sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ARCADISMO - QUESTÕES OBJETIVAS - COM GABARITO

ARCADISMO - QUESTÕES OBJETIVAS 
01 – (VUNESP):
        “Quem vê girar a serpe da irmã no casto seio,
        Pasma, e de ira e temor ao mesmo tempo cheio,
        Resolve, espera, teme, vacila, gela e cora,
        Consulta o seu amor e o seu dever ignora,
        Voa a farpada seta da mão, que não se engana;
        Mas, ai, que já vives, ó mísera indiana!”

        Nestes versos de Silva Alvarenga, poeta árcade e ilustrado, faz-se alusão ao episódio de uma obra em que a heroína morre Assinale a alternativa correta em que se mencionam o nome da heroína, o título da obra e o nome do autor, respectivamente:
a)     Moema, Caramuru, Santa Rita Durão.
b)    Marabá, Marabá, Gonçalves Dias.
c)     Lindóia, O Uraguai, Basílio da Gama.
d)    Iracema, Iracema, José de Alencar.
e)     Marília, Marília de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga.

02 – (UnB-DF) Marque a opção que identifica autor, obra e escola a que pertence o seguinte trecho:
        “Inda conserva o pálido semblante
        Um não sei quê de magoado, e triste,
        Que os corações mais duros enternece
        Tanto era bela no seu rosto a morte!”

a)     Gonçalves Dias, I-Juca Pirama, Romantismo.
b)    Castro Alves, Vozes d’África, Romantismo.
c)     Santa Rita Durão, Caramuru, Arcadismo.
d)    Basílio da Gama, O Uraguai, Arcadismo.
e)     N.D.A.


03 – (FUVEST):
        “Por fim, acentua o polimorfismo cultural dessa época o fato de se desenrolarem acontecimentos historicamente relevantes, como a inconfidência Mineira e a transladação da corte de D. João VI para o Rio de Janeiro”.
                                                                Massaud Moisés.


        A época histórica a que se refere o crítico é a do:
a)     Simbolismo.
b)    Arcadismo.
c)     Parnasianismo.
d)    Realismo.
e)     Romantismo.

04 – (FATEC-SP) Sobre o Arcadismo brasileiro só não se pode afirmar que:
a)     Tem suas fontes nos antigos grandes autores gregos e latinos, dos quais imita os motivos e as formas.
b)    Teve em Cláudio Manuel da Costa o representante que, de forma original, recusou a motivação bucólica e os modelos camonianos da lírica amorosa.
c)     Legou-nos os poemas de feição épica Caramuru (de Frei José de Santa Rita Durão) e o Uraguai (de Basílio da Gama), no qual se reconhece a qualidade literária destacada em relação ao primeiro.
d)    Norteou, em termos dos valores éticos básicos, a produção dos versos de Marília de Dirceu, obra que celebrizou Tomás Antônio Gonzaga e que destaca a originalidade de estilo e de tratamento local dos temas pelo autor.
e)     Apresentou uma corrente de conotação ideológica envolvida com as questões sociais do seu tempo, como a crítica aos abusos do poder da Coroa Portuguesa.

05 – (VUNESP) Há no Arcadismo brasileiro uma obra satírica de forma epistolar que suscitou dúvidas de autoria durante mais de século. Assinale abaixo a alternativa que apresenta o nome dessa obra e seu autor mais provável:
a)     O Reino da Estupidez e Francisco de Melo Franco.
b)    Viola de Lereno e Domingos Caldas Barbosa.
c)     O Desertor e Manuel Inácio da Silva Alvarenga.
d)    Cartas Chilenas e Tomás Antônio Gonzaga.
e)     Os Bruzundangas e Lima Barreto.

06 – (FUVEST) Assinale a alternativa que apresenta dois poetas que participam da Inconfidência Mineira:
a)     Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
b)    Castro Alves e Tomás Antônio Gonzaga.
c)     Gonçalves Dias e Cláudio Manoel da Costa.
d)    Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.
e)     Gonçalves de Magalhães e Castro Alves.

07 – (PUCCAMP-SP) Pode-se afirmar que Marília de Dirceu e Cartas Chilenas são, respectivamente:
a)     Altas expressões do lirismo amoroso e da sátira política, na literatura do século XVIII.
b)    Exemplos da poesia biográfica e da literatura epistolar cultivadas no século XVII.
c)     Exemplo do lirismo amoroso e da poesia de combate, cultivados sobretudo pelos poetas românticos da chamada “terceira geração”.
d)    Altas expressões do lirismo e da sátira da nossa poesia barroca.
e)     Expressões menores da prosa e da poesia do nosso Arcadismo, cultivadas no interior das academias.

08 – (FEI-SP) Assinale a alternativa incorreta:
a)     Os primeiros textos da literatura brasileira são informações que viajantes e missionários europeus colheram sobre a natureza e a gente brasileira.
b)    Gregório de Matos, que viveu no século XVII, destacou-se como poeta lírico e satírico.
c)     Religiosidade, antítese, paradoxos, contraste material X espiritual são características do Barroco.
d)    Embora anônima, sabe-se que a obra Cartas Chilenas foi escrita por Tomás Antônio Gonzaga no século XVIII. É uma sátira política. Nela, critica-se o governador de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses, que aparece como Fanfarrão Minésio.
e)     Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga destacaram-se como os grandes poetas épicos do Arcadismo brasileiro.

09 – (UFPB) Das afirmações abaixo, em torno do Barroco e do arcadismo no Brasil;
I – O cultismo (jogo de palavras) e o conceptismo (jogo de ideias) são típicos do Arcadismo brasileiro, preso a uma concepção neoclássica de arte.
II – Pessimista, gosto pela paradoxo e pelas antíteses, culto do contraste são algumas das características do estilo barroco.
III – Profundamente relacionado com a Contra Reforma, o estilo barroco procura a síntese entre o teocentrismo e o antropocentrismo.
IV – Os poetas Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama são representantes típicos do Arcadismo no Brasil.
São corretas apenas:
a)     I e II.
b)    II e III.
c)     III e IV.
d)    I, II e III.
e)     II, III e IV.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

MÚSICA: AS APARÊNCIAS ENGANAM - ELIS REGINA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

AS APARÊNCIAS ENGANAM

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver.

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar.
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor.

As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno.
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.

                                   Tunai e Sérgio Natureza, www.mpbnet.com.br
                                            Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
                                                              Todos os direitos reservados.

1 – No poema de Camões que você estudou, havia ideias paradoxais. Neste texto, que recurso é utilizado quando os compositores jogam com as ideias: amor x ódio; fogueira x geleira; fogo x gelo? Que efeito produz esse recurso?
      O verso que se repete já avisa: “as aparências enganam”, o que significa que podemos julgar o ódio amor e vice-versa. Os compositores unem os extremos, por meio do verbo “irmanar”, confirmando o que diz a sabedoria popular: os extremos se tocam. O efeito é interessante porque, ao mesmo tempo que coisas tão contrárias se “irmanam”, elas mantem, ainda, suas características próprias.

2 – Na primeira estrofe, pão, vinho e comunhão remetem a que contexto?
      Remetem à Santa Ceia. Impossível não pensar no simbolismo do pão e vinho como alimento para o corpo e para a alma, numa comunhão de amor possível.

3 – Como algo pode ser alimento e veneno ao mesmo tempo?
      Nesta estranha aproximação está a intertextualidade com o texto de Camões: ao mesmo tempo que alimenta, o amor mata. É preciso matar em nós muito de nós mesmos para viver o outro.

4 – Embora haja paralelismo sintático e semântico na letra da canção, existe uma progressão no texto. De que maneira isso ocorre da primeira para a segunda estrofe?
      Na primeira estrofe, fala-se em fogueira, fogo, labaredas: pressupõe-se tratar da fase da paixão num relacionamento; na segunda estrofe, fala-se de geleira e neve: pressupõe-se a fase de um relacionamento em que a paixão já se apagou e o amor “esfria”.

5 – Na última estrofe, explique a relação estabelecida entre os sentimentos e as estações do ano.
      Se associarmos a primeira estrofe ao verão (paixão), a segunda ao inverso (fim do amor) e a terceira ao outono (algo que está em declínio, mas que produz frutos), a última estrofe pode ser associada à primavera (algo que se renova, refloresce). Parece ser essa a ideia do “insistente perfume”: se o sentimento que une duas pessoas é o amor verdadeiro, ele sempre se renova, apesar de tudo. Se não há mais o “fogo natural”, é possível cortar a lenha e acender a lareira para aquecer os amantes.

6 – “As aparências enganam” mesmo? Em que medida essa afirmação nos possibilita relacionar esse texto com o de Camões. No caso dessa canção, qual seria a “essência”?
      Nos dois textos, os poetas jogam com ideias contraditórias. O ódio pode parecer amor e o amor pode parecer ódio porque os serres que experimentam esses sentimentos são, eles mesmos, contraditórios. A essência seria, então, o sentimento puro que une esses seres.



POEMA: O FOGO - LUÍS VAZ DE CAMÓES - COM GABARITO

O FOGO

        O fogo não é apenas o que arde nos raios do sol, em nossos fogões ou nas cabeças de fósforos. Nossos poetas sempre cantaram o fogo que arde dentro de nós feito paixão, angústia e amor.
Confira nos versos do famoso poeta português Luís de Camões.

        Amor é fogo que arde sem se ver;
        É ferida que dói e não se sente;
        É um contentamento descontente;
        É dor que desatina sem doer;

        É um não querer mais que bem querer;
        É solitário andar por entre a gente;
        É nunca contentar-se de contente;
        É cuidar que se ganha em se perder;

        É querer estar preso por vontade;
        É servir a quem vence, o vencedor;
        É ter com quem nos mata lealdade.

        Mas como causar pode seu favor
        Nos corações humanos amizade,
        Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
                                    Luís de Camões. Camões; Lírica. São Paulo:
                                                                           Cultrix, 1968. p. 123.
1 – Transcreva em seu caderno os versos em que o autor faz estas afirmações:
a)   Quem ama só se sente feliz ao lado da pessoa amada.
“É solitário andar por entre a gente”

b)   Quem ama é leal e nem sempre recebe da pessoa amada a mesma consideração.
“É ter com quem nos mata lealdade”.

c)   Quem ama renuncia à sua própria liberdade.
“É querer estar preso por vontade”.

d)   Quem ama tem sempre uma inquietação interior.
“É nunca contentar-se de contente”.

2 – Que palavra, na última estrofe do texto, resume tudo o que o poeta quer dizer sobre o amor?
      Contrário.

3 – Anote em seu caderno a resposta correta. A contradição do amor se concretiza no poema por meio de:
a)   Características diferenciadas entre o que aparenta ser e o que realmente é:
b)   Características negativas que o autor ressalta usando palavras desalentadoras.
c)   Características opostas que se contradizem em cada verso.

4 – Até a terceira estrofe, o poeta preocupa-se em definir o amor. Que palavra, na quarta estrofe, vem anunciar um questionamento?
      A palavra MAS.

5 – Como você responderia à indagação final do poeta?
      Resposta pessoal do aluno.

6 – O grupo Legião Urbana adaptou e musicou o poema que acabamos de analisar, acrescentando os seguintes versos, inspirados nos versículos bíblicos (I Coríntios: 13) ao início da música:

“Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é isso o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.”


Como você justificaria a escolha do grupo por textos tão antigos?
      Resposta pessoal do aluno: Considerar que o amor é universal e atemporal. Existirá enquanto existirem seres humanos. Isso, além, é claro, da genialidade dos textos.

7 – “Amor é fogo”. Em sua opinião, vale a pena “queimar-se”?
      Resposta pessoal do aluno.

8 – Com relação à palavra amor:
a)   Por que é escrita, no poema, com letra maiúscula?
Porque se refere ao amor genérico, um sentimento universal, não somente àquele entre duas pessoas apaixonadas.

b)   Por que é a primeira e a última palavra do poema?
Essa palavra abre e fecha o poema porque é fundamental: Tudo gira em torno do amor, embora não seja possível defini-lo.

9 – Marque as sílabas finais dos versos em cada estrofe. O que você nota?
      Os sons se assemelham. Há rimas intercaladas nos dois primeiros quartetos – abba, abba – e também nos dois tercetos – cdc, dcd.

10 – O que é possível afirmar sobre a extensão dos versos?
        Os versos têm a mesma extensão: são decassílabos (dez sílabas poéticas).

11 – É possível “cantar”, com facilidade, esse poema. Por quê?
      Existe um ritmo no texto, proporcionado pela métrica: todos os versos têm dez sílabas poéticas, com tônicas na sexta e na décima sílaba.


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: O IMPÉRIO DA VAIDADE - PAULO MOREIRA LEITE - COM GABARITO


O IMPÉRIO DA VAIDADE

        Em tempos de ditadura da beleza, o corpo é massacrado pela indústria e pelo comércio, que vivem da nossa insegurança, impotência e angústia.

        Você sabe por que a televisão, a publicidade, o cinema e os jornais defendem os músculos torneados, as vitaminas milagrosas, as modelos longilíneas e as academias de ginástica? Porque tudo isso dá dinheiro. Sabe por que ninguém dala do afeto e do respeito entre duas pessoas comuns, mesmo meio gordas, um pouco feias, que fazem piquenique na praia? Porque isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer aos participantes.
        O prazer é físico, independentemente do físico que se tenha: namorar, tomar milk-shake, sentir o sol na pele, carregar o filho no colo, andar descalço, ficar em casa sem fazer nada. Os melhores prazeres são de graça – a conversa com o amigo, o cheiro do jasmim, a rua vazia de madrugada –, e a humanidade sempre gostou de conviver com eles. Comer uma feijoada com amigos, tomar caipirinha no sábado, também é uma grande pedida. Ter um momento de prazer é compensar muitos momentos de desprazer. Relaxar, descansar, despreocupar-se, desligar-se da competição, da áspera luta pela vida – isso é prazer.
        Mas vivemos num mundo onde relaxar e desligar-se se tornou um problema. O prazer gratuito, espontâneo, está cada vez mais difícil. O que importa, o que vale, é o prazer que se compra e se exibe, o que não deixa de ser aspecto da competição. Estamos submetidos a uma cultura atroz, que quer fazer-nos infelizes, ansiosos, neuróticos. As filhas precisam ser Xuxas, as namoradas precisam ser modelos que desfilam em Paris, os homens não podem assumir sua idade.
        Não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta dica um pouco mais gorda, não porque querem que sejamos mais saudáveis – mas porque, se não ficarmos angustiados, não faremos mais regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza, nem roupas e mais roupas. Precisam da nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia.
        O único valor coerente que essa cultura apresenta é o narcisismo. Vivemos voltados para dentro, à procura de mundos interiores (ou mesmo vidas anteriores). O esoterismo não acaba nunca – só muda da papa a cada Bienal do Livro –, assim como os cursos de autoconhecimento, auto realização e, especialmente, autopromoção. O narcisismo explica nossa ânsia pela fama e pela posição social. É hipocrisia dizer que entramos numa academia de ginástica porque estamos preocupados com a saúde. Se fosse assim, já teríamos arrumado uma solução para questões mais graves, como a poluição que arrebenta os pulmões, o barulho das grandes cidades, a falta de saneamento.
        Estamos preocupados em marcar a diferença, em afirmar uma hierarquia social, em ser distintos da massa. O cidadão que passa o dia à frente do espelho, medindo o bíceps e comparando o tórax com o do vizinho do lado, é uma pessoa movida por uma necessidade desesperada – precisa ser admirado para conseguir gostar de si próprio. A mulher que fez da luta contra os cabelos brancos e as rugas seu maior projeto de vida tornou-se a vítima preferencial de um massacre perpetrado pela indústria de cosméticos. Como foi demonstrado pela feminista americana Naomi Wolf, o segredo da indústria da boa forma é que as pessoas nunca ficam em boa forma: os métodos de rejuvenescimento não impedem o envelhecimento, 90% das pessoas que fazem regime voltam a engordar, e assim por diante. O que se vende não é um sonho, mas um fracasso, uma angústia, uma derrota.
        Estamos atrás de uma beleza frenética, de um padrão externo, fabricado, que não é neutro nem inocente. Ao longo dos séculos, a beleza sempre esteve associada ao ócio. As mulheres do Renascimento tinham aquelas formas porque isso mostrava que elas não trabalhavam. As belas personagens femininas do romantismo brasileiro sempre tinham a pele branca, alabastrina – qualquer tom mais moreno, como se sabe, já significava escravidão e trabalho. Beleza é luta de classes. Estamos na fase da beleza ostentatória, que faz questão de mostrar o dinheiro, o tempo livre para passar tardes em academias e mostra, afinal, quem nós somos: bonitos, ricos e dignos de ser admirados.
                                  Paulo Moreira Leite. Veja, 23 ago. 1995. p. 79.

1 – Ao ler o título do texto, quais eram suas expectativas?
      Resposta pessoal do aluno. Provavelmente o aluno levantará como hipótese o fato de que somos dominados pela vaidade.

2 – Ao terminar de ler o texto, elas se confirmaram? Por que o autor escolhe esse título? Que outro poderia ser dado ao texto?
      O aluno deverá perceber que, na vaidade, a preocupação exagerada com o corpo não é algo natural, mas criado pela mídia. Outros títulos possíveis: A indústria da beleza; O império dos interesses; O preço do prazer.

3 – O autor praticamente conversa com o leitor. Como ele consegue isso?
      Usa o pronome de tratamento você. Faz perguntas ao leitor, que ele mesmo vai respondendo.

4 – Se os melhores prazeres são de graça, como afirma o autor, qual o motivo de sua preocupação?
      O motivo de sua preocupação é que a mídia nos faz crer que é preciso pagar um preço pelos prazeres.

5 – Em “As filhas precisam ser Xuxas”, pode-se observar um dos exemplos citados pelo autor para ilustrar um aspecto negativo de nossa sociedade. Qual?
      A questão da competição: é preciso sempre ser melhor em alguma coisa, ou mais belo, ou mais atlético.

6 – De que recurso se vale o autor para incluir o leitor entre os que vivem sob a cultura atroz?
      Ele fala dos homens como chefes de família, de suas filas e namoradas.

7 – O autor nos caracteriza como “infelizes, ansiosos, neuróticos”. No parágrafo seguinte, ele amarra suas ideias associando a esses três adjetivos três substantivos. Quais são eles? Explique por que temos cada um desses sentimentos.
      Impotência: nada podemos contra a ação do tempo que age em nossos corpos.
      Insegurança: com a competição acirrada, nunca estamos seguros de nós mesmos.
      Angústia: sentimo-nos aflitos por não saber como reagir ao envelhecimento numa sociedade que só valoriza o jovem.

8 – Qual é a ditadura que nos oprime, afinal?
      A ditadura da indústria e do comércio da beleza, reforçada pela mídia.

9 – Por que o narcisismo é um valor coerente dentro dessa cultura atroz? Qual a relação entre o mito de Narciso e a situação descria pelo autor do texto?
      Cada um busca sua projeção, sua fama, seu sucesso de forma egoísta e individualista. Narciso apaixona-se pela própria imagem, refletida num lago. No texto, Paulo Moreira Leite afirma que, em nossa sociedade, estamos voltados apenas para nós mesmos, para nossa imagem, nossos desejos, querendo fama e posição social.

10 – Em que parágrafo o autor afirma que seria hipocrisia dizer que nossa preocupação com o corpo está relacionada à saúde? Analise o argumento que ele usa para provar isso. Ele foi convincente? Por quê?
      No parágrafo 5. Os argumentos do autor são irrefutáveis: realmente, uma preocupação com a saúde nos levaria à busca de soluções coletivas, como cuidar do meio ambiente ou promover a diminuição da desigualdade social.

11 – Costuma-se dizer que uma das maneiras de aceitarmos o corpo que temos é cuidar do aspecto emocional, uma vez que a auto estima nos ajuda a valorização do que somos e não do que aparentamos ser. Essa afirmação está de acordo ou em desacordo com o que afirma o autor de “O império da vaidade”? Aponte uma passagem do texto que justifique sua resposta.
       Essa afirmação está de acordo com o texto. O autor diz que as pessoas que são obcecadas pelo corpo precisam primeiro da admiração alheia para poder gostar de si mesmas.

12 – Em que se baseia o autor do texto para fazer esta afirmação: “O que se vende não é um sonho, mas um fracasso, uma angústia, uma derrota”.
      Sabe-se, de antemão, que os regimes não funcionam e os cosméticos não impedem o envelhecimento. Na verdade, trava-se uma luta vã.

13 – Segundo o autor, o padrão de beleza que nos impõem não é nem neutro nem inocente. Qual é o padrão imposto para o homem e para a mulher? Cie alguns exemplos. Qual seria o padrão de beleza do brasileiro atualmente? Você seria capaz de descrevê-lo?
      Os homens são jovens, altos, atléticos, de corpo bem torneado e bronzeado. As mulheres são claras, altas, loiras, preferencialmente, e magérrimas. Não temos um padrão de beleza do brasileiro, mas é bom lembrar que os jovens não são muito altos e as mulheres não são magras (têm quadris largos). Além disso, há predominância dos morenos (e mulatos e negros) sobre os loiros.

14 – Releia o último período do texto: o que o autor quis, de verdade, afirmar? Que recurso ele usou?
      O autor afirma que os padrões de beleza são impostos por determinada classe social, e só consegue se enquadrar neles quem tem dinheiro e tempo para adquiri-los e mostra-los. Ao dizer: “Beleza é luta de classes”, o autor emprega uma metáfora.

15 – Releia este período de “O império da vaidade”:
      “Porque isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer aos participantes.” O que você nota? Entre as várias palavras que o autor poderia ter usado para expressar suas ideias, ele escolheu as duas em destaque. Por quê?
      Nota-se a semelhança de sons, que torna o texto mais agradável, mais ritmado.

16 – Que recurso o autor usou no trecho a seguir? (Observe a classe gramatical das palavras)
 “O prazer é físico, independentemente do físico que se tenha.”
      O autor usou a mesma palavra com significado diferentes. Ela aparece como adjetivo, no primeiro momento, significando material, corpóreo, ligado aos sentidos, e como substantivo no segundo, significando aspecto exterior, corpo, compleição. A proximidade das palavras criou uma espécie de trocadilho.

17 – Comente o emprego do adjetivo em destaque neste trecho: “desligar-se da competição, da áspera luta pela vida”.
      O adjetivo áspero está ligado ao tato (o que não é macio ou liso) e o autor o empregou num sentido abstrato: luta áspera significa luta dura.



TEXTO: NEGROS, ÍNDIOS E BRANCOS MISTURADOS - SUPERINTERESSANTE - COM GABARITO


NEGROS, ÍNDIOS E BRANCOS MISTURADOS

        A escravidão no Brasil foi oficialmente abolida no dia 13 de maio de 1888, por uma lei que levava a assinatura da princesa Isabel. Mas, três séculos antes disso, os escravos rebelados construíram um país independente onde se tornaram homens livres.
        O país Palmares começou a surgir em 1597 e durou até 1694. Seu território se estendia por 150 quilômetros de comprimento e 50 de largura, nos estados de Alagoas e Pernambuco, entre os rios Ipojuca e paraíba. Era uma região de serras de até 500 metros de altitude, coberta por florestas e de acesso muito difícil – principal razão da sua sobrevivência. Sua população variou muito em cem anos. Os holandeses, que dominaram Pernambuco de 1630 a 1654, reconheciam em Palmares duas povoações, com 6 mil habitantes no total. Mas, depois de 1670, os relatos dos portugueses falam em mais de 20 mil habitantes. No auge, Palmares teve nove cidades, ou mocambos. Os historiadores divergem sobre esse número e sobre a localização das aldeias. A única conhecida, com certeza, é a capital, Macaco, na serra da Barriga.
        Em moldes africanos, a confederação constituía um Estado. Cada mocambo tinha seu chefe. Juntos, eles elegiam o rei do quilombo. Em caso de ataques dos portugueses ou de expedições guerreiras para libertar escravos de engenhos e fazendas, as forças dos mocambos se uniam.
        Palmares não abrigava apenas escravos fugidos. Era uma sociedade multirracial e miscigenada de negros, índios e até brancos pobres. Os ritos africanos conviviam com o catolicismo. Além de fabricarem armas e ferramentas com a metalurgia trazida de África, os palmarinos plantavam milho, fumo, batata e mandioca. E faziam comércio com os vizinhos. A produção era trocada por munições, armas, sal, tecidos e ferramentas. Foram cem anos de convivência – em paz e em guerra.

                 Ricardo Arnt e Ricardo Bonalume Neto. A cara de Zumbi.
                    In: Superinteressante, ano 9, n. 11, nov. 1995, p. 32-41.

1 – Indique características de Palmares advindas dos costumes africanos.
      Características advindas dos costumes africanos: Palmares era uma confederação formada por nove mocambos, sendo que cada um deles possuía seu chefe. Os chefes, unidos, elegiam o rei do quilombo. Quando precisavam se defender, uniam-se. Mantinham ritos africanos e fabricavam armas e ferramentas com a metalurgia trazida da África.

2 – Indique características de Palmares advindas da miscigenação com outras raças.
      Características advindas da miscigenação: Aceitavam o catolicismo. Plantavam milho, fumo, batata e mandioca. Faziam comercio com os vizinhos, trocando a produção por armas, munições, sal, tecidos e ferramentas.

         Palmares era uma exceção: lá, os negros fugidos das fazendas podiam desfrutar de um pouco de liberdade. Fora dos quilombos, entretanto, por mais de 300 anos, os negros viveram, aqui no Brasil, presos a seus “proprietários”, trabalhando de sol a sol até morrer, completamente aniquilados por um regime de escravidão injusto e infame.
        Um século depois da abolição, como estará a vida dos negros em nosso país? Leia um trecho deste depoimento de Wilson da Silva.
        Estudo na Universidade de São Paulo (USP) desde 1985. Sou formado em História, sou mestre em Cinema e, atualmente, faço doutorado na mesma área. Centenas de outros já trilharam esse percurso. O que poderia fazer desse caso algo digno de nota nesta revista?
        Provavelmente uma coisa: sou negro.
        Para a maioria dos leitores, minha história é um exemplo de que sempre “é possível chegar lá”, desde que haja esforço e determinação. Eu não vejo as coisas assim. Sou uma exceção às regras perversas que regem a vida de negros e negras neste país.
        Isso ficou evidente desde o primeiro dia em que cheguei à universidade. Fui praticamente o único estudante negro nas salas de aula. E nunca tive um professor negro Em compensação, cruzei com centenas de negros limpando as salas, cuidando dos jardins da universidade, servindo café e atuando em outros serviços em tese menos qualificados. Seriam essas tarefas o indício de que os negros são piores do que os brancos? Evidentemente não. Apenas revelam o fato de que o Estado e a sociedade no Brasil continuam impedindo que os negros construam uma história diferente. Mesmo depois da abolição.
        Como podemos ser livres se, no supermercado ou nas portas giratórias dos bancos, somos tratados como “suspeitos até que se prove o contrário”? Como conseguir oportunidades profissionais numa sociedade que nos vê como seres inferiores, cidadãos de segunda linha?
        [...]
                              Superinteressante, ano 15, n. 7, jul. 2001. p. 106.

1 – Que resposta você daria às perguntas feitas pelo autor do texto?
      Resposta pessoal do aluno. Considerar que, para as primeiras perguntas feitas, o próprio autor dá as respostas.

2 – A luta travada por Zumbi há mais de 300 anos ainda persiste? Por quê?
      Sim. Porque os negros ainda são discriminados.

3 – Observe como o autor inicia seu texto: que estratégia ele utilizou para surpreender o leitor?
      Ele traça um rápido perfil de si mesmo, mas não revela que é negro, fazendo-o apenas posteriormente.

4 – O autor quer, também, convencer o leitor de suas ideias. Para fundamentar suas afirmações, usa determinados argumentos. Na sua opinião, eles são convincentes? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sem dúvida, ele afirma alguns dados irrefutáveis: “era o único negro nas salas de aula”; “Não teve professor negro”. Havia muitos jardineiros e faxineiros negros na universidade.

5 – Que outros exemplos, além dos citados, poderiam engrossar a lista de atitudes preconceituosas disfarçadas contra os negros?
      Resposta pessoal do aluno. Lembrar os elevadores de serviço nos prédios e os anúncios de empresas que procuram funcionários, nos quais se exige “boa aparência” para preencher as vagas. Lembrar também a descriminação no trabalho. Muitos produtos de beleza tentam impor às mulheres negras o padrão de beleza das brancas. A discriminação está presente também na linguagem: “Amanhã é dia de branco” e outros.