Obra poética: Marília de Dirceu – Lira XXVII
Tomás Antônio Gonzaga
Vou retratar a Marília,
A Marília, meus amores;
Porém como? Se eu não vejo
Quem me empreste as finas
cores:
Dar-mas a terra não pode;
Não, que a sua cor mimosa
Vence o lírio, vence a rosa,
O jasmim e as outras flores.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traze-me as tintas do céu.
Mas não se esmoreça logo;
Busquemos um pouco mais;
Nos mares talvez se
encontrem
Cores, que sejam iguais.
Porém, não, que em paralelo
Da minha ninfa adorada
Pérolas não valem nada,
Não valem nada os corais.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traze-me as tintas do céu.
Só no céu achar-se podem
Tais belezas, como aquelas
Que Marília tem nos olhos,
E que tem nas faces belas;
Mas às faces graciosas,
Aos negros olhos, que matam,
Não imitam, não retratam
Nem auroras, nem estrelas.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traze-me as tintas do céu.
Entremos, Amor, entremos,
Entremos na mesma esfera;
Venha Palas, venha Juno,
Venha a deusa de Citera.
Porém, não, que se Marília
No certame antigo entrasse,
Bem que a Páris não
peitasse,
A todas as três vencera.
Vai-te, Amor, em vão socorres
Ao mais grato empenho meu:
Para formar-lhe o retrato
Não bastam tintas do céu.
GONZAGA, Tomás
Antônio. In: MACHADO, Duda (Org.), op. cit., p. 45-6.
Fonte: Livro – Viva
Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São
Paulo – 2014. p. 294-7.
Entendendo a obra:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Amor: outro nome do deus grego Eros (ou Cupido, para os romanos).
·
Amores: amor, sentimento amoroso (meus amores = meu amor).
·
Certame: desafio.
·
Deusa
de Citera: Afrodite.
·
Esmorecer: perder as forças, enfraquecer.
·
Grato: agradável, doce.
·
Juno: nome romano da deusa Hera.
·
Palas: epíteto da deusa Atena (epíteto é uma palavra ou frase que
qualifica pessoa ou coisa).
·
Peitar: subornar, corromper com presentes.
02 – Releia a primeira estrofe e responda no caderno:
a) Com quem fala o eu lírico?
Com o deus Amor.
b) O eu lírico deixa clara a sua intenção nos primeiros versos do poema. Que intenção é essa?
Retratar Marília.
c) Que obstáculo o eu lírico encontra para seu propósito?
Ele não encontra na terra cores capazes de retratar com precisão a
beleza de Marília.
03 – O poema está organizado
em quatro grupos formados por uma estrofe e um refrão. Cada estrofe corresponde
a um lugar ou ambiente onde o eu lírico procura cores para retratar Marília.
Indique que lugares ou ambientes são esses.
Primeira estrofe:
a terra; Segunda estrofe: os mares; Terceira estrofe: o céu; Quarta estrofe: a
esfera dos Deuses.
04 – Nessa lira há referência a diversos elementos da natureza.
a) Quais são eles?
Terra, flores (lírio, rosa, jasmim), astros, céu, mares, pérolas,
corais, auroras, estrelas.
b) Complete a frase no caderno. A comparação entre Marília e esses elementos da natureza .......
·
É favorável à jovem: na natureza,
tudo perde para Marília.
· É desfavorável à jovem: o lírio, a rosa, o jasmim e outras flores vencem-na em beleza.
05 – Copie os versos em que
o eu lírico pede ajuda ao deus Amor para retratar Marília. Esses versos
aparecem em que parte(s) do poema? Explique essa característica.
“Ah! Socorre,
Amor, socorre / Ao mais grato empenho meu! / Voa sobre os astros, voa, /
Traze-me as tintas do céu.” Esses versos aparecem sempre no fim das três
primeiras estrofes, pois trata-se do refrão.
06 – Releia a última
estrofe. Observe que o eu lírico deseja entrar na mesma esfera em que se
encontra o Amor: a esfera dos deuses. Nesse ponto da lira, há referência a uma
história da Antiguidade clássica. Trata-se da história de Páris e a disputa das
três deusas, Afrodite, Atena e Hera, que competiam pela conquista da maçã de
ouro. Venceria a mais bela das três. Páris, príncipe troiano, ficou encarregado
de escolher uma delas. Para suborna-lo, Hera ofereceu-lhe o império da Ásia;
Atena, a sabedoria e a vitória em todos os combates; Afrodite assegurava-lhe
tão somente o amor da mulher mais bela do mundo: Helena, mulher de Menelau,
rainha de Esparta. Páris elege Afrodite a mais bela e parte em busca de Helena,
dando início à guerra de Tróia.
a) Segundo o eu lírico, caso Marília entrasse no “certame antigo” (a disputa pela maçã de ouro), quem Páris escolheria?
Escolheria Marília.
b) Há uma pequena modificação no refrão, na última estrofe. Releia-o e explique com suas palavras a conclusão a que o eu lírico chega.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nem mesmo as tintas do céu, as
tintas dadas pelos deuses, são suficientes para pintar o retrato de Marília,
tal sua beleza, o que altera a ideia pregada até então, a de que para pintar o
retrato de Marília seriam necessários as tintas do céu.
07 – O recurso usado pelo eu
lírico (a comparação da amada com elementos da natureza) não permitiu a
elaboração de um retrato preciso de Marília, mas por meio dele houve ......
·
Uma negação da beleza da amada.
·
Uma equiparação da beleza da amada à beleza
de elementos da natureza.
·
Uma exaltação da beleza da amada.
08 – Todos os versos dessa
lira têm sete sílabas poéticas, portanto são mais curtos que os decassílabos
usualmente empregados, por exemplo, nos sonetos. Isso torna a leitura das
estrofes.
a)
Mais lenta, truncada.
b)
Mais breve, veloz.
c)
Mais informal.
d)
Mais exaltada.
09 – Excluindo-se o refrão,
em cada estrofe há rima entre o segundo, o quarto e o oitavo verso e entre o
sexto e o sétimo verso. Os versos 1, 3 e 5 não rimam entre si. Esse esquema de
rimas .........
a)
Tira completamente a beleza sonora do poema.
b)
Garante a beleza sonora dos versos, além de
deixá-los mais fluidos.
c)
Pode indicar uma alternância entre
a exaltação da beleza de Marília e a ausência de elementos da natureza que
possam representa-la.
d)
Torna os versos tristes e inexpressivos.