Romance: O
tempo e o vento – Fragmento
ÉRICO VERÍSSIMO
“Os Terras continuaram mudos. O índio
ainda sorria quando murmurou:
-- Louvado seja Nosso Senhor.
Tinha uma voz que não se esperava
daquele corpo tão vigoroso: macia e doce.
Os outros não faziam o menor movimento,
não pronunciavam a menor palavra. Mas o índio sorria sempre e agora repetia:
amigo, amigo, amigo...
Depois inclinou o busto para trás e
recostou-se na parede de barro. De repente seu rosto se contorceu de dor e ele
lançou um olhar oblíquo na direção do ombro ferido.
Nesse instante Maneco Terra deu dois
passos na direção do catre e perguntou:
-- Como é o
nome de vosmecê?
O outro pareceu não entender. Maneco
repetiu a pergunta e o índio respondeu:
-- Meu
nombre é Pedro.
-- Pedro de
quê?
-- Me jamam
Missioneiro.
Maneco
lançou-lhe um olhar desconfiado.
-- Castelhano?
-- No.
-- Continentino?
-- No.
-- Donde é,
então?
-- De parte
ninguna.
Maneco Terra não gostou da resposta.
Foi com voz irritada que insistiu:
-- Mas onde
foi que nasceu?
-- Na
mission de San Miguel.
-- Qual é o
seu ofício?
-- Ofício?
-- Que é
que faz? Em que trabalha?
-- Peleio.
-- Isso não
é ofício.
Pedro
sorriu. Tinha dentes fortes e alvos.
-- Que anda
fazendo por estas bandas? – insistiu.
No seu português misturado com
espanhol, Pedro contou que fugira da redução quando ainda muito menino e que
depois crescera nos acampamentos militares dum lado e doutro do rio Uruguai;
ultimamente acompanhara os soldados da Coroa de Portugal em suas andanças de guerra;
também fizera parte das forças de Rafael Pinto Bandeira e fora dos primeiros a
escalar o forte castelhano de San Martinho...”
Érico Veríssimo.
O tempo e o vento.
Porto Alegre: Globo, 1985,
v. 1, p. 41.
Entendendo o romance:
01 – No primeiro diálogo
entre Maneco Terra, pai de Na Terra, e o índio percebem-se características do
temperamento de ambos? Comente isso.
Maneco Terra era
um homem desconfiado, hostil, não gostava de estranhos; por isso irritou-se com
a chegada de Pedro, que se mostrou gentil, de jeito manso e amigo. Pedro tinha
espírito aventureiro, era um andarilho.
02 – Retire do texto as
frases com pronomes interrogativos e passe-as para interrogativa indireta.
-- Pedro de quê? – Quero saber que Pedro.
-- Qual é o seu ofício? – Gostaria de saber qual é o seu ofício.
--
Que é que faz? Em que trabalha? – Quero saber que é que faz, em que
trabalha.
--
Que anda fazendo por estas bandas? – Desejo saber que anda fazendo por
estas bandas.
03 – Copie as frases do
texto em que há advérbios interrogativos e classifique-os.
-- Como
é o nome de vosmecê? (Advérbio de modo).
-- Donde
é, então? (Advérbio de lugar).
-- Mas onde foi que nasceu? (Advérbio de lugar).
04 – Transforme as duas
orações numa única oração, empregando os pronomes relativos adequados (que,
quem, qual, quanto ou onde).
a)
O juiz decretou recesso no tribunal. A
audiência foi marcada para amanhã.
O juiz que decretou recesso no tribunal marcou a audiência para amanhã.
b)
No metrô havia tipos estranhos. Nós o
utilizávamos várias vezes ao dia.
Várias vezes ao dia nós utilizávamos o metrô, onde havia tipos
estranhos.
c)
Os participantes do show de rock chegaram ao
Rio de Janeiro. Os fãs já comemoravam o grande evento.
Os participantes do show de rock chegaram ao Rio de Janeiro, onde os
fás já comemoravam o grande evento.
d)
A imobiliária ampliou seus negócios. Meus
pais adquiriram o apartamento através dela.
A imobiliária, através da qual meus pais adquiriram o apartamento,
ampliou seus negócios.
e)
Os moradores chamaram os bombeiros. Eles
atenderam rapidamente.
Os bombeiros a quem os moradores chamaram atenderam rapidamente.
f)
O antiquário avaliou várias peças. Nem tudo
entrou no leilão.
Nem tudo quanto foi avaliado pelo antiquário entrou no leilão.