Biografia: Noel
Rosa
Clóvis Bulcão e Márcia Bulcão
VILA ISABEL
A Vila Isabel mais parecia uma cidade
independente. [...] Seus moradores não cansavam de cantar a riqueza da
natureza: de suas ruas floridas, de seu arvoredo cheio de frutas e das águas
limpas e frescas de seus rios. Todos iam no samba do chapéu de palha. Quem ali
nascia sempre dizia: meu senhor, modéstia à parte, eu sou da vila.
A avenida principal de Vila Isabel era
– e ainda é – conhecida como Boulevard 28 de setembro. Atravessando a avenida
do início ao fim, pequenas e pacatas ruas escondiam os melhores segredos de
seus moradores. Suas esquinas abrigavam pessoas de todo tipo, reunidas em
animadas rodas musicais. Era gente levada, que nem sequer vacilava em abraçar o
samba.
Moravam na Vila Isabel, em um chalé,
que, aliás, havia sido presente do amigo e maestro Leopoldo Miguez, dona Martha
e seu Neca. Esse chalé, situado na rua Theodoro Silva, paralela ao Boulevard,
tinha duas salas, três quartos, dois banheiros e uma cozinha. O quintal era
cobreto pelas sombras de goiabeiras, abacateiros e pitangueiras, e terminava no
barranco do morro vizinho.
O jovem casal, apesar de trabalhar
muito – ela era professora e ele, dono de uma camisaria –, sempre tinha tempo
para se divertir com os amigos ao som de boa música. Aos domingos, a casa se
transformava: seu Neca tocava violão; dona Martha, bandolim; a irmã dela,
violino, e a mãe, piano. E muitas vezes ainda contavam com a presença do músico
Catulo da Paixão Cearense.
Foi num desses domingos festivos que
Dona Martha anunciou a todos os presentes:
-- Eu vou ser mãe! No fim do ano a
criança nasce!
Quando dezembro chegou, a barriga de
Dona Martha estava enorme. Logo o neném nasceria. Em todo o mundo, as pessoas
estavam encantadas com a presença do cometa Halley. Ele iluminava tanto o céu
que o sol nascia triste na Vila. Foi numa dessas claras noites, o orvalho já
vinha caindo, que a jovem mãe percebeu que a hora do parto chegara. Seu Neca
não perdeu tempo e mandou chamar o Dr. Zé Rodrigues.
-- É menino! – gritou o médico.
Dona Martha e seu Neca ficaram
radiantes, mas não sabiam ainda que nome dar ao garoto.
-- Manuel, como o pai – sugeriu Dona
Martha.
-- Ora, Martha, sejamos mais originais.
Estamos perto do Natal e acabamos de ganhar um lindo presente, o melhor de
todos! – argumentou seu Neca.
-- Qual a sugestão?
Seu Neca pensou um pouco e disse:
-- Como logo vamos celebrar o dia 25 de
dezembro, podemos chama-lo de Natal!
-- Natal?
-- Sim, Natal, mas não em português.
-- Em que língua então? – quis saber a
mãe.
-- Em francês: Noel. Noel de Medeiros
Rosa.
-- Hum, muito chique e diferente! Então
o nosso primeiro filho vai se chamar Noel!
-- Noel Rosa! – confirmou o pai.
A
VIDA DE MENINO
Como muitos meninos, Noel cresceu
saboreando todas as delícias da Vil Isabel. [...]
Além de brincar muito na rua, Noel
adorava ir ao cinema, como qualquer outra criança. Se não estava de pés
descalços, suado e sem fôlego, estava arrumadinho e cheiroso, prontinho para
ingressar num dos dois cinemas que existiam na Vila: o Smart, mais antigo, e o
moderno Cine Boulevard. Noel preferia os filmes americanos e era encantado
pelas histórias de ação do Tarzan.
Um belo dia, quando voltava de uma
sessão de cinema, Noel entrou na sala de sua casa e se viu frente a frente com
o piano. Nesse momento, o espírito aventureiro se associou à paixão musical. E
ele, proibido que era de tocar no caro instrumento, não resistiu. Aproximou-se,
levantou a tampa, que guardava o teclado, e suavemente começou a dedilhar. Uma
tecla, duas, três... a música foi entrando em sua mente e, sobretudo, em sua alma.
-- Nooeel, larga do piano! – gritou
Dona Martha.
Ele até tentou obedecer às ordens de
sua mãe, mas a vontade de fazer música era mais forte.
-- Noel, se você quer aprender a tocar,
eu te ensino bandolim. Você quer?
-- Não, ou melhor, sim, eu quero, um
dia...
Na verdade, não era esse o instrumento
que o menino gostaria de tocar. Não demorou muito para pedir ao pai:
-- Já que não posso tocar piano eu
prefiro aprender violão, o único instrumento que é a voz do próprio coração!
Dona Martha e seu Neca foram aos poucos
percebendo que o filho era mais um membro da família apaixonado pela música.
Clóvis Bulcão e Márcia Bulcão. Noel, o menino da Vila. Rio de Janeiro:
Escrita Fina, 2010. p. 7-12.
Fonte: Livro - Para Viver
Juntos - Português - 6º ano - Ensino Fundamental- Anos Finais - Edições SM -
p.224-7.
Entendendo a biografia:
01 – A biografia que você
leu começa com uma descrição do bairro Vila Isabel.
a)
Como a Vila Isabel é vista por seus
moradores? Justifique com uma frase do texto.
É avaliada positivamente, como um local de natureza preservada, com
animação e pessoas reunidas em rodas de samba. “Quem ali nascia sempre dizia:
meu senhor, modéstia à parte, eu sou da Vila”.
b)
Por que é importante, na biografia, saber
sobre a vida na Vila Isabel?
Porque foi o lugar onde Noel Rosa nasceu e cresceu, o que
possibilita conhecer as condições de vida e as características culturais da
época do biografado.
c)
Qual é a relação entre as características da
Vila Isabel e Noel Rosa?
A Vila Isabel é caracterizada como um lugar onde havia intensa
presença da música, principalmente o samba. Noel Rosa cresceu nesse ambiente e
se tornou músico, fortalecendo sua identidade com a Vila Isabel.
02 – Quais fatos apontam a
presença da música na vida da criança Noel Rosa?
A música no
bairro; a casa onde morava foi presente de um maestro; aos domingos, na casa de
Noel, aconteciam encontros musicais; as visitas de músicos, como Catulo da
Paixão Cearense.
03 – Leia este texto sobre
Catulo da Paixão Cearense, citado na biografia.
“Catulo
da Paixão Cearense nasceu em São Luís do Maranhão, em 8 de outubro de 1863. Foi
poeta, músico e compositor. Uma de suas canções mais conhecidas é Luar do
Sertão, considerada um clássico da música popular brasileira e regravada
inúmeras vezes, por diversos intérpretes. Em maio de 1946, aos 83 anos, faleceu
no Rio de Janeiro”.
a)
O que há em comum entre Catulo da Paixão
/cearense e Noel Rosa?
Ambos foram compositores e músicos reconhecidos, ligados à música
popular brasileira.
b)
Qual ideia é reforçada à família de Noel Rosa
ao citar a frequência de Catulo da Paixão Cearense à casa de seu Neca e dona
Martha?
A de que os pais de Noel eram próximos à música.
04 – Na primeira parte do
texto, é narrado o nascimento da criança. Nela, é apresentado ao leitor o
porquê de uma escolha feita pelos pais de Noel. Que escolha é essa? Por que
esse tipo de informação é importante em um texto que narra uma trajetória de
vida?
A escolha do nome
Noel. Essa informação mostra a situação em que o compositor nasceu, promovendo
maior compreensão de sua história.
05 – Quando Noel tenta tocar
piano, é repreendido pela mãe, mas continua a tentar. O que é revelado sobre o
menino nesse trecho?
A paixão de Noel
Rosa pela música, que se revelou desde criança.
06 – Releia o terceiro
parágrafo da parte “A vida de menino” e responda.
a)
Nesse parágrafo, quais palavras fazem
referência a Noel Rosa?
Ele, sua, se.
b)
Qual a importância do uso desses termos no
trecho lido?
Evitar a repetição do nome Noel e possibilitar a coesão textual.
c)
Esses termos referem-se a qual pessoa do
discurso?
À terceira pessoa do singular.
07 – Sobre a data de
nascimento de Noel Rosa, responda.
a)
Por meio de qual informação podemos inferir o
ano em que ele nasceu?
A de que ele nasceu no mesmo ano da passagem do cometa Halley.
b)
Ao utilizar essa referência, que efeito de
sentido é construído no texto?
Ao associar o ano de nascimento de Noel à aparição do cometa Halley,
é construído um efeito mágico, de encantamento, ajudando o leitor a perceber
como esse fato é especial.
08 – Releia o segundo
parágrafo da parte “A vida de menino” e responda.
a)
Que informações temos da Vila Isabel nesse
trecho?
Que lá havia dois cinemas: o Smart, mais antigo, e o moderno Cine
Boulevard.
b)
O que o trecho mostra sobre as preferências
do menino?
Que ele gostava de cinema e que preferia os filmes americanos de
ação, como as histórias de Tarzan.
c)
Tendo os biógrafos vivido em época diferente
de Noel Rosa, como foi possível obter tais informações?
Provavelmente, os biógrafos tiveram de conversar com pessoas e
realizar pesquisas em jornais, revistas e documentos diversos para ter essas
informações.
09 – Ao longo do texto há
alguns diálogos. Releia um deles.
“-- Nooeel, larga do piano! – gritou
Dona Martha.
Ele até tentou obedecer às ordens de
sua mãe, mas a vontade de fazer música era mais forte.
-- Noel, se você quer aprender a tocar,
eu te ensino bandolim. Você quer?”
a)
Qual palavra desse trecho se aproxima da
oralidade?
A palavra Nooeel.
b)
Que efeito é construído por meio desse
registro linguístico?
É possível imaginar a fala da mãe chamando a atenção do menino.
c)
O que as falas de Dona Martha revelam sobre a
personalidade dela?
Que ela era uma mãe rígida, mas ao mesmo tempo amorosa e
compreensiva.
d)
No texto, as falas são apresentadas com
travessões. Como elas seriam se fossem contadas pelo narrador?
Possibilidade de resposta: Dona Martha gritou para Noel parar de
tocar o piano e disse ao filho que se ele quisesse poderia ensiná-lo a tocar
bandolim.
e)
Para qual público a biografia Noel, o menino
da Vila está direcionada?
Para o público infanto-juvenil.
f)
Qual é a relação entre o modo como as falas
foram apresentadas e o público-alvo dessa biografia? Justifique sua resposta.
O uso de travessões pode favorecer a leitura de crianças e jovens,
pois apresenta os fatos de forma mais direta e expressiva, podendo tornar a
leitura mais atraente a esse perfil de leitor.