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sábado, 30 de setembro de 2017

LITERATURA - FIM DE CASO (SENHORA-JOSÉ DE ALENCAR) - COM GABARITO


LITERATURA : FIM DE CASO 
                              José de Alencar

        Aurélia passava agora as noites solitárias.
        Raras vezes aparecia Fernando, que arranjava uma desculpa qualquer para justificar sua ausência. A menina que não pensava em interroga-lo, também não contestava esses fúteis eventos. Ao contrário buscava afastar da conversa o tema desagradável.
        Conhecia a moça que Seixas retirava-lhe seu amor; mas a altivez do coração não lhe consentia queixar-se. Além de que, ela tinha sobre o amor ideias singulares, talvez inspiradas pela posição especial em que se achara ao fazer-se moça.
        Pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas e pois a afeição que lhe tivesse, muita ou pouca, era graça que dele recebia.  
        Quando se lembrara que esse amor a poupara à degradação de um casamento de convivência, nome com que se decora o mercado matrimonial, tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus e redentor.
        Parecerá estranha essa paixão veemente, rica de heroica dedicação, que entretanto assiste calma, quase impassível, ao declínio do afeto com que lhe retribuía o homem amado, e se deixava abandonar, sem preferir um queixume, nem fazer um esforço para reter a ventura que foge.
        [...]
        Em princípio a menina cuidou que Seixas lhe voltara, e encheu-se de júbilo; mas não durou a ilusão. Logo percebeu que não era o desejo de vê-la e estar com ela, o que levava o moço à sua casa; pois os poucos instantes de demora passava-os inteiramente distraído e como perplexo.
        --- O senhor quer dizer-me alguma coisa, mas receia afligir-me, observou a menina uma noite com angélica resignação.
        Fernando aproveitou a ocasião para resolver a crise.
        --- Meu voto mais ardente, Aurélia, sonho dourado de minha única mulher que amei neste mundo. Mas a fatalidade que pesa sobre mim, aniquilou todas as minhas esperanças; e eu seria um egoísta, se prevalecendo-me de sua afeição, a associasse a uma existência obscura e atribulada. A santidade de meu amor deu-me a força para resistir a seus próprios impulsos. Disse uma vez à sua mãe, pressentindo essa cruel situação: sou menos infeliz renunciando à sua mão, do que seria aceitando-a para fazê-la desgraçada, e condená-la às humilhações da pobreza.
        --- Essas já as conheço, respondeu Aurélia com tênue ironia, e não me aterram; nasci com elas, e têm sido as companheiras de minha vida.
        --- Não me compreendeu, Aurélia; referia-se a um partido vantajoso que decerto aparecerá, logo que esteja livre.
        --- Pensa então que basta uma palavra sua para restituir-me a liberdade? perguntou a moça com um sorriso.
        --- Sei que a fatalidade que nos separa não pode romper o elo que prende nossas almas, e que há de reuni-las em um mundo melhor. Mas Deus nos deu uma missão neste mundo, e temos de cumpri-la.
        --- A minha é amá-lo. A promessa que o aflige, o senhor pode retirá-la tão espontaneamente como a fez. Nunca lhe pedi, nem mesmo simples indulgência, para esta afeição; não lhe pedirei neste momento em que ela o importuna.
        --- Atenda, Aurélia! Lembre-se de sua reputação. Que não diriam se recebesse a corte de um homem, sem esperança de ligar-se a ele pelo casamento?
        --- Diriam talvez que eu sacrificava a uma amor desdenhado, um partido brilhante, o que é uma...
        A moça cortou a ironia, retraindo-se.
        --- Mas não; faltariam à verdade. Não sacrifiquei nenhum partido; o sacrifício é a renúncia de um bem; o que eu fiz foi defender a minha afeição. Sejamos francos: o senhor já não me ama; não o culpo, e nem me queixo.
        Seixas balbuciou umas desculpas e despediu-se.
        Aurélia demorou-se um instante na rótula, como costumava, para acompanhar ao amante com a vista até o fim da rua. Se Fernando não estivesse tão entregue à satisfação de haver readquirido sua liberdade, teria ouvido no dobrar da esquina o eco de um soluço.
        [...]
                                                José de Alencar. Senhora. São Paulo:
                                                                      Scipione, 1994. p.. 76-7.

1 – O autor afirma que Aurélia tinha ideias singulares sobre o amor. Que atitude da personagem vem confirmar essa afirmação? (Considere que Senhora, romance do qual foi retirado o texto, foi publicado em 1875.)
      Aurélia aceita o afastamento de Fernando com resignação, facilitando-lhe, inclusive, o rompimento do compromisso.

2 – Caracterize psicologicamente as duas personagens.
      Aurélia: jovem sensível, altiva. Tem por Fernando um amor que chega à veneração.
      Fernando Seixas: jovem egoísta e covarde que busca pretextos para justificar sua falta de caráter.

3 – Aurélia diz adorar Seixas como seu Deus e redentor. De que ele a estaria redimindo?
      De um casamento de conveniência, do qual ele a poupara.

4 – Analise o procedimento de Seixas: seria correto afirmar que Aurélia estava idealizando a figura do amado?
      Sim. Ela fazia dele um deus. Não queria admitir que era humano e cheio de defeitos.

5 – Releia o sexto parágrafo. Observe o emprego das palavras Heroica e impassível. Com que intenção o autor as usou?
      Com a intensão de mostrar uma heroína impassível, que não deixa transparecer seus verdadeiros sentimentos.

6 – Releia a argumentação usada por Seixas, para justificar o rompimento do compromisso. Por que ela não convence?
      Existe na fala de Seixas uma sinceridade exagerada, que nos faz desconfiar dele. Além disso, ele exagera também na descrição de sua situação econômica, sem explicar mais detalhadamente por que iria “condená-la às humilhações da pobreza”.

7 – Observe a frase:
      “--- Pensa então que basta uma palavra sua para restituir-me a liberdade?”
a)   A que liberdade se refere a moça?
À liberdade que seu coração conseguiria caso deixasse de amar Seixas.

b)   O que seria necessário para conseguir essa liberdade, além da palavra de Seixas?
A decisão dela de esquecê-lo para sempre.

8 – O que levou Aurélia a se resignar diante da decisão de Seixas?
      Aurélia sabia de sua posição social inferior, talvez se achasse indigna do rapaz; além disso, a grandeza de seu caráter a impediria de obrigar Seixas a ficar com ela sem que ele a amasse o suficiente. Seu amor não é egoísta. Considerar, também, a situação da mulher na sociedade da época, em geral.

9 – Localize os adjetivos usados pelo autor para caracterizar os seguintes substantivos: sonho, posição, existência, ironia, partido, voto. O que você nota? Releia o texto, observando o emprego dos adjetivos, de modo geral, e faça um comentário.
      Sonho dourado; posição brilhante; existência obscura; ironia tênue; partido brilhante; voto ardente. O aluno deverá notar que os adjetivos estão ligados a luz, cor ou luminosidade. No conjunto, conferem ao texto a impressão de um jogo de luzes: claro/escuro.

10 – “Conhecia a moça que Seixas retira-lhe seu amor”; “Pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas”. O que você observa quanto à estruturação desses períodos? Qual seria a razão dessa construção?
      O aluno deverá observar que há inversão (hipérbole) dos termos: a oração começa pelo verbo, deslocando-se o sujeito para depois do verbo. Considerar que o texto é do Século XIX; pelo que podemos perceber em outros textos da mesma época, o hipérbato era um recurso usual.

11 – Há no texto o emprego frequente de orações subordinadas substantivas. Observe em que passagens isso ocorre e dê uma justificativa para essa opção do autor.
      O autor usa frequentemente o discurso indireto (“Conhecia a moça que...”; “Pensava ela que...”); consequentemente, recorre às orações subordinadas.

12 – Refletindo sobre as características do texto que você leu, procure traçar:
a)   O perfil do leitor a que ele se destina.
Centrando-se no ponto de vista da heroína, percebe-se que o texto está dirigido a um público feminino.

b)   A condição da mulher na sociedade da época.
A mulher, principalmente as pertencentes às classes menos ricas, tinha pouco poder de decisão sobre sua vida sentimental, ficando sujeita à decisão dos homens. No caso específico de Aurélia, essa situação irá mudar a partir do momento em que ela herdará uma fortuna.



terça-feira, 23 de maio de 2017

SENHORA - JOSÉ DE ALENCAR - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

SENHORA

        Seixas ajoelhou aos pés da noiva; tomou-lhe as mãos que ela não retirava; e modulou o seu canto de amor, essa ode sublime do coração que só as mulheres entendem, como somente as mães percebem o balbuciar do filho.
        A moça com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada, os olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se embebia dos eflúvios, de que ele a repassava com a palavra ardente, o olhar rendido, e o gesto apaixonado.
        --- É então verdade que me ama?
        --- Pois duvida, Aurélia?
        --- E amou-se sempre, desde o primeiro dia que nos vimos?
        --- Não lho disse já?
        --- Então nunca amou a outra?
        --- Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para a minha esposa, para ti...
        Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva.
        Aurélia estava lívida, e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizava.
        --- Ou de outra mais rica! ... disse ela retraindo-se para fugir ao beijo do marido, e afastando-o com a ponta dos dedos.
        A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.
        --- Aurélia! Que significa isto?
        --- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nós estamos escarnecendo mutuamente senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
        --- Vendido! exclamou Seixas ferido dentro d`alma.
        --- Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.
        Aurélia proferiu estas desdobrando um papel, no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos.
       Não se pode exprimir o sarcasmo que salpicava dos lábios da moça, nem a indignação que vazava dessa alma profundamente revolta, no olhar implacável com que ela flagelava o semblante do marido.
        Seixas, trespassado pela cruel insulto, arremessado do êxtase da felicidade a esse abismo de humilhação, a princípio ficara atônito. Depois quando os assomos da irritação vinham sublevando-lhe a alma, recalcou-os esse poderoso sentimento do respeito à mulher, que raro abandona o homem de fina educação.
        Penetrado da impossibilidade de retribuir o ultraje à senhora a quem havia amado, escutava imóvel, cogitando no que lhe cumpria fazer; se matá-la a ela, matar-se a si, ou matar a ambos.

                  Senhora. Edição crítica de José Carlos Garbuglio. Rio de Janeiro:
                                    Livros Técnicos e Científicos. São Paulo: EDUSP, 1979.

EFLÚVIO: emanação de energia.
SUBLEVAR: erguer, revoltar.
TRASTE: móvel caseiro, móvel ou utensílio velho.
CONTO DE RÉIS: um milhão de réis.

1 – Logo no início do texto, o personagem Seixas tem uma atitude que a Literatura Romântica soube tipificar, quando o homem apaixonado rendia-se diante da amada.
       Que atitude é essa, ou seja, como é denominada literariamente?
       Vassalagem amorosa.

2 – Como pode ser entendida a passagem “modulou o seu canto de amor”?
       Declaração de amor.

3 – No segundo parágrafo, que trecho pode ser transcrito como prova de que Aurélia se envolvera e estava sensibilizada com as palavras de Seixas?
       “... toda ela se embebia dos eflúvios de amor... o olhar rendido e o gesto apaixonado”.

4 – Diz-se do amor que ele é extremista; portanto, as atitudes – ações e reações – expressas por quem ama são incoerentes e instintivas.
       Comente a passagem do texto que justifique essa afirmação.
       Tudo indicava que Aurélia já se havia convencido do amor que Seixas declarava; no entanto, quando este procurou dar a ela uma prova do que lhe dissera, aproximando-se para beijá-la, Aurélia recuou tornando-se desconfiada e grosseira, atingindo-o com duras palavras.

5 – Cite a passagem através da qual Aurélia se refere ironicamente ao casamento, dizendo-o uma exigência dos escrúpulos da sociedade da época em que vivia.
        Ela se refere a Seixas, seu marido, como um “traste indispensável às mulheres honestas”.

6 – O “final feliz” é típico das obras romanceadas do Romantismo. Senhora é exemplo da história em que tudo acaba bem, isto é, o casal se encontra na vida de realizações amorosas.
        A respeito do que dissemos, de que meio Aurélia se utilizou para salvar o amor?
       Aurélia se utiliza da agressão moral, estimulando Seixas a reagir com a finalidade de recuperá-lo.

7 – A traição é tema do romance Senhora, mas não é de abordagem constante nas obras do Romantismo. O mesmo não diríamos do Realismo e do Naturalismo diante da presença do tema em questão.
        Explique esse comentário.
        No Romantismo, a traição é perdoada por conta do grande e sincero amor que, em essência, une os enamorados.
        No Realismo, essa atitude, considerada desvio de caráter, é imperdoável por tratar-se, segundo visão materialista, de uma afronta moral.
        No Naturalismo, visto com reflexo da fisiologia patológica que domina os personagens, é abordado de moto a mostrar, a partir dessa ação, uma reação animalesca: a briga entre “machos” na disputa pela “fêmea”.

8 – “Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva. Aurélia estava lívida, e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizava.
        Reexaminando esse trecho que nos fala da “súbita mutação” da personagem feminina do texto, podemos associá-lo diretamente ao perfil comportamental dos personagens típicos do Romantismo.
        A que aspecto característico do Romantismo essa atitude do personagem pode estar associada?
        A “súbita mutação” está associada à vida subjetiva, emotiva, sentimental, que caracterizou os personagens do Romantismo.

9 – As três orações do texto têm na sua construção morfossintática a marca das escrituras românticas, ao delinear o perfil personalístico de seus personagens.
        Que aspecto da personalidade dos personagens românticos fica registrado através desse trecho?
        O grau de dramaticidade e extremismo dos personagens desse estilo.

10 – A partir do que ficou estudado nas questões 6 e 7, quanto aos personagens do Romantismo, delimite características dos personagens do Realismo/Naturalismo que se oponham às registradas nas referidas questões.

        Os personagens do Realismo/Naturalismo são racionais, frios, calculistas e não idealizados.

domingo, 14 de maio de 2017

TEXTO LITERÁRIO: DIVA - JOSÉ DE ALENCAR - PARA O ENSINO MÉDIO - COM GABARITO

LITERATURA: DIVA
                             José de Alencar

        Era uma hora da noite. Eu esperava Emília com os olhos fitos na janela de seu quarto, as únicas em toda a casa que ainda apareciam frouxamente esclarecidas. Já te disse que os aposentos de Emília, uma alcova, um gabinete de vestir e uma sala de trabalho, ocupavam a face esquerda do edifício. Desse lado o sobrado apoiava-se a uma escarpa da colina, que lhe serviria como de alicerce, e que para elegância da construção o arquiteto disfarçara com um terraço.
        O gabinete de Emília abria uma porta para esse terraço. Ali no quarto iluminado pela claridade interior, via eu de longe desenhar-se seu vulto esbelto. Avançou até a borda do rochedo escarpado.
        --- Que vai ela fazer, meu Deus! – balbuciei trêmulo e frio de susto.
        Esquecendo tudo, para só lembrar-me do risco imenso que sua vida corria, fui para soltar um grito de pavor que a suspendesse: mas ela, resvalando pelas pontas erriçadas do rochedo abrupto, já tocava a planície. Pouco depois estava junto de mim, alma, risonha sem a menor fadiga.
        --- Aqui estou! – disse afoitamente, abaixando o capuz da longa mantilha.
        --- Para que arrisca a sua vida, D. Emília? Se eu soubesse... Não tinha aceitado! Ela ergueu os ombros desdenhosamente.
        --- Ainda estou frio! ... Parecia-me a cada momento que o pé lhe faltava e ...
        --- Eu morria! ... Se não fosse isso teria eu vindo?
        Podíamos ficar onde estávamos, tranquilamente sentados no sofá... Para que serviria a vida, se ela fosse uma cadeira? Viver é gastar, esperdiçar a sua existência, como uma riqueza que Deus dá para ser prodigalizada. Os que só cuidam de preservá-la dos perigos, esses são os piores avarentos!
        --- E quem se priva a si do mais belo sentimento, quem se esquiva de amar, não é avaro também da vida, avaro do seu coração e das riquezas de sua alma? A senhora o é, S. Emília! Oh! Não negue!
        --- Como ele se engana, meu Deus! – exclamou Emília erguendo ao céu os belos olhos.
        --- Que diz?... Então posso acreditar enfim?
        E murmurei arquejante.
        Nunca até aquele momento, durante dois meses vividos em doce intimidade e no conchego estrito de nossas almas, nunca a palavra amor fora proferida em referência a nós. Emília dava-me, como já sabes, todas as preferências a que podia aspirar o escolhido do seu coração, e assumira para comigo o despotismo da mulher amada com paixão. Ela imperava em mim como soberana absoluta. Seu olhar tiranizava-me, e fazia em minha alma a luz e a treva.

                  ALENCAR, José de. Diva. São Paulo: Editora Ática, 1980, p. 43-44.

1 – Sobre o texto lido, só NÃO podemos afirmar:
a)     A presença de um narrador de 1ª pessoa contribui para a verossimilhança do relato e para o tom íntimo da narrativa.
b)    A onisciência do narrador é marcada pelo domínio dos fatos narrados e pela utilização do tempo pretérito.
c)     Existe no texto um leitor privilegiado, expresso pela presença da 2ª pessoa do singular.
d)    São utilizados, além da narração, o diálogo entre os protagonistas e a descrição do cenário.
e)     O narrador, de 1ª pessoa, por não ser personagem, assume uma postura crítica quanto ao relato.

2 – Podemos dizer que o texto apresenta o:
a)     Sentimento amoroso como algo sublime e divino, responsável pela plena felicidade do ser amante.
b)    Personagem masculino como o elemento dominador da situação amorosa.
c)     Protótipo do personagem feminino encontrado nos romances românticos: a mulher etérea e submissa.
d)    Tipo de atmosfera cara a vários autores românticos, evidenciado pela presença da noite e de elemento natural soturno, compondo a paisagem.
e)     Racionalismo, a sobriedade e a contenção emocional como elementos caracterizadores dos protagonistas.

3 – “Para que serviria a vida, se ela fosse uma cadeira? Viver é gastar, esperdiçar a sua existência, como uma riqueza que Deus dá para ser prodigalizada. Os que cuidam de preservá-la dos perigos, esses são os piores avarentos!”
        Na concepção de Emília, a vida é:
a)     Bela por ser perigosa e cruel.
b)    Riqueza distribuída pelos avarentos.
c)     Dádiva a ser fruída.
d)    Prisão, embora sedutora e bela.
e)     Pródiga e, paradoxalmente, avara.

4 – As figuras de linguagem presentes em:
      “E quem se priva a si do mais belo sentimento (...)”
      “Ela imperava em mim como soberana absoluta.”
      “(...) e fazia em minha alma a luz e a treva.”
              São respectivamente:
a)     Metáfora, símile e prosopopeia.
b)    Pleonasmo, silepse e antítese.
c)     Catacrese, símile e antítese.
d)    Pleonasmo, símile e antítese.
e)     Pleonasmo, metáfora e metonímia.

5 – “(...), as únicas em todo a casa que ainda apareciam frouxamente esclarecidas.”
          Esclarecidas, no texto acima, significa:
a)     Lúcidas.
b)    Explicadas.
c)     Cultas.
d)    Claras.
e)     Limpas.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

SENHORA - ROMANTISMO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

  SENHORA

        --- O senhor não retribuiu meu amor e nem o compreendeu. Supôs que eu lhe deva apenas a preferência entre outros namorados, e o escolhia para herói dos romances, até aparecer algum casamento, que o senhor, moço honesto, estimaria para colher à sombra o fruto de suas flores poéticas. Bem vê que eu distingo dos outros, que ofereciam brutalmente mas com franqueza e sem rebuço, a perdição e a vergonha.
        Seixas abaixou a cabeça.
        --- Conheci que não amava-me, como eu desejava e merecia ser amada. Mas não era sua a culpa e só minha que não soube inspirar-lhe a paixão que eu sentia. Mais tarde, o senhor retirou-me essa mesma afeição com que me consolava e transportou-a para outra, em que não podia encontrar o que eu lhe dera, um coração virgem e cheio de paixão com que o adorava. Entretanto, ainda tive forças para perdoar-lhe e amá-lo.
        A moça agitou então a fronte com uma vibração altiva:
        --- Mas o senhor não me abandonou pelo amor de Adelaide e sim pelo seu dote, um mesquinho dote de trinta contos! Eis o que não tinha direito de fazer, e o que jamais lhe podia perdoar! Desprezasse-me embora, mas não descesse da altura em que o havia colocado dentro de minha alma. Eu tinha um ídolo; o senhor abateu-o de seu pedestal, e atirou-o no pó. Essa degradação do homem a quem eu adorava, eis o seu crime; a sociedade não tem lei para puni-lo, mas há um remorso para ele. Não se assassina assim um coração que Deus criou para amar, incutindo-lhe a descrença e o ódio.
        Seixas, que tinha curvado a fronte, ergueu-a de novo e fitou os olhos da moça. Conservava ainda as feições contraídas e gotas de suor borbulhavam na raiz dos seus cabelos negros.
        --- A riqueza que Deus me concedeu chegou tarde; nem ao menos permitiu-me o prazer da ilusão, que tem as mulheres enganadas, Quanto a recebi, já conhecia o mundo e as suas misérias; já sabia que a moça rica é um arranjo e não uma esposa; pois bem, disse eu, essa riqueza servirá para dar-me a única satisfação que ainda posso ter neste mundo. Mostrar a esse homem que não me soube compreender, que mulher o amava, e que alma perdeu. Entretanto, ainda eu afagava uma esperança. Se ele recusa nobremente a proposta aviltante, eu irei lançar-me a seus pés. Suplicar-lhe-ei que aceite a minha riqueza, que a dissipe se quiser, mas consinta-me que eu o ame. Esta última consolação, o senhor arrebatou. Que me restava? Outrora ataca-se o cadáver ao homicida, para expiação da culpa; o senhor matou-me o coração; era justo que o prendesse ao despojo de sua vítima. Mas não desespere, o suplício não pode ser longo: constante martírio a que estamos condenados acabará por extinguir-me o último alento; o senhor ficará livre e rico.
                                                 Jose de Alencar. Senhora. São Paulo: Moderna.
1 – Sobre o texto:
a)     Pelo discurso de Aurélia, percebemos que o texto registra uma oposição com que a sociedade da época soube conviver. Que oposição é essa?
Amor e Dinheiro.

b)    Aurélia, porque não foi amada à altura da sua dedicação a Seixas, impõe a este uma “punição”. Cite-a.
Viver ao seu lado forçosamente.

c)     O que Aurélia sugere em suas palavras no último período?
Que, por força da dor de amar sem ser amada, morreria cedo, e Seixas estaria livre e herdaria sua riqueza.

d)    Aurélia é personagem típica do romance romântico? Justifique.
SIM. Pela postura nobre, motivada pela emoção, justa e amorosa.

e)     Com que adjetivos poderíamos caracterizar o estado de espírito de Aurélia?
Magoada / Ofendida / Humilhada / Desprezada.

f)      Comente o discurso da Aurélia a partir do fato de ser o texto romântico.
Apresenta um discurso nobre, eloquente, de tom declamatório.


O GUARANI - ROMANTISMO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO


 O GUARANI

        Os gritos e bramidos dos selvagens, que continuavam com algumas interrupções, foram-se aproximando da casa; conhecia-se que escalavam o rochedo nesse momento.
        Alguns minutos se passaram numa ansiedade cruel. D. Antônio de Mariz depositou um último beijo na fronte de sua filha; D. Lauriana apertou ao seio a cabeça adormecida da menina e envolveu-se numa manta de seda.
        Peri, com o ouvido atento, o olhar fito na porta, esperava. Ligeiramente apoiado sobre o espaldar da cadeira às vezes estremecia de impaciência e batia com o pé sobre o pavimento da sala.
        De repente um grande clamor soou em torno da casa; as chamas lamberam com as suas línguas de fogo as frestas das portas e janelas; o edifício tremeu desde os alicerces com o embate da tromba de selvagens que lançava nomeio do incêndio.
        Peri, apenas ouviu o primeiro grito, reclinou sobre a cadeira e tomou Cecília nos braços; quando o estrondo soou na porta larga do salão, o índio já tinha desaparecido.
        Apesar da escuridão profunda que reinava em todo o interior da casa, Peri não hesitou um momento; caminhou direto ao quarto onde habitara sua senhora, e subiu à janela.
        Uma das palmeiras da cabana estendia-se por cima do precipício e apoiava-se a trinta palmos de distância sobre um dos galhos da árvore que os aimorés tinham abatido durante o dia que tiraram aos habitantes da casa a menor esperança de fuga.
        Peri, apertando Cecília nos braços, firmou o pé sobre essa ponte frágil, cuja face convexa tinha quando muito algumas polegadas de largura.
        Quem lançasse os olhos nesse momento para aquela banda da esplanada veria ao pálido clarão do incêndio deslizar-se lentamente por cima do precipício um vulto hirto, como um desses fantasmas que, segundo a crença popular, atravessam à meia-noite as velhas ameias de algum castelo em ruínas.
        A palmeira oscilava, e Peri, embalando-se sobre o abismo, adiantava-se vagarosamente para a encosta oposta. Os gritos dos selvagens repercutiam nos ares de envolta com o estrépito dos tacapes que abalavam as portas da sala e as paredes do edifício.
        Sem se inquietar com a certa tumultuosa que deixava após si, o índio ganhou a margem oposta, e segurando com uma mão nos galhos da árvore, conseguiu tocar a terra sem o menor acidente.
        Então, fazendo uma volta para não aproximar-se do campo dos aimorés, dirigiu-se à margem do rio; aí estava escondida entre as folhas a pequena canoa que serviria outrora para os habitantes da casa atravessarem o Paquequer.
        Durante a ausência de uma hora que Peri tinha feito, quando deixava Cecília adormecida, ele havia tudo preparado para essa empresa arriscada que devia salvar sua senhora.
        Graças à sua atividade espantosa, armou com o auxílio da corda a ponte pênsil sobre o precipício, correu ao rio, amarrou a canoa no lugar que lhe pareceu mais propício, e em duas viagens levou esse barquinho que ia servir de morada a Cecília durante alguns dias, tudo quanto a menina podia crescer.
                                                                                                     JOSE DE ALENCAR.
1 -  O texto, sem deixar dúvidas, é legítimo representante do tipo de romance do Romantismo. Que afirmação NÃO comprovaria essa tese?
a)     A tendência a desenvolver um discurso comovente e emocionante.
b)    A configuração, pelos seus atos, da personagem como herói.
c)     A narrativa marcada por situações que conduzem ao suspense, técnica essa que prendia o leitor aos acontecimentos.
d)    O emprego estilístico da hipérbole, denunciando a maneira sentimentalmente exagerada de conduzir a narrativa.
e)     O apego ao descritivismo da realidade imediata com a finalidade de dar verossimilhança aos fatos narrados.

2 – De que modo podemos ver a presença da personagem Peri como personagem típica da criação poética do Romantismo?
       Através da sua bravura.

3 – Qual o ponto de vista da narrativa?
       Narrativa em 3ª pessoa, narrador onisciente.


terça-feira, 18 de abril de 2017

SENHORA - JOSÉ DE ALENCAR - (FRAGMENTO) -COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO:  SENHORA
                            José de Alencar

         Quem observasse Aurélia naquele momento, não deixaria de notar a nova fisionomia que tomara seu belo semblante e que influía em toda a sua pessoa.
         Era uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza, dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam as irradiações da inteligência. Operava-se nela uma revolução. O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem. [...]
         Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça [...] apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, e a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito difícil e intrincada que fosse. [...]
         --- Tomei a liberdade de incomodá-lo, meu tio, para falar-lhe de objeto muito importante para mim.
         --- Ah! Muito importante? ... repetiu o velho batendo a cabeça.
         --- De meu casamento! disse Aurélia com a maior frieza e serenidade.
         O velhinho saltou na cadeira como um balão elástico. Para disfarçar sua comoção esfregou suas mãos rapidamente uma na outra, gesto que indicava nele grande agitação.
         --- Não acha que já estou em idade de pensar nisso? Perguntou a moça.
         --- Certamente! dezoito anos...
         --- Dezenove.
         --- Dezenove! Cuidei que ainda não os tinha feito! ... Muitos casam-se nesta idade, e até mais moças; porém é quando têm o paizinho ou a mãezinha para escolher um bom noivo e arredar certos espertalhões. Uma menina órfã, inexperiente, eu não lhe aconselharia que se casasse senão depois da maioridade, quando conhecesse bem o mundo.
         --- Já o conhece demais, tornou a moça com o mesmo tom sério.
         --- Então está decidida?
         --- Tão decidida que lhe pedi esta conferência.
         --- Já sei! Deseja que eu aponte alguém. Que eu lhe procure um noivo nas condições precisas... Ham! ...É difícil... um sujeito no caso de pretender uma moça como você, Aurélia? Enfim há de se fazer a diligência!
         --- Não precisa, meu tio. Já o achei!
         --- Como? ... Tem alguém de olho?
         --- Perdão, meu tio, não entendo sua linguagem figurada. Digo-lhe que escolhi o homem com quem me hei de casar.
         --- Já compreendo. Mas bem vê! ... Como tutor, tenho de dar a minha aprovação.
         --- Decerto, meu tutor; mas essa aprovação o senhor não há de ser tão cruel que a negue. Se o fizer, o que eu não espero, o juiz de órfãos a suprirá.
         [...]
         --- O nome? Perguntou o velho molhando a pena. Aurélia fez um aceno de espera.
         --- Esse moço chegou ontem [...]. O senhor deve procura-lo quanto antes...
         --- Hoje mesmo.
         --- E fazer-lhe sua proposta. Estes arranjos são muito comuns no Rio de Janeiro.
         --- Estão-se fazendo todos os dias.
         --- O senhor sabe melhor do que eu como se aviam estas encomendas de noivos.
         --- Ora, ora!
         --- Previno-o de que meu nome não deve figurar em tudo isto.
         --- Ah! Quer conservar o incógnito.
         --- Até o momento da apresentação. Entretanto pode dizer quanto baste para que não suponham que se trata de alguma velha ou aleijada.
         --- Percebo! Exclamou o velho rindo. Um casamento romântico.
         --- Não, senhor, nada de exagerações. Só tem licença para afirmar que a noiva não é velha nem feia.
         --- Quer preparar a surpresa.
         --- Talvez. Os termos da proposta... [...]
         --- Os termos da proposta devem ser estes; atenda bem. A família de tal moça misteriosa deseja casá-la com separação de bens, dando ao noivo a quantia de cem contos de réis de dote. Se não bastarem cem e ele exigir mais, será o dote de duzentos...
         --- Hão de bastar. Não tenha dúvida.
         --- Em todo o caso quero que o senhor compreenda bem o meu pensamento. Desejo como é natural obter o que pretendo, o mais barato possível; mas o essencial é obter, e portanto até metade do que possuo, não faço questão de preço. É a minha felicidade que vou comprar.
         Estas últimas palavras, a moça proferiu-as com uma indefinível expressão.

                         ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Ática, 1999, p. 29-33.

1 – Releia o trecho:
                   Operava-se nela uma revolução. O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem.
a)     De acordo com o trecho, Aurélia rompe com uma visão tradicional da mulher. Que visão seria essa?
A visão de que mulher não pensa, sente. É importante observar a relação entre a mulher e o sentimento (coração), e o homem e a inteligência (cérebro).

b)    A visão da mulher citada no item anterior é bastante romântica. O que você pensa sobre essa visão da mulher? Você concorda com ela? Pense em argumentos que possam sustentar sua opinião e registre-os em seu caderno.
Resposta pessoal.

c)     Forme um pequeno grupo e exponha para seus colegas sua opinião e os argumentos que a sustentam. Em seguida, ouça a opinião e os argumentos deles. Todos tem a mesma opinião? Se não, que tal organizar um pequeno debate? Se achar necessário, selecione mais argumentos que possam fortalecer a defesa de sua ideias.
Espera-se que a turma organize um debate sobre o tema, considerando a época em que o romance foi escrito.

2 – Aurélia causa espanto por apresentar algumas características não esperadas para uma moça na época. Que características são essas? Justifique sua respostas.
       Aurélia é inteligente e perspicaz, pois entende de negócios e sabe aritmética. É também decidida e autônoma, uma vez que escolhe seu noivo. É interessante discutir o exemplo relativo à aritmética, que, atualmente, pode provocar risos; porém, não era essa a intensão do autor. É um momento propício para se discutir a relação entre contexto de produção da obra e o efeito no leitor de outra época.

3 – Por meio da conversa entre Aurélia e seu tutor, revela-se um costume da época:
       --- [...] Estes arranjos são muito comuns no Rio de Janeiro.
       --- Estão-se fazendo todos os dias.
a)     De que costume se trata?
O casamento arranjado.

b)    Destaque no texto trechos em que tal costume fica evidente.
Respostas possíveis: “[...] quando tem o paizinho ou a mãezinha para escolher um bom noivo”; “Deseja que eu aponte alguém. Que eu lhe procure um noivo nas condições precisas...”; “[...] dando ao noivo a quantia de cem contos de réis de dote”.

c)     De acordo com o texto, como se dá, na prática, esse costume?
Não são os próprios noivos que escolhem seus futuros cônjuges. É oferecida certa quantia (dote) ao pretendente (noivo) para firmar o contrato de casamento.