sexta-feira, 18 de março de 2022

CONTO: UMA REVELAÇÃO INESPERADA - LUIZ GALDINO - COM GABARITO

 Conto: Uma revelação inesperada

            Luiz Galdino

        Giba iniciou, então, a distribuição do material. À medida que chamava, os boys pegavam os envelopes ou pacotes, ouviam as instruções e saíam pelo corredor interno.

        Zeca não perdia nada, atenção total nos gestos e palavras. E pelo que ouviu, concluiu que não havia grandes mistérios. As tarefas consistiam basicamente em entregar e retirar anúncios em jornais ou editoras, serviços de banco e correios, faturas para clientes e coisas do gênero. Exatamente o que imaginara: serviço de levar e trazer.

        Cada boy recebia o número de passes necessários para a condução, de acordo com o roteiro a ser percorrido. Reparou que eram passes escolares e animou-se com a ideia de se encontrar entre estudantes como ele.

        Por fim, ficaram apenas ele e mais um. O sujeito olhou para o seu lado com cara de poucos amigos, como se adivinhasse o que estava para acontecer. Quando pensou que Giba se dirigiria ao outro, ouviu na sua direção:

        — Hoje, você vai de acompanhante! Trate de aprender rapidinho, porque amanhã vai pra luta sozinho! Entendido?

        — Entendido — respondeu Zeca, levantando-se prontamente.

        — Não precisa ter pressa. Quando Maurício receber o material, você sai com ele.

        [...]

        Durante o intervalo em que aguardavam pelo material, os dois garotos não trocaram uma única palavra. Zeca percebeu que, vez ou outra, Maurício o observava, disfarçadamente. Porém, como o outro não tomasse a iniciativa do diálogo, manteve a boca fechada. No íntimo, justificava-se: se desse uma de enxerido, poderia talvez piorar a situação.

        Quando já não conseguia mais mascarar a apreensão, viu-se salvo pela intromissão da copeira, a mulher que conhecera na entrada da agência.

        — Você tomou café, Zeca?

        — Tomei, sim senhora.

        — Se quiser, é só ir na copa e se servir.

        — Obrigado.

        Ela passou a flanela sobre o tampo da mesa e interrogou:

        — E marmita? Não trouxe, não?

        — Não, senhora... Não trouxe...

        — Ah, o garotão almoça na lanchonete, é? — brincou ela.

        Zeca percebeu a intenção, tratou logo de desfazer o mal-entendido:

        — Que isso, dona Ermelinda... Eu não sabia que tinha onde esquentar. Amanhã eu trago!

        Ainda se explicava à copeira, no momento em que retornou a secretária, trazendo um pacote caprichosamente embalado.

        — Maurício... Sua encomenda — anunciou Sarita.

        — Pode entregar aí ao boy. Hoje, eu estou de instrutor — retrucou Maurício com displicência.

        Apesar da atitude do colega, Zeca sentiu alguma simpatia na sua voz. E apressou-se em pegar o pacote, que, apesar de volumoso e incômodo, pesava quase nada. Maurício apenas abriu a porta, indicando-lhe o corredor.

        Ermelinda veio até a porta observar e intrometeu-se:

        — Está vendo, Sarita? O Maurício arranjou assistente.

        — Quem pode, pode. Não é, Maurício? — comentou a secretária, sorrindo.

        Na recepção, foi a vez de Glorinha:

        — E aí, Maurício? Vai de mãos vazias?

        — Vou levar o garoto pra conhecer a cidade.

        — Ah, que gracinha! E não ajuda a carregar o pacote?

        — Eu queria, mas ele fez questão de carregar, não é mesmo? — afirmou e voltou-se para Zeca, pedindo confirmação.

        — Tadinho dele... — tornou ela e desatou a rir.

        Já na rua, Maurício interrogou, sério:

        — Pegou os passes?

        — Peguei.

        — Conhece bem a cidade?

        — Conheço... mais ou menos...

        — E as linhas de ônibus?

        — Mais ou menos.

        Maurício observou-o de lado, desaprovando:

        — Mais ou menos não serve! Boy tem de conhecer tudo! E não adianta enrolar que o Giba sabe o tempo que cada um precisa pra fazer o serviço!

        — Certo.

        Após quase dez minutos de silêncio, no ponto, tomaram o ônibus. Quando o veículo acelerou a marcha, Maurício interrogou como quem não quer mas está querendo:

        — Você é protegido de quem?

        Zeca surpreendeu-se com a pergunta direta e desentendeu:

        — Protegido como? Não entendi...

        — Se você não veio através de anúncio, alguém deve ter conseguido pra você!

        — Ah, foi o Batista.

        — Batista? — careteou o boy. — Que Batista?

        — Ele trabalha numa gráfica. Diz que vem sempre pegar e entregar serviço na agência...

        Maurício deu um intervalo, como se tentasse localizar mentalmente. Em seguida, arriscou:

        — Não é o Batista da Colorcor?

        — Esse mesmo! Ele é namorado de minha irmã Marilena... e como sabia que eu estava a fim de trabalhar...

        — Tudo bem — interrompeu o outro. — Quem tem padrinho não morre pagão, ué!

        Mais à vontade com o início de conversa, Zeca comentou:

        — Alguns boys não gostaram porque eu vim com indicação... Ficou uma situação meio chata.

        — Quem não gostou? Ah, você deve estar falando do Russinho e do Claudionor.

        — Acho que é.

        Sentado do lado da janela, Maurício falava sem perder de vista o trajeto do ônibus.

        — O pessoal fica desconfiado quando contratam alguém sem anunciar. Fica todo mundo imaginando que é um espião do Gervásio...

        — O chefe de pessoal?

        — Além disso, você não precisa se preocupar, que aqueles dois estão na mira do Gervásio. Não demora nada, vão pra rua.

        — Eles não trabalham direito?

        — Eles fazem o serviço, mas são muito folgados.

        Maurício voltou a examinar o trânsito. Depois, reatou:

        — Você também não tenha ilusão! Indicado ou não, se enrolar, vai pra rua!

        — Certo. Eu estou a fim de trabalhar sério. Preciso desse emprego.

        De repente, o movimento tornou-se mais lento por causa do trânsito ruim. Maurício fez uma careta e tornou ao assunto:

        — O pessoal está meio alvoroçado, também, porque mandaram o Tonho embora. Como você entrou no lugar dele, eles ficaram fazendo onda. Mas você não tem nada com isso.

        — Por que mandaram embora? Ele enrolava?

        — O Tonho? Era o melhor boy da agência!

        — O melhor? Então, por que despediram?

        O companheiro hesitou um instante, mas em seguida abriu-se:

        — Bateram uma carteira na agência e levaram uma grana alta da Claudete...

        — Você quer dizer que roubaram uma funcionária? Quem é a Claudete?

        — A Claudete é contato. Trabalha no atendimento de clientes.

        — E foi... foi o Tonho?

        — Foi nada!

        — Então, por que despediram?

        — O Gervásio cismou que foi ele!

        Zeca sentia-se confuso. Não entendia como podia acontecer um negócio tão sujo num ambiente daquele nível. Jamais imaginaria um ladrão naquela casa; não entre os funcionários. Pensou um pouco e arriscou:

        — Você acha que não foi o Tonho...

        — Tenho certeza que não!

        — E por que o Gervásio cismou com ele?

        — Porque ele era preto.

        A princípio, Zeca não entendeu:

        — Porque era preto?... Só por isso?

        — Você acha pouco? — interrogou Maurício, encarando-o. — Para o Gervásio é muito!

        [...]

Pega Ladrão. São Paulo, Ática, 1986. p. 11-5.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 179-184.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Fatura: relação que acompanha uma remessa de mercadorias, contendo a descrição de tais mercadorias.

·        Iniciativa: atitude.

·        Enxerido: intrometido.

·        Mascarar: esconder.

·        Apreensão: sentimento de preocupação.

·        Intromissão: ato de intrometer-se em assuntos alheios.

·        Retrucar: responder.

·        Displicência: falta de interesse, descaso.

·        Na mira: sob observação.

·        Reatar: estabelecer outra vez uma ligação ou uma conversa, retornar do ponto interrompido.

·        Trajeto: caminho, percurso.

02 – A ação do texto acontece em uma agência de publicidade. Qual é a situação que Zeca está vivendo no emprego?

      Zeca está começando a trabalhar como mensageiro ou boy.

03 – Como Maurício trata Zeca? Por que Maurício se comporta desta maneira?

      Maurício o trata com superioridade porque ele é mais experiente no emprego do que Zeca.

04 – Qual é a intenção de Dona Ermelinda com a frase: “Ah, o garotão almoça na lanchonete, é?

      Dona Ermelinda está brincando com Zeca, tentando descontrai-lo.

05 – Em que circunstância Zeca começou a trabalhar na agência?

      Zeca foi apresentado pelo namorado da irmã, que trabalha numa gráfica.

06 – Embora sem aparecer diretamente no texto, o que é possível perceber sobre Gervásio?

      Gervásio é o chefe de pessoal da agência. Ele despediu Tonho porque implicava com ele.

07 – Por que Tonho foi despedido?

      Tonho foi despedido porque houve um roubo na agência e Gervásio o considerou culpado por ser preto.

08 – Como você imagina que Tonho tenha se sentido ao ser tratado dessa forma?

      Resposta pessoal do aluno.

 

CONTO: O PRIMEIRO AMOR - ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

 Conto: O primeiro amor

            Elias José

        Logo que colocou os objetos embaixo da carteira, Pitu encontrou o bilhete. Leu, ficou vermelho, colocou no bolso, não mostrou pra ninguém. De vez em quando, mordia-lhe uma curiosidade grande, uma vontade de reler pra ter certeza. Era uma revelação que ele não estava esperando.

        Não podia dizer que estivesse achando ruim, pelo contrário... Ele estava com vontade de olhar para trás, para as últimas carteiras e procurar por uma resposta com o olhar. Era um tímido e não se encorajava. A professora explicava num mapa as regiões do Brasil e ele viajava num rumo diferente.

        Ainda bem que ela não estava olhando pra ele, nem fazendo perguntas, só estava expondo a matéria. Na hora da verificação, acabaria saindo-se mal. Não gostava de ignorar as coisas perguntadas. Só não se saía muito bem quando se tratava de fazer contas de números fracionários. A professora mesma dizia-lhe que em Português e matéria de leitura e entendimento ele se saía bem; em poesias românticas, em música sentimental. Estava meio perdido nos pensamentos confusos. O bilhete queimando no bolso. Uma vontade de relê-lo, palavra por palavra. Interessante, não era um bilhete bem escrito, tinha até erro de Português – por que a curiosidade? Só ele sabia dele, não foi como no dia do correio-elegante, pai, mãe e seu Francisco do armazém querendo saber, dando palpites. Agora, tinha um bilhete e era diferente. Tinha um bilhete que trazia uma declaração de amor e uma assinatura. Trazia mais: trazia um convite para um bate-papo na praça, às duas horas, se ele quisesse namorar de verdade.

        Marina era bonitinha, ele queria. Falta-lhe jeito de dizer, tinha que escrever um bilhetinho respondendo, era mais fácil. No intervalo, escreveu o bilhete, fechado no banheiro.

        Quando ela chegou, a resposta a esperava na carteira. Quase no fim da aula, ele criou força e olhou para trás. Marina sorria, confirmando. Ele sorria também. Diversas vezes, ele olhou pra trás e a encontrou olhando. Trocaram sorrisos e olhares. Os dois estavam vivendo uma ternura primeira e não sabiam escondê-la mais. Tanto assim que a professora pediu que ele virasse pra frente, observasse o que ela estava pedindo pra pesquisa do fim de semana. Naquele fim de semana, ele iria pesquisar alguma coisa nova que não tinha experimentado, como alguns outros de sua idade e turma.

Elias José. As curtições de Pitu. São Paulo, Melhoramentos, 1980.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 08-10.

Entendendo o conto:

01 – Como é possível perceber o lugar onde ocorre a ação do texto?

      O narrador faz menção a carteiras e a professora. Toda a situação descrita no texto também permite-nos concluir que a ação se passa em uma escola.

02 – O que acontece com Pitu e Marina, as principais personagens do texto?

      Eles estão iniciando um namoro.

03 – Por que Pitu fica vermelho ao receber o bilhete? Como o menino é?

      Porque ficou emocionado. Pitu é um pouco tímido, romântico e bom aluno em Português.

04 – No início de um relacionamento amoroso, geralmente, há alguém que toma a iniciativa, que dá o primeiro passo. De quem partiu a iniciativa no caso de Pitu e Marina? Justifique sua resposta.

      De Marina: foi ela que enviou o primeiro bilhete, encorajando o garoto com sorrisos e olhares ternos.

05 – Como você entende a frase: “Os dois estavam vivendo uma ternura primeira e não sabiam escondê-la mais.”?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Como é a comunicação entre Pitu e Marina?

      Pitu e Marina se comunicam por meio de bilhetes, sorrisos e olhares.

07 – Dê outro título ao texto.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – O texto apresenta personagens adolescentes, como você. Na sua opinião, o comportamento foi bem observado pelo escritor? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, o texto pode ser facilmente entendido e até mesmo feito uma peça teatral.

CONTO: LIVRO: O MEU PÉ DE LARANJA LIMA(FRAGMENTO) - JOSÉ MAURO VASCONCELOS - COM GABARITO

 Conto: O meu pé de Laranja Lima – Fragmento

      José Mauro Vasconcelos

        A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totóca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas. Mas ensinando as coisas fora de casa. Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas. Até bem pouco tempo ninguém me batia. Mas depois descobriram as coisas e vivem dizendo que eu era o cão, que eu era capeta, gato ruço de mau pelo. Não queria saber disso.

        [...]

        Joguei uma flecha de piedade nos olhos de Glória. Ela sempre me salvara e eu sempre prometia a ela que não ia fazer nunca mais...

        — Mais tarde. Agora não. Eles estão brincando tão quietinhos...

        Ela já sabia de tudo. Sabia que eu tinha ido pelo valão e entrado nos fundos do quintal de Dona Celina. Fiquei fascinado com a corda de roupa balançando ao vento uma porção de pernas e braços. Aí o diabo me disse que eu podia dar uma queda ao mesmo tempo em todos os braços e pernas. Eu concordei com ele que ia ser muito engraçado. Procurei no valão um caco de vidro bem afiado e subi na laranjeira e cortei a corda com paciência.

        Eu quase que caí ao mesmo tempo que aquilo tudo veio abaixo. Um grito e todo mundo correu.

        — Acode minha gente, que a corda rebentou.

        Mas uma voz, não sei de onde, gritou mais alto.

        — Foi aquela peste do menino de seu Paulo. Eu vi ele trepando na laranjeira com um caco de vidro...

        [...]

        Arrastei-me até a porta da cozinha, estudando um meio de desarmar Glória. Ela estava bordando uns panos. Sentei meio sem jeito e dessa vez Deus me ajudou. Ela me olhou e viu que eu estava de cabeça baixa. Resolveu não dizer nada porque eu estava de castigo. Fiquei com os olhos cheios d'água e funguei. Dei com os olhos de Glória me fitando. Suas mãos tinham parado no bordado.

        — Que é, Zezé?

        — Nada, Godóia... Por que ninguém gosta de mim?

        — Você é muito arteiro.

        — Hoje já levei três surras, Godóia.

        — E não mereceu?

        — Não é isso. É que como ninguém gosta de mim, aproveitam para me bater por qualquer coisa.

        [...]

        No começo o segredo existiu só porque eu tinha vergonha de ser visto no carro do homem que me dera umas palmadas. Depois persistiu porque sempre era bom existir um segredo. E o Português fazia todas as minhas vontades nesse aspecto. Tínhamos jurado, de morte, que ninguém deveria saber da nossa amizade. Primeiro, porque não queria dar carona à garotada. Quando vinha gente conhecida, ou mesmo Totóca, eu me abaixava. Segundo, porque ninguém devia atrapalhar o mundo de conversas que a gente tinha para conversar.

        [...]

        — [...] Eu não gosto muito do seu nome. Não é que não goste, mas entre amigos fica muito...

        — Virgem Santíssima, o que virá agora?

        — Acha que eu posso chamar você de Valadares?

        Ele pensou um pouco e sorriu.

        — De fato, não soa bem.

        — De Manuel, eu também não gosto. Você nem pode saber como eu fico fulo quando Papai conta anedotas de Português e fala: ó Manuele... Se vê logo que o filho da mãe nunca teve um amigo português...

        — Que acabaste de falar?

        — Que meu pai imita português?

        — Não. Antes. Uma coisa feia.

        — Filho da mãe é tão feio como o outro filho?...

        — Quase a mesma coisa.

        — Então vou ver se não falo mais. Então?

        — Eu que te pergunto. Que conclusão tiraste? Não me queres chamar de Valadares e pelo jeito de Manuel, também não.

        — Tem um nome que eu acho lindo.

        — Qual? Aí eu fiz a cara mais sem-vergonha do mundo.

        — Como seu Ladislau e os outros chamam você na Confeitaria...

        Ele fechou a mão fingindo zanga de brincadeira.

        — Sabes que és o maior atrevidaço que eu conheço. Queres me chamar de Portuga, não é assim?

        — Fica mais de amigo.

        — É tudo quanto desejas? Pois bem. Eu to permito. Agora vamos, sim?

        VASCONCELOS, José Mauro de. O meu pé de laranja lima. São Paulo: Melhoramentos, 1975. p. 5, 16, 70, 77, 81.

Fonte: Da escola para o mundo – Projetos Integradores – volume único – Ensino médio – 1ª Edição, São Paulo, 2020, editora Ática. p. 19-21.

Entendendo o conto:

01 – Com base na leitura dos trechos, quem são as personagens que aparecem no cartaz do filme?

      O menino Zezé e seu amigo Portuga.

02 – Que elementos presentes no texto escrito aparecem no trailer do filme?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Que sentimentos, sensações ou ideias o texto literário e sua versão cinematográfica provocam em você?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Se você tivesse de indicar o romance ou o trailer para um amigo, como faria isso?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Com base nas diferenças entre as linguagens literária e cinematográfica apontadas anteriormente, o que mais lhe chamou a atenção nos trechos do romance “O meu pé de laranja lima” e quais aspectos são, em sua opinião, os mais significativos no trailer a que você assistiu? Justifique suas escolhas formulando argumentos.

      Resposta pessoal do aluno.

CONTO: O GALO QUE CANTAVA PARA FAZER O SOL NASCER - RUBEM ALVES - COM GABARITO

 Conto: O galo que cantava para fazer o sol nascer

             Rubem Alves

        Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs e dizia para a bicharada do galinheiro:

        -- Vou cantar para fazer o sol nascer...

        Ato contínuo, subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o nascente e ordenava, definitivo:

        -- Có-có-ri-có-có...

        E   ficava esperando.

        Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer, até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo.

        O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos e dizia:

        -- Eu não falei?

        E todos ficavam biqui/abertos e respeitosos ante poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar pra fazer o sol nascer.

        Ninguém duvidava. Tinha sido sempre assim. Também o galo-pai cantara para fazer o sol nascer, e o galo-avô...

        Tal poder extraordinário provocava as mais variadas reações.

        Primeiro, os próprios galos não estavam de acordo. E isto porque não havia um galo só. Quando a cantoria começava, de madrugada, ela ia se repetindo pelos vales e montanhas. Em cada galinheiro havia um galo que pensara a mesma coisa e julgava todos os outros uns impostores invejosos. Além do que não havia acordo sobre a partitura certa para fazer o sol nascer. Cada um dizia que a única verdadeira era a sua – todas as outras sendo falsificações e heresias. Em cada galinheiro imperava o terror. Os galos jovens tinham de aprender a cantar do jeitinho do galo velho, e se houvesse algum que desafinasse ou trocasse bemóis por sustenidos, era imediatamente punido. Por vezes, a punição era um ano de proibição de cantar. Sendo mais grave o desafino, ameaçava-se com o caldeirão de canja do fazendeiro, fervendo sobre o fogão de lenha.

        [...]

        Depois, havia grande ansiedade entre os moradores do galinheiro. E se galo ficasse rouco? E se esquecesse da partitura?

        Quem cantaria para fazer nascer o sol? O dia não amanheceria. E por causa disso cuidavam do galo com o major cuidado. Ele, sabendo disso, sempre ameaçava a bicharada, para ser mais bem tratado ainda.

        -- Olha que eu enrouqueço! dizia.

        E todos se punham a correr, para satisfazer as suas vontades.

        [...]

        Aconteceu, como era inevitável, que certa madrugada o galo perdeu a hora. Não cantou para fazer o sol nascer.

        E o sol nasceu sem o seu canto.

        O galo acordou com o rebuliço no galinheiro. Todos falavam ao mesmo tempo.

        -- O sol nasceu sem o galo... O sol nasceu sem o galo...

        O pobre galo não podia acreditar naquilo que os seus olhos viam: a enorme bola vermelha, lá no alto da montanha. Como era possível? Teve um ataque de depressão ao descobrir que o seu canto não era tão poderoso como sempre pensara. E a vergonha era muita.

        Os bichos, por seu lado, ficaram felicíssimos. Descobriram que não precisavam do galo para que o sol nascesse. O sol nascia de qualquer forma, com galo ou sem galo.

        Passou-se muito tempo sem que se ouvisse o cantar do galo, de deprimido e humilhado que ele estava. O que era uma pena: porque é tão bonito. Canto de galo e sol nascente combinam tanto. Parece que nasceram um para o outro.

        Até que, numa bela manhã, o galinheiro foi despertado de novo com o canto do galo. Lá estava ele, como sempre, no alto do telhado, peito estufado.

        -- Está cantando para fazer o sol nascer? Perguntou o peru em meio a uma gargalhada.

        -- Não, ele respondeu.  Antes, quando eu cantava para fazer o sol nascer, eu era doido varrido. Mas agora eu canto porque o sol vai nascer. O canto é o mesmo. E eu virei poeta.

 ALVES, Rubem. Estórias de bichos. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1990. p. 22-5.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 234-6.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bemóis e sustenidos: variações de tom de uma nota musical.

·        Depressão: abatimento moral.

·        Deprimido: estado daquele que entra em depressão.

·        Heresia: pensamento que se opõe às ideias vigentes.

·        Impostor: fingindo, que se faz passar por alguém que não é.

·        Partitura: representação gráfica de uma composição musical.

·        Rebuliço: barulho, agitação.

02 – O galo, no início da história, gozava de uma condição especial.

a)   Como era tratado?

Com respeito e atenção.

b)   Por que o tratavam assim?

Porque tinham medo de que ele se zangasse e não fizesse mais o sol nascer.

03 – Em todas as comunidades, é muito forte o significado da tradição, isto é, das crenças, dos costumes, dos valores, etc.

a)   No galinheiro desta história, os galos valorizam a tradição? Por quê?

Sim, porque transmitem sua técnica de canto de geração a geração, não aceitando nenhuma inovação.

b)   Que consequência teve, para a comunidade do galinheiro, o fato de o galo um dia não cantar para o sol nascer?

A comunidade descobriu que o sol nasce mesmo sem o canto do galo; Isso modificou o modo de ver a tradição e levou o fim dos privilégios do galo, vindos de longa data.

04 – Releia este parágrafo:

        “Passou-se muito tempo sem que se ouvisse o cantar do galo, de deprimido e humilhado que ele estava. O que era uma pena: porque é tão bonito. Canto de galo e sol nascente combinam tanto. Parece que nasceram um para o outro.”

a)   Até esse parágrafo, o narrador se limitava a contar a história, sem emitir opiniões pessoais. Identifique o trecho em que muda sua postura.

“O que era uma pena” até “nasceram um para o outro”.

b)   Pode-se dizer que esse parágrafo antecipa o desfecho da história. Quais são as “pistas” existentes nele que permitem prever o destino do galo?

O narrador, ao dizer que o canto do galo é bonito, antecipa o papel que ele vai assumir no desfecho da história.

05 – Observe as palavras destacadas nestas frases: “Antes, quando eu cantava para fazer o sol nascer, eu era doido varrido. Mas agora eu canto porque o sol vais nascer”.

a)   Relacione as palavras destacadas a estas ideias:

Causa – tempo – consequência – finalidade.

·        Qual dessas ideias a palavra para exprime?

Finalidade.

·        Qual dessas ideias a palavra porque exprime?

Causa.

b)   Por que o galo diz que era “doido varrido” quando cantava para fazer o sol nascer?

Percebe agora que o que fazia não tinha sentido.

c)   Explique por que ele agora se considera poeta.

Porque agora ele canta sem nenhuma finalidade específica, canta apenas porque é bonito ou porque gosta de cantar.

06 – Observe a palavra destacada neste trecho: “E todos ficavam biqui/abertos e respeitosos”. O autor inventou um neologismo, isto é, uma palavra nova, que não existe na língua. Para fazer isso, ele apenas modificou o início de outra palavra, essa sim existe na língua.

a)   Qual é essa outra palavra?

Boquiaberto.

b)   O que as duas palavras significam?

Em estado de espanto.

07 – No texto, o autor também empregou palavras criadas a partir da união de outras duas: galo-pai e galo-avô. Seguindo o exemplo de Rubem Alves, invente você também palavras a partir da junção de outras existentes na língua. Se quiser, aproveite estas sugestões: galo, madrugada, sol, canto, montanha, poeta, bichos. Ou crie livremente.

      Resposta pessoal do aluno.

 

CARTUM: ENTREVISTA - QUINO - GENTE - COM GABARITO

 Cartum: Entrevista


             Quino. Gente. Lisboa: Dom Quixote, 1991.

Fonte: Gramática Reflexiva – 6° ano – Atual Editora – William & Thereza – 2ª edição reformulada – São Paulo. 2008. p. 38-9.

Entendendo o cartum:

01 – O cartum retrata inicialmente um diálogo entre duas pessoas.

a)   O que o homem de terno preto foi fazer nesse lugar?

Foi tentar arrumar emprego ou participar de uma entrevista de trabalho.

b)   Ele atingiu seu objetivo?

Sim, pois ele conseguiu a vaga.

02 – Repare nas perguntas feitas pelo entrevistador e nas respostas dadas pelo entrevistado.

1° quadrinho: Nome? – 19 de março de 1924.

2° quadrinho: Endereço? – Masculino.

3° quadrinho: Data de nascimento? – Casado.

4° quadrinho: Nacionalidade? – Avenida Pirolito, 379, 2° F, capital.

5° quadrinho: Sexo? – Exame da 4ª classe.

6° quadrinho: Profissão? – Horácio da Silva Freitas.

a)   O que chama a atenção nesse diálogo?

As respostas são absurdas, porque não há coerência (lógica) entre as perguntas feitas pelo entrevistador e as respostas dadas pelo entrevistado.

b)   Como o entrevistador reage diante das respostas do entrevistado?

Naturalmente, como se as respostas fossem coerentes com as perguntas.

03 – Observe a última cena do cartum.

a)   Que tipo de lugar você imagina que seja esse? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Parece ser uma repartição pública, em virtude do número de pessoas em fila e com papel na mão.

b)   Para que tipo de cargo o homem foi contratado?

Foi contratado para dar informações ao público.

c)   Você acha que ele está preparado para ocupar esse cargo? Por quê?

Não, pois, pelas respostas ilógicas dadas por ele durante a entrevista, é possível prever que ele vá desorientar o público.

04 – Quino é um cartunista argentino. Seu cartum faz uma crítica.

a)   Qual é o alvo da crítica?

Crítica a burocracia de algumas instituições públicas, o despreparo dos funcionários e o modo absurdo como as pessoas são tratadas ou orientadas.

b)   Você acha que esse cartum também se adequaria à realidade brasileira? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.