quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CRÔNICA: SÍNDROME DE CARRAPATO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Síndrome de Carrapato

               Walcyr Carrasco

GOSTO DE PASSEAR EM LOJAS. Em vez de me esfalfar em monótonas pistas de exercício, tento ativar a musculatura andando em shoppings ou em ruas comerciais. Pensei até em criar um método de emagrecimento desse tipo. Seria um sucesso, mesmo que não tirasse a barriga de ninguém. Admiro uma coisa, outra. Eventualmente, compro. Mas está ficando difícil. Não sei se é a crise, mas os vendedores andam com síndrome de carrapato. Grudam. Entro na loja e imediatamente vem alguém com um sorriso de orelha a orelha.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcYXweeW3OrPjzVyApxMAl-w8XMafu5uLOP6qHr1DWIYqFa6ewGIcZ8bWcGRY8qsAyv5ZQ1X9eEQi1GXRydiSz3c3g6e8NLEvel1_D8ihGatlqEccQmDxGCj_6M4agIK95ZQhlaeVwHRnc-f4SsUVN0usPOKG1d6Bn7ne8AF61Qmlcfbp51yublVX2A18/s320/CLIENTE.jpg


— Posso ajudar?

Tenho vontade de dizer que estou muito bem, não preciso de ajuda. Sorrio. — Só estou olhando. 

Caminho, tentando desfrutar a visão de copos, roupas, o que seja. O

vendedor corre atrás.

— Este até está com preço promocional.

         — Obrigado.        

Tento fugir, ele insiste.

— É só até amanhã.

Quase grito que já sei. Continuo a sorrir e dou dois passinhos. O vendedor dá dois passinhos atrás de mim e fica parado logo atrás, como um falcão observando a presa. Perco toda a vontade de continuar na loja. Vou embora, diante da cara decepcionada. Existe o tipo que faz questão de perguntar o nome e dizer o seu. Dali a pouco, se resolvo perguntar o preço:

— Qual é mesmo seu nome?

Se é para se fazer de simpático, por que não tenta um esforço de memória?

Há o que tenta se enturmar a qualquer custo. Outro dia, procurava uma

mochila para viagem. Vi uma bolsa de lona perfeita na vitrine.

— Quero essa aqui.

A mocinha correu para mostrar uma maior e mais cara.

— Esta é quase o mesmo preço, e é maior.

— Obrigado, mas prefiro a menor.   

Abriu a bolsa na minha frente.

         — A alça é de couro muito bom.    

— Sei. Vou levar.

         — Viaja muito?            

Sinto-me em um interrogatório. Resolvo não dar trela.

         — Pouco. .

— Vai para o Guarujá?

— Não. Ao Rio.

— Costuma ir muito para o Rio?

— Às vezes.

Entrego o cartão de crédito. As perguntas continuam. Não respondo e saio, provavelmente com fama de antipático. Pior foi o rapaz de uma grife de roupas masculinas.

— Gostei dessa calça. Tem meu número?

— Humm... experimente esta aqui.

Dois números menor. A braguilha mal fechava. Ele sorri, falso.

— Ficou muito bom.

Olho no espelho. Se respirasse mais fundo, era capaz de estourar o botão

da cintura.

— Não serviu.

— Garanto que está ótima. Usando número menor, Você fica mais magro.                   

Quase atiro as calças no nariz dele. Juro nunca mais pisar na loja — é horrível quando tentam nos fazer de bobos.

Vitoriosa foi uma vendedora de um shopping carioca. Escolhi a mercadoria exposta. Cheguei ao balcão decidido.

— Quero o "maio da vitrine. Qual o meu número?

Percorreu minha silhueta com um leve sorriso nos lábios.

— Grande.

Imaginei que a causa do sorriso fosse a barriga. Mandei trazer. Pediu no estoque, com toda a naturalidade.

— Quer experimentar?

— Acho que não precisa.

Saquei o talão de cheques. Só então notei que a padronagem não conferia.

— Não é este aqui. É ó azul.

:— Mas o azul é sunga!

Abriu o pacote, desfraldando uni maio feminino inteiriço, ideal para uma mãe de família de classe média. Perplexo, descobri a causa da confusão. Homem, no Rio, usa sunga. Maio sempre é feminino. Nós, paulistanos, é que falamos um termo ou outro. Ainda tentei argumentar:

— Você acha que eu, peludo desse jeito, ia usar maio de alcinha?

Sem se constranger, a diaba respondeu:

— O senhor pediu, eu vendi.

Fiquei imaginando a cena. Eu, com minhas pernas cabeludas, experimentando um maio listrado e ela dizendo:

— Ah, ficou bom, sim. É exatamente o seu número!

Levei a sunga. Pelo menos dessa vez a vendedora tinha savoir-faire.

Entendendo o texto

Foco Narrativo:

01. Qual é a abordagem principal do autor ao descrever suas experiências em lojas?

      A) A busca por produtos específicos.

      B) A relação com os vendedores.

     C) A preferência por shoppings.

     D) A luta contra a síndrome de carrapato.

Temática Central:

02. O que o autor sugere como método de emagrecimento no início da crônica?

     A) Dieta rigorosa.

     B) Exercícios monótonos.

    C) Passeios em shoppings.

    D) Método de emagrecimento não mencionado.

Comportamento dos Vendedores:

03. Como o autor se sente em relação aos vendedores que insistem após ele dizer "só estou olhando"?

     A) Irritado.

     B) Empolgado.

     C) Agradecido.

     D) Desinteressado.

Interação com Vendedores:

04. Como o autor reage quando um vendedor pergunta sobre seu nome?

      A) Diz seu nome imediatamente.

      B) Ignora a pergunta.

     C) Pergunta o nome do vendedor.

     D) Finge não lembrar seu próprio nome.

Estratégias de Vendedores:

05. Qual é a estratégia utilizada pelo vendedor ao mostrar uma bolsa maior e mais cara?

     A) Desconto especial.

     B) Elogios à qualidade.

    C) Comparação de preço.

    D) Venda persuasiva.

Atitude do Autor diante das Perguntas dos Vendedores:

06. Como o autor reage quando o vendedor tenta se enturmar fazendo perguntas pessoais?

     A) Responde detalhadamente.

     B) Ignora as perguntas.

     C) Dá respostas evasivas.

     D) Fica desconfortável.

Rejeição de Produtos:

07. Por que o autor decide nunca mais pisar em uma loja de roupas masculinas?

     A) Tamanho inadequado.

     B) Preço elevado.

     C) Vendedor insistentemente persuasivo.

     D) Má qualidade das roupas.

Confusão na Compra:

08. O que acontece quando o autor pede um maiô na loja?

      A) O vendedor faz uma confusão na cor.

      B) O vendedor não encontra o produto.

      C) O vendedor sugere um produto feminino.

      D) O autor decide não comprar nada.

Interação Cômica com a Vendedora:

09. Como o autor reage à sugestão da vendedora sobre o maiô feminino?

    A) Fica constrangido.

    B) Ri da situação.

    C) Argumenta com a vendedora.

    D) Aceita a sugestão sem contestar.

Conclusão e Atitude Final:

10. Qual é a atitude do autor diante da situação da compra do maiô?

     A) Retorna o produto.

     B) Compra o maiô feminino.

    C) Leva uma sunga.

    D) Desiste da compra.

 

 

CRÔNICA: TEMPO E A MEMÓRIA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Tempo e a Memória

               Walcyr Carrasco

OUTRO DIA OBSERVEI UMA FOTO minha, quando bebê. Um garoto gordinho, de chocalho na mão. Sei que sou eu. Ao mesmo tempo existe um certo estranhamento. Não me lembro de quando andava de gatinhas. Abro um livro da minha infância. Alice no País das Maravilhas. As ilustrações em preto-e-branco estão pintadas com lápis de cor. Fui eu! 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLqijmY23Zneuk1oojCMammZpiDG7-oLctNRxwOOs7nPEBJhX6PH_XJdzGRWgeM7roLcZth8jmWddzXwLrDTsCcSRiF6jjtQ2LXZ_j-8kJtz9dXBVKdCIRJoPqZproT0gIhTk72GRYfnV_DUJOtLKTuKNKyH1XexOIrOGrRUD3hQynQBWKWuCgLXvMPRE/s320/BEBE.jpg


Tive um ursinho de pelúcia, também. Não sei onde foi parar. Decidido a ser médico, eu lhe aplicava injeções. Acabou destruído, o coitado! Eu adorava o ursinho, como deixei desaparecer? O início de um novo ano é simbólico. Sempre se faz uma certa retrospectiva. Flashes passam pela minha cabeça. Um ano-novo em Ubatuba, quando eu era adolescente. Uma festa agitada. Andava com uma turma da qual não tenho mais notícia. Havia uma carioca, chamada Marcy. 

Só a conheci naquela passagem de ano... ou terá sido na seguinte, em Parati? Entre meus guardados há uma foto da garota. Um sorriso enorme. Não soube mais dela. A sua alegria, nunca esqueci. Tento imaginar. Como estará agora, uma mulher madura, com filhos? O que a vida lhe reservou? Um marido, uma separação? Terá ido viver fora do país? O sorriso permanece o, mesmo? Tive um grande amigo, Nelson, lá pelos vinte anos. Artista gráfico. Passei dois anos vivendo fora do país. Só nos escrevemos no começo. Quando voltei, perguntei dele a conhecidos comuns.

— Sumiu. De um dia para o outro não se teve mais notícia. A mulher procurou por todo lado. Foi na época da ditadura militar. Nunca soube que tivesse envolvimento político. Seria um segredo seu? Ou simplesmente largou tudo? Saiu de casa para ir ao cinema e nunca mais voltou? A pergunta dói. Sumiu ou foi sumido? E minha amiga Malu, psicóloga? Íamos dançar sempre. Não perdíamos festas. Só a vi muito tempo atrás, em um lançamento de livro. Beijou-me e pediu: — Não desapareça. Prometi ligar na semana seguinte. Há anos. Resta a vaga informação de que ela fez doutorado. Será que ainda dança? Outro psicólogo, o Ercílio. Gostava de psicodrama. Continuará acreditando em um modo de vida alternativo? Ou transformou-se em um homem formal? Há gente que nos acompanha a vida toda. Tenho uma amiga desde a infância. Não nos falamos muito. Outro dia, depois de uns cinco anos, ela me ligou.

— Estou com um problema afetivo. Preciso de um conselho e só tenho você a quem recorrer. Ficamos duas horas ao telefone. No final, ela agradeceu, aliviada.

— E bom ter com quem falar. Passo anos sem ver o Pérsio e o Raul, a Sônia e a Míriam. Se nos encontramos, começamos a conversar como se tivéssemos nos visto a noite anterior. Certas amizades são assim, não? A gente fica um tempo enorme sem se ver. Quando se encontra, retoma do ponto em que parou. Não consigo deixar de pensar, ao começar um ano, nas coisas que poderia ter feito. Quis ser pintor, e há uma tela horrenda que perpetrei aos onze anos. Médico. Leitor de taro. Fica uma certa lamentação pelos amigos que nunca mais vi. Por tudo que poderíamos ter vivido juntos. Também, outras pessoas entraram na minha vida. Olhando em torno, eu penso que essa é a grande vantagem dos anos. A gente forma famílias não só de sangue. Mas de pessoas que nos acompanham, de perto ou de longe, sempre em um caminho do coração. Vejo a foto de um bebê que fui. Pergunto-me.

— A vida é apenas uma grande recordação? Vem a resposta, como se o bebê da foto conversasse comigo.

— É uma continuidade. Você de hoje é fruto do de ontem. Sorrio. A entrada de um novo ano mostra que a vida continua. Passado, presente e futuro se misturam, com muita coisa boa para acontecer.

Entendendo o texto

Enredo e Foco Narrativo:

01. Qual é o principal tema abordado na crônica "O Tempo e a Memória"?

      A) Amizade.

      B) Infância.

     C) Retrospectiva.

     D) Ano-novo.

Personagens:

02. O que aconteceu com o ursinho de pelúcia do autor quando ele era criança?

      A) Foi doado.

      B) Foi perdido.

      C) Foi destruído.

      D) Foi guardado.

Tempo e Espaço:

03. Em que época o autor menciona ter passado dois anos vivendo fora do país?

     A) Na infância.

     B) Na adolescência.

     C) Na juventude.

     D) Na idade adulta.

Tipo de Linguagem:

04. Como o autor se refere à sua tentativa de ser médico na infância?

     A) "Coitado!".

     B) "Perpetrei".

     C) "Horrenda".

      D) "Sorrio".

Memórias e Recordações:

05. O que o autor observa ao começar um novo ano?

    A) Fotografias antigas.

     B) Flashes de eventos passados.

     C) Pinturas feitas na infância.

     D) Livros de sua juventude.

Enredo e Desenvolvimento:

06. Por que o autor se sente estranhado ao olhar uma foto de sua infância?

     A) Não reconhece a si mesmo.

     B) Não lembra de andar de gatinhas.

     C) Não gosta das ilustrações do livro.

     D) Não encontra seu ursinho de pelúcia.

Personagens e Desfechos Misteriosos:

07. O que aconteceu com o amigo Nelson?

    A) Envolvimento político.

    B) Largou tudo e sumiu.

    C) Mudou-se para o exterior.

    D) Virou médico.

Desenvolvimento de Personagens:

08. O que a amiga Malu fez depois de anos sem se verem?

    A) Doutorado.

    B) Desapareceu.

    C) Tornou-se médica.

    D) Escreveu um livro.

Reflexão sobre a Vida:

09. Como o autor descreve a vida ao observar a foto de um bebê que ele foi?

     A) Como uma grande lamentação.

     B) Como uma continuidade.

    C) Como uma recordação passageira.

    D) Como uma mistura de passado e futuro.

Conclusão e Tema Central:

10. O que a entrada de um novo ano representa para o autor?

    A) Fim das recordações.

    B) Continuidade da vida.

    C) Perda de amizades.

    D) Lamentação pelo passado.

 

CRÔNICA: PROMESSAS ANGELICAIS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Promessas Angelicais

               Walcyr Carrasco 

 CONTO OU NÃO CONTO? Pois bem, digo. Neste ano prometo perder a barriga. Posso até visualizar o sorriso descrente de quem estiver lendo estas bem traçadas linhas. Falo da minha barriga há tempos. Prometer, nunca prometi. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9irYnAUlubivgZsctvvyzkN1hTzJcFW_v58KhUNxBBwNnFKtkbju47n1ccaOets5DX9IT8AJPbAtvHtUcIUUOzU4wVLq295Av1IpJXx9MnPAdKpjsE614LreeUFABG_ooKu2iP2M_dLXxBWUgauZhVhiL7IqngEgJIV4gk2B5kulWLJsRMDNkc7dRWdA/s320/NATAL.jpg


O caso é o seguinte: todo final de ano enfio o pé na jaca. Vou a festas. Devoro pernis, bacalhoadas, tênderes, arroz com passas, lentilha com linguiça (a lentilha é para dar sorte, a linguiça porque é bom mesmo). Esbaldo-me como se estivesse próximo do Juízo Final. Desta vez, foi pior ainda. Afinal, havia boa possibilidade de que o Juízo Final acontecesse. Desde criancinha ouço falar nisso. Para que fazer regime, se o mundo podia acabar no réveillon?. O resultado é visível: minha barriga ultrapassou todos os limites. Seja dita a verdade. A gula é o único pecado que vem com o castigo junto. Fiz outras promessas. Uma delas é fugir de tudo que é "alternativo". Passei as últimas décadas reverenciando essa palavra. Cada vez que comia um prato de broto de feijão em um restaurante "alternativo", eu me sentia mais saudável. Quantas vezes tomei suco de couve pela manhã? Confesso: até macrobiótica tentei. Tudo começou quando estive em um restaurante do tipo. O dono me garantiu que se tornara um homem equilibrado e sem ansiedades. Passei dez dias comendo arroz integral. Depois dessa fase radical, incluí bardana e peixe no cardápio. No final do primeiro mês tive uma inequívoca experiência extra-sensorial. Estava deitado, de olhos abertos, quando um hambúrguer-salada flutuou na minha frente. Estiquei os maxilares, pronto para abocanhar a delícia. Ao morder, quase perdi a língua. A visão etérea do hambúrguer se desfez. Saí pela madrugada atrás de uma lanchonete. Comi três hambúrgueres e quase fui parar no hospital. Recentemente li uma reportagem sobre as propriedades do dry martíni. Sim, ele é antioxidante. Combate os radicais livres. Pesquisa científica. E o vinho tinto? É bom para o coração, dizem. Enquanto eu comia bardana e tomava chá de jasmim, os desregrados é que se davam bem! Sinto arrepios ao ouvir falar em "alternativo". Prometo tirar a diferença neste milênio.

Vou ler todos os romances policiais e ouvir as músicas bregas a que tenho direito. O caso é que adoro um bom policial, mas meus amigos vivem dizendo que um intelectual deveria estar se abastecendo de livros mais sérios. E sou louco por boleros. Quem vai a minha casa mexe em meus CDs e suspira. Dizem que não há nada que preste. Não há. Mas eu gosto. E se eu gosto, presta. Pelo menos para mim. Fica mal para um intelectual, eu sei. Talvez eu desista de ser intelectual, mas não dos boleros.

Quero me transformar em um homem bom. Um anjo. Prometo, com todas as minhas forças, nunca mais falar mal de mulheres ao volante. A estatística demonstra que elas sofrem menos acidentes. Pensarei nisso cada vez que pedir passagem e uma delas me cortar pela direita. Elevarei meus olhos, pensando: "Perdoai-as, elas não sabem o que fazem". Terei a mesma atitude perante os motoqueiros. Quando cinco ou seis deles cruzarem em diagonal na minha frente, batendo no meu espelho e me xingando, manterei um sorriso harmônico no rosto. Nem pensarei que a CET deveria dar duro em cima deles. Mas que estão trabalhando e por isso têm o direito de transformar as pistas em uma loucura. Não sou bom? Durante os engarrafamentos, procurarei manter a calma. Farei meditação transcendental cada vez que a 23 de Maio ficar paralisada.- Talvez um dia o carro saia levitando.

Finalmente, eis minha última promessa. É séria. Quero perder o ranço de esquerda. Passei toda a minha vida analisando cada fato dentro do seu contexto. Arre! Cada vez que via um mendigo, decidia não ajudar porque o problema, afinal, é da sociedade como um todo. Da distribuição de renda. Do... Se explicasse tanta responsabilidade social ao pedinte, acho que levaria uns tapas. Outro dia, no semáforo, apareceu uma senhora com um bebê. Dei a esmola e me senti bem. Pronto. Que teoria resolveria a vida dela?

Com tudo isso, eu me sentirei um anjo. O anjo carrasco. Soa bem. Eu gosto. Quem sabe?

Entendendo o texto

Temática Principal:

01. Qual é a promessa mais enfatizada pelo autor no início da crônica?

     A) Perder a barriga.

     B) Evitar alimentos alternativos.

     C) Ler romances policiais.

     D) Tornar-se um homem bom.

Linguagem Utilizada:

02. Como o autor se refere ao seu hábito de comer em festas de fim de ano?

      A) Descontrolado.

     B) Equilibrado.

     C) Radial.

     D) Alternativo.

Foco Narrativo:

03. Por que o autor decide não fazer regime no final do ano mencionado?

    A) Porque estava de dieta.

    B) Porque havia a possibilidade do Juízo Final.

    C) Porque queria ganhar peso.

    D) Porque não gostava de festas.

Enredo e Desenvolvimento:

04. O que aconteceu com o autor após tentar uma dieta alternativa com arroz integral e bardana?

    A) Experimentou uma experiência extra-sensorial.

    B) Desistiu de fazer dieta.

    C) Ficou mais saudável.

    D) Virou vegetariano.

Reflexão sobre Escolhas Pessoais:

05. Qual é a atitude do autor em relação ao rótulo "alternativo" no final da crônica?

    A) Aceitação.

    B) Ressentimento.

    C) Desprezo.

    D) Indiferença.

Preferências Culturais:

06. O que o autor afirma gostar, mesmo sendo criticado pelos amigos?

     A) Livros sérios.

     B) Boleros.

    C) Músicas bregas.

    D) Romances policiais.

Promessas e Transformações Pessoais:

07. O que o autor promete nunca mais fazer em relação às mulheres ao volante?

     A) Ignorá-las.

     B) Criticá-las.

     C) Ajudá-las.

     D) Desrespeitá-las.

Comportamento durante Engarrafamentos:

08. Como o autor planeja reagir nos momentos de trânsito congestionado?

    A) Ficar irritado.

    B) Praticar meditação transcendental.

   C) Xingar os outros motoristas.

   D) Acelerar agressivamente.

Reação do Autor diante de Situações Cotidianas:

09. Como o autor se sentiu ao dar esmola para uma senhora com um bebê no semáforo?

    A) Arrependido.

    B) Desconfortável.

    C) Bem.

    D) Indiferente.

Transformação Pessoal e Conclusão:

10. Qual é a última promessa feita pelo autor na crônica?

     A) Tornar-se vegetariano.

     B) Perder o ranço de esquerda.

     C) Manter a calma no trânsito.

     D) Ler mais romances policiais.

 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CRÔNICA: ABSURDOS NATALINOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Absurdos Natalinos

                Walcyr Carrasco 

MINHA MÃE SEMPRE DIZIA, antes do Natal, aniversário ou Dia das Mães:

— Este ano quero presente para mim, não para a casa! O Natal era a época escolhida para a troca de geladeira. Comprar um aspirador de pó. Talheres, pratos. Quando a tralha chegava, papai sorria:

— É para você!    

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Muitas vezes surpreendi em minha mãe um olhar assassino. Para ela como, se todo mundo ia desfrutar a água gelada? O sorvete? Servia, sim, para atrapalhar a vida da velha.

— Mãe, faz musse de maracujá?

— Como? Você esqueceu de pôr o guaraná na geladeira?

-— Cadê o gelo? Ninguém pôs água nas forminhas? É o fim! Ela sonhava com uma viagem. Roupa nova. Algo que fosse só dela. Ano após ano, alguém aparecia com um pacotinho.

— Não sabia o que dar. E vinha um jogo de copos. Xícaras. Bules. Luvas térmicas. Malintencionado, certa vez ofereci um livro de receitas.

— É para você cozinhar melhor. Ela sorria. Aposto que teve vontade de atirar o Dona Benta na minha cabeça. Mas o que pode fazer alguém senão sorrir diante de um presente errado? Natal é uma época excelente para exercitar a hipocrisia. Certa vez, em um Amigo secreto, recebi duas toalhinhas rendadas. 

— Não tive tempo de comprar coisa melhor. Sorri, como se estivesse diante do enxoval de Cleópatra. Também é um susto ganhar enfeites.

— Adooorei estes cavalinhos de barro. Trouxe dois para você. Sorri. Onde botar as duas maravilhas? No nariz de quem trouxe? E quando o amigo é artista?!

— Olha! Pintei em sua homenagem! Desembrulha a tela. No centro, um sujeito gordinho, terno verde, com a cara semelhante a uma beterraba de óculos. Sorri cautelosamente.

— Quem é? O artista assumiu um ar de desapontamento.   

— Você!

— Eu? Sorri, mas agora de susto! Era um bom momento para cortar relações. Mas Natal não é época de fraternidade? Disfarcei a gafe. — Sim... agora estou vendo... é a minha cara! Só não reconheci no primeiro olhar porque nunca boto roupa verde.

— Não? Ah... mas eu já vi você de verde, sim!     

Será que ele me confundiu com o Louro José? Suspiro.

— Sim... pode ser... uma vez. Eu... eu vou dependurar.

— Deixa que eu ajudo. Nada mais trágico do que acordar meses e meses encarando minha versão artística! Quase perdi a compostura quando, em uma ceia, uma conhecida chegou com um pacote gigantesco. Até estranhei, porque a dita-cuja era conhecida como unha-de-fome. Abri e me deparei com um ursinho de pelúcia cor-de-rosa! Ela se assustou quando encontrei um envelopinho com um cartão e abri. Li uma mensagem delicada: "A você, querida, para fazer companhia nas suas noites sem sono". Assinado por... um homem! : Ela ficou completamente sem jeito. Era óbvio. Havia recebido o presente de alguém e, sem abrir, me entregou. Só não imaginou que poderia haver um cartão dentro, e não fora, como é hábito. Diante do meu espanto, riu:

— Ih, acho que dei um fora! Deixa eu ver o cartãozinho!

— Ah, mas você até acertou! Que incrível ganhar um ursinho de pelúcia cor-de-rosa! Incrível!  Dessa vez não ri. Gargalhei. Quase cantamos Jingle Bells em dueto. Era isso ou atirar a árvore de Natal em cima da malandra. Ela confessou:

— Nunca compro nada. Passo para a frente os presentes que me dão! Presente virou obrigação. Por isso, sempre acontece algum absurdo. Afinal, nem todo mundo compartilha do tal espírito natalino! Posso odiar o que ganhei. Mesmo assim, acho melhor sorrir. Ao menos, fico com a alma mais leve!

Entendendo o texto

01. Por que a mãe do narrador costumava pedir presentes para ela mesma antes do Natal, aniversário ou Dia das Mães?

      A) Porque ela gostava de ser egoísta.

      B) Para garantir que os presentes não fossem para a casa.

      C) Porque ela não gostava de presentes.

      D) Para surpreender o marido.

02. Qual era a reação da mãe do narrador quando recebia presentes para a casa, como geladeiras, aspiradores de pó, talheres, entre outros?

      A) Ficava muito feliz e agradecida.

     B) Ficava indiferente.

     C) Mostrava um olhar assassino.

     D) Sorria e agradecia.

03. O que o narrador presenteou sua mãe de forma malintencionada?

     A) Um livro de receitas.

     B) Uma viagem.

    C) Uma roupa nova.

    D) Um jogo de copos.

04. O que aconteceu durante um Amigo Secreto em que o narrador recebeu duas toalhinhas rendadas?

    A) Reclamou e pediu outro presente.

     B) Sorriu e agradeceu sinceramente.

    C) Disse que não tinha tempo de comprar coisa melhor.

    D) Ficou triste e não disfarçou a insatisfação.

05. Qual foi o presente inusitado que o narrador ganhou em uma ceia e como reagiu a isso?

   A) Um ursinho de pelúcia cor-de-rosa; gargalhou.

   B) Um livro de receitas; agradeceu sinceramente.

   C) Um sujeito gordinho pintado em uma tela; ficou ofendido.

   D) Duas toalhinhas rendadas; disse que era o enxoval de Cleópatra.

06. O que a conhecida do narrador confessou sobre os presentes que recebe e como lida com eles?

    A) Ela sempre compra algo para si mesma.

    B) Ela passa os presentes para frente.

    C) Ela odeia todos os presentes que recebe.

    D) Ela guarda todos os presentes com carinho.

  07. Por que o narrador afirma que o Natal é uma época excelente para exercitar a hipocrisia?

    A) Porque as pessoas realmente gostam dos presentes que recebem.

    B) Porque as pessoas são sempre sinceras durante o Natal.

    C) Porque as pessoas precisam disfarçar suas reações aos presentes.

   D) Porque o Natal não tem nada a ver com hipocrisia.

  08. O que a mãe do narrador sonhava ganhar como presente de Natal?

     A) Livros.

    B) Viagem.

   C) Roupas novas.

   D) Utensílios de cozinha.

09. O narrador descreve uma vez em que se surpreendeu ao abrir um presente. O que ele encontrou dentro do pacote?

    A) Um livro de receitas.

    B) Uma viagem.

   C) Um ursinho de pelúcia cor-de-rosa.

   D) Uma tela pintada.

10. Qual é a conclusão do narrador sobre presentes de Natal, mesmo que não goste do que recebe?

     A) Sempre expressa sua insatisfação.

     B) Sorri para manter a paz.

    C) Recusa todos os presentes.

    D) Ignora os presentes.