Texto: O ator e a representação
Fragmento sobre Artes Cênicas
O ator é, antes de tudo, um
privilegiado. Pode ser qualquer um, incorporar outra persona de corpo e alma
para em seguida voltar a ser ele mesmo. Para isso, vale-se de exercícios de
preparação e conscientização corporal de modo que seu eu se torne invisível.
Aos olhos encantados da sua audiência, só o personagem existe.
Ao emprestar seu corpo, o ator torna-se
veículo da arte. E tudo acontece ao vivo, diferentemente de outras artes –
escultura, pintura, escrita –, cujo fazer não é mostrado ao público no momento
em que acontece.
Por isso o ator necessita tanto do
ensaio, porque aos outros artistas basta o livre fazer e desfazer, para só depois
apresentar o resultado à sua audiência. Já o ator precisa elaborar seu trabalho
tendo em conta que o apresentará por uma quantidade determinada de vezes e
nenhuma apresentação será exatamente igual a outra. Sua habilidade está em
superar essa contingência sem desfigurar a obra, e isso somente é possível pela
construção sólida do personagem e por ensaios exaustivos.
Ser alguém por um momento e voltar a
ser você mesmo em outro, aliar a vida imaginada e a vivida não é tarefa
simples, exige técnica, imaginação criadora e livre trânsito pelo espaço
cênico. Uma linha tênue, sutil separa o convencimento da incredulidade. Uma
atuação convincente alcança certo grau de veracidade que desprende o espectador
do real para o lúdico sem que essa transição seja percebida. Por meio de
diferentes técnicas, modelos e sistemas, de Stanislavski, passando por Anton
Tchekhov (1860-1904), Bertold Brecht (1898-1956). Antonin Artaud (1896-1948),
Jerzy Grotowshi (1933-1999), Peter Brook (1925-) e tantos outros, o ator busca
abrir a janela para o infinito interior e, a partir de poucos elementos
simbólicos, retratar a alma humana.
Caderno de Artes
Cênicas. São Paulo: Sesi-SP, 2012. v. 1, p. 54.
Fonte: Língua
Portuguesa – Se liga nas linguagens – Área do conhecimento: Linguagens e suas
Tecnologias – Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2020 – Moderna – p. 63-4.
Entendendo o texto:
01 – Releia o primeiro
parágrafo.
a) No contexto da representação, o que significa “se tornar invisível”?
“Tornar-se invisível” significa incorporar integralmente o
personagem.
b) Na sua opinião, a ideia de “invisibilidade” invalida a opção da diretora Duda Maia para a encenação das atrizes de Elza? Justifique.
Resposta pessoal do aluno.
02 – Ao mostrar certas particularidades
da representação diante de outros fazeres artísticos, o produtor do texto
afirma: “Sua habilidade está em superar essa contingência sem desfigurar a
obra”.
a) A que ele se refere com o termo contingência?
No contexto, contingência refere-se às particularidades ou
eventualidades de cada apresentação.
b) Qual é a “desfiguração” que o ator precisa evitar?
A desfiguração da obra, já que as representações são diferentes a
cada vez, inclusive devido às particularidades de recepção do público.
03 – A peça Romeu e Julieta
teve inúmeras montagens, produzidas tanto por profissionais quanto por
amadores, em situações despretensiosas. Considere o que foi dito sobre a
representação e a relação com o público e responda: quais são os prováveis
limites de uma peça não profissional?
Segundo o texto,
a representação pressupõe “exercícios de preparação e conscientização corporal”
e muitos ensaios para uma “construção sólida do personagem”. Sem isso, torna-se
difícil conseguir uma “atuação convincente”.
04 – A proposta do Caderno
de artes cênicas é, segundo os produtores da coleção em que se insere,
contribuir para que o público entenda melhor a expressão artística teatral. O
trecho lido acrescentou algo ao seu conhecimento sobre a arte da representação?
Resposta pessoal
do aluno.
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