terça-feira, 7 de julho de 2020

POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL

                 Mário de Andrade

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.

Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.

Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!

Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!

Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.

(ANDRADE, Mário. In: Poesias completas. São Paulo, Círculo do Livro, 1976. p. 286-7).

 

Entendendo o poema:

01 – Pesquise o significado das seguintes palavras:

·        Lundu: dança de origem africana segundo Aurélio Buarque de Holanda, desde meados do século XIX, lundu passou a ser também uma canção (modinha) de caráter cômico.

·        Enquizila: aborrece, importuna; variante da palavra quizila, de origem africana.

·        Escurez: o mesmo que escuridão; Mário de Andrade preferia as formas escurez e escureza.

·        Caipora: que traz azar; palavra de origem tupi (caa, ‘mato’; porá, ‘morando’, ‘habitante’) que designa um ente fantástico, o qual, segundo os indígenas brasileiros, provoca desgraças.

·        Capoeira: terreno roçado; assim como a palavra caipira, capoeira é de origem tupi.

·        Gupiara: palavra de origem tupi que designa, em regiões de exploração de ouro, o cascalho ralo que encobre as jazidas.

·        Caruru: palavra de origem africana que designa várias plantas de valor nutritivo, utilizadas em pratos típicos da comida afro-brasileira.

·        Bajé: cidade gaúcha.

·        Pixé: palavra de origem tupi que significa ‘mau cheiro’.

·        Chué: ordinário, de pouco valor.

·        Guariba: macaco.

02 – De que se trata o poema?

      O autor defende, com bom humor e ironia, a importância da cultura popular na formação de uma identidade genuinamente brasileira.

03 – No primeiro verso, o eu lírico se coloca na posição de um escritor que “incomoda muita gente”. A partir do que é apresentado nas demais estrofes, por que isso acontece?

     O incômodo acontece porque em seus poemas ele fala sobre diversas culturas.

04 – O Lundu também é conhecido como: landum; lundum e londu. Faz referência a um canto e dança que teve origem no continente africano e que, posteriormente, foi introduzido aqui no Brasil nosso país. Provavelmente foi trazido por escravos angolanos. Por que o autor usou este termo?

      Porque o termo possibilita ao poema o sentido de mistura de culturas.

05 – Explique o motivo da palavra “xavié” vir entre aspas e as palavras bagé, pixé e chué não?

      Porque foi usada na linguagem coloquial.

06 – Qual o tema principal tratado por Mário de Andrade? O que o poeta critica em seu poema?

      Mário de Andrade fala sobre as diferenças culturais. Critica o desconhecimento / a falta de respeito com nossa língua regional.

07 – No poema, há uma alteração estrutural no que se refere ao uso da:

a)   Métrica.

b)   Rima.

c)   Linguagem de dicionário.

d)   Linearidade do discurso.

08 – A estrofe: “Cortina de brim caipora, / Com teia caranguejeira / E enfeite ruim de caipira, / Fale fala brasileira / Que você enxerga bonito / Tanta luz nesta capoeira.”, escrito entre 1927 e 1928, o que o autor quis dizer?

      O autor ilustra bem o pensamento do escritor paulistano, que propunha a retirada de “cortinas” para que o diálogo entre vida, história, música e literatura iluminasse a cultura nacional.

09 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – Neste poema, Mário de Andrade enfatiza o seu esforço de criação de uma expressão literária nacional, e, para tanto, utiliza vocabulário que resgata as regiões do Brasil.

II – Além da linguagem, Mário de Andrade resgata as raízes culturais do país, como a culinária e a representação artística.

III – Na primeira estrofe, Mário de Andrade faz uso da figura de linguagem antítese, ao empregar as palavras “difícil/fácil” e “luz/escurez”. Essas antíteses evidenciam a contradição vivenciada pelos intelectuais brasileiros que, com os olhos no estrangeiro, não conseguem compreender este poeta brasileiro.

É (são) correta(s) afirmação(ões):

a)   I e II.

b)   Todas.

c)   Apenas III.

d)   II e III.

10 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – No próprio poema, Mário de Andrade identifica a solução para que os leitores não o considerem um escritor difícil: que falem e aprendam a “fala brasileira”.

II – No décimo verso, Mário de Andrade dá um conselho ao seu leitor, por meio do emprego do modo verbal imperativo.

III – Nos dois últimos versos, o escritor utiliza-se do discurso indireto para indicar o significado da palavra guariba. É (são) correta(s) a(s) afirmação (ões):

a)   I e II.

b)   Apenas I.

c)   Todas.

d)   II e III.

11 – Nos versos: “Não carece vestir tanga / Pra penetrar meu caçanje!”, no trecho em destaque há a seguinte figura de linguagem:

a)   Sinestesia.

b)   Assonância.

c)   Paradoxo.

d)   Metonímia.

 



 


CRÔNICA: PRETO E BRANCO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Preto e branco

               Fernando Sabino

        Perdera emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse; por constrangimento, afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar: escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser seu mais velho companheiro de noitadas. 

        De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. 

        E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua México, já distraídos de seus passados tropeços, mas, tropeçando obstinadamente no inglês com que se entendiam -- quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. 

        Era o sambista seu amigo.

        Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais tarde incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo de maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. 

        Pensou rapidamente em se esquivar -- não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera -- acaso jamais chegara sequer a se lembrar de que se tratava de um preto! Agora, com o gringo ali ao seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. 

        E não era mesmo com ele. 

        Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano, também seu amigo. 

(Fernando Sabino)

Entendendo a crônica:

01 – Identifique as personagens protagonistas dessa narrativa e aponte suas características, de acordo com suas ações no texto.

      O homem que procurava emprego: no momento estava inseguro, fragilizado por sua difícil situação, mostrou-se preconceituoso e equivocado; – o sambista negro, seu amigo: bom sujeito, espontâneo, afetuoso.

02 – A vida da personagem principal passa por várias modificações, durante o texto. Indique-as.

      Primeiramente, ele perde um emprego, chega a passar fome, e afasta-se dos amigos. Depois, quando ele consegue um emprego, agarra-se tanto a ele, que, por medo, finge não conhecer seu amigo negro.

03 – Por que ele acredita que cumprimentando o amigo negro, seu emprego correria risco?

      Porque ele pensou que todo americano era preconceituoso e como ele estava com seu chefe americano, ficou com medo que aquela relação de amizade o prejudicasse. “Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação”.

04 – Sendo inevitável, como o personagem cumprimentou o amigo sambista? O que aconteceu em seguida?

      Ele cumprimentou da maneira mais discreta possível, mas não adiantou, pois o sambista atravessou a rua em sua direção, deixando-o em estado de pânico.

05 – Relate o que passou pela cabeça do personagem que justifique seu pânico.

      Primeiramente, ele pensou em se esquivar, não deu certo, pois o chefe já se detivera também, ao ver o preto se aproximar. Depois ele, pela primeira vez, reparou o quanto o amigo era preto, e por último, ele se justifica afirmando que passar fome, só era bonito nos romances, e que o amigo iria compreender suas razões.

06 – Explique por que a frase “E não era mesmo com ele”, é importante para a narrativa.

      Porque é essa frase que demarca a mudança total dos acontecimentos. Pois, a partir dela, ficamos sabendo que o negro se aproximara para cumprimentar o americano e não o personagem central.

07 – Justifique, com uma passagem do texto, o fato de que o sambista pode nem ter visto o personagem central, pois dirigira seu olhar para o americano.

      “Porque antes de cumprimenta-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços...”

08 – O que indica o verbo “acolher” no último parágrafo?

      Que o americano se adiantou para abraçar o sambista e que este “recebeu de maneira afetuosa” o abraço.

09 – Então, não há registro de comportamento preconceituoso no texto?

      Há sim, mas não como se supunha: do americano para com o negro, mas sim do personagem central para com o americano.

10 – Explique o jogo de palavras que aparece na frase: “... já distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando obstinadamente o inglês...”

      Nos dois casos a palavra “tropeço” está no sentido conotativo, indicado dificuldades. Dificuldades passadas, quando estava desempregado e dificuldades em falar inglês.

11 – Qual seria essa “ética ianque”, citada pela personagem central?

      A ética americana, que ao seu ver, consideraria desaconselhável a amizade entre pessoas de etnias diferentes, principalmente, devido ao cargo que o personagem exercia.

 

     


CRÔNICA: UMA SURPRESA PARA DAPHNE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Uma surpresa para Daphne

               Luís Fernando Veríssimo

        Daphne mal podia acreditar nos seus ouvidos. Ou no seu ouvido esquerdo, pois era neste que chegava a voz de Peter Vest-Pocket, através do fone.

        -- Daphne, você está ai? Sou eu, Peter.

        Quando finalmente conseguiu se refazer da surpresa, a pequena e vivaz Daphne – era assim que a legenda de sua foto como debutante no Tattler a descrevera, anos atrás – esforçou-se para controlar a sua voz.

        -- Você quer dizer o sujo, tratante, traidor, nojento desprovido de qualquer decência ou caráter, estupido e desprezível Peter Vest-Pocket?

        -- Esse mesmo. É bom saber que você ainda me ama.

        -- Seu, seu...

        -- Tente porco.

        -- Porco!

        -- Foi por isso que deixei você, Daphne. Você sempre faz o que eu mando. Era como viver com um perdigueiro. Agora acalme-se.

        -- Porco imundo!

        -- Está bem. Agora acalme-se. Pergunte por que é que estou telefonando para você depois de dois anos.

        -- Não me interessa. E foram dois anos, duas semanas e três dias.

        -- Eu preciso de você, Daphne.

        -- Peter...

        -- Preciso mesmo. Eu sei que fui um calhorda, mas não sou orgulhoso. Peço perdão.

        -- Oh! Peter. Não brinque comigo...

        -- Daphne você se lembra daquela semana em Teormina?

        -- Se me lembro.

        -- Do jasmineiro no pátio do hotel? Das azeitonas com vinho branco à tardinha no café da praça?

        -- Peter, eu estou começando a chorar.

        -- E daquela vez em que fomos nadar nus, ao luar, e veio um guarda muito sério pedir nossos documentos, e depois os três começamos a rir e o guarda acabou tirando a roupa também?

        -- Não. Isso eu não me lembro.

        -- Bom deve ter sido em outra ocasião. E a pensão em Rapallo, Daphne.

        -- A pensão! O velho do acordeão que só tocava Torna a Sorriento e Tea for two.

        -- E a festa de aniversário que nós entramos por engano e eu acabei fazendo a imitação do Maurice Chevalier com laringite.

        -- Ah, Peter...

        -- Lembra o pimentão recheado da Signora Lumbago, na pensão?

        -- Posso sentir o gosto agora.

        -- Qual era mesmo o ingrediente secreto que ela usava, e que só nos revelou depois que nós ameaçamos contar para o marido do caso dela com o garçom?

        -- Era... Deixa ver. Era manjericão.

        -- Você tem certeza?

        -- Tenho. Ah, Peter... Não consigo ficar braba com você.

        -- Ótimo, Daphne. Precisamos nos ver. Tchau.

        -- Tchau? TCHAU?! Você disse que precisa de mim, Peter!

        -- Precisava. Eu estou fazendo aquele pimentão recheado para uma amiga e não me lembrava do ingrediente secreto. Você me ajudou muito, Daphne, e...

        -- Seu animal! Seu jumento insensível! Seu filho...

        -- Daphne, eu já pedi desculpas. Você quer que eu me humilhe?

                                                      Luís Fernando Veríssimo

Entendendo a crônica:

01 – Por que Daphne ficou surpresa com a ligação do Peter? Qual foi a sua reação?

      Porque fazia dois anos, duas semanas e três dias que não se falavam. Sua reação foi xingá-lo bastante, a princípio.

02 – De qual forma Daphne se lembrou de Peter? Cite algumas características.

      Lembrou desta forma: o sujo, o tratante, traidor, nojento desprovido de qualquer decência ou caráter, estúpido e desprezível.

03 – Que estratégia Peter usou para conseguir o que queria da Daphne?

      Assumiu que foi um calhorda e pede perdão a ela.

04 – Que fato gera o humor da crônica?

      O ato dele conseguir com que a Daphne o perdoasse, usando a estratégia de relembrar os bons momentos vividos por eles, até ela ajuda-lo a lembrar o ingrediente secreto que vai no pimentão recheado, “manjericão”.

05 – Marque verdadeiro ou falso as frases abaixo:

(F) A prosa poética é um texto de caráter objetivo, linguagem padrão.

(V) A poesia é uma forma de expressão presente nos poemas e músicas.

(F) A personificação é uma figura de linguagem que destaca o exagero.

(V) A crônica humorística retrata situações engraçadas do cotidiano e são veiculadas em jornais e revistas.

(F) As rimas preciosas são rimas que possuem a mesma classe gramatical.

(V) A poesia é um gênero textual presente em outros gêneros.

06 – Qual é o tema central da crônica?

      O tema central se encontra no uso que Peter (o moço) faz do amor de Daphne.

07 – Mesmo sabendo da falta de caráter de Peter e ter vivido o modo como ele a tratava, ela acreditou na palavra dele. Copie um trecho do texto que comprove.

      “Ah, Peter... Não consigo ficar brava com você.

        -- Ótimo, Daphne. Precisamos nos ver. Tchau.”

08 – Ao ler a crônica nos vem uma imensa sensação de surpresa, visto que, o final se contradiz totalmente com o que realmente o leitor esperava. Por quê?

      Pelo fato de que, Peter não ligara para Daphne com o intuito de vê-la e reviver o seu amor novamente e sim, por querer lembrar o nome de um ingrediente, pois estava fazendo uma receita para receber uma amiga para jantar.

 

 

 


CRÔNICA: EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Exigências da vida moderna

             Luís Fernando Veríssimo

        Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C.

        Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

        Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

        Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

        Cada dia uma Aspirina, previne infarto.

        Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.

        Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.

        O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

        Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

        Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.

        E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.

        Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

        Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

        Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

        As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

        E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

        Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

        Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.

        Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

        Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!

        Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.

        Chame os amigos junto com os seus pais.

        Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama.

        Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

        Agora tenho que ir.

        É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau!

        Viva a vida com bom humor!!!

Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Percebe-se claramente o aspecto de humor do texto através de:

a)   Ironia ao fato de que nem todas as recomendações são benéficas ao homem.

b)   Uso da linguagem despudorada que recomenda absurdos à rotina das pessoas.

c)   Obscuridade nas tarefas que são sugeridas aos homens.

d)   Sátira pelo excesso de tempo disponível que as pessoas têm.

e)   Sátira às tantas recomendações para alcançar uma vida saudável e prazerosa.

02 – Ao comparar as amizades a uma planta, o autor tem a intenção de:

a)   Comparar as amizades às plantas, pois ambas são companhia ao homem.

b)   Distinguir as amizades das plantas, já que não há nenhum traço que as associe.

c)   Associar as amizades às plantas, pois ambas precisam ser cuidadas.

d)   Reconhecer a similaridade entre a importância que cada uma representa na vida do homem.

e)   Conscientizar sobre a necessidade de cuidado ambiental com as plantas que merecem tanta atenção quanto as amizades.

03 – O texto acima é uma crônica, modalidade literária que está bem definida na alternativa:

a)   Forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano.

b)   Texto de narrativa longa cujo principal objetivo é apresentar a perspectiva histórica sobre um fato.

c)   Texto em prosa ou verso que mostra de forma cômica, a realidade observada em determinada situação.

d)   Texto de leitura simples, muitas vezes superficial, sem grande importância literária.

e)   Texto de conteúdo verídico e que necessariamente precisa ser apresentado de forma caricata.

04 – No texto, a personagem principal busca retratar:

a)   O homem moderno que precisa se adaptar à rotina de atividades intensas e equilibrá-la com recomendações de cuidados com a saúde.

b)   O homem contemporâneo que tem tempo ocioso e o aproveita para cuidar exclusivamente da saúde.

c)   O indivíduo atarefado com tarefas fúteis que se preocupa unicamente com elas.

d)   O ser humano cada vez mais egoísta e carente de cuidados com o próximo.

e)   O homem cristão que tem se afastado dos princípios divinos.

05 – Considerando-se as características que definem o gênero textual crônica, quais podem ser encontradas no texto de Luís Fernando Veríssimo.

a)   Presença de reflexões de cunho pessoal e utilização do discurso indireto livre.

b)   Interlocução constante com leitor e a abordagem de acontecimentos cotidianos.

c)   Presença de argumentação objetiva e de coloquialismo na fala das personagens.

d)   Gênero narrativo ficcional linguagem predominantemente formal e conotativa.

06 – No texto, o cronista trata de um tema contemporâneo que diz respeito, sobretudo, à (ao):

a)   Preocupação com dietas impossíveis de serem seguidas.

b)   Desperdício de tempo com complexos hábitos de higiene.

c)   Excesso de tarefas que a vida moderna impõe às pessoas.

d)   Falta de tempo para execução das habituais tarefas domésticas.

07 – Releia: “Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos, que ninguém sabe bem o que é, mas que...”. Entende-se que neste trecho o autor chama a atenção para o aspecto persuasivo da propaganda que convoca o consumidor a consumir determinados produtos, muitas vezes, sem refletir a respeito. Qual é a sua opinião sobre isso?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Reflita sobre: “Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações”. Você costuma estar bem informado? Que tipo de leitura costuma fazer para se informar?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – A partir da leitura deste texto, podemos fazer uma reflexão sobre como nos comportamentos frente às atividades do cotidiano e o que priorizamos. Quais são suas prioridades?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Você também se deixa influenciar pela mídia, consumindo o que mostram como indispensáveis à saúde? De que forma?

      Resposta pessoal do aluno.


quarta-feira, 1 de julho de 2020

POEMA: BEM NO FUNDO - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

Poema: Bem no fundo

         Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto.


A partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo.


Extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais.


Mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski.

Entendendo o poema:

01 – O poema estrutura-se em três momentos de significação, que podem ser assim caracterizados: hipótese (1ª estrofe); decreto (2ª e 3ª estrofes); conclusão reflexiva (4ª estrofe). Nomeie o recurso formal que expressa a hipótese no primeiro momento do texto:

      O recurso formal é a repetição nos versos: “No fundo, no fundo, / bem lá no fundo...”.

02 – “Maldito seja quem olhar pra trás, / lá pra trás não há nada, / e nada mais. Que o autor quis dizer?

      Que olhar para trás é voltar sua atenção ao passado e a nossa memória nem sempre é confiável, sem perceber, podemos minimizar nossos problemas do passado. Essa recordação distorcida pode nos levar a ter saudades dos bons velhos tempos.

03 – No poema, o autor apresenta, nos versos iniciais, um hipotético desejo que ele mesmo se encarrega de neutralizar, por meio de um procedimento sintático que se inaugura com uma oração de natureza:

a)   Adversativa.

b)   Aditiva.

c)   Alternativa.

d)   Conclusiva.

e)   Explicativa.

04 – Se nossos problemas fossem resolvidos por decreto, como seria?

      O poder executivo estaria, então dando as ordens necessárias para todo e qualquer ato em prol das suas resoluções, pudessem ser exercidos a favor de uma vida repleta de fatos e soluções. A felicidade ganharia uma obrigatoriedade justa e precisa.

05 – A expressão “silêncio perpétuo” é usado no meio jurídico para expressar o quê?

      O Código Civil faz menção expressa a questão em estudo, dispondo em seu artigo 111 que “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.

      Perpétuo – Que dura e permanece para sempre.

 

 


POEMA: MAÇÃ - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Maçã        

Manuel Bandeira

Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende o cordão placentário

És vermelha como o amor divino

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.

Manuel Bandeira, in 'Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, 1986'.

Entendendo o poema:

01 – Indique com V as características modernistas presentes no texto e com F, as demais:

(F) Lirismo introspectivo.

(V) Valorização poética do cotidiano.

(F) Prosaísmo.

(V) Tom crítico-irônico.

(V) Liberdade formal.

02 – Com que(m) o eu lírico compara a maçã?

      Ela é comparada a pares do corpo humano: seio, ventre, por sua forma arredondada.

03 – Em que versos ela é aproximada a divindade?

      “És vermelha como o amor divino.

       Dentro de ti em pequenas pevides
       Palpita a vida prodigiosa
       Infinitamente.”

04 – A que o caule foi comparado?

      Ao cordão placentário.

05 – Nos versos: “E quedas tão simples / Ao lado de um talher / Num quarto pobre de hotel.”. Percebe-se o que na fala do eu lírico?

      Que ela sofre uma redução: ela é aproximada à condição de objeto pictórico, de natureza morta, ela é aproximada aos objetos, ao mundo inanimado, colocada ao lado do talher, no quarto de um hotel.

06 – Leia as afirmativas abaixo sobre o poema:

I – As expressões “por um lado” (linha 1) e “pelo outro” (linha 2) funcionam como elementos coesivos que conectam os dois primeiros versos da primeira estrofe.

II – Na segunda estrofe, a maçã é descrita a partir de uma perspectiva externa.

III – O título “Maçã” serve como elemento coesivo que conecta as três estrofes do poema.

Assinale a alternativa que corresponde às afirmativas verdadeiras:

a)   Apenas I.

b)   II e III.

c)   I e II.

d)   I e III.

e)   I, II e III.

07 – No texto é possível identificar características e recursos expressivos recorrentes do gênero poema, como o(a):

a)   Uso de frases longas em prosa.

b)   Uso de verbos no imperativo.

c)   Presença de rimas.

d)   Descrição objetiva.

e)   Divisão em versos.

08 – Releia os seguintes versos: “Por um lado te vejo como um seio murcho / Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende o cordão placentário.”. Sobre o pronome relativo, cujo, em destaque acima, é correto afirmar que:

a)   Concorda com o termo que o sucede, “umbigo”, e indica lugar.

b)   Concorda com o termo que o antecede, “ventre”, e indica lugar.

c)   Concorda com o termo que o sucede, “cordão”, e indica relação de posse.

d)   Concorda com o termo que o sucede “umbigo”, e indica relação de posse.

e)   Concorda com o termo que o antecede, “ventre”, e indica relação de posse.

09 – No verso: “Num quarto pobre de hotel”, a expressão “de hotel” pode ser substituída, sem perda de sentido por:

a)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre cujo hotel pertence”.

b)   Uma oração subordinada adjetiva restritiva, como a destacada em “Num quarto pobre que pertence a um hotel”.

c)   Uma oração subordinada adjetiva restritiva, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.

d)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.

e)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.