quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

NOTÍCIA: A AVALANCHE - FOLHA.UOL.COM - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

NOTÍCIA: A Avalanche

         Avalanche na face francesa do Mont Blanc deixa oito alpinistas desaparecidos.      
                           
            DA REDAÇÃO

        Ao menos oito alpinistas -cinco austríacos e três suíços- desapareceram após uma avalanche que aconteceu na noite de sábado para domingo, na face francesa do Mont Blanc, mais alta montanha dos Alpes.
        Outras oito pessoas ficaram feridas em consequência da avalanche, mas foram socorridas e estão fora de perigo -quatro delas já deixaram o hospital.
        As autoridades locais contabilizaram em oito o número de desaparecidos, porém a ministra francesa do Interior, Michele Alliot-Marie, não confirmou a informação. "É extremamente difícil saber com exatidão quantas pessoas ficaram presas na avalanche", disse a ministra.
        As tarefas de resgate foram suspensas ontem à tarde por causa do risco de desprendimento de placas de neve - cerca de 40 socorristas e três helicópteros participaram das buscas.
        Não há "possibilidade de encontrar algum sobrevivente", disse Alliot-Marie após sobrevoar o local.
        A avalanche aconteceu no lado norte do Mont Blanc, a 3.600 metros de altitude -o pico da montanha está a 4.810 metros.
        Segundo os primeiros registros, um bloco de gelo, ao cair, "provocou uma corrente de neve, que se transformou em avalanche", explicou o capitão da polícia militar, Daniel Pueyo. As condições meteorológicas eram "excelentes", concluiu.
        Caso se confirmem as mortes dos oito desaparecidos, passará de cem o número de vítimas nos Alpes franceses neste verão europeu.

               
 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2508200810.htm

Entendendo o texto:

01 – A notícia, como a reportagem, também é um texto jornalístico que apresenta registro dos fatos, informando de moto objetivo acontecimentos recentes de interesse geral. Qual é o fato informado na notícia lida?
       O desaparecimento de 8 alpinistas após uma avalanche na montanha dos Alpes, o Mont Blanc.

02 – Qual é a variedade linguística (formal ou informal) empregada no texto?
       É a variedade padrão, porque não tem gírias.

03 – A informação noticiosa precisa ser verídica, com dados objetivos, evitando-se especulações. Em que pessoa a notícia foi relatada?
       Na 3ª pessoa, de forma objetiva.

04 – Quase sempre a notícia apresenta uma linguagem clara, objetiva, concisa e direta, além de dados precisos. Por que a notícia tem essas características?
       O leitor tem interesse em saber os fatos, não a opinião do jornalista e suas interferências.

05 – A notícia, assim como a reportagem, compõem-se, em geral, de 3 partes: NOTÍCIA/MANCHETE (em negrito e letras grandes) - título, OLHO DA NOTÍCIA (resumo em letra diferenciada) - subtítulo, LEAD/ LIDE - primeiro parágrafo, CORPO DO TEXTO. No lead/lide responde às perguntas o que ocorreu, com quem, quando, onde, como e por quê. Como aconteceu o fato?

      Um bloco de gelo caiu e provocou uma corrente de neve que se transformou em uma avalanche.

CRÔNICA: ESPÍRITO CARNAVALESCO - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

CRÔNICA: Espírito carnavalesco 
                     Moacyr Scliar
   
     Ensaios da escola de samba Mocidade Alegre atrapalham sono de moradores da região. Cotidiano, 29.jan.2001.

        Cansado, ele dormia a sono solto, quando foi bruscamente despertado pela esposa, que o sacudia violentamente. Que aconteceu, resmungou ele, ainda de olhos fechados.
        - Não posso dormir -queixou-se ela.
        - Não pode dormir? E por quê?
        - Por causa do barulho -ela, irritada: - Será possível que você não ouça?
        Ele prestou atenção: de fato, havia barulho. O barulho de uma escola de samba ensaiando para o Carnaval: pandeiros, tamborins... Não escutara antes por causa do sono pesado. O que não era o caso da mulher. Ela exigia providências.
        - Mas o que quer você que eu faça? -perguntou ele, agora também irritado.
        - Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho.
        - De jeito nenhum -disse ele. - Não sou fiscal, não sou polícia. Eu não vou lá.
        Virou-se para o lado, com o propósito de conciliar de novo o sono.
        O que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lo de novo.
        Ele acendeu a luz, sentou na cama:
        - Escute, mulher. É Carnaval, esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.
        Ela começou a chorar. Você não me ama, dizia, entre soluços:
        - Se você me amasse, iria lá e acabaria com a farra.
        Com um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem uma palavra.
        Ela ficou à espera, imaginando que em dez ou 15 minutos a batucada cessaria.
        Mas não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-se meia hora, passou-se uma hora: nada. Nem sinal dele.
        E aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido alguma coisa ao pobre homem? Será que -por causa dela- ele tinha se metido numa briga? Teria sido assassinado? Mas neste caso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gente tão insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmo depois de ter matado um homem? Não aguentando mais, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba, ali perto.
        Não, o marido não tinha sido agredido e muito menos assassinado.
        Continuava vivo, e bem vivo: no meio de uma roda, ele sambava, animadíssimo.
        Ela deu meia volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.

         O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar. 2. ed.
                                     São Paulo: Global, 2002.
Entendendo o texto:

01 – Qual era o nome da escola de samba, que estava ensaiando?
      Escola de samba Mocidade Alegre.
02 – De que maneira o homem, foi acordado pela mulher? E por que motivo?
      Ele foi despertado pela mulher que sacudia violentamente. Pelo motivo que não conseguia dormir por causa do barulho.
03 – Qual foi a exigência da mulher?
      Que ele fosse lá e mandasse parar com o ensaio, ou seja, parasse com o barulho.
04 – O homem indignado com a exigência da mulher, o que ele respondeu?
      Que não iria, porque ele não era fiscal e nem polícia.
05 – No trecho: “Escute, mulher. É Carnaval, esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.” Quem disse está frase? E qual foi a reação da mulher?
      O marido foi quem disse. Começou a chorar, e dizer que se ele a amasse iria lá e acabaria com a farra.
06 – Já que a mulher não deixava-o dormir, qual foi a reação do homem?
      Ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem dizer nada.
07 – Por que a mulher achou que o marido, podia ter sido machucado, ter se envolvido numa briga ou até mesmo ter sido morto?
      Porque já tinha passado mais de uma hora, e ele não tinha voltado.
08 – Por causa da demora do marido, qual foi a decisão da mulher?
      Não aguentando a demora, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba.
09 – Qual foi a surpresa da mulher ao chegar na escola de samba?
      O marido estava no meio de uma roda sambando, animadíssimo.
10 – Diante do que a mulher viu, qual foi a decisão tomada por ela?
      Ela deu meia volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.
11 – Se esta crônica, tivesse acontecido com você, o que faria?
      Resposta pessoal do aluno.

      
                                    


      

TEXTO: VIVER, TAMBÉM É PRECISO - ILUSTRAÇÃO: ALCY - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: VIVER, também é preciso

        Horas extras, segundo pesquisas, fazem mal à saúde

        Grande parte dos trabalhadores brasileiros faz horas extras. Pesquisas demonstram que os patrões lucram com isso; os trabalhadores concordam e aproveitam para melhorar sua renda mensal. Apesar disso, a longo prazo todos saem perdendo.

        Aumento do trabalho

        Nos últimos vinte anos, as exigências de produção tornaram o trabalho mais rápido, cansativo e estressante. Isso porque eliminaram o tempo livre, criaram o trabalhador multifuncional e polivalente, e aumentaram significativamente o desgaste mental. Trabalhar acima dos nossos limites significa sofrimento psíquico, estresse e, por fim, adoecimento.

        Jornada prolongada

        Para uma simples jornada de trabalho oficial de 40 ou 44 horas semanais, como já acontece em muitas empresas, os problemas de fadiga e estresse já têm provocado um alto índice de adoecimento. Fazer horas extras é arriscar ainda mais a saúde, pois duas horas extras não significam um desgaste de apenas duas horas a mais de trabalho.

        Uma bomba-relógio

        Trabalhar duas horas extras no final da jornada significa um desgaste enorme. É fácil entender a razão: imagine um atleta ter de correr mais 8 Km ao final dos 42 Km de uma maratona. Pois é exatamente isso que você faz quando trabalha mais duas horas ao final das suas 8 horas normais. Ou trabalha no seu dia de descanso após uma semana inteira exaustiva. Além disso, você perde o tempo que teria para fazer outras coisas como descansar, passear, estudar, namorar, ou simplesmente pensar na sua vida. Ca entre nós, você já pensou nisso?
                                                   Extraído do site: www.smabc.org.br.
Entendendo o texto:

01 – Qual é o título do texto?
      Viver, também é preciso.

02 – Quem lucra com as horas extras? E por que os trabalhadores fazem a horas extras?
      De acordo com a pesquisa, é o patrão. Para poder complementar a renda mensal.

03 - Nos últimos vinte anos, as exigências de produção tornaram o trabalho mais rápido, cansativo e estressante, por que isso acontece?
      Isso porque eliminaram o tempo livre, criaram o trabalhador multifuncional e polivalente, e aumentaram significativamente o desgaste mental.

04 – Quais as consequências que traz o trabalho acima das nossos limites?
      Nos traz o sofrimento psíquico, estresse, e por fim, o adoecimento.

05 – Com a jornada de trabalho oficial, já existe os problemas de fadiga e estresse que provoca o adoecimento. O que acontece quando fazemos a horas extras?
      Aumenta o risco a saúde, e quanto mais horas extras, pior.

06 – De acordo com o texto, se fizer duas horas extras por dia, significa um desgaste enorme. Qual o nome dado pelo texto?
      Uma bomba-relógio.

07 – Quando se faz horas extras após às 08 horas normais ou trabalho no dia do descanso. Quais as perdas que temos, de acordo com o texto?
      Perdemos: de descansar, de passear com a família, de estudar, de namorar ou simplesmente pensar na vida.

08 – Você como trabalhador, faria horas extras?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Após ler o texto, por que você acha que horas extra, fazem mal à saúde?
      Resposta pessoal do aluno.


POEMA: SEVILHA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

POEMA: SEVILHA
                 João Cabral de Melo Neto

A cidade mais bem cortada
Que vi: Sevilha;
Cidade que veste o homem
Sob medida.
Justa ao tamanho do corpo
Ela se adapta,
Branda e sem quinas, roupa
Bem recortada.
Cortada só para um homem,
Não todo o humano:
Só para o homem pequeno
Que é o sevilhano.
Que ao sevilhano Sevilha
Tão bem se abraça
Que é como se fosse roupa
Cortada em malha.

Ao corpo do sevilhano
Toda se ajusta
E ao raio de ação do corpo
Ou sua aventura.
Nem com os gestos do corpo
Nunca interfere,
Qual roupa ou cidade que é
Cortada em série.
Sempre à medida do corpo
Pequeno ou pouco:
Ao teto baixo do míope,
Aos pés do coxo.
Nunca tem panos sobrando
Nem bairros longe;
Sempre ao alcance da perna
Que não tem bonde.

O sevilhano usa Sevilha
Com intimidade,
Como se só fosse a casa
Que ele habitasse.
Com intimidade ele usa
Ruas e praças:
Com intimidade de quarto
Mais que de casa.
Com intimidade de roupa
Mais que de quarto
E intimidade de camisa
Mais que casaco.
E mais que intimidade,
Até com amor,
Como um corpo que se usa
Pelo interior.

O modelo não é indicado
A nenhum nórdico:
Lhe ficará muito curto
E ele incômodo.
Ou ele ficará tão ridículo
Como um automóvel,
Dos que ali, elefânticos,
Tesos, se movem.
Nas ruas que o sevilhano
Fez para si mesmo,
Pequenas e íntimas para
Seu aconchego.
Sevilhano em quem se encontra
Ainda o gosto
De ter a vida à medida
Do próprio corpo.

                          MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro.
                                                                             Nova Aguilar, 1994. p. 252-254.

Entendendo o poema:

01 – Interpretemos algumas figuras do poema. O que significa dizer que:
           a)     Sevilha não é cortada em série?
      Sevilha é um lugar sem outro igual (um lugar ímpar).

           b)    Os bairros estão ao alcance do pé?
      Os bairros são próximos.

           c)     O modelo não é indicado a nenhum nórdico?
      Os nórdicos (escandinavos) são, em geral, bastante altos. O poeta usa essa imagem para enfatizar as qualidades de Sevilha como uma cidade não muito grande.

02 – Segundo o poeta, os automóveis são objetos adequados a Sevilha? Por quê?
       Os automóveis não são adequados a Sevilha porque as ruas são estreitas e aconchegantes.


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

MÚSICA: GUARDANAPOS DE PAPEL - MILTON NASCIMENTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Música: Guardanapos de Papel
                    Milton Nascimento (Carlos Sandroni)

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
Trombetas e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glorias nem medalhas, medalhas
Medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas
Confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles veem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro.

Entendendo a canção:

01 – Que propõe o eu lírico na letra desta canção?
      Propõe-se a definir o que é ser poeta e a descrever qual seu papel social e sua importância.

02 – No verso: [Poetas] “... que chegam sem tambores nem trombetas”. Que interpretação podemos fazer?
      Poetas anônimos, discretos, que não fazem alarde. Ou também espécies de anjos (“trombetas”) que nos protegem da alienação.

03 – Que versos na canção os poetas se debruçam sobre questões existenciais, que refletem sobre a vida de forma mais abstrata, e se desgastam com isso, não conseguindo ser diferentes?
      “Convivem com fantasmas
       Multicores de cores, de cores
       Que te pintam as olheiras
       E te pedem que não chores.”

04 – Por que esta canção deveria ser tombada como hino dos poetas?
      Nela os poetas são mostrados como seres extremamente sensíveis, humildes, além de idealistas e sábios. Destaca a importância dos poetas como provocadores de uma percepção de mundo mais crítica e pela beleza plástica da letra e da melodia.

05 – O autor para driblar a proibição de falar sobre determinados temas usou algumas figuras de linguagens. Leia estes versos abaixo e cite-as:
a)    “Fazem quatrocentos mil projetos que jamais são alcançados, cansados. Nada disso importa enquanto eles escrevem”.
Hipérbole.

b)   “Se contentam com migalhas de canções, e brincadeiras com seus versos dispersos, obcecados pela busca de tesouros submersos.”
Metáfora.

c)   “Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas / Como se fossem cometas, cometas, cometas.”
Anáfora / Anáfora.

d)   “Não se cansam de falar /Do que eles juram que não viram.”
Antítese.

06 – Muitos poetas são vistos como loucos. Em que versos podemos perceber isto?
      Nos versos: “E sendo eles poetas de verdade
                           Enquanto espiam e piram e piram
                           Não se cansam de falar.”

07 – Que quis dizer o eu poético nos seguintes versos: “Como se fossem cometas num estranho céu de estrelas idiotas.”
      Que os poetas são uma fonte de inteligência e sensibilidade brilhando em meio a um contexto medíocre.

08 – Em que versos da canção nos mostra que os poetas são idealistas e convictos, não abrindo mão de sua atuação social através do poema?
      Nos seguintes versos:
      “Fazem quatrocentos mil projetos
       Projetos, projetos, que jamais são
       Alcançados, cansados, cansados nada disso
       Importa enquanto eles escrevem, escrevem.”

09 – Nos versos: “Escrevem o que sabem que não sabem
                             E o que dizem que não devem.”
      O que o eu poético nos fala sobre os poetas?
      Que os poetas escrevem sobre incertezas humanas também, e, muitas vezes, ousam dizer o que poucos têm coragem.

10 – Esta canção também pode ser considerada uma metáfora das pessoas que ao viver as suas vidas, fazem poesia. O que você pensa a respeito?
      Resposta pessoal do aluno.


     




POEMA: LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO
              Carlos Drummond de Andrade


Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,


a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era
tranquilo em redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava
no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!

                                                                                 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
                                                                                         In: Sentimento do Mundo, 1940 e
                                                           ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa.
                                                                                             São Paulo: Nova Aguilar, 2002.
Entendendo o texto:

01 – Quando esse poema foi publicado, o mundo passava pela Segunda Guerra Mundial. A China, que também participava da guerra, enfrentava há anos uma terrível guerra civil. Na fase de sua carreira em que elaborou esse poema, Drummond construía sua poesia com problemas do mundo e as questões sociais como tema. A partir da leitura do poema, responda: o que estaria sendo criticado nesse poema?
      A violência de um modo em geral e como ela afeta o dia a dia das pessoas.

02 – A leitura do texto permite identificar um certo saudosismo do eu lírico. Por que o eu lírico fez um retorno ao mundo antigo?
      Devido à difícil realidade do mundo presente, o eu lírico desejou percorrer de novo as lembranças sem medo de uma época distante.

03 – Nos quatro primeiros versos, o eu lírico destacou o colorido que havia na natureza. O que poderia ter causado a alteração desse colorido?
      De forma figurada, a cor sombria da destruição e da morte provocada pela guerra.

04 - Nos versos 5 e 6, o eu lírico fala do guarda-civil que sorria e da menina que pisava na relva para pegar um pássaro. O que poderia ter mudado com o tempo em relação a esses elementos?
      A mudança de atitude do guarda civil e da menina está no verso 7, com a menção à Alemanha e à China, que contextualiza os versos no grande medo causado pela Segunda Guerra Mundial.

05 – No verso "Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor os insetos" referia-se a determinados perigos de um mundo anterior em que ele vivia. Os perigos a que o eu lírico se refere, no mundo de Clara, poderiam ser o surto da gripe espanhola, que matou muita gente em 1918, o calor tropical, os insetos que transmitiam doenças. Considerando que o poema foi escrito em 1940, no contexto da grande guerra, que perigos o eu lírico poderia ter de enfrenta?
      As repercussões da guerra no Brasil e sua participação efetiva nela, assim como a possível escassez de alimentos, a globalização total da guerra, etc.

06 – Quais seriam então os perigos do mundo atual?
      A violência, tráfico de drogas, desemprego, mudanças climáticas, guerras, entre outros.

07 – Por que Clara tinha medo de perder o bonde das 11h00?
      Porque demoraria muito tempo para passar outro.

08 - Por que as cartas demoravam a chegar?
      O Correios seria mais lento na década de 1940.

09 – O que indica o fato de que Clara nem sempre podia usar vestido novo?
      Ela não tinha condições de comprar um vestido novo.

10 - Hoje já não se veem mais bondes e as longas cartas estão, cada vez mais, sendo substituídas por e-mails. Como o desenvolvimento tecnológico modificou o mundo e as pessoas? 
      Ela trouxe evolução para todas as áreas científicas, porém a custo de muito isolamento das pessoas, ritmo de vida acelerado e aumento na degradação da natureza.

11 – No último verso, o que podem representar as manhãs?
      Elas representam a esperança de recomeçar

ARTIGO DE OPINIÃO: O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA - JAIME PINSKI - COM GABARITO

 Artigo de Opinião: O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA
              JAIME PINSKI

   Preconceito, nunca. Temos apenas opiniões bem diferentes sobre as coisas. Preconceito é o outro que tem...
     Mas, por falar nisso, já observou o leitor como temos o fácil hábito de generalizar (e prova disso é a generalização acima) sobre tudo e todos? Falamos sobre “as mulheres”, a partir de experiências pessoais; conhecemos os “políticos”, após acompanhar a carreira de dois ou três; sabemos tudo sobre os “militares” porque o síndico do nosso prédio é um sargento aposentado; discorremos sobre homossexuais (bando de sem-vergonhas), muçulmanos (gentinha atrasada), sogras (feliz foi Adão, que não tinha sogra nem caminhão), advogados (todos ladrões), professores (pobres coitados), palmeirense (palmeirense é aquele que não tem classe para ser são-paulino nem coragem para ser corintiano), motoristas de caminhão(grossos), peões de obras (ignorantes), sócios do Paulistano (metidos a besta), dançarinos (veados), enfim, sobre tudo. Mas discorremos de maneira especial sobre raças e nacionalidades e, por extensão, sobre atributos inerentes a pessoas nascidas em determinados Estados.
        Afinal, todos sabemos (sabemos?) que os franceses não tomam banho; os mexicanos são preguiçosos; os suíços, pontuais; os italianos, ruidosos; os judeus, argentários; os árabes, desonestos; os japoneses, trabalhadores, e por aí afora. Sabemos também que cariocas são folgados; baianos, festeiros; nordestinos, pobres; mineiros, diplomatas, etc. Sabemos ainda que o negro não tem o mesmo potencial que o branco, a não ser em algumas atividades bem definidas como o esporte, a música, a dança e algumas outras que exigem mais o corpo e menos da inteligência. Quando nos deparamos com uma exceção, admitimos que alguém possa ser limpo, apesar de francês; trabalhador, apesar de mexicano; discreto, apesar de italiano; honesto, apesar de árabe; desprendido do dinheiro, apesar de judeu; preguiçoso, apesar de japonês, e também por aí afora. Mas admitimos com relutância e em caráter totalmente excepcional.
        O mecanismo funciona mais ou menos assim: estabelecemos uma expectativa de comportamento coletivo (nacional, regional, racial), mesmo sem conhecermos, pessoalmente, muitos ou mesmo nenhum membro do grupo sobre o qual pontificamos. Sabemos (sabemos?) que os mexicanos são preguiçosos porque eles aparecem sempre dormindo embaixo dos seus enormes chapelões enquanto os diligentes americanos cuidam do gado e matam bandidos nos faroestes. Para comprovar que os italianos são ruidosos achamos o bastante frequentar uma cantina do Bexiga. Falamos sobre a inferioridade do negro a partir da observação empírica de sua condição socioeconômica. E achamos que as praias do Rio de Janeiro cheias durante os dias da semana são prova do caráter folgado do cidadão carioca. Não nos detemos em analisar a questão um pouco mais a fundo. Não nos interessa estudar o papel que a escravidão teve na formação histórica de nossos negros. Pouco atentamos para a realidade social do povo mexicano e de como ele aparece estereotipado no cinema hollywoodiano. Nada disso. O importante é reproduzir de forma acrítica e boçal os preconceitos que nos são passados por piadinhas, por tradição familiar, pela religião, pela necessidade de compensar nossa real inferioridade individual por uma pretensa superioridade coletiva que assumimos ao carimbar “o outro” com a marca de qualquer inferioridade.
        Temos pesos, medidas e até um vocabulário diferente para nos referirmos ao “nosso” e ao do “outro”, numa atitude que, mais do que autocondescendência, não passa de preconceito puro. Por exemplo, a nossa é religião, a do outro é seita; nós temos fervor religioso, eles são fanáticos; nós acreditamos na lei de Deus (o nosso sempre em maiúsculas), eles são fundamentalistas; nós temos hábitos, eles vícios; nós cometemos excessos compreensíveis, eles são um caso perdido; jogamos muito melhor, o adversário tem é sorte; e, finalmente, não temos preconceito, apenas opinião formada sobre as coisas.
        Ou deveríamos ser como esses intelectuais que para afirmar qualquer coisa acham necessário estudar e observar atentamente? Observar, estudar e agir respeitando as diferenças é o que se espera de cidadãos que acreditam na democracia e, de fato, lutam por um mundo mais justo. De nada adianta praticar nossa indignação moral diante da televisão, protestando contra limpezas raciais e discriminações pelo mundo afora, se não ficarmos atentos ao preconceito nosso de cada dia.

                                 PINSKI, Jaime. O Estado de São Paulo, 20 maio 1993.

Entendendo o texto:

1 – Observe o emprego sistemático do “nós”. Qual é a função dessa palavra no texto?
        Nós – ele se coloca entre as pessoas preconceituosas.

2 – Nos três primeiros parágrafos, ele descreve “nossas opiniões”, enumerando uma série de exemplos populares. É tudo invenção dele ou realmente “os outros” dizem essas coisas? Você já ouviu afirmações desse tipo? Por que motivo ele faz essa extensa enumeração? Um ou dois exemplos não seriam suficientes?
        Realmente dizem. Certamente os alunos já ouviram afirmações semelhantes. Ele enumera essas afirmações para nós percebermos que por mais que digamos que não somos preconceituosos o somos. Se ele diminuísse a enumeração das afirmações preconceituosas não teria o mesmo efeito sobre o leitor.

3 – A partir do quarto parágrafo, há uma mudança no rumo do texto. O que muda?
        Ele passa a analisar o mecanismo do preconceito.

4 – No último parágrafo, o que ele conclui?
        É preciso ter consciência dos nossos preconceitos para superá-los.

5 – Pelo conjunto do texto, você diria que se trata de uma lição de moral, uma “bronca” no leitor ou, de fato, de um texto argumentativo? Qual é a diferença?
        De um texto argumentativo, pois apresenta fatos, argumenta e sustenta aquilo que apresentou.
        -Lição de moral – simplesmente apresenta o que deveríamos fazer e como deveria ser feito. Geralmente a lição de moral vem na forma de enunciados categóricos sem sustentação em argumentos.
        - Bronca – simplesmente uma chamada de atenção, uma repreensão sem maiores argumentações.