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terça-feira, 9 de março de 2021

CRÔNICA: PROFESSORES DE INGLÊS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Professores de Inglês

                  Cecília Meireles

        Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a maior facilidade: há institutos e cursos especializados, livros que dispensam professor, aulas pelo rádio e pela televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve um tempo em que não era assim: os professores de inglês eram difíceis de encontrar, os alunos também não pareciam muito numerosos, a literatura francesa dominava com uma encantadora prepotência, e parece que todo brasileiro educado devia saber, em matéria de idiomas, apenas português e francês.

        Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como eu andava à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.

        Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte e literatura. Parecia-me que aquele era o caminho. E dispunha-me a uma dedicação total aos meus exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações, iniciou suas aulas com um pequeno discurso sobre a absoluta necessidade de se conjugar perfeitamente os verbos "to be" e "to have", antes de se conhecer sequer uma palavra do vocabulário.

        Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley, e frequentavam as aulas por simples obrigação. Ninguém estava pensando em versos ingleses: nem mesmo a professora. E foi um tal de recitar indicativos, condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados, ora perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afirmativa, negativa e interrogativamente, que aqueles solos e coros me conduziam a uma inevitável sonolência.

        Mas havia salas próximas em que se estudavam piano e violino. De modo que eu podia descansar na música, sempre que os verbos chegavam àquele ponto de monotonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.

        A minha segunda professora de inglês era inglesa mesmo. Também acreditava na eficácia dos verbos "to be" e "to have". Acrescentava-lhes ainda o "to get", ao qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha um método encantador: oferecia-me uma xícara de chá, para acompanhar as aulas. Sua sala era absolutamente igual às que se veem nos livros ilustrados para o ensino do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases em que o chapéu ora é nosso, ora é da nossa prima e o gato ora está embaixo da mesa, ora em cima da cadeira. Mas era tão difícil chegar a Keats e Shelley!

        A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro. Mas no meio das suas histórias levantavam-se às vezes o "to be" e o "to have" e ela me pedia para recitar todos os seus modos e tempos acompanhando os meus esforços com um sorriso que talvez não fosse completamente macabro, mas era bastante assustador.

        Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me melhor ir diretamente aos autores, e, de vez em quando, aperfeiçoar-me por meio de quantos livros de "inglês sem mestre" fossem aparecendo.

        Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos professores. Um era persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do "to be" nem do "to have". 0 outro vinha da Austrália: contava histórias de feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.

        Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em Roma, não pude deixar de pensar com ironia e tristeza: como são longos, às vezes, os caminhos da vida! E quanto tempo se pode levar para se chegar a um poeta!

MEIRELES, Cecília. Inéditos. Rio de Janeiro: Bloch, 1967, p. 151.

Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 14-5.


Entendendo a crônica:

01 – O que fez a autora querer estudar inglês?

      Segundo parágrafo (chegar à poesia inglesa).

02 – A autora começa seu texto contrastando o presente ("hoje") e o passado ("um tempo em que não era assim"), Que diferença ela nota entre estes dois momentos quanto ao ensino de inglês?

      Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como eu andava à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.

03 – A autora passou por diferentes professoras e professores sem nenhum resultado prático. Mas nos apresenta cada um deles com muito humor. Que elementos ela vai aproveitando em cada caso para nos fazer sorrir?

      1ª professora – 3° parágrafo. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações.

      2ª professora – 6° parágrafo. Sua sala era absolutamente igual às que se veem nos livros ilustrados para o ensino do inglês.

      3ª professora – 7° parágrafo. A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro.

      1° professor – 9° parágrafo. Um era persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do "to be" nem do "to have".

      2° professor – 9° parágrafo. 0 outro vinha da Austrália: contava histórias de feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.

04 – A autora arremata sua crónica com uma breve reflexão motivada por toda a experiência que nos relatou. E diz: "não pude deixar de pensar com ironia e tristeza". 0 que você acha que há de irónico e triste em toda esta "história que a vida conta"?

      Resposta pessoal do aluno.

     



quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UM CÃO, APENAS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Um Cão, Apenas   

                   Cecília Meireles

        Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim — plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito —, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. E um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço, acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...

        Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

        Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.

        Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

        Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.

        Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.

 Inéditos – crônicas. Rio de Janeiro, Bloch, 1967. p. 19-20.

          Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 208-210.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.petz.com.br%2Fblog%2Ffilhotes%2Fdicas-boa-adaptacao-filhote%2F&psig=AOvVaw1wf1w-BK_8MwH_GeB7uNQr&ust=1608335178709000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNCc782Z1u0CFQAAAAAdAAAAABAJ

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Salpicos: manchas, pingos.

·        Inábil: sem habilidade.

·        Dorido: que sente dor, dolorido.

·        Súplica: pedido.

·        Lustro: brilho.

·        Complexo: complicado, intrincado.

·        Vexar: incomodar, afligir.

·        Limiar: entrada, início.

·        Oprimir: causar opressão, humilhação.

·        Andrajoso: vestido de trapos, esfarrapado.

02 – Onde se dá o encontro da narradora com o cãozinho?

      Em um patamar, provavelmente diante da porta de alguma casa.

03 – Por que o cãozinho se levanta ao ver a narradora?

      Acostumado a ser enxotado, ele se levanta já esperando isso.

04 – Em que frase a narradora dá dimensão humana ao sofrimento do cão?

      “... o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas”.

05 – O texto permite inferir algumas características pessoais da narradora. Quais?

      Sensibilidade, compreensão do outro, piedade.

06 – Segundo a narradora, existe uma expectativa do cãozinho. Qual seria?

      Ele fica à espera de uma palavra ou de um gesto, olha-a de modo suplicante.

07 – Qual o verdadeiro sentido de: “Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar”?

      Auxiliar os outros é muito difícil, e é preciso continuar a nossa vida, sempre cheia de compromissos.

08 – De que a narradora se ressente?

      De não poder ajudar todos aqueles que precisam de ajuda. Na verdade, ela procura apenas justificar-se.

09 – Existe um contraste entre a descrição do cãozinho e a descrição do jardim por onde ele passa para retirar-se. Que contraste é esse?

      Os degraus do jardim, ladeados por flores, contrastam com o cãozinho que está velho, sujo, etc.

10 – Por que a narradora afirma: “... amei-o, apenas, com uma caridade inútil...”?

      Porque ela se compadece do cãozinho, mas nada faz de concreto para ajudá-lo.

11 – Sobre o cãozinho, a impressão mais forte que fica no leitor é a de sua:

a)   Humildade.

b)   Fraqueza.

c)   Dignidade.

d)   Determinação.

12 – O texto “Um cão, apenas” nos mostra:

a)   A impossibilidade de uma pessoa ajudar um cãozinho.

b)   Que a velhice e a solidão são inevitáveis para todos os seres.

c)   Que é possível ser digno mesmo nos momentos mais deprimentes.

d)   Que nem sempre se deve fazer o que se tem vontade.

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

CONTO: JOÃO, FRANCISCO, ANTÔNIO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Conto: João, Francisco, Antônio

Cecília Meireles

    João, Francisco, Antônio põem-se a contar-me a sua vida. Moram tão longe, no subúrbio, precisam sair tão cedo de casa para chegar pontualmente a seu serviço. Já viveram aglomerados num quarto, com mulher, filhos, a boa sogra que os ajuda, o cão amigo à porta... A noite deixa cair sobre eles o sono tranquilo dos justos. O sono tranquilo que nunca se sabe se algum louco vem destruir, porque o noticiário dos jornais está repleto de acontecimentos inexplicáveis e amargos.

        João, Francisco, Antônio vieram a este mundo, meu Deus, entre mil dificuldades. Mas cresceram, com os pés descalços pelas ruas, como os imagino, e os prováveis suspensórios – talvez de barbante – escorregando-lhes pelos ombros. É triste, eu sei, a pobreza, mas tenho visto riquezas muito mais tristes para os meus olhos, com vidas frias, sem nenhuma participação do que existe, no mundo, de humano e de circunstante.

        João, Francisco, Antônio conhecem os passarinhos, pena por pena, são capazes de descrevê-los: acompanharam os seus hábitos, sabem as árvores onde moram, distinguem, no sussurro geral, a voz de cada um.

        João, Francisco, Antônio conhecem as pedras, as suas arestas, a sua temperatura, que faíscas desprendem de noite. Conhecem as fisionomias das casas e, evidentemente, os seus habitantes, os letreiros das lojas, os diversos comerciantes e os seus negócios. Tudo isso é uma forma de instrução que vem da infância, que ocupou os dias sem possibilidades especiais de aquisições sistematizadas. Aprenderam nomes de ruas e veículos, observando, alguns deles, com particular curiosidade, quando a vocação é para engenhos, máquinas, motores. Mas outros, por natureza menos práticos, mais poéticos, decerto, construíram papagaios, combinando cores de papel de seda, inventando formas geométricas, recortando bandeirinhas, levantando nos ares as suas transparentes construções, querendo alcançar o céu – que talvez julgassem alcançável – ou apenas as nuvens, para sentir, na ponta de uma linha, como se encastelam e como se desfazem.

        Não falo de outros, que matam passarinhos com atiradeiras, que quebram vidraças, que maltratam os outros meninos da sua idade, que lhes rasgam as roupas... Não, não, quero falar de João, Francisco, Antônio, os que, desde pequenos, vêm sendo construtivos, que procuram realizar-se, entre as maiores dificuldades, ajudando os pais, amparando os irmãozinhos, realizando suas breves alegrias entre mil sombras.

        João, Francisco, Antônio conseguem, a tanto custo, aprender alguma coisa do que é preciso para encontrar o caminho do seu trabalho e, se possível, da sua vocação. Mal saídos da adolescência – quando outros da mesma idade, em outras condições, folgam, e acham ou que é cedo para começar ou que já são infelizes porque ouviram falar de assuntos do mundo adulto –, eles vão para algum trabalho de madrugada, sentem-se uma parte da família a que pertencem e querem ajudar-se e ajuda-la.

        João, Francisco, Antônio amam, casam, acham que a vida é assim mesmo, que se vai melhorando aos poucos. Desejam ser pontuais, corretos, exatos no seu serviço. É dura a vida, mas aceitam-na. Desde pequenos, sozinhos sentiram sua condição humana e, acima dela, uma outra condição a que cada qual se dedica, por ver depois da vida a morte e sentir a responsabilidade de viver.

        João, Francisco, Antônio conversam comigo, vestidos de macacão azul, com perneiras, lavando vidraças, passando feltros no assoalho, consertando fechos de portas. Não lhes sinto amargura. Relatam-se, descrevem as modestas construções que eles mesmos levantaram com suas mãos, graças a pequenas economias, a algum favor, a algum benefício. E não sabem com que amor os estou escutando, como penso que este Brasil imenso não é feito só do que acontece em grandes proporções, mas destas pequenas, ininterruptas, perseverantes atividades que se desenvolvem na obscuridade e de que as outras, sem as enunciar, dependem.

        Por isso, as enuncio, porque sei que, na sombra, se desenvolve este trabalho humilde de Antônio, Francisco, João.

Cecília Meireles. Janela mágica. São Paulo: Moderna, 1983. P. 14-15.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p.33 – 34 e 36.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3Dqge1pC7g7J0&psig=AOvVaw3_Qe9wAzfB_JI6QNIrj2Ts&ust=1606602302748000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNi3kpDio-0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Pontualmente: na hora certa.

·        Vocação: tendência para o exercício de determinada atividade.

·        Aglomerados: amontoados.

·        Circunstante: que está à volta; presente.

·        Encastelar: afastar-se subindo; acumular, amontoar.

·        Distinguir: perceber a diferença.

·        Ininterruptas: incessantes.

·        Arestas: ângulos, saliências.

·        Perseverantes: persistentes.

·        Faíscas: pequenas chamas provocadas pelo atrito.

·        Obscuridade: ausência de notoriedade, de fama; condição humilde.

·        Aquisições: conquistas.

·        Sistematizadas: organizadas segundo um método.

·        Enunciar: dizer.

02 – Que tipo de narração aparece no texto?

      Aparece narração em primeira pessoa (o texto é constituído a partir de uma suposta conversa entre narrador/personagem).

03 – Qual é a relação entre o nome e o comportamento das personagens?

      São nomes de pessoas simples e também de santos da religião católica. Como são nomes muito comuns, podemos inferir que o que se diz deles vale para muitas outras pessoas que vivem e trabalham como eles.

04 – O que João, Francisco e Antônio apresentam em comum?

      São pobres, não puderam estudar, mas são honestos e trabalhadores.

05 – Onde João, Francisco e Antônio se encontraram com a narradora?

      O encontro se deu em um prédio onde as personagens estão trabalhando.

06 – Durante todo o texto a narradora enuncia vários sentimentos a respeito dos três rapazes. Quais são eles?

      A narradora sente respeito, admiração e um amor humanitário pelos três.

07 – Como você entendeu: “Não falo outros, que matam passarinhos com atiradeiras, que quebram vidraças, que maltratam os outros meninos da sua idade, que lhes rasgam as roupas...”?

      A narradora sabe que há outros rapazes que não se comportam tão bem como as personagens mas estes não serão mencionados.

08 – Como vivem no presente João, Francisco e Antônio?

      Vivem no subúrbio, em casas que eles mesmos construíram. Lutam para melhorar de vida.

09 – Como João, Francisco e Antônio enfrentam as dificuldades da vida? Justifique com palavras do texto.

      Com aceitação, perseverança e coragem. “... desde pequenos, vêm sendo construtivos, que procuram realizar-se, entre as maiores dificuldades, ajudando os pais, amparando os irmãozinhos, realizando suas breves alegrias entre mil sombras.”

10 – Por que a narradora escolheu os três como personagens?

      Porque eles são importantes, embora desenvolvam suas atividades no anonimato, pois muitas pessoas dependem de seu trabalho.

11 – Para você, em geral como são tratados os humildes em nosso pais?

      Resposta pessoal do aluno.

12 – O texto mescla partes narrativas e dissertativas.

a)   Localize um trecho inteiramente narrativo.

Está no terceiro parágrafo.

b)   Localize um trecho em que o narrador interrompe a história das personagens para expressar sua opinião.

“...E não sabem com que amor os estou escutando, como penso que este Brasil imenso não é feito só do que acontece em grandes proporções, mas destas pequenas, ininterruptas, perseverantes atividades que se desenvolvem na obscuridade...”.

c)   Com que objetivo a autora se valeu dessa mescla de elementos narrativos e dissertativos?

Ela se utiliza da história de três personagens para ilustrar uma ideia: que um pais é o resultado do trabalho de pessoas humildes e anônimas que, sem alarde, vão colaborando para o bem comum.

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

CRÔNICA: PRIMAVERA -CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Crônica: Primavera

              Cecília Meireles

        A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

        Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

        Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

        Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

        Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

        Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

        Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

        Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

        Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, assinale a alternativa INCORRETA:

a)   Na primavera natural há sussurro de passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.

b)   A primavera não é efêmera.

c)   A inclinação do sol marca outras sombras com a chegada da primavera.

d)   A terra se enfeita para as festas da sua perpetuação.

e)   A amendoeira encontra-se coroada de flores, com vestidos e braços carregados de flores.

02 – Através da leitura da crônica nos traz que imagem a mente?

      A imagem da inevitabilidade do ciclo sazonal – movimento e vida perpétuos.

03 – E para você, o que é a primavera?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O texto é construído com base nas informações que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:

a)   Que fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?

A chegada da primavera.

b)   Em que parágrafo a autora menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

No primeiro parágrafo.

05 – Onde aconteceu o fato narrado?

      Na natureza, com as plantas, animais e insetos.

06 – De que trata a crônica?

      As mudanças no meio ambiente, na natureza, com a chegada da primavera.

 

terça-feira, 7 de julho de 2020

POEMA: A LUA É DO RAUL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: A lua é do Raul

              Cecília Meireles

Raio de lua.

Luar.

Lua do ar

azul.

Roda da lua.


Aro da roda

na tua

rua,

Raul!

Roda o luar

na rua

toda

azul.

Roda o aro da lua.

Raul,

a lua é tua,

a lua da tua rua!

A lua do aro azul.

      Cecília Meirelles.

Entendendo o poema:

01 – Leia o trecho abaixo e copie as rimas:

“Raul,

a lua é tua,

a lua da tua rua!

A lua do aro azul.”

      As rimas são: Raul/azul; tua/rua.

02 – Que figura de linguagem há no verso: “A lua é do Raul”?

      Metáfora.

03 – Que versos do poema há repetição de consoante, ou seja, a figura de linguagem chamada aliteração?

      “Roda da lua. / Aro da roda / na tua / rua, / Raul!”

04 – Esse verso do poema “A lua é do Raul”: “Roda o luar / Na rua / Toda / Azul”, significa a mesma coisa que:

a)   A luz da lua à rua e a deixa com o mesmo brilho azul.

b)   A luz da lua chega na rua e um menino andando de bicicleta.

 

 

 


quarta-feira, 1 de julho de 2020

POEMA: ENCOMENDA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: ENCOMENDA

            Cecilia Meireles


Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles.

Entendendo o poema:

01 – Assinale a alternativa correta:

a)   O verso 5 constitui a causa para a proposição feita no verso 6.

b)   Mantém-se a busca do riso e da festa desde o primeiro até o último verso.

c)   Atenuam-se apelo e ordem na última estrofe.

d)   Para sempre e eterna funcionam sintaticamente como adjuntos adverbiais que expressam a perenidade do tempo captado pela fotografia.

e)   A construção da referência à outra foto faz-se por meio da recorrência de pronomes possessivos.

02 – Quem é o eu lírico neste poema?

      Ela mesma = a autora.

03 – O que é encomendado?

      Uma fotografia.

04 – No verso sete com o verbo no imperativo: “Deixe a minha ruga”, ou seja, as minhas marcas, para que estas características misturarem-se com a imagem. O que nos revela este verso?

      Revela um conflito dual, exterior versus interior, o exterior deseja afirmar-se e resgatar aspectos que contradizem com o seu interior melancólico, mesclando-se, consciente da efemeridade do tempo e dos sentimentos.

05 – Em que versos o eu lírico confirma necessidade de eternizá-la com a aparência jovem?

      Nos versos três e quatro. “Em que para sempre me ria / como um vestido de eterna festa.”

06 – Que figura de linguagem há nestes versos? “Como tenho a testa sombria, / derrame luz na minha testa.”

      Antítese.





 

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

POEMA: ENCHENTE - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: ENCHENTE

             CECILIA MEIRELES

Chama o Alexandre!
Chama!

Olha a chuva que chega!
É a enchente.
Olha o chão que foge com a chuva...

Olha a chuva que encharca a gente.
Põe a chave na fechadura.
Fecha a porta por causa da chuva,
olha a rua como se enche!

Enquanto chove, bota a chaleira
no fogo: olha a chama! olha a chispa!
Olha a chuva nos feixes de lenha!

Vamos tomar chá, pois a chuva

é tanta que nem de galocha
se pode andar na rua cheia!

Chama o Alexandre!
Chama!"


Cecília Meireles.

Entendendo o poema:

01 – A preferência pelo ponto de exclamação nesse poema serve para realçar:

a)   Emoção em ver a chuva que chega.

b)   Entusiasmo pela quantidade de chuva que cai.

c)   O medo e a preocupação do eu lírico.

d)   Susto e o espanto de ter perdido a chave da porta.

02 – A palavra chama foi empregada duas vezes nesse poema. O significado é de respectivamente:

a)   Ardência e labareda.

b)   Chamada e entusiasmo.

c)   Verbo chamar e entusiasmo.

d)   Verbo chamar e língua de fogo.

03 – A preocupação central nesse poema é:

a)   A chuva.

b)   A enchente.

c)   O Alexandre.

d)   O chá.

04 – Todos os versos da terceira estrofe sugerem:

a)   Que a chuva é muito intensa.

b)   Que a porta está sem a chave.

c)   Que as pessoas estão molhadas.

d)   Que a chuva entra nas casas.

05 – Os versos “Vamos tomar chá, pois a chuva / é tanta que nem de galocha / se pode andar na rua cheia!” Sugerem:

a)   Que nada se pode fazer a não ser esperar pela estiagem.

b)   Que é costume tomar chá enquanto chove.

c)   Que o chá é um calmante para quem está com medo da chuva.

d)   Que estava na hora do lanche e por isso todas da família tomam chá.

06 – Na ordem dada pelo eu lírico: “Chama o Alexandre! / Chama!”, o uso do artigo o antes do nome Alexandre sugere que Alexandre:

a)   É alguém conhecido, íntimo.

b)   É alguém que calça as galochas.

c)   É alguém convidado para o chá.

d)   É alguém que vai fechar a porta.

07 – Possivelmente, nesse texto Alexandre é:

a)   Um amigo convidado para o chá.

b)   Um cozinheiro da família.

c)   Um filho que está na rua exposto ao perigo.

d)   Um empregado que cuida da casa.