de arrumar um bom trabalho para conseguir pagá-la”, diz, referindo-se à formação técnica que está cursando, umas das 83 oferecidas no ensino técnico paulista.

        Os números comprovam a tese do estudante. Uma pesquisa conduzida pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada em 2010, apontou que a chance de arrumar emprego para jovens que cursam alguma modalidade de educação profissional é 48% maior. A possibilidade de carteira assinada também cresce 38%. Para chegar a esses índices a pesquisa relacionou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007 e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) dos oito anos anteriores.

        [...]

        Novo modelo

        Outra proposta implantada em caráter experimental é o Ensino Médio Inovador (EMI). Lançado no ano passado, tem entre as suas principais ações o aumento da carga horária letiva anual de 800 para mil horas e a destinação de 20% dessa carga à oferta, pela escola ou por parceiros, de disciplinas eletivas.

        Nesse modelo, o currículo passa a valorizar a interdisciplinaridade e deve ser organizado em torno de quatro eixos: trabalho, tecnologia, ciência e cultura. Também é previsto o incentivo à contratação de professores com dedicação exclusiva e o estímulo às atividades de produção artística e de aulas teórico-práticas em laboratórios.

        O EMI funciona atualmente em escolas de 18 estados que resolveram aderir a ele e recebem apoio técnico e financeiro da União. Segundo dados da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), os recursos totais somam R$ 33 milhões e atingem 296 mil estudantes em 357 escolas.

        Atualmente a SEB reformula o programa e uma nova versão está prevista para maio. Uma das medidas sendo planejadas é articulá-lo com outro programa do ministério, o Mais Educação, que oferece suporte financeiro diretamente às escolas para passarem a ofertar atividades optativas. Elas são agrupadas em macrocampos como esporte e lazer, cultura e artes, cultura digital, educomunicação e educação econômica.

        Na opinião de Maria Sylvia Simões, professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, as ideias do Ensino Médio Inovador representam um avanço na educação brasileira. Por outro lado, lembra a professora, a consolidação do projeto no país inteiro esbarra em um ponto bastante complicado: o MEC e os governos estaduais precisam estar em sintonia. Mas alguns estados já sinalizaram que não deverão aderir. “Se não há vontade política de quem tem o poder de decisão, fica difícil implantar”, comenta Maria Sylvia Simões. Outro problema é o custo do modelo, bem superior ao do ensino médio tradicional.

        O $ da questão

        Esse descompasso entre os entes federativos também está refletido na educação profissional. De acordo com o Censo Escolar 2010, nas escolas da rede federal, o ensino técnico integrado representa a maior parte das matrículas da área, com 46% (76 mil alunos entre 165 mil). Agora, considerando toda a educação profissional, ele cai para último, com 18,9% (215 mil em um universo de 1,14 milhão).

        Entretanto, além de questões políticas, as propostas do governo federal para o ensino médio também enfrentam dificuldades para emplacar nacionalmente por causa de seu custo, difícil de ser assumido pelos estados. Álvaro Chrispino, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), explica que, no caso do ensino integrado, o custo de laboratórios e equipamentos é alto e essa forma de articulação também exige capacitar os docentes das duas áreas. “A maioria dos estados só consegue ofertar em quantidade se houver contrapartida da federação.”

        [...]

        A contratação de docentes é outra questão. Maria Sylvia Simões afirma que o sucesso do Ensino Médio Inovador e do ensino integrado significará crescimento da demanda. Assim, as secretarias de Educação precisarão abrir novos concursos e aumentar a carga horária de quem já é da rede. “Só que aí tem de ver quem consegue financiar isso e, ao mesmo tempo, oferecer um salário decente”, pontua.

        [...]

        Quem se beneficia

        Outra discrepância que as propostas do MEC não solucionam é a qualidade das instituições e redes em um sistema que privilegia o mérito do aluno. Como mostra o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) observado em 2009, a média do segundo grau nas redes estaduais brasileiras é 3,4, mas a diferença entre os entes pode chegar a mais de um ponto.

        [...]

        Álvaro Chrispino, docente do Cefet/RJ, diz que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as vagas daquelas que tiverem sucesso com a implantação dos projetos do MEC serão cada vez mais concorridas. Com o tempo, elas podem acabar utilizando mecanismos de seleção.

        Essa tendência decorreria de uma precipitação do MEC, que elaborou boas ideias para todo o país sem levar em conta as desigualdades históricas. “Se a qualidade do sistema de uma rede se mantém desnivelada, as propostas para todo o ensino médio continuam a surtir efeito apenas em uma pequena parcela de jovens”, conclui ele. Ou seja, a educação, ao contrário dos discursos públicos, continuaria a não se efetivar como um fator de redução das desigualdades sociais, ou o faria em ritmo muito menor que o necessário ao equilíbrio social do país. 

Filipe Jahn. O ensino médio e seus caminhos. Revista Educação, n° 169, p. 28-32, maio 2011.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 194-196.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal dilema da educação contemporânea, de acordo com o texto, e por que ele acontece?

      O principal dilema é a evasão escolar dos alunos do ensino médio. Isso acontece porque a escola, muitas vezes, parece enfadonha para os adolescentes, que são atraídos pelos estímulos e pela velocidade da sociedade contemporânea. Muitos não veem sentido nas experiências e conhecimentos oferecidos na escola, o que leva ao abandono dos estudos.

02 – Quais são as duas principais propostas do governo federal mencionadas na reportagem para combater o desinteresse e a evasão no ensino médio?

      As duas principais propostas são:

      A integração entre o ensino profissional e o ensino médio tradicional, permitindo que os alunos cursem as disciplinas regulares e, ao mesmo tempo, uma formação técnica.

      O Ensino Médio Inovador (EMI), que busca aumentar a carga horária e flexibilizar o currículo com disciplinas eletivas.

03 – De que forma a educação profissional, segundo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), beneficia os jovens?

      A pesquisa da FGV mostrou que a educação profissional aumenta em 48% a chance de os jovens conseguirem um emprego e em 38% a possibilidade de terem um contrato formal de trabalho (carteira assinada).

04 – Quais são os quatro eixos temáticos que o currículo do Ensino Médio Inovador (EMI) valoriza?

      O currículo do EMI é organizado em torno de quatro eixos principais: Trabalho; Tecnologia; Ciência e Cultura.

05 – Por que, na opinião de Maria Sylvia Simões, a implantação do Ensino Médio Inovador em todo o país enfrenta dificuldades?

      A professora Maria Sylvia Simões aponta dois problemas principais: a falta de sintonia e vontade política entre o Ministério da Educação (MEC) e os governos estaduais, e o alto custo do modelo, que é superior ao do ensino médio tradicional.

06 – Além dos desafios políticos, qual é a principal dificuldade financeira que as propostas do governo enfrentam para serem implementadas nacionalmente?

      O alto custo é o principal desafio. O texto menciona que, tanto para o ensino integrado quanto para o Ensino Médio Inovador, os gastos com laboratórios, equipamentos e a contratação de docentes qualificados são altos, o que dificulta a adesão dos estados sem uma contrapartida financeira significativa do governo federal.

07 – De acordo com o professor Álvaro Chrispino, qual é o grande risco que as desigualdades históricas podem causar nas propostas do MEC?

      O professor Álvaro Chrispino afirma que, se não houver igualdade de condições entre as escolas, as propostas do MEC só terão efeito em uma pequena parcela de jovens. Isso pode levar a um aumento da concorrência por vagas nas escolas que conseguirem implantar os projetos com sucesso, e essas escolas podem até começar a usar mecanismos de seleção. O resultado é que a educação continuaria a não cumprir seu papel de reduzir as desigualdades sociais.

 

 

REPORTAGEM: UM ENSINO DIFERENTE - FRAGMENTO - VINICIUS GALLON - COM GABARITO

 Reportagem: Um ensino diferente – Fragmento

        Com mais de oito milhões de jovens frequentando o Ensino Médio em todo o Brasil, desafio é criar uma educação inovadora e atraente

        Com a proposta de incentivar as redes estaduais de educação a diversificar os currículos escolares e tornar a escola um espaço mais atraente para os alunos, o Ministério da Educação (MEC) criou o projeto Ensino Médio Inovador. Pela proposta, as instituições de ensino participantes podem incluir, na grade de aula, atividades que integrem educação escolar e formação cidadã.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9AC3V7HBTgJLRvgfafkhnJiCrVdVgcPgw3BkLUIdHlkSKFgLo-CzAYmH1kuxZncJ90Y9gB2EJ8CujH3hCLT-T73YXa00ZTcE0xOZdSRlVMdHwbQFRpzYNKNuCaIet-bnnK_bLV_JW0UU9c68930eVykh8clgiCj1SXEx6aWDAQg49Wy7rvSzBB0EOnC4/s320/aula%20sala%20regiao.jpg


        Iniciada neste ano, participam dessa primeira etapa do projeto 357 escolas em todo o Brasil, totalizando mais de 296312 alunos matriculados. O Paraná é o Estado com maior número de escolas participantes, com 84 instituições, seguido do Pará, que possui 34. O MEC convidou todos os Estados, mas apenas 17, e o Distrito Federal, toparam aderir ao novo modelo de Ensino Médio, que somou recursos de R$ 22,6 milhões, destinados pelo governo federal.

        No Ensino Médio Inovador, uma das mudanças sugeridas pelo MEC é o aumento da carga horária de aulas, que passa das atuais 2400 horas para 3000 horas ao final dos três anos letivos. Outra mudança é a possibilidade de deixar o aluno escolher, pelo menos, 20% da grade curricular que irá estudar, dentro das atividades que a escola oferece. Também faz parte da proposta incluir aulas em laboratórios, valorizar a leitura e garantir formação cultural.

        Ilka Madeira Basto, que está na coordenação de Ensino Médio do Ministério da Educação, explica que o programa tem alguns indicativos a serem seguidos, que garantem as disciplinas básicas, como Língua Portuguesa e Matemática. “Quando falamos de ‘inovador’, esperamos que a escola tenha a oportunidade de adequar e pensar a educação de acordo com a sua realidade local, tendo os eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura”, fala Ilka. Entre as atividades oferecidas pelas escolas estão oficinas de hip-hop, rádio escola, banda fanfarra e instalações de cineclubes.

        No Amapá, oito escolas foram contempladas com o projeto, quatro em Macapá e quatro em Santana, cidade a 20 quilômetros da capital. O projeto foi inicialmente implantado em conjunto com avaliações anteriores do Ensino Médio da região. A carga horária da escola foi ampliada para 3600 horas e cada unidade trabalha de forma diferente com o projeto, de acordo com a realidade de cada localidade. “O maior avanço diz respeito à evasão escolar, que diminuiu consideravelmente. Uma grande conquista também é o aumento de participações em olimpíadas (de Matemática e Português) e nos índices do ENEM. Além disso, acreditamos que o projeto trabalha o aluno enquanto cidadão e membro de uma comunidade”, conta o gerente do Núcleo do Ensino Médio de Macapá e Região (AP), Antônio Carlos Favacho. As ações realizadas nas escolas do Amapá incluem aulas de teatro, implantação de salas específicas para o uso de diversas mídias (midiatecas) e exibição de filmes, além de permitir que a escola fique aberta à comunidade nos finais de semana. “Além disso, fornecemos treinamento específico para os professores. Acreditamos que o Ensino Médio Inovador contempla tanto alunos quanto professores”, diz Antônio.

        Pelo Brasil, além do Ensino Médio Inovador, outras propostas de “revolucionar” a educação acontecem. A seguir, você confere duas iniciativas, feitas no Paraná e Ceará, com a intenção de ter um espaço educativo construído por alunos e professores.

        Transformando experiência em conhecimento

        Em Curitiba (PR), materiais didáticos são criados a partir das experiências vivenciadas nas salas de aulas.

        Ainda hoje, salvo raras exceções, o modelo vigente de educação no Brasil carrega heranças do período medieval, em que a Igreja era detentora de todo o conhecimento e transmitia as orientações que julgava necessárias para o povo. [...]

        Na contrapartida desse modelo tradicional de educação, um programa realizado no Paraná tem gerado ótimas experiências e resultados para os alunos, professores e estudiosos da educação. Trata-se do “Projeto Folhas”, criado a partir da necessidade de produzir materiais didáticos que fossem frutos das experiências vivenciadas nas salas de aulas por professores atuantes na educação básica e pública do Estado. “Acredito que por serem registros de suas experiências cotidianas, em sala de aula, as publicações refletem, ao mesmo tempo, as dificuldades enfrentadas no ensino de determinados conteúdos e as alternativas metodológicas criativas encontradas pelos professores. Esse processo é então registrado no ‘Folhas’ e socializado com outros professores que diariamente passam por situações semelhantes e encontram nesses textos um suporte pedagógico que os auxilie também”, relata um dos coordenadores do projeto, o professor Marcelo Cabarrão.

        [...]

        Conhecimento técnico

        Em Fortaleza (CE), escola prepara estudantes para o mercado de trabalho.

        Foi-se o tempo em que os estudantes preocupavam-se apenas com as provas e trabalhos da escola. Na rotina das instituições de ensino profissionalizantes, os alunos buscam. Além do aprendizado tradicional, conhecimentos que possam orientá-los para o mercado de trabalho. Na escola de ensino profissionalizante Marwin, localizada no Bairro Pirambu, em Fortaleza (CE), essa é a realidade dos estudantes de Ensino Médio.

        No Marwin, os alunos estudam em dois turnos (manhã e tarde) e têm aulas tradicionais aliadas ao conhecimento de um curso técnico que escolhem no ato da matrícula. No total são nove aulas todos os dias. A instituição oferece cursos de Enfermagem, Informática e Turismo desde março de 2009. Este ano, os alunos também puderam escolher entre Modelagem e Vestuário ou Hospedagem.

        A grade curricular dispõe que os estudantes vejam as disciplinas do Ensino Técnico juntamente com as disciplinas tradicionais de forma integrada. Dessa forma, durante a manhã os alunos podem estudar Matemática e depois uma disciplina de Informática, por exemplo. No último ano, os alunos fazem um estágio supervisionado organizado pela escola, que os encaminha a uma determinada instituição. As aulas de campo reforçam o aprendizado, já que os alunos têm a possibilidade de conhecer empresas de sua área de atuação.

        A estudante de Vestuário Paula Franciar, de 15 anos, diz que o curso profissionalizante é uma oportunidade única para garantir um futuro melhor para ela, pois as possibilidades de entrar logo no mercado de trabalho são maiores com os conhecimentos adquiridos no curso.

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        A coordenadora Maria do Socorro do Amaral aponta que a escola possibilita um amadurecimento aos alunos e uma preparação melhor para o ingresso na universidade. “O aluno fica mais preparado para enfrentar os desafios do cotidiano”, diz. A coordenadora comenta que um dos destaques da escola Marwin é o projeto Diretor da Turma, no qual cada professor é responsável por uma sala de aula. Assim, cada docente acompanha o rendimento dos alunos e entra em contato coma família para informa-los do resultado dos estudantes. A coordenadora informa ainda que o projeto é eficaz, pois os docentes têm tempo de se dedicar a ele já que também estão na escola em tempo integral.

Vinícius Gallon (Virajovem Curitiba, PR), Caroline Brito (Virajovem Fortaleza, CE), Sâmia Pereira (Virajovem São Paulo, SP) e Rafael Stemberg. Um ensino diferente. Revista Viração, n° 67, p. 18-21, edição especial, 2010.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 191-193.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal objetivo do projeto Ensino Médio Inovador, de acordo com o texto?

A – Aumentar o número de escolas participantes em todo o país para atingir todas as 27 unidades da federação.

B – Focar exclusivamente na preparação dos alunos para o ENEM e olimpíadas de conhecimento.

C – Incentivar as redes estaduais a diversificar os currículos e tornar a escola um espaço mais atraente para os alunos.

D – Oferecer aulas de hip-hop, rádio escola e cineclubes para entreter os alunos.

02 – De acordo com a reportagem, qual é a principal mudança na carga horária de aulas proposta pelo Ensino Médio Inovador?

A – A carga horária é reduzida para 2000 horas, permitindo que os alunos tenham mais tempo para atividades extracurriculares.

B – O projeto não altera a carga horária, apenas a distribuição das disciplinas ao longo do ano.

C – A carga horária é aumentada de 2400 horas para 3000 horas ao final dos três anos letivos.

D – A carga horária passa de 2400 horas para 3600 horas em todas as escolas participantes.

03 – Um dos indicativos do programa 'Ensino Médio Inovador' é a oportunidade da escola adequar e pensar a educação de acordo com a sua realidade local, tendo como eixos principais:

A – Esportes, artes, tecnologia e sustentabilidade.

B – Trabalho, ciência, tecnologia e cultura.

C – Matemática, redação, laboratórios e projetos de pesquisa.

D – Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas.

04 – Segundo a reportagem, qual foi um dos maiores avanços do projeto no Amapá?

A – A diminuição considerável da evasão escolar.

B – A abertura de novas escolas em Santana, cidade a 20 quilômetros da capital.

C – O fornecimento de treinamento específico para os professores de todas as escolas do estado.

D – A criação de novos cursos profissionalizantes para os alunos.

05 – Qual é a principal proposta do 'Projeto Folhas', de Curitiba (PR)?

A – Produzir materiais didáticos a partir das experiências vivenciadas nas salas de aulas por professores.

B – Adotar um modelo de educação tradicional, focado em conteúdos específicos.

C – Incentivar as olimpíadas de Matemática e Português nas escolas da região.

D – Fazer os alunos estudarem em dois turnos para aprimorar os conhecimentos técnicos.

06 – Como a Escola de Ensino Profissionalizante Marwin, em Fortaleza (CE), organiza a grade curricular para seus estudantes?

A – Os estudantes veem as disciplinas do Ensino Técnico juntamente com as disciplinas tradicionais de forma integrada.

B – Os alunos fazem um estágio supervisionado no primeiro ano para conhecerem a área de atuação.

C – Os alunos estudam as disciplinas tradicionais pela manhã e os cursos técnicos à tarde, de forma separada.

D – A escola foca apenas em disciplinas do Ensino Técnico, eliminando as disciplinas tradicionais.

07 – Qual é a função do projeto 'Diretor da Turma' na escola Marwin, em Fortaleza (CE)?

A – Selecionar os alunos mais talentosos para participarem de olimpíadas e competições externas.

B – Permitir que cada professor seja responsável por uma sala de aula, acompanhando o rendimento dos alunos e o contato com a família.

C – Atribuir um aluno monitor para cada sala, responsável por auxiliar os colegas com dificuldades.

D – Organizar as aulas de campo e os estágios supervisionados dos alunos.

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

ARTIGO DE OPINIÃO: UM MERCADO FORA DA LEI - FRAGMENTO - ISABELLA HENRIQUES - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Um mercado fora da lei – Fragmento

Por Isabella Henriques

        Há quase três meses foi publicada a resolução nº 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que passou a considerar abusiva toda e qualquer publicidade ou comunicação mercadológica dirigidas ao público infantil com menos de 12 anos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimZuP7aysOwviHs-4x5Unw1fJLCiYfoHCP44cXEF1t6wUtBkw6HByL3m0F80sPoI3phyphenhyphenJaquE3jz-DFYDufL9SxL8BDlcXB9nM3YPXs5EBTIdHo5iyjonuIVNJy0CKDTAEYr-_dxA78sEOONNzmFtnXNDlY7L_PUEAuqliuDe7n58jtuoeOMuIjJp1Ea4/s320/destaque-publicidade-infantil.jpeg

        No entanto, o que se verifica é um completo desrespeito à norma. A publicidade que fala diretamente com a criança com a intenção de seduzi-la para o consumo continua firme e forte nos canais televisivos segmentados infantis, na tevê aberta, nos cinemas, nas escolas, nos parques, nos clubes, na distribuição de brindes colecionáveis das cadeias de fast-food e em outros inúmeros espaços de convivência.

        E como justificar isso? Como explicar para mães e pais cansados do bombardeio publicitário que atingem seus filhos que a norma está em vigor, mas praticamente o mercado inteiro não a cumpre? Não há como. Só mesmo a constatação de que, para as empresas anunciantes, para as agências de publicidade e para os veículos de comunicação envolvidos, os interesses financeiros e corporativos são enormemente mais importantes que o saudável desenvolvimento das nossas crianças.

        A publicidade e a comunicação mercadológica que se dirigem diretamente às crianças, além de ilegais, são antiéticas e imorais. Aproveitam-se da peculiar fase de desenvolvimento dos pequenos, justamente quando não conseguem entender o caráter persuasivo das mensagens ou mesmo diferenciar o conteúdo de entretenimento do comercial. A publicidade infantil intensifica problemas sociais como o consumismo infantil, a formação de valores materialistas, o aumento da obesidade infanto-juvenil, a violência e a erotização precoce.

        [...]

        Na prática, a resolução nº 163, em conjunto com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor, deveria significar o fim dos abusos mercadológicos desferidos às crianças, ou seja, o fim do direcionamento da publicidade ao público infantil, à medida que se trata de uma norma emanada de um conselho deliberativo, com poder vinculante e, obrigatoriamente, precisaria ser observada e cumprida em território nacional.

        No entanto, o mercado age à revelia da norma, acreditando estar acima dela, acima do Conanda, da própria sociedade que o compõe e do clamor social pela proteção das crianças. Pensa ser até mesmo intocável pela Constituição Federal ou pelo Código de Defesa do Consumidor. Nada lhe atinge. Só o que lhe interessa é o expressivo volume financeiro que movimenta ao convencer crianças de que elas precisam consumir cada vez mais.

        Ocorre que a sociedade brasileira atual exige a responsabilização daqueles que infringem os direitos sociais, inclusive o das crianças a uma infância plena, sadia e feliz.

        É por isso que, como única forma de se frear esse assédio, caberá aos Procons, à Secretaria Nacional do Consumidor, aos Ministérios Públicos, às Defensorias Públicas e ao próprio Poder Judiciário, coibir as ilegalidades cometidas, inclusive com a aplicação das respectivas sanções, a fim de se garantir a construção de um país que verdadeiramente honre suas crianças.

Isabella Henriques. Um mercado fora da lei. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiiniao/173276-um-mercado-fora-da-lei.shtml. Acesso em: 11 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 7º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 200-201.

Entendendo o artigo:

01 – Qual é o principal problema abordado pela autora no artigo?

      A autora aborda o completo desrespeito do mercado publicitário à Resolução nº 163 do Conanda, que considera abusiva toda publicidade ou comunicação mercadológica direcionada a crianças menores de 12 anos. Ela denuncia que, apesar da norma em vigor, a publicidade com a intenção de seduzir crianças ao consumo continua disseminada.

02 – Em quais canais e locais a publicidade infantil ainda está presente, segundo o texto?

      A publicidade infantil ainda está presente em canais televisivos segmentados infantis, na TV aberta, nos cinemas, nas escolas, nos parques, nos clubes, na distribuição de brindes colecionáveis de cadeias de fast-food e em "outros inúmeros espaços de convivência" das crianças.

03 – Como a autora justifica o desrespeito das empresas à resolução do Conanda?

      A autora justifica o desrespeito afirmando que, para as empresas anunciantes, agências de publicidade e veículos de comunicação, os interesses financeiros e corporativos são "enormemente mais importantes" do que o desenvolvimento saudável das crianças. Ela sugere que o mercado age "à revelia da norma, acreditando estar acima dela".

04 – Por que a publicidade direcionada a crianças é considerada antiética e imoral pela autora?

      A publicidade direcionada a crianças é considerada antiética e imoral porque se aproveita da fase peculiar de desenvolvimento dos pequenos, que ainda não conseguem entender o caráter persuasivo das mensagens ou diferenciar conteúdo de entretenimento do comercial.

05 – Quais são os problemas sociais intensificados pela publicidade infantil, de acordo com o artigo?

      A publicidade infantil intensifica problemas sociais como o consumismo infantil, a formação de valores materialistas, o aumento da obesidade infanto-juvenil, a violência e a erotização precoce.

06 – Que órgãos e poderes a autora aponta como responsáveis por coibir as ilegalidades da publicidade infantil?

      A autora aponta os Procons, a Secretaria Nacional do Consumidor, os Ministérios Públicos, as Defensorias Públicas e o próprio Poder Judiciário como os responsáveis por coibir as ilegalidades e aplicar as sanções cabíveis, sendo a única forma de "frear esse assédio".

07 – O que a Resolução nº 163 do Conanda, em conjunto com o Código de Defesa do Consumidor, deveria significar na prática?

      Na prática, a Resolução nº 163 do Conanda, em conjunto com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor, deveria significar o fim dos abusos mercadológicos desferidos às crianças, ou seja, o fim do direcionamento da publicidade ao público infantil. Isso porque se trata de uma norma com poder vinculante, que deveria ser obrigatoriamente observada e cumprida em todo o território nacional.

 

domingo, 8 de junho de 2025

NOTÍCIA: I QUILOMBINHO: GARANTINDO PRIORIDADE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRIANÇAS QUILOMBOLAS - COM GABARITO

 Notícia: I Quilombinho: garantindo prioridade nas políticas públicas para crianças quilombolas

        Matheus de Lima Marques tem 12 anos e vive na Comunidade Negra Paiol de Telha, próximo ao município de Guarapuava, no Paraná, região sul do Brasil. O menino cursa a 6ª série do Ensino Fundamental e é obrigado a percorrer todos os dias uma distância longa para chegar até a escola. O trajeto é feito de ônibus, que busca as crianças em sua comunidade e leva para uma escola na cidade. “Paiol de Telha é um lugar muito bom para morar, mas a gente sente falta de algumas coisas, como posto de saúde, um mercado e principalmente uma escola”, dia o menino. Assim como na maioria das comunidades quilombolas brasileiras, a comunidade onde vive Matheus não tem escola de Ensino Fundamental.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4ehH4kl4C8qq5B6klOEFJpcZyxIsUHSw_Z3WD318F6djM1WOgAZDn_7g-d7RYmeEQXvFegp0pge1pFWsLzTFYkV_oE__FhCIdAyOuDI2lGubhmFykWqzdSrZxVnjGkfuhCTdVYUwLSv-etbu5c-CKxEe5XHuP7ozOtDER0_GJptS5Rpzu5BTLNbz8SIQ/s1600/images.jpg


        Em 2007, Matheus está contente porque ele e as crianças da escola vão receber, pela primeira vez, aulas de história e cultura afro-brasileira. “Eu acho muito importante. Já sei de muitas coisas porque faço parte de um grupo de dança afro, mas acho que todas as crianças tem direito a conhecer a história dos negros no Brasil. O nosso país é um arco-íris, né?”.

        Por conhecer tão bem o tema, Matheus teve uma redação premiada sobre “Diversidade Étnica e Racial no Brasil”, e, como vencedor, foi escolhido para participar do I Quilombinho – Encontro Nacional de Crianças e Adolescentes Quilombolas, realizado, com o apoio do Unicef, entre os dias 2 e 3 de julho de 2007, em Brasília. “Está sendo uma boa oportunidade, porque posso conhecer melhor como vivem as outras crianças, como é a vida na comunidade delas. Já tinha participado de um encontro parecido no meu Estado, mas agora encontro gente do Brasil todo. E o que eu aprender aqui, vou levar para minha comunidade e transmitir para as outras pessoas”, conta o menino que sonha, um dia, em morar na África. “Tenho vontade de conhecer de perto o povo que deu origem aos negros brasileiros. No futuro, acho que vou ser advogado, quero dar uma boa casa para minha mãe morar e ser um rapaz de qualidades”, diz.

        Junto com Matheus, cerca de 100 meninos e meninas vindos de 22 estados brasileiros discutiram, durante o I Quilombinho, temas como educação, saúde, proteção, cultura, lazer e outros direitos de crianças e adolescentes que vivem nas comunidades remanescentes de quilombos. Na história do Brasil, os quilombos eram comunidades isoladas formadas por negros que resistiam contra a escravidão. Hoje, no País, a Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial estima que existem 3.524 comunidades quilombolas, onde vivem quase 900 mil crianças e adolescentes.

Disponível em: http://unicef.org/brazil/pt/activities_10228.htm. Acesso em: 5 nov. 2014.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 59-60.

Entendendo a notícia:

01 – Quem é Matheus de Lima Marques e onde ele vive?

      Matheus de Lima Marques é um menino de 12 anos que cursa a 6ª série do Ensino Fundamental. Ele vive na Comunidade Negra Paiol de Telha, que fica próximo ao município de Guarapuava, no Paraná.

02 – Quais são as principais dificuldades que a comunidade de Matheus enfrenta, de acordo com o relato do menino?

      A comunidade de Matheus sente falta de algumas infraestruturas básicas, como posto de saúde, um mercado e, principalmente, uma escola de Ensino Fundamental, o que obriga as crianças a se deslocarem longas distâncias para estudar na cidade.

03 – Por que Matheus está contente em 2007, e qual sua opinião sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira?

      Matheus está contente porque ele e as crianças de sua escola vão receber, pela primeira vez, aulas de história e cultura afro-brasileira. Ele considera isso muito importante, pois acredita que todas as crianças têm o direito de conhecer a história dos negros no Brasil, que ele descreve como um "arco-íris".

04 – O que foi o I Quilombinho, quem participou e quais foram os temas discutidos?

      O I Quilombinho foi o Encontro Nacional de Crianças e Adolescentes Quilombolas, realizado em Brasília nos dias 2 e 3 de julho de 2007, com apoio do Unicef. Cerca de 100 meninos e meninas de 22 estados brasileiros participaram. Os temas discutidos incluíram educação, saúde, proteção, cultura, lazer e outros direitos de crianças e adolescentes quilombolas.

05 – Qual o significado histórico dos quilombos no Brasil e qual a estimativa atual de comunidades quilombolas e crianças que nelas vivem?

      Historicamente, os quilombos eram comunidades isoladas formadas por negros que resistiam contra a escravidão. Atualmente, a Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial estima que existem 3.524 comunidades quilombolas no País, onde vivem quase 900 mil crianças e adolescentes.