terça-feira, 23 de janeiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA - JAIME PINSKI - COM GABARITO

 Artigo de Opinião: O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA
              JAIME PINSKI

   Preconceito, nunca. Temos apenas opiniões bem diferentes sobre as coisas. Preconceito é o outro que tem...
     Mas, por falar nisso, já observou o leitor como temos o fácil hábito de generalizar (e prova disso é a generalização acima) sobre tudo e todos? Falamos sobre “as mulheres”, a partir de experiências pessoais; conhecemos os “políticos”, após acompanhar a carreira de dois ou três; sabemos tudo sobre os “militares” porque o síndico do nosso prédio é um sargento aposentado; discorremos sobre homossexuais (bando de sem-vergonhas), muçulmanos (gentinha atrasada), sogras (feliz foi Adão, que não tinha sogra nem caminhão), advogados (todos ladrões), professores (pobres coitados), palmeirense (palmeirense é aquele que não tem classe para ser são-paulino nem coragem para ser corintiano), motoristas de caminhão(grossos), peões de obras (ignorantes), sócios do Paulistano (metidos a besta), dançarinos (veados), enfim, sobre tudo. Mas discorremos de maneira especial sobre raças e nacionalidades e, por extensão, sobre atributos inerentes a pessoas nascidas em determinados Estados.
        Afinal, todos sabemos (sabemos?) que os franceses não tomam banho; os mexicanos são preguiçosos; os suíços, pontuais; os italianos, ruidosos; os judeus, argentários; os árabes, desonestos; os japoneses, trabalhadores, e por aí afora. Sabemos também que cariocas são folgados; baianos, festeiros; nordestinos, pobres; mineiros, diplomatas, etc. Sabemos ainda que o negro não tem o mesmo potencial que o branco, a não ser em algumas atividades bem definidas como o esporte, a música, a dança e algumas outras que exigem mais o corpo e menos da inteligência. Quando nos deparamos com uma exceção, admitimos que alguém possa ser limpo, apesar de francês; trabalhador, apesar de mexicano; discreto, apesar de italiano; honesto, apesar de árabe; desprendido do dinheiro, apesar de judeu; preguiçoso, apesar de japonês, e também por aí afora. Mas admitimos com relutância e em caráter totalmente excepcional.
        O mecanismo funciona mais ou menos assim: estabelecemos uma expectativa de comportamento coletivo (nacional, regional, racial), mesmo sem conhecermos, pessoalmente, muitos ou mesmo nenhum membro do grupo sobre o qual pontificamos. Sabemos (sabemos?) que os mexicanos são preguiçosos porque eles aparecem sempre dormindo embaixo dos seus enormes chapelões enquanto os diligentes americanos cuidam do gado e matam bandidos nos faroestes. Para comprovar que os italianos são ruidosos achamos o bastante frequentar uma cantina do Bexiga. Falamos sobre a inferioridade do negro a partir da observação empírica de sua condição socioeconômica. E achamos que as praias do Rio de Janeiro cheias durante os dias da semana são prova do caráter folgado do cidadão carioca. Não nos detemos em analisar a questão um pouco mais a fundo. Não nos interessa estudar o papel que a escravidão teve na formação histórica de nossos negros. Pouco atentamos para a realidade social do povo mexicano e de como ele aparece estereotipado no cinema hollywoodiano. Nada disso. O importante é reproduzir de forma acrítica e boçal os preconceitos que nos são passados por piadinhas, por tradição familiar, pela religião, pela necessidade de compensar nossa real inferioridade individual por uma pretensa superioridade coletiva que assumimos ao carimbar “o outro” com a marca de qualquer inferioridade.
        Temos pesos, medidas e até um vocabulário diferente para nos referirmos ao “nosso” e ao do “outro”, numa atitude que, mais do que autocondescendência, não passa de preconceito puro. Por exemplo, a nossa é religião, a do outro é seita; nós temos fervor religioso, eles são fanáticos; nós acreditamos na lei de Deus (o nosso sempre em maiúsculas), eles são fundamentalistas; nós temos hábitos, eles vícios; nós cometemos excessos compreensíveis, eles são um caso perdido; jogamos muito melhor, o adversário tem é sorte; e, finalmente, não temos preconceito, apenas opinião formada sobre as coisas.
        Ou deveríamos ser como esses intelectuais que para afirmar qualquer coisa acham necessário estudar e observar atentamente? Observar, estudar e agir respeitando as diferenças é o que se espera de cidadãos que acreditam na democracia e, de fato, lutam por um mundo mais justo. De nada adianta praticar nossa indignação moral diante da televisão, protestando contra limpezas raciais e discriminações pelo mundo afora, se não ficarmos atentos ao preconceito nosso de cada dia.

                                 PINSKI, Jaime. O Estado de São Paulo, 20 maio 1993.

Entendendo o texto:

1 – Observe o emprego sistemático do “nós”. Qual é a função dessa palavra no texto?
        Nós – ele se coloca entre as pessoas preconceituosas.

2 – Nos três primeiros parágrafos, ele descreve “nossas opiniões”, enumerando uma série de exemplos populares. É tudo invenção dele ou realmente “os outros” dizem essas coisas? Você já ouviu afirmações desse tipo? Por que motivo ele faz essa extensa enumeração? Um ou dois exemplos não seriam suficientes?
        Realmente dizem. Certamente os alunos já ouviram afirmações semelhantes. Ele enumera essas afirmações para nós percebermos que por mais que digamos que não somos preconceituosos o somos. Se ele diminuísse a enumeração das afirmações preconceituosas não teria o mesmo efeito sobre o leitor.

3 – A partir do quarto parágrafo, há uma mudança no rumo do texto. O que muda?
        Ele passa a analisar o mecanismo do preconceito.

4 – No último parágrafo, o que ele conclui?
        É preciso ter consciência dos nossos preconceitos para superá-los.

5 – Pelo conjunto do texto, você diria que se trata de uma lição de moral, uma “bronca” no leitor ou, de fato, de um texto argumentativo? Qual é a diferença?
        De um texto argumentativo, pois apresenta fatos, argumenta e sustenta aquilo que apresentou.
        -Lição de moral – simplesmente apresenta o que deveríamos fazer e como deveria ser feito. Geralmente a lição de moral vem na forma de enunciados categóricos sem sustentação em argumentos.
        - Bronca – simplesmente uma chamada de atenção, uma repreensão sem maiores argumentações.

  

FÁBULA: A VOLTA DO PÁSSARO ENCANTADO - RUBEM ALVES - COM GABARITO

FÁBULA:  A VOLTA DO PÁSSARO ENCANTADO
                    RUBEM ALVES     

    Um dia ele voltou. Mas estava diferente.
        Triste.
     “--- Você mudou”, disse a Menina!
     “--- Eu sei”, ele respondeu. “Perdi a alegria. Não mais tenho vontade de voar!”
   “--- Como foi que isto aconteceu?”, perguntou a Menina.
  “--- Estou velho. Não sou como era...”, ele respondeu.
    “--- Quem lhe contou isto?”
   “--- O ESPELHO...”
        Com estas palavras, o Pássaro tirou de dentro de suas penas um espelho de ouro e começou a contemplar o seu rosto.
         “--- Não me lembro deste espelho”, disse a Menina.
         “--- Foi presente de alguém! Deixado à minha porta”, explicou o Pássaro.
         Como seu Pássaro! A Menina pensou. Ela nunca o havia visto se olhando num espelho. Seus olhos estavam sempre cheios de mundos, de montanhas e campos nevados, florestas e mares... Tão cheios de mundos que não havia neles lugar para sua própria imagem. Mas agora era como se os mundos não mais existissem. Os olhos de Pássaro estavam cheios do seu próprio reflexo. A Menina percebeu que seu Pássaro fora enfeitiçado. Com certeza alguém, com inveja, como a madrasta da Branca de Neve. E que instrumento mais terrível para o feitiço que um espelho? Mais terrível que as gaiolas. De dentro das gaiolas todos devem sair. Mas dentro dos espelhos todos querem ficar.
        A Menina se entristeceu... E jurou que tudo faria para quebrar qualquer feitiço.
        Mas de feitiços ela nada entendia. Procurou então os conselhos de um velho mago, que lhe revelou o segredo do poder de todos os bruxedos.
         “--- Uma pessoa fica enfeitiçada quando se torna incapaz de amar. E, para isto, não existe nada mais forte que um espelho. O espelho faz com que as pessoas só se vejam a si mesmas. E quem só vê o próprio reflexo não consegue amar. Adoece e morre. Narciso morreu assim, enfeitiçado por sua própria beleza, refletida na água da fonte. E foi a beleza da madrasta da Branca de Neve, refletida no espelho, que a transformou de mulher linda em bruxa horrenda!”.
        Contra o feitiço do espelho existe um só remédio: é preciso redescobrir o amor. Ficar de novo apaixonado! Somente o amor tem poder suficiente para arrancar as pessoas de dentro da armadilha do espelho. Mas não há receitas... Somente quem ama a pessoa enfeitiçada pode salvá-la! ...”
         Muito longe dali, o Pássaro se olhava no espelho e chorava os sinais do tempo gravados no seu rosto, e a única coisa que via era a sua própria imagem.
        De repente, entretanto, algo passou, bem no fundo da sua alma. Como se fosse um Vento leve, bem leve; ou um raio de sol crepuscular; uma pequena chama de fogueira no frio das montanhas; um sonho bonito, em meio à noite... E ele se lembrou da Menina. Onde estaria ela? Deixou sobre a mesa o espelho e saiu em “busca das marcas da sua Ausência”, no perfume das flores, no gosto dos frutos, no quarto vazio...
         Havia, por todos os lugares, a presença da sua Ausência. E naquele corpo, por tanto morto dentro do espelho, o Desejo cresceu, o rosto sorriu, as asas se abriram e o que era pesado voou...
         Ressuscitou...
         E cada um deles partiu, ignorando o que o outro fazia, em busca do reencontro...
         O feitiço fora quebrado.
         Estavam apaixonados.
         Voavam leves, ao Vento, com asas de saudade...
         E ambos traziam, no brilho dos olhos, os sinais da juventude eterna, que os anos não conseguem apagar... Porque os que estão apaixonados não envelhecem, jamais...

      ALVES, Rubem. A Volta do Pássaro Encantado. São Paulo: Paulus, 1989.

Entendendo o texto:
01 – Por que o Pássaro voltou triste?
       Porque estava se sentindo velho.

02 – Segundo a Menina, “os olhos do Pássaro estavam cheios do seu próprio reflexo”. O que ela quis dizer?
         O Pássaro via apenas o seu próprio reflexo; totalmente preso à sua imagem, ele não conseguiu enxergar nada além de si próprio.

03 – Narciso é um personagem da mitologia que ficou encantado ao ver seu reflexo na água. A madrasta da Branca de Neve é também uma personagem conhecida. Por que são mencionados no texto?
       Para dar exemplos do que é afirmado pelo mago: “E quem só vê o próprio reflexo não consegue amar.”

04 – Por que, segundo o texto, o espelho é o mais terrível instrumento para o feitiço?
       Porque isola a pessoa, torna-a justamente “cheia de si mesma”. Torna-a incapaz de amar.

05 – Por que as pessoas enfeitiçadas não conseguem amar?
       Elas só se preocupam consigo mesmas, com sua beleza ou felicidade, por isso são incapazes de sair de seu mundo pessoal, para conhecer e amar o outro.

06 – Como é possível vencer a armadilha do espelho?
       Descobrindo novamente o amor, pois só assim a pessoa enfeitiçada se esquece de si própria para se dedicar também ao ser amado.

07 – O que fez o Pássaro abandonar o espelho?
       A lembrança da Menina, que provocou saudades e o abrigou a sair à sua procura.

08 – Explique por que a Menina havia deixado “por todos os lugares a presença da sua Ausência”.
       Agora que a Menina estava distante, tudo que se relacionava a ela, como o perfume das flores, o gosto dos frutos e o quarto vazio, tornava forte a sua lembrança.

09 – Como o feitiço finalmente foi quebrado?

       Quando ele sentiu saudade da Menina esqueceu-se de si mesmo para amar o outro e não a si próprio. Por fim, o encanto do Pássaro com a Menina voltou.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

TEXTO: MULHER DE QUARENTA - LYA LUFT - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: Mulher de quarenta
                                                                                                  Lya Luft

     Houve um tempo em que a mulher interessante era a de 30 anos. Naquele instante especial, logo antes – para aquela época – de começar a derrocada, de ela se transformar em uma matrona chata.
    A mulher de 40 anos emergiu há poucas décadas por todo o mundo ocidental. Criados os filhos, consolidado – ou acabado – o casamento, permitiam-se voos mais altos, ou revoadas fora do ninho doméstico. Surgiram assim artistas plásticas, escritoras, amantes. Ou apenas mulheres que se descobriam capazes de pensar, trabalhar, viajar. Questionar-se, questionar vida e valores.
        Algumas num tom lamurioso, outras num tom ressentido, outras, ainda alegres ao abrir janelas de possibilidades. Muitas, ainda, não mudando grande coisa, a mesma casa, o mesmo companheiro, os mesmos filhos, as mesmas amigas. Mas, dentro de si, um novo olhar sobre tudo isso e o mundo lá fora. Às vezes até um olhar mais amoroso. Amor com mais alegria: o que existe melhor que isso?
        A mulher de 40 anos apenas começa a viver. Apenas começa a acumular alguma bagagem de vida; é mais capaz de autoconhecimento, de contemplação das coisas e, simultaneamente, de mais abertura para fora. Olhar o outro sem a toda hora testar: estou linda, estou desejável, estou dentro dos padrões, sou gostosa, pareço inteligente?
        Abrir as asas exige, para ser bom, certa serenidade, um vago equilíbrio, ou cedo as asas vão se derreter ao sol, e a gente despenca, quebrando a cara como não imaginava. Exige certa esperteza boa. A mulher de 40 anos, a que se preza, é uma bruxa divertida, que voa na sua vassoura turbinada, feliz com a visão que tem quando, lá no alto, gira sobre os telhados e sobre as cabeças.
                                                                                                                                        Revista Veja, 7 de novembro de 2007.

Entendendo o texto:

01 – Ultrapassa o texto a informação segundo a qual:
[A] O ápice (pico) da vida da mulher dava-se até os 30 anos.
[B] A partir dos trinta anos a mulher tornava-se aborrecida.
[C] Houve uma mudança revolucionária na vida da mulher.
[D] Recentemente as mulheres descobriram-se capazes de pensar.
[E] A mulher de hoje sequer questiona os valores que conhece.

02 – A análise feita por Lya Luft refere-se à mulher:
[A] De todo o planeta.                               
[B] Da cultura ocidental
[C] Da cultura helenística.  
[D] Dos países em desenvolvimento
[E] Da cultura nórdica.

03 – Há no texto uma relação de intertextualidade com a história de:
[A] As feministas.                            [D] Os políticos.
[B] Os modernistas.                        [E] Os carnavalescos.
[C] Joana D’Arc.

04 – A mulher de 40 anos hoje se destaca das mulheres de gerações anteriores pelo (a):
[A] Insegurança.                             [D] Autoconhecimento.
[B] Fugacidade.                              [E] Autodestruição
[C] Permissividade.

05 – São estas as características da mulher hoje, aos 40 anos, EXCETO a capacidade de:
[A] Desistir.   
[B] Observar.  
[C] Renovar-se.   
[D] Amar.     
[E] Divertir.


CONTO: UMA IDEIA TODA AZUL - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Conto: Uma ideia toda azul
            Marina Colasanti

        Um dia o rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda e, tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com alegria, linda ideia dele toda azul.
        Brincaram até o rei adormecer encostado numa árvore.
        Foi acordar tateando a coroa e procurando a ideia, para perceber o perigo. Sozinha no seu sono, solta e tão bonita, a ideia poderia ter chamado a atenção de alguém. Bastaria esse alguém pegá-la e levá-la. É tão fácil roubar uma ideia! Quem jamais saberia que já tinha dono?
        Com a ideia escondida debaixo do manto, o rei voltou para o castelo. Esperou a noite. Quando todos os olhos se fecharam, ele saiu dos seus aposentos, atravessou salões, desceu escadas, subiu degraus, até chegar ao corredor das salas do tempo. Portas fechadas e o silêncio. Que sala escolher?
        Diante de cada porta o rei parava, pensava e seguia adiante. Até chegar à sala do sono. Abriu. Na sala acolchoada, os pés do rei afundavam até o tornozelo, o olhar se embaraçava em gases, cortinas e véus pendurados como teias. Sala de quase escuro, sempre igual. O rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta.
        A chave prendeu no pescoço em grossa corrente. E nunca mais mexeu nela.
        O tempo correu seus anos. Ideias o rei não teve mais, nem sentiu falta, tão ocupado estava em governar. Envelhecia sem perceber, diante dos educados espelhos reais que mentiam a verdade. Apenas sentia-se mais triste e mais só, sem que nunca mais tivesse tido vontade de brincar nos jardins.
        Só os ministros viam a velhice do rei. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que já podia descansar, e o libertaram do manto.
        Posta a coroa sobre a almofada, o rei logo levou a mão à corrente.
        Ninguém mais se ocupa de mim – dizia, atravessando salões, descendo escadas a caminho da sala do tempo. Ninguém mais me olha – dizia. Agora, posso buscar minha linda ideia e guardá-la só para mim.
        Abriu a porta, levantou o cortinado.
        Na cama de marfim, a ideia dormia azul como naquele dia.
        Como naquele dia, jovem, tão jovem, uma ideia menina. E linda. Mas o rei não era mais o rei daquele dia. Entre ele e a ideia estava todo o tempo passado lá fora, o tempo todo parado na sala do sono. Seus olhos não viam na ideia a mesma graça. Brincar não queria, nem rir. Que fazer com ela? Nunca mais saberiam estar juntos como naquele dia.
        Sentado na beira da cama o rei chorou suas duas últimas lágrimas, as que tinha guardado para a maior tristeza.
        Depois, baixou o cortinado e, deixando a ideia adormecida, fechou para sempre a porta.
        Moral: ideia não é para ficar adormecida, mas para ser realizada, sob pena de se perder.

                            Extraído da obra de mesmo nome, Editora Global. 

Entendendo o conto:
01 – Quais fatos no texto permitem classifica-lo como um conto?
      Os fatos são imaginários.

02 – No texto, o narrador conta a história do rei que um dia passou a não ter mais ideias. Por que é importante que as pessoas tenham ideias?
      Para tomar decisões e procurar soluções para os problemas.

03 – O rei sentiu-se feliz porque finalmente teve sua primeira ideia. Temeroso, o rei preferiu esconder sua ideia para que ninguém a roubasse. De que modo se pode roubar uma ideia de outra pessoa?
      Utilizando como se fosse sua, para benefícios ou se promover.

04 – O rei parecia não confiar em ninguém e imaginou que, por ser tão especial, sua ideia atrairia o interesse de qualquer um. O rei agiu bem ao ocultar a sua ideia?
      O rei deveria ter utilizado a ideia azul para ter uma vida mais feliz.

05 – Já envelhecido, o rei finalmente pensou na ideia toda azul que se encontrava adormecida. Por que ele só foi pensar na ideia nesse momento?
      Porque agora tinha tempo para pensar em si mesmo.


CONTO: PALAVRAS ALADAS - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

CONTO:  PALAVRAS ALADAS
                  MARINA COLASANTI

         Era uma vez um rei que decidiu prender todas as palavras do seu reino, para não escutar nenhum som e viver em eterno silêncio.
    Mas nem sempre as coisas acontecem como planejamos, não é mesmo?  O que você acha que aconteceu com esse reino sem palavras e sem sons? Por que será que as palavras se tornaram aladas, ou seja, passaram a ter asas, a voar, causando ainda maior tumulto? Você entenderá melhor os fatos, lendo a história. Portanto, vamos à leitura do texto.
         Silêncio era a coisa de que aquele rei mais gostava. E de que, a cada dia, mais parecia gostar. Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos.
         Por isso, muito jovem ainda, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E logo, não satisfeito, ordenou que por cima dos muros, e por cima das torres, por cima dos telhados e dos jardins, passasse imensa redoma de vidro.
         Agora sim, nenhum som entrava no castelo. O mundo podia gritar lá fora, que dentro nada se ouviria. E mesmo a tempestade fez-se muda, sem que rolar de trovão ou correr de vento perturbassem a serenidade das sedas.
         --- Ouçam que preciosidade --- dizia o rei. E toda a corte se calava ouvindo embevecidamente coisa alguma.
         Mas se os sons não podiam entrar, verdade é que também não podiam sair. Qualquer palavra dita, qualquer espirro, soluço, canto, ficava vagando prisioneiro do castelo, sem que lhe fossem de valia fresta de janela ou porta esquecida aberta. Pois se ainda era possível escapar às paredes, nada os libertava da redoma.
         Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores.
         E tudo teria continuado assim, se um dia, no exato momento em que sua majestade recebia um embaixador estrangeiro, não atravessasse a sala do trono uma frase desgarrada. Frase de cozinheiro que, sobrepondo-se aos elogios reais, mandou o embaixador depenar, bem depressa, uma galinha.
         Mais do que os ouvidos, a frase feriu o orgulho do rei. Furioso, deu ordens para que todos os sons usados fossem recolhidos, e para sempre trancados no mais profundo calabouço.
         Durante dias os cortesãos empenharam-se naquele novo esporte que os levava a sacudir cortinas e a rastejar sob os móveis. A audição certeira abatia exclamações em pleno voo, algemava rimas, desentocava cochichos. Uma condessa encheu um cesto com um cento de acentos. Um marquês de monóculo fez montinhos de monossílabos. E houve até quem garantisse ter apanhado entre os dedos o delicado não de uma donzela. Enfim, divertiram-se tanto, tão entusiasmados ficaram com a tarefa, que acabaram por instituir a Temporada Anual de Caça à Palavra.
         De temporada em temporada, esvaziava-se o castelo de seus sons, enchia-se e calabouço de conversas. A tal ponto que o momento chegou em que ali não cabia mais sequer o quase silêncio de uma vírgula. E o Mordomo Real viu-se obrigado a transferir secretamente parte dos sons para aposentos esquecidos do primeiro andar.
         Foi portanto por acaso que o rei passou frente a um desses cômodos. E passando ouviu um murmúrio, rasgo de conversa. Pronto a reclamar, já a mão pousava na maçaneta, quando o calor daquela voz o reteve. E inclinado à fechadura para melhor ouvir, o rei colheu as lavas, palavras, com que um jovem, de joelhos, derramava sua paixão aos pés da amada.
         A lembrança daquelas palavras pareceu voltar ao rei de muito longe, atravessando o tempo, ardendo novamente no peito. E em cada uma ele reconheceu com surpresa sua própria voz, sua jovem paixão. Era sua aquela conversa de amor há tantos anos trancada. Fio da longa meada de passado, vinha agora envolve-lo, religa-lo a si mesmo, exigindo sair de calabouços.
         --- Que se abra as portas! --- gritou comovido, pela primeira vez gostando do seu grito, ele que sempre havia falado tão baixo. E escancarou os batentes à sua frente.
         --- Que se abram as portas! --- correu o grito da sala ao salão, da escada ao jardim, muro acima, até esbarrar na cúpula de vidro, e voltar, batendo no queixo majestoso.
         --- Que se derrube a redoma! --- lançou então o rei com todo o poder de seus pulmões. --- Que se abatam os muros!
          E desta vez vai o grito por entre o estilhaçar, subindo, planando, pássaro-grito que no azul se afasta, trazendo atrás de si em revoada frases, cantigas, epístolas, ditados, sonetos, epopeias, discursos e recados, e ao longe --- maritacas --- um bando de risadas. Sons que no espaço se espalham levando ao mundo a vida do castelo, e que, aos poucos, em liberdade se vão.

                                  COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça do labirinto. São Paulo: Global, 2001.

1 – Por que o rei de que nos fala o texto gostava tanto de silêncio?
      Ele era bastante sensível a qualquer barulho, detestava o menor ruído que parecia perturbar lhe a tranquilidade.

2 – O que ele fez para se livrar do barulho que tanto o incomodava?
       Ordenou a construção de muros bem altos rodeando o castelo e, depois, mandou colocar uma redoma de vidro, que isolou totalmente seu mundo.

3 – Com o tempo, o que aconteceu com as palavras pronunciadas pelas pessoas?
       Elas não tinham como sair e, aprisionadas no castelo, começaram a se acumular pelo ar.

4 – O que as palavras fizeram que desagradaram bastante ao rei?
       Durante a visita de um embaixador estrangeiro, uma frase perdida no ar, dita pelo cozinheiro, interpôs-se na conversa do rei ilustre visitante, e, em meio às homenagens prestadas pelo rei, ouviu-se uma ordem para que o embaixador depenasse logo uma galinha.

5 – Qual foi a atitude do rei após esse acontecimento?
      Enfurecido, mandou que todas as palavras fossem presas no calabouço.

6 – Em que consistia a “Temporada Anual de Caça à Palavra”?
       Os cortesãos viam, como um esporte, a obrigação de recolher à prisão todas as palavras ditas, a cada ano, até que esgotou o espaço no calabouço e outras salas foram ocupadas com aquelas incômodos sons.

7 – Que acontecimento modificou a maneira de agir do rei?
      Um dia, ele andava pelos corredores do castelo e ouviu vozes; era uma declaração de amor, vinda de uma das salas. Ele reconheceu sua própria voz e emocionou-se, ao sentir a paixão das palavras, ditas por ele ainda jovem.

8 – A partir desse momento, qual foi a reação do rei? Por que?
      Mandou que se abrissem imediatamente as portas e rompessem a redoma de vidro, para que as palavras pudessem sair e entrar livremente, e se ouvissem os sons de frases, de cantigas, de vozes de animais, de risos, etc. porque ele reencontrou, nele mesmo, o valor do sentimento, da emoção.

9 – Na verdade, por que os sons representavam a “vida do castelo”?
      Nós nos utilizamos das palavras para comunicar o que pensamos e sentimos. Portanto, as palavras dão sentido às nossas ações. Por meio delas, sabemos o que se passa com as pessoas e conhecemos suas vidas.


domingo, 21 de janeiro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): DIAS MELHORES - JOTA QUEST - COM GABARITO

Música(Atividades): Dias Melhores

                                  Jota Quest
                              Composição: Rogério Flausino

Vivemos esperando
Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás
Oh! Oh! Oh! Oh!

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores (melhores, melhores!)
Melhores no amor
Melhores na dor
Melhores em tudo
Oh! Oh! Oh!

Vivemos esperando
O dia em que seremos
Para sempre
Vivemos esperando
Oh! Oh! Oh!
Dias melhores pra sempre
Dias melhores pra sempre (pra sempre!)

Vivemos esperando
Dias melhores
(Melhores! Melhores!)
Dias de paz
Dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás
Oh! Oh! Oh!

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores (melhores, melhores!)
Melhores no amor
Melhores na dor
Melhores em tudo
Oh! Oh! Oh!

Vivemos esperando
O dia em que seremos
Para sempre
Vivemos esperando
Oh! Oh! Oh!

Dias melhores
Pra sempre
Dias melhores
Pra sempre
Dias melhores
Pra sempre
Dias melhores
Pra sempre

Uh! Uh! Uh! Oh! Oh!
Pra sempre
Sempre! Sempre! Sempre!

Entendendo o canção:

01 – A letra da música nos faz refletir sobre o dia em que seremos melhores, no amor, na dor e em tudo. Você acha que é possível ser melhor em tudo na vida?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Para você, quais qualidades são primordiais para ser uma boa pessoa?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Para você praticar a solidariedade, a fraternidade, a caridade nos torna pessoas melhores? Comente.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Que poeta escreveu em seu poema memórias de um Trabalhador que Lê, com enorme clareza que as grandes realizações da humanidade foram erguidas a partir do suor de seres humanos anônimos, como eu ou você. Somos nós que realmente fazemos o mundo melhor (ou pior) ...
a)   Carlos Drummond de Andrade.
b)   Mario Quintana.
c)   Vinícius de Morais.
d)   Berthold Brecht.

05 – Levante uma hipótese:
a)   De acordo com o contexto (a história contida na música), o verso “Vivemos esperando”, significa que:
(   ) Os desejos serão realizados.
(X) Os desejos poderão não ser realizados.

b)   A expressão “Viver esperando” pode ser substituída por:
(X) Esperança.
(   ) Sonho.
(   ) Ilusão.
(   ) Ânimo.

06 – “Vivemos esperando
         Dias melhores
         Dias de paz, dias a mais
         Dias que não deixaremos
         Para trás
         Oh! Oh! Oh! Oh!

         Vivemos esperando
        O dia em que
        Seremos melhores (melhores, melhores!)
        Melhores no amor
        Melhores na dor
        Melhores em tudo
        Oh! Oh! Oh!”
      É possível observar na letra da composição musical que o enunciado se sobrepõe àquilo que está sendo dito; para isso:
a)   Volta-se para o processo de estruturação da mensagem e para seus próprios constituintes, tendo em vista produzir um efeito estético.
b)   Emprega a linguagem da comunicação, evidenciando o assunto, o objeto, os fatos, os juízos.
c)   Enfatiza o canal para checar sua recepção ou para manter a conexão entre os falantes.
d)   Busca mobilizar a atenção do receptor, produzindo um apelo ou uma ordem.
e)   Dá ênfase ao emissor e à expressão direta de suas emoções e atitudes.

07 – A repetição do trecho “Vivemos esperando” sugere:
a)   Incerteza.
b)   Passividade.
c)   Medo.
d)   Horror.
e)   Preconceito.
     A repetição do trecho “vivemos esperando” enfatiza a ausência de reação do eu lírico perante situações que lhe provocam inquietação, ou seja, sugere passividade.